Dois jovens, Noah e Lia, com estilo de vida diferentes, se encontram por acaso, ambos têm seus próprios segredos e passados trágicos, motivo para não se deixarem aproximar um do outro. Ela é uma estudante inteligente e esforçada, decidida a crescer na vida. Ele é um jovem eclético e talentoso. Em meio a curiosidade e dúvidas de seus poderes, conseguem compartilhar momentos juntos e se ajudarem, porém, algo que parecia natural começa a se tornar imprevisível e perigoso. Sendo obrigados pelas circunstâncias, eles tentam permanecer juntos para poder combater todo o caos que está por vir em seus futuros.
Leer másApós o beijo, os dois puderam terminar de admirar o alvorecer do sol. Seria um momento lindo, não fosse por um detalhe: ambos estavam com muita fome. Seus estômagos roncaram quase simultaneamente, um dueto desajeitado que ecoou no silêncio do quarto, arrancando uma risada dos dois diante da coincidência sonora. — Eu realmente não queria rir, mas precisamos comer – disse Noah com um sorriso sutil no rosto. — Calma, eu vou lá fazer. Você se deite e fique na cama dessa vez. — Ok, ok. Só espero que seja algo comestível. — Você está me insultando agora, sabia? – retrucou Lia, saindo do quarto com um olhar fingidamente ofendido. Depois de alguns minutos, Noah deitou-se na cama, sentindo a suavidade dos lençóis contra a pele, mas a agitação interna o impedia de relaxar. O som distante de panelas e a luz suave do alvorecer entrando pela janela eram os únicos estímulos que preenchiam o silêncio, mas não queria ir
Noah manteve-se acordado por alguns minutos depois que Lia adormeceu. Certamente ainda se sentia cansado, mas planejar os próximos passos com antecedência sempre fora um hábito seu — algo que, ironicamente, não aplicara quando conheceu Lia. Eventualmente, ele também cedeu ao sono. Ambos precisavam descansar. Lia, principalmente, ainda não havia se recuperado das noites em claro e das lágrimas derramadas. Dormir era a melhor escolha agora. A madrugada ainda cobria o céu quando Lia despertou sobressaltada, sem lembrar de imediato onde estava. Seu coração acelerou antes que ela reconhecesse o ambiente ao redor. Respirou fundo, tentando se acalmar. Ao se mexer, sentiu o calor do corpo de Noah sob o seu. A textura da camisa contra seu rosto, o som suave da respiração dele… Sua cabeça girava em confusão, mas ela permaneceu quieta, tentando manter a calma. Então deitou-se novamente, com cuidado. Não adiantou. — Por que eu sempre faço is
Noah tinha seus motivos para estar inquieto. As memórias de sua morte ainda estavam nítidas quando ele abriu os olhos. — Você acordou. Está bem? — Eu… acho que sim. Pelo menos não estou morto. Ele piscou algumas vezes, tentando entender onde estava. — Você me carregou até aqui? — Sim. Tenho meu jeito de lidar com coisas pesadas. — “Coisas”? Obrigado por me tratar como um… Noah parou de falar. Lágrimas escorriam por seu rosto antes mesmo que percebesse. Lia não conseguiu mais se conter. — Você vai embora? – perguntou, fixando o olhar nele. — Bem… você entende, não é? Eu vi aquilo e… não sei mais o que pensar. Você é inteligente, sabe do que estou falando. — Eu… não sei direito. N
Dizem que todas as pessoas merecem uma segunda chance. Noah também acreditava nisso com fé silenciosa, quase ingênua. Mas, em contrapartida, havia uma pergunta que o assombrava: onde está a segunda chance daqueles que morrem em vão? Era uma dúvida genuína e dolorosa. A verdade é que todas as almas têm a chance de retornar aos corpos, uma espécie de segunda oportunidade. No entanto, não é simples. Na imensa maioria das vezes, ao tocar o outro lado, ao vislumbrar a entrada… o brilho não era apenas luz. Era a ausência de dor, o silêncio da paz, o eco de um abraço nunca recebido. Ali, o tempo não existia. Só havia completude, ao sentir a felicidade verdadeira, ao ver o esplêndido lugar de farturas e sem horizontes... a alma não deseja voltar. Por que retornaria ao caos? À fome, à doença, à guerra, à miséria, à dor e à solidão desse lugar chamado "planeta"? Além disso, em muitas ocasiões, mesmo que a alma tente voltar, o corpo já não tem salvação. Está morto, sem con
No dia seguinte, Lia e Noah deveriam estar completamente recuperados. Lia abriu os olhos como quem desperta de um pesadelo. Assustada, levantou-se bruscamente, tentando entender onde estava. Ao notar que não era sua cama, um calafrio percorreu seu corpo. Seu peito subia e descia rapidamente, como se lutasse para conter uma ansiedade repentina. O quarto estava silencioso, mas sua mente era um campo de batalha. Pensamentos colidiam violentamente. Olhou ao redor. Os lençóis estavam levemente bagunçados, o cheiro sutil de Noah ainda pairava no ar, misturado ao seu. Com algum esforço, lembrou-se do que fizera na noite anterior. As memórias vieram de forma abrupta. Levou a mão aos olhos, desacreditada. Processar aquilo não era fácil, ainda mais despertando tão bruscamente. Mas, mesmo em plena consciência, ela não saberia como reagir. — Não acredito... Não deveria... Por que fiz isso? Eu dormi aqui? – murmurou, passando as mãos pelo corpo para se certificar
Os dias seguintes passaram tão rápido quanto os anteriores. Vivendo juntos, começaram a se acostumar com as manias um do outro. O treino já não era tão intenso como antes, pois Lia parecia estar exausta. Ela não tinha forças para manter o mesmo ritmo, e Noah não entendia o motivo. Ele preparava refeições nutritivas o suficiente para treinarem todos os dias, mas supôs que fosse apenas por conta do período dela. Sem querer causar constrangimento, preferiu não perguntar. Apenas questionava se Lia queria treinar e em quais horários, mas ela nunca explicava o porquê de sua fadiga. Lia já não dormia direito havia várias noites. A falta de descanso afetava seus treinos e seu humor. Como dormiam em quartos separados, Noah nem desconfiava do real problema. Ela se sentia perdida, como se estivesse presa em uma tempestade de emoções que não sabia nomear. Cada vez que tentava entender, acabava mais confusa e frustrada consigo mesma. Já havia se apaixonado antes, mas su
Os próximos dias foram bem planejados. Noah alugou uma pequena casa afastada da cidade para que ambos pudessem usar e demonstrar suas habilidades sem o risco de serem vistos. Lia tirou uns dias de descanso de seus estudos para focar. A princípio, sentiu-se estranha, até um pouco triste, nunca havia negligenciado seus estudos de propósito. Mas, naquela ocasião, os dias passavam tão rápido que ela mal tinha tempo ou disposição para abrir um livro. Cada dia, um aprendia um pouco das habilidades do outro, ajudando-se mutuamente. As falhas e erros levavam a muitos sorrisos e brincadeiras, apesar do temperamento arrogante de Lia, que começava a aparecer. Noah, no entanto, lidava bem com isso. Já estava acostumado aos mais diferentes tipos de personalidade ao longo da vida. — O que vamos tentar aprender hoje, Noah? — Eu realmente não sei. Já treinamos intensamente por cinco dias desde que chegamos aqui… Estou um pouco cansado. Não podemos apenas dormir mais hoje? — Bom, tudo bem. Eu vou
Lia estava tão imersa em suas próprias perguntas e dúvidas que se esqueceu de explicar como estava praticamente intacta, considerando seu corpo aparentemente frágil. — O quê? Do que está falando? – disse Lia, forçando um sorriso nervoso enquanto desviava o olhar. – Deve ter batido a cabeça muito forte, mas a Sophia disse que estava bem. A Sophia é a médica dona desta casa, caso esteja se perguntando. — Não estou interessado. Quero saber sobre você. Já testei embutir meu poder para proteger outras pessoas algumas vezes. Às vezes funcionava bem, outras nem tanto. Mas nunca senti meu poder ser rejeitado. Então, sem drama ou teatro. Apenas me diga... Lia permaneceu calada. Seus olhos buscaram os de Noah, mas tudo o que encontravam era o peso de um julgamento silencioso. Sentia o corpo rígido, como se cada célula temesse dizer a coisa errada. Era péssima em mentir quando pega de surpresa. Se tentasse, talvez Noah fosse embora sem dizer nada. Ainda assim, tentou mudar de assunto.
Noah não era um homem de agir sem pensar, mas naquele momento ele o fez. Impulsionado ao máximo por sua habilidade, correu em direção à moça com uma força de vontade e determinação que dominavam todo o seu corpo. Sua velocidade era impressionante, e sua visão mal conseguiu acompanhar os próximos movimentos. Antes do impacto, no último instante, Noah saltou, seus braços se fechando ao redor dela. O mundo girou quando se lançaram para longe, o rugido do carro passando tão perto que ele sentiu o deslocamento do ar. Então, um estrondo, o carro se espatifou contra uma árvore, o som do impacto foi devastador. Lia estava ensanguentada, seus braços e pernas tinham arranhões do impacto contra o chão. Noah sentiu sua energia se espalhar, pronta para protegê-la… mas algo resistiu. Como uma barreira invisível, uma força estranha anulou sua habilidade, deixando-a vulnerável no último segundo. Felizmente, seus ferimentos não eram graves. Noah, por outro lado, mal conseguia se manter de pé. Nunca