Nesse mundo, há muitas verdades e segredos ocultos. Há muito tempo, aproximadamente 2300 anos atrás, existia uma família relativamente rica e poderosa, com conhecimentos surpreendentes acerca da humanidade: a família Harvens. Ninguém sabe ao certo como esse conhecimento chegou até eles, mas sua linhagem era destinada à criação de crianças extraordinárias, que despertariam uma habilidade chamada apenas de "Ortus". As pesquisas e os conhecimentos complexos sobre isso levaram diversas gerações. Os registros indicavam que as chances de obtê-lo dependiam de muitos fatores, e esses requisitos tinham início bem antes da própria concepção. Apesar disso, a probabilidade de despertar a Ortus entre os 13 e 16 anos ainda era mínima.
Com poucas informações, a família continuou acumulando conhecimento por meio de tentativas e erros ao longo dos séculos. Tudo mudou quando, 325 anos depois, em um país do Oriente Médio, receberam notícias sobre um homem que havia despertado o Ortus e a exibia abertamente. Embora desejassem capturá-lo para estudá-lo e interrogá-lo, isso atrairia atenção demais. O próprio homem parecia delirar sobre a origem de seus poderes, então optaram por observá-lo à distância durante anos, analisando seus feitos e registrando tudo que fosse possível. Assim, aprimoraram os conhecimentos que já possuíam, expandindo sua compreensão sobre o Ortus. Com esse novo entendimento, em apenas 50 anos conseguiram fazer três crianças despertarem habilidades extraordinárias — um avanço considerável em comparação com as duas despertadas nos 325 anos anteriores. Os segredos desse processo foram mantidos dentro da família, e nada era compartilhado com pessoas de fora da linhagem. Esse segredo lhes concedeu influência entre as famílias mais nobres e poderosas, permitindo que integrassem os maiores poderes ocultos do mundo. Seus inimigos jamais entenderam como seus generais eram tão fortes, como seus assassinos mantinham uma taxa de sucesso quase perfeita ou como seus guardas possuíam habilidades sobre-humanas. Nenhuma outra família ou organização ousava enfrentá-los. Nos cinquenta anos seguintes, a ascensão dos Harvens tornou-se inquestionável. Com o aumento da população mundial, mais pessoas despertavam o Ortus, tornando-se menos raras do que antes. No entanto, a maioria delas se escondia, temendo as consequências de serem descobertas, com medo da represália. Aqueles que tinham a ignorância de se exibir ou que infelicidade de serem encontrados pela família Harvens eram eliminados sem deixar rastros. Para preservar seu domínio e manter o segredo de sua ascensão, eles ocultaram tudo por séculos, caçando qualquer um que pudesse representar uma ameaça, os apagando da história. Com uma ampla rede de informações e contatos pelo mundo, rastreavam e eliminavam despertados de fora de sua linhagem, aqueles que não eram da família tinham apenas que desaparecer para que seu domínio continuasse intacto e nas sombras. A cada geração, a família conseguia produzir pelo menos dois ou três despertados poderosos o suficiente para se proteger de todos os inimigos, garantindo sua proteção e continuando a aniquilar potenciais inimigos por mais de um milênio. Influenciavam guerras, manipulavam eventos e infiltravam-se nas mais diversas organizações importantes. Mas, para o mundo comum, os Harvens não existiam. Seus registros eram quase inexistentes, e suas ações, invisíveis para a história oficial. Foi nesse cenário que um grupo de despertados começou a se organizar. Eles vinham de diferentes partes do mundo e, inicialmente, buscavam apenas ajudar uns aos outros a evoluir suas habilidades. Muitos precisavam de abrigo ou proteção contra os caçadores da família Harvens. Com o tempo, a organização cresceu e se tornou mais estruturada, exigindo a presença de um líder. Esse líder era escolhido por sua sabedoria e inteligência, e não necessariamente por sua força. Com regras específicas para garantir a segurança de seus membros, o grupo se fortaleceu, adotando um novo propósito: libertar os despertados do domínio dos Harvens e garantir que ninguém mais precisasse viver com medo. Eles se autodenominaram "Clã Supremo", um nome ambicioso, mas que representava sua nova missão. Para eles, a luta não era apenas uma questão de sobrevivência. Os Harvens não eram apenas seus algozes, mas os responsáveis por manter o Ortus nas sombras e sobre seu controle, condenando gerações inteiras a uma existência de medo e perseguição. O Clã Supremo acreditava que, ao eliminar os Harvens, poderiam libertar todos os despertados da opressão e criar um mundo onde ninguém precisasse esconder seu verdadeiro potencial. "Quantos de nós morreram no silêncio? Quantos desperdiçaram suas vidas escondidos, temendo o inevitável?", perguntou a líder do Clã Supremo, observando os rostos cansados ao seu redor. "Se os Harvens caírem, não seremos apenas nós que ganharemos a liberdade, mas todos aqueles que ainda nascerão com Ortus. Chega de medo. Chega de sombras." Anos se passaram enquanto expandiam suas operações em segredo, mas sabiam que, cedo ou tarde, os Harvens tomariam conhecimento de sua existência. E quando isso aconteceu, a família viu o Clã Supremo como uma ameaça iminente e uma afronta direta. Normalmente, eliminariam qualquer ameaça antes que crescesse, mas descobrir informações sobre o Clã revelou-se mais difícil do que o esperado, mesmo usando todos os recursos disponíveis. Alguém entre eles possuía habilidades que os mantinham ocultos, frustrando as tentativas da família de localizá-los. Coincidentemente, a família Harvens enfrentava sua maior crise: a falta de despertados poderosos em sua geração atual. Isso os impediu de lançar um ataque imediato contra o Clã Supremo caso os encontrassem. No entanto, não desistiram. Seus recursos estavam sendo drenados rapidamente sem retorno, e sem rastreadores eficazes entre seus despertados, decidiram mudar de estratégia. O patriarca dos Harvens tomou uma decisão sem precedentes: em vez de caçar o Clã, os provocaria para que atacassem primeiro. Assim, seriam forçados a sair das sombras. A família preparou-se para a guerra. Convocaram todos os seus infiltrados, Sua base era bem estruturada, era ótima em vigilância e reconhecimento, mesmo assim reforçaram suas defesas e chegaram ao extremo, usar despertados capturados ao longo dos anos como iscas. Confiantes em sua supremacia e poder bélico, acreditavam estar prontos para qualquer ofensiva. No entanto, sua ignorância e senso de superioridade foram sua ruína. Com um plano cuidadosamente elaborado, o Clã Supremo enviou apenas quatro de seus membros mais preparados. Cada um deles foi escolhido meticulosamente e treinado para um ataque rápido e letal. Na calada da noite, esses quatro invadiram o local onde o patriarca dos Harvens e seus principais líderes estavam reunidos. A segurança externa da mansão era impecável, mas ninguém esperava um ataque direto dentro da sala mais protegida do complexo. Os guardas foram abatidos antes que pudessem reagir. Em poucos minutos, o coração da família Harvens havia sido exterminado. O Clã Supremo, que lutava por liberdade, sem nenhuma baixa do seu lado, conseguiu o que nenhuma outra organização havia alcançado em mais de um milênio. Foi um massacre. Com a queda da liderança, os Harvens perderam sua força rapidamente. Subordinados desertaram ao perceberem que a família não possuía mais governantes capazes. O despertado mais poderoso desapareceu, consumido pela culpa. Os inimigos antigos da família aproveitaram a oportunidade para lançar ataques consecutivos. Sem seus generais mais letais, suas forças começaram a se render ou simplesmente se suicidar ao serem capturadas. Dois jovens herdeiros ainda sobreviveram, mas, quando finalmente aprenderam a controlar seus poderes, já não havia mais nada a liderar. Sem alternativas, ordenaram que seus seguidores fugissem e se dispersassem pelo mundo. Antes de partirem, destruíram todos os registros do Ortus que haviam acumulado ao longo dos séculos. O conhecimento foi perdido para sempre, restando apenas o que estava na memória dos últimos descendentes. O Clã Supremo, por sua vez, finalmente pôde abandonar o medo e a clandestinidade. Embora continuassem ocultando suas habilidades do mundo, viveram suas vidas de forma mais livre. Seus números diminuíram drasticamente em relação à época de sua fundação, mas ainda hoje, remanescentes do Clã ajudam aqueles que os procuram, mantendo viva a promessa de que nenhum despertado jamais precisaria se esconder novamente.Era uma noite fria. Tudo parecia calmo, mas a lua não brilhava por completo. Nuvens escuras começaram a cobri-la, até que os últimos resquícios de sua luz desapareceram da vista de Noah e Lia. Seus olhos cansados se esforçavam para enxergar onde pisavam enquanto corriam. Noah, mesmo sem ver perfeitamente, usava sua habilidade com maestria, desviava dos obstáculos graças ao seu poder, assim como Lia. Escondidos e apressados, tentavam alcançar a cobertura daquele prédio antigo, repleto de entulhos. A exaustão pesava em seus corpos, seus pés doíam, torturas aconteciam mais frequentemente, já fazia duas noites que não dormiam direito, Entre tantos pensamentos, Noah se concentrava apenas em proteger Lia do jeito que podia. Mas será que já não era tarde demais? Esse pensamento intrusivo o incomodava. Ainda assim, eles tentavam, com cada gota de suor e cada fibra de seus corpos, permanecer juntos e sobreviver. Ao longe, ecoava o som dos helicópteros se aproximando. O ambiente lembrav
O desespero tomava conta de Noah, um homem geralmente calmo. Lia se preocupou ao vê-lo assim. — Nos localizaram. – disse Lia, a voz baixa e carregada de angústia. — Não, não, não. Que droga! Não era para isso acontecer. O que vamos fazer? – gritou Noah, correndo para a beirada da cobertura, tentando confirmar a posição dos agentes e buscar uma rota de fuga. — Eu não sei! Você sempre cuidou de mim e de tudo quando eu não conseguia fazer! Eu não quero morrer, Noah! Não quero! – Lia chorava, o pânico transbordando em cada palavra. — Não chore. Isso não vai ajudar em nada – respondeu Noah, lançando-lhe um olhar rápido antes de voltar a escanear os arredores.. — "Não chore"? – A voz dela tremia – É só isso que tem para dizer? Diga algo, por favor! Me diz qual é o plano! Fala que vamos sair dessa, que vamos sobreviver! Que droga, Noah, me diz o que vai acontecer! Lia, incapaz de conter o medo, inquieta, andava de um lado para o outro, os soluços tornando sua respiração irregular
Lia nunca poderia imaginar o quão drástica seria a mudança que a vida lhe reservaria. Desde o seu nascimento, o destino a colocou em um caminho cheio de desafios. Cresceu protegida, cercada pelo carinho e atenção de sua mãe, mas, ironicamente, sempre foi exposta à crueldade do mundo. Desde pequena, testemunhava decisões insensatas de pessoas ao seu redor, atos de egoísmo e destruição. Embora, na época, não compreendesse completamente o significado do que via, essas memórias ficaram gravadas em sua mente. Com o tempo, ela aprenderia a interpretar cada cena, a compreender a verdadeira face do mundo. Ainda muito jovem, Lia já possuía uma visão realista da vida. Foi forçada a amadurecer cedo, a encarar a realidade sem ilusões. E quando teve a oportunidade de tomar suas próprias decisões, acreditou estar preparada. Aos treze anos, começou um novo capítulo de sua vida ao ser transferida para um colégio com melhor estrutura e recursos. A chance de construir um futuro promissor estava a
A busca pela perfeição é uma jornada cruel. Quando se tenta algo diversas vezes e continua a falhar vez após vez, parece totalmente incompreensível, e o desespero se instala. Cada tentativa frustrada parece sussurrar que nunca será bom o suficiente, porque a dificuldade continua a aumentar exponencialmente. O caminho é repleto de dores, angústias, decepções e traições. Alguns desistem. Outros persistem. E alguns poucos desafiam todos os limites para se tornarem algo maior. Noah pertencia a esse último grupo. Mas, por mais que superasse obstáculos, havia uma área em que sempre fracassava: o amor. Ele nem sempre foi forte. No início, era apenas um garoto frágil, sem coragem ou entusiasmo para aprender qualquer coisa. Sofria na infância, como tantas outras crianças esquecidas em um orfanato sem recursos, ele também não era muito inteligente, não se diferenciava em praticamente nada de qualquer outra criança daquele lugar. Chorava, sentia fome, era alvo dos mais velhos, tudo que ele p
Noah começou pedindo esmolas enquanto não encontrava uma forma de conseguir dinheiro suficiente para sobreviver. Não conhecia nada de verdade, exceto o que tinha lido em livros, mas nem sempre se pode confiar no que se lê. Então, buscou conhecimento nas ruas, observando tudo ao redor, procurando comida onde podia e dormindo em becos, protegendo-se da chuva da forma que fosse possível. Para seu infortúnio, entrou em uma área que não deveria. Aqueles que controlavam o local ficaram visivelmente irritados com sua presença. Poderia ter ido embora calado e seguro, mas seu erro foi xingar um homem com o pavio extremamente curto. O sujeito o ameaçou e correu em sua direção. Desesperado, Noah também correu. Era rápido, mas, comparado a um adulto, não o suficiente. Ao ver uma chance, virou em uma esquina para tentar se esconder, mas era tarde demais: havia entrado em um beco sem saída. O homem o alcançou com facilidade, percebendo que Noah estava encurralado e sozinho, foi então que saco
Noah não era um homem de agir sem pensar, mas naquele momento ele o fez. Impulsionado ao máximo por sua habilidade, correu em direção à moça com uma força de vontade e determinação que dominavam todo o seu corpo. Sua velocidade era impressionante, e sua visão mal conseguiu acompanhar os próximos movimentos. Antes do impacto, no último instante, Noah saltou, seus braços se fechando ao redor dela. O mundo girou quando se lançaram para longe, o rugido do carro passando tão perto que ele sentiu o deslocamento do ar. Então, um estrondo, o carro se espatifou contra uma árvore, o som do impacto foi devastador. Lia estava ensanguentada, seus braços e pernas tinham arranhões do impacto contra o chão. Noah sentiu sua energia se espalhar, pronta para protegê-la… mas algo resistiu. Como uma barreira invisível, uma força estranha anulou sua habilidade, deixando-a vulnerável no último segundo. Felizmente, seus ferimentos não eram graves. Noah, por outro lado, mal conseguia se manter de pé. Nunca
Lia estava tão imersa em suas próprias perguntas e dúvidas que se esqueceu de explicar como estava praticamente intacta, considerando seu corpo aparentemente frágil. — O quê? Do que está falando? – disse Lia, forçando um sorriso nervoso enquanto desviava o olhar. – Deve ter batido a cabeça muito forte, mas a Sophia disse que estava bem. A Sophia é a médica dona desta casa, caso esteja se perguntando. — Não estou interessado. Quero saber sobre você. Já testei embutir meu poder para proteger outras pessoas algumas vezes. Às vezes funcionava bem, outras nem tanto. Mas nunca senti meu poder ser rejeitado. Então, sem drama ou teatro. Apenas me diga... Lia permaneceu calada. Seus olhos buscaram os de Noah, mas tudo o que encontravam era o peso de um julgamento silencioso. Sentia o corpo rígido, como se cada célula temesse dizer a coisa errada. Era péssima em mentir quando pega de surpresa. Se tentasse, talvez Noah fosse embora sem dizer nada. Ainda assim, tentou mudar de assunto.
Os próximos dias foram bem planejados. Noah alugou uma pequena casa afastada da cidade para que ambos pudessem usar e demonstrar suas habilidades sem o risco de serem vistos. Lia tirou uns dias de descanso de seus estudos para focar. A princípio, sentiu-se estranha, até um pouco triste, nunca havia negligenciado seus estudos de propósito. Mas, naquela ocasião, os dias passavam tão rápido que ela mal tinha tempo ou disposição para abrir um livro. Cada dia, um aprendia um pouco das habilidades do outro, ajudando-se mutuamente. As falhas e erros levavam a muitos sorrisos e brincadeiras, apesar do temperamento arrogante de Lia, que começava a aparecer. Noah, no entanto, lidava bem com isso. Já estava acostumado aos mais diferentes tipos de personalidade ao longo da vida. — O que vamos tentar aprender hoje, Noah? — Eu realmente não sei. Já treinamos intensamente por cinco dias desde que chegamos aqui… Estou um pouco cansado. Não podemos apenas dormir mais hoje? — Bom, tudo bem. Eu vou