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Capítulo V - Um Ser Único, Um Homem sem Amor

A busca pela perfeição é uma jornada cruel. Quando se tenta algo diversas vezes e continua a falhar vez após vez, parece totalmente incompreensível, e o desespero se instala. Cada tentativa frustrada parece sussurrar que nunca será bom o suficiente, porque a dificuldade continua a aumentar exponencialmente. O caminho é repleto de dores, angústias, decepções e traições. Alguns desistem. Outros persistem. E alguns poucos desafiam todos os limites para se tornarem algo maior.

Noah pertencia a esse último grupo. Mas, por mais que superasse obstáculos, havia uma área em que sempre fracassava: o amor.

Ele nem sempre foi forte. No início, era apenas um garoto frágil, sem coragem ou entusiasmo para aprender qualquer coisa. Sofria na infância, como tantas outras crianças esquecidas em um orfanato sem recursos, ele também não era muito inteligente, não se diferenciava em praticamente nada de qualquer outra criança daquele lugar. Chorava, sentia fome, era alvo dos mais velhos, tudo que ele pensava era que queria ser tratado como uma criança normal, No entanto, o ato de desejar algo tão fortemente passou a diminuir conforme crescia, cedo compreendeu que, se quisesse algo, teria de conquistá-lo com suas próprias mãos. Mas como poderia fazê-lo? Ele era apenas uma criança. Sem família, sem heranças, sem conforto, sem amor. Apenas mais um abandonado.

Desde cedo, aprendeu que bondade era um luxo que poucos podiam oferecer. Se recusasse dividir sua comida, apanhava. Se entregasse sem resistir, passava fome. O orfanato não era um lar, mas um campo de batalha onde a fraqueza era um convite à destruição. Quando o céu escurecia ele poderia ter alguma paz, mas não era reconfortante. As noites eram as piores: chorava em silêncio, abraçando a própria dor. A vida poderia ter acabado naquele lugar e ninguém saberia, ninguém teria se importado. Mas, entre soluços e fome, a compreensão surgiu. Se não queria ser pisoteado pelo mundo, precisava aprender a lutar.

Foi então que Noah fez algo que jamais imaginaria: começou a estudar.

No começo, ele não gostava, ler era difícil, ele tinha aprendido pouco, mas conforme continuava seu desempenho se elevava, era para seu bem e ele finalmente tinha entendido isso, Escondia-se para ler livros roubados. Ninguém suspeitava dele, afinal, era apenas um garoto quieto e inofensivo. Escolhia os livros com cuidado, priorizando aqueles que o ajudariam a sobreviver. A solidão não parecia mais tão isolada, Aprendeu sobre estratégia, anatomia, ciências e disciplina. Descobriu a importância da paciência. Queria aprender a lutar, mas os livros do orfanato não ensinavam isso diretamente. Pegava fragmentos de informação em histórias de guerreiros, e analisava como os movimentos funcionavam. E, mesmo com um corpo fraco e subnutrido, treinava sozinho. Cada soco que errava, repetia. Cada queda, levantava-se. Mesmo desmaiando de fome, insistia.

Por dez meses, ele apenas observou e aprendeu. Mas seu corpo ainda precisava melhorar, ao menos o suficiente para sua saúde, o objetivo era comida. Quando percebeu que seu corpo estava minimamente mais forte, decidiu que era hora de agir.

Os garotos mais velhos sempre roubavam sua comida. Nos últimos meses, Noah não reagia. Para sua sorte entregar sem hesitar foi benéfico, eles não vinham mais em muitos números, fazendo com que pensassem que estava resignado. E teria sido apenas mais outra vez. Mas, naquele dia, tudo mudaria.

Quando três dos valentões vieram até ele, confiantes como sempre, Noah se levantou calmamente. Seu coração acelerou. Apesar de serem maiores, diferente deles, Noah tinha aprendido a se defender. Ele sabia que aquele momento era decisivo, precisava aproveitar o elemento surpresa. Com os punhos cerrados, lembrou-se de todos os movimentos que treinara.

Quando um dos garotos estendeu a mão para pegar sua bandeja, Noah atacou. Seu punho encontrou a têmpora do garoto em um golpe rápido e preciso. O impacto foi imediato. O menino desabou, desacordado.

Os outros dois hesitaram por um segundo. Mas, movidos pela raiva, partiram para cima. O primeiro soco veio desordenado e Noah apenas levantou o braço para bloquear. Em seguida, curvou-se levemente e golpeou o estômago do adversário. O garoto cambaleou para trás, mesmo com pouca força, era o suficiente, sem ar, o segundo garoto caiu de joelhos, momento em que Noah deu um pisão em seu peito.

O terceiro, vendo seus amigos no chão, ficou assustado, tentou correr. Noah foi mais rápido. Derrubou-o com uma rasteira precisa. O garoto teve uma queda horrível, ralando as mãos e antebraços na terra.

Ele se sentou no chão, o seu progresso era inegável, pela primeira vez na vida, Noah sorriu de verdade, um sorriso verdadeiro e orgulhoso.

Não era um sorriso de maldade. Não se alegrava pela dor dos outros. Mas, pela primeira vez, sentiu-se no controle do próprio destino.

Os três nunca mais ousaram encostar nele. A lembrança da dor ficou gravada em suas memórias, Outros garotos tentaram se vingar, mas a história do combate se espalhou. A fama de Noah cresceu. Ninguém queria correr o risco de sofrer o mesmo destino, ou pior. Ele se tornou aquele a quem os outros evitavam, e, por isso, teve finalmente o que sempre desejou: paz.

Agora podia estudar sem interrupções, ele não tinha nenhum amigo lá de qualquer modo, e com mais alimento, seu corpo se fortaleceu. Mas ele sabia que aquele orfanato era apenas um campo de treinamento. O verdadeiro desafio estava lá fora. Já tinha lido diversas vezes que o mundo afora não era fácil. Mas lá poderia ter oportunidades.

Por isso, planejou sua fuga.

Quando completou doze anos, sentiu-se pronto. A cidade era perigosa, mas ele não podia mais suportar aquele lugar. Sabia que nas ruas teria que lutar para sobreviver, sabia que teria ser muito melhor do que era para poder sobreviver no mundo, ter que lutar constantemente encarando o tudo sozinho. Ele estudou tudo que pôde, e mesmo assim entendia que o conhecimento provavelmente não seria o suficiente para obter suas vitórias. Sabia que o mundo era perigoso, imprevisível, injusto e implacável, mas já havia aceitado esse destino.

Na noite escolhida, esperou que todos dormissem. Saiu sorrateiramente, evitando os rangidos do piso de madeira. O coração batia forte. Um passo em falso e tudo estaria acabado. Mas ninguém o ouviu.

Quando seus pés tocaram o solo do lado de fora, um frio percorreu sua espinha. Era isso. O orfanato fazia parte do passado.

Ele correu.

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