Os dias seguintes passaram tão rápido quanto os anteriores. Vivendo juntos, começaram a se acostumar com as manias um do outro. O treino já não era tão intenso como antes, pois Lia parecia estar exausta. Ela não tinha forças para manter o mesmo ritmo, e Noah não entendia o motivo. Ele preparava refeições nutritivas o suficiente para treinarem todos os dias, mas supôs que fosse apenas por conta do período dela. Sem querer causar constrangimento, preferiu não perguntar. Apenas questionava se Lia queria treinar e em quais horários, mas ela nunca explicava o porquê de sua fadiga.
Lia já não dormia direito havia várias noites. A falta de descanso afetava seus treinos e seu humor. Como dormiam em quartos separados, Noah nem desconfiava do real problema. Ela se sentia perdida, como se estivesse presa em uma tempestade de emoções que não sabia nomear. Cada vez que tentava entender, acabava mais confusa e frustrada consigo mesma. Já havia se apaixonado antes, mas suNo dia seguinte, Lia e Noah deveriam estar completamente recuperados. Lia abriu os olhos como quem desperta de um pesadelo. Assustada, levantou-se bruscamente, tentando entender onde estava. Ao notar que não era sua cama, um calafrio percorreu seu corpo. Seu peito subia e descia rapidamente, como se lutasse para conter uma ansiedade repentina. O quarto estava silencioso, mas sua mente era um campo de batalha. Pensamentos colidiam violentamente. Olhou ao redor. Os lençóis estavam levemente bagunçados, o cheiro sutil de Noah ainda pairava no ar, misturado ao seu. Com algum esforço, lembrou-se do que fizera na noite anterior. As memórias vieram de forma abrupta. Levou a mão aos olhos, desacreditada. Processar aquilo não era fácil, ainda mais despertando tão bruscamente. Mas, mesmo em plena consciência, ela não saberia como reagir. — Não acredito... Não deveria... Por que fiz isso? Eu dormi aqui? – murmurou, passando as mãos pelo corpo para se certificar
Dizem que todas as pessoas merecem uma segunda chance. Noah também acreditava nisso com fé silenciosa, quase ingênua. Mas, em contrapartida, havia uma pergunta que o assombrava: onde está a segunda chance daqueles que morrem em vão? Era uma dúvida genuína e dolorosa. A verdade é que todas as almas têm a chance de retornar aos corpos, uma espécie de segunda oportunidade. No entanto, não é simples. Na imensa maioria das vezes, ao tocar o outro lado, ao vislumbrar a entrada… o brilho não era apenas luz. Era a ausência de dor, o silêncio da paz, o eco de um abraço nunca recebido. Ali, o tempo não existia. Só havia completude, ao sentir a felicidade verdadeira, ao ver o esplêndido lugar de farturas e sem horizontes... a alma não deseja voltar. Por que retornaria ao caos? À fome, à doença, à guerra, à miséria, à dor e à solidão desse lugar chamado "planeta"? Além disso, em muitas ocasiões, mesmo que a alma tente voltar, o corpo já não tem salvação. Está morto, sem con
Noah tinha seus motivos para estar inquieto. As memórias de sua morte ainda estavam nítidas quando ele abriu os olhos. — Você acordou. Está bem? — Eu… acho que sim. Pelo menos não estou morto. Ele piscou algumas vezes, tentando entender onde estava. — Você me carregou até aqui? — Sim. Tenho meu jeito de lidar com coisas pesadas. — “Coisas”? Obrigado por me tratar como um… Noah parou de falar. Lágrimas escorriam por seu rosto antes mesmo que percebesse. Lia não conseguiu mais se conter. — Você vai embora? – perguntou, fixando o olhar nele. — Bem… você entende, não é? Eu vi aquilo e… não sei mais o que pensar. Você é inteligente, sabe do que estou falando. — Eu… não sei direito. N
Noah manteve-se acordado por alguns minutos depois que Lia adormeceu. Certamente ainda se sentia cansado, mas planejar os próximos passos com antecedência sempre fora um hábito seu — algo que, ironicamente, não aplicara quando conheceu Lia. Eventualmente, ele também cedeu ao sono. Ambos precisavam descansar. Lia, principalmente, ainda não havia se recuperado das noites em claro e das lágrimas derramadas. Dormir era a melhor escolha agora. A madrugada ainda cobria o céu quando Lia despertou sobressaltada, sem lembrar de imediato onde estava. Seu coração acelerou antes que ela reconhecesse o ambiente ao redor. Respirou fundo, tentando se acalmar. Ao se mexer, sentiu o calor do corpo de Noah sob o seu. A textura da camisa contra seu rosto, o som suave da respiração dele… Sua cabeça girava em confusão, mas ela permaneceu quieta, tentando manter a calma. Então deitou-se novamente, com cuidado. Não adiantou. — Por que eu sempre faço is
Após o beijo, os dois puderam terminar de admirar o alvorecer do sol. Seria um momento lindo, não fosse por um detalhe: ambos estavam com muita fome. Seus estômagos roncaram quase simultaneamente, um dueto desajeitado que ecoou no silêncio do quarto, arrancando uma risada dos dois diante da coincidência sonora. — Eu realmente não queria rir, mas precisamos comer – disse Noah com um sorriso sutil no rosto. — Calma, eu vou lá fazer. Você se deite e fique na cama dessa vez. — Ok, ok. Só espero que seja algo comestível. — Você está me insultando agora, sabia? – retrucou Lia, saindo do quarto com um olhar fingidamente ofendido. Depois de alguns minutos, Noah deitou-se na cama, sentindo a suavidade dos lençóis contra a pele, mas a agitação interna o impedia de relaxar. O som distante de panelas e a luz suave do alvorecer entrando pela janela eram os únicos estímulos que preenchiam o silêncio, mas não queria ir
Noah estava curioso. Lia, diferente de antes, agora queria conversar muito. Ele nunca tinha visto essa característica nela, o que o deixava surpreso a cada nova fala. — Eu treinava sozinha quase todos os dias. Dividia meu tempo com os estudos, mas no fundo só pensava nisso. — Você tinha quantos anos mesmo? – Noah perguntou, a curiosidade transparecendo no tom. — Ah, foi recente. Eu tinha 16. Agora tenho 18. Fiquei surpresa… não imagino como teria sido se tivesse acontecido tão cedo quanto com você. — No meu caso, foi realmente na hora certa. No momento em que eu ansiava por poder... ou provavelmente eu não estaria aqui. Lia se aconchegou mais perto de Noah enquanto o escutava, sentindo a presença dele como um calor sutil que a envolvia. — Eu sei… Bem, continuando… Enquanto eu treinava, aprendi algumas coisas que você também deve ter aprendido. Mas, com você foi bem cedo, por isso eu disse que provavelmente já deve saber. — É possível, mas diz mesmo assim. Noah puxo
Noah hesitou em perguntar por que Lia o encarava daquela forma, mas sabia que não deveria ser tão ruim, afinal, estavam conversando tranquilamente há poucos minutos. — Tem algo que quer me dizer, não é? Lia desviou o olhar, estava nervosa e inquieta, mas mesmo como vergonha, ela de repente se levantou e sentou-se no abdômen de Noah, inflando as bochechas. — A dizer? Claro que não. Só que eu demorei um mês, um desgraçado mês inteiro, para conseguir focar em qualquer parte do corpo. E você faz isso assim? Fácil? Lia cruzou os braços com uma expressão séria. — Sempre treinei, é diferente. Ei, olha pra mim. Lia olhou-o, um sorriso suave nos lábios. — Idiota. Você é tão habilidoso que chega a me deixar irritada... Não é justo. Eu quero aprender, Noah. Me mostra como. — Você percebeu como a energia encolheu? Tente desfocar do restante do corpo. Visualize ela se c
Nesse mundo, há muitas verdades e segredos ocultos. Há muito tempo, aproximadamente 2300 anos atrás, existia uma família relativamente rica e poderosa, com conhecimentos surpreendentes acerca da humanidade: a família Harvens. Ninguém sabe ao certo como esse conhecimento chegou até eles, mas sua linhagem era destinada à criação de crianças extraordinárias, que despertariam uma habilidade chamada apenas de "Ortus". As pesquisas e os conhecimentos complexos sobre isso levaram diversas gerações. Os registros indicavam que as chances de obtê-lo dependiam de muitos fatores, e esses requisitos tinham início bem antes da própria concepção. Apesar disso, a probabilidade de despertar a Ortus entre os 13 e 16 anos ainda era mínima. Com poucas informações, a família continuou acumulando conhecimento por meio de tentativas e erros ao longo dos séculos. Tudo mudou quando, 325 anos depois, em um país do Oriente Médio, receberam notícias sobre um homem que havia despertado o Ortus e a exibia aberta