Após o beijo, os dois puderam terminar de admirar o alvorecer do sol. Seria um momento lindo, não fosse por um detalhe: ambos estavam com muita fome. Seus estômagos roncaram quase simultaneamente, um dueto desajeitado que ecoou no silêncio do quarto, arrancando uma risada dos dois diante da coincidência sonora.
— Eu realmente não queria rir, mas precisamos comer – disse Noah com um sorriso sutil no rosto. — Calma, eu vou lá fazer. Você se deite e fique na cama dessa vez. — Ok, ok. Só espero que seja algo comestível. — Você está me insultando agora, sabia? – retrucou Lia, saindo do quarto com um olhar fingidamente ofendido. Depois de alguns minutos, Noah deitou-se na cama, sentindo a suavidade dos lençóis contra a pele, mas a agitação interna o impedia de relaxar. O som distante de panelas e a luz suave do alvorecer entrando pela janela eram os únicos estímulos que preenchiam o silêncio, mas não queria irNoah estava curioso. Lia, diferente de antes, agora queria conversar muito. Ele nunca tinha visto essa característica nela, o que o deixava surpreso a cada nova fala. — Eu treinava sozinha quase todos os dias. Dividia meu tempo com os estudos, mas no fundo só pensava nisso. — Você tinha quantos anos mesmo? – Noah perguntou, a curiosidade transparecendo no tom. — Ah, foi recente. Eu tinha 16. Agora tenho 18. Fiquei surpresa… não imagino como teria sido se tivesse acontecido tão cedo quanto com você. — No meu caso, foi realmente na hora certa. No momento em que eu ansiava por poder... ou provavelmente eu não estaria aqui. Lia se aconchegou mais perto de Noah enquanto o escutava, sentindo a presença dele como um calor sutil que a envolvia. — Eu sei… Bem, continuando… Enquanto eu treinava, aprendi algumas coisas que você também deve ter aprendido. Mas, com você foi bem cedo, por isso eu disse que provavelmente já deve saber. — É possível, mas diz mesmo assim. Noah puxo
Noah hesitou em perguntar por que Lia o encarava daquela forma, mas sabia que não deveria ser tão ruim, afinal, estavam conversando tranquilamente há poucos minutos. — Tem algo que quer me dizer, não é? Lia desviou o olhar, estava nervosa e inquieta, mas mesmo como vergonha, ela de repente se levantou e sentou-se no abdômen de Noah, inflando as bochechas. — A dizer? Claro que não. Só que eu demorei um mês, um desgraçado mês inteiro, para conseguir focar em qualquer parte do corpo. E você faz isso assim? Fácil? Lia cruzou os braços com uma expressão séria. — Sempre treinei, é diferente. Ei, olha pra mim. Lia olhou-o, um sorriso suave nos lábios. — Idiota. Você é tão habilidoso que chega a me deixar irritada... Não é justo. Eu quero aprender, Noah. Me mostra como. — Você percebeu como a energia encolheu? Tente desfocar do restante do corpo. Visualize ela se c
Nesse mundo, há muitas verdades e segredos ocultos. Há muito tempo, aproximadamente 2300 anos atrás, existia uma família relativamente rica e poderosa, com conhecimentos surpreendentes acerca da humanidade: a família Harvens. Ninguém sabe ao certo como esse conhecimento chegou até eles, mas sua linhagem era destinada à criação de crianças extraordinárias, que despertariam uma habilidade chamada apenas de "Ortus". As pesquisas e os conhecimentos complexos sobre isso levaram diversas gerações. Os registros indicavam que as chances de obtê-lo dependiam de muitos fatores, e esses requisitos tinham início bem antes da própria concepção. Apesar disso, a probabilidade de despertar a Ortus entre os 13 e 16 anos ainda era mínima. Com poucas informações, a família continuou acumulando conhecimento por meio de tentativas e erros ao longo dos séculos. Tudo mudou quando, 325 anos depois, em um país do Oriente Médio, receberam notícias sobre um homem que havia despertado o Ortus e a exibia aberta
Era uma noite fria. Tudo parecia calmo, mas a lua não brilhava por completo. Nuvens escuras começaram a cobri-la, até que os últimos resquícios de sua luz desapareceram da vista de Noah e Lia. Seus olhos cansados se esforçavam para enxergar onde pisavam enquanto corriam. Noah, mesmo sem ver perfeitamente, usava sua habilidade com maestria, desviava dos obstáculos graças ao seu poder, assim como Lia. Escondidos e apressados, tentavam alcançar a cobertura daquele prédio antigo, repleto de entulhos. A exaustão pesava em seus corpos, seus pés doíam, torturas aconteciam mais frequentemente, já fazia duas noites que não dormiam direito, Entre tantos pensamentos, Noah se concentrava apenas em proteger Lia do jeito que podia. Mas será que já não era tarde demais? Esse pensamento intrusivo o incomodava. Ainda assim, eles tentavam, com cada gota de suor e cada fibra de seus corpos, permanecer juntos e sobreviver. Ao longe, ecoava o som dos helicópteros se aproximando. O ambiente lembrav
O desespero tomava conta de Noah, um homem geralmente calmo. Lia se preocupou ao vê-lo assim. — Nos localizaram. – disse Lia, a voz baixa e carregada de angústia. — Não, não, não. Que droga! Não era para isso acontecer. O que vamos fazer? – gritou Noah, correndo para a beirada da cobertura, tentando confirmar a posição dos agentes e buscar uma rota de fuga. — Eu não sei! Você sempre cuidou de mim e de tudo quando eu não conseguia fazer! Eu não quero morrer, Noah! Não quero! – Lia chorava, o pânico transbordando em cada palavra. — Não chore. Isso não vai ajudar em nada – respondeu Noah, lançando-lhe um olhar rápido antes de voltar a escanear os arredores.. — "Não chore"? – A voz dela tremia – É só isso que tem para dizer? Diga algo, por favor! Me diz qual é o plano! Fala que vamos sair dessa, que vamos sobreviver! Que droga, Noah, me diz o que vai acontecer! Lia, incapaz de conter o medo, inquieta, andava de um lado para o outro, os soluços tornando sua respiração irregular
Lia nunca poderia imaginar o quão drástica seria a mudança que a vida lhe reservaria. Desde o seu nascimento, o destino a colocou em um caminho cheio de desafios. Cresceu protegida, cercada pelo carinho e atenção de sua mãe, mas, ironicamente, sempre foi exposta à crueldade do mundo. Desde pequena, testemunhava decisões insensatas de pessoas ao seu redor, atos de egoísmo e destruição. Embora, na época, não compreendesse completamente o significado do que via, essas memórias ficaram gravadas em sua mente. Com o tempo, ela aprenderia a interpretar cada cena, a compreender a verdadeira face do mundo. Ainda muito jovem, Lia já possuía uma visão realista da vida. Foi forçada a amadurecer cedo, a encarar a realidade sem ilusões. E quando teve a oportunidade de tomar suas próprias decisões, acreditou estar preparada. Aos treze anos, começou um novo capítulo de sua vida ao ser transferida para um colégio com melhor estrutura e recursos. A chance de construir um futuro promissor estava a
A busca pela perfeição é uma jornada cruel. Quando se tenta algo diversas vezes e continua a falhar vez após vez, parece totalmente incompreensível, e o desespero se instala. Cada tentativa frustrada parece sussurrar que nunca será bom o suficiente, porque a dificuldade continua a aumentar exponencialmente. O caminho é repleto de dores, angústias, decepções e traições. Alguns desistem. Outros persistem. E alguns poucos desafiam todos os limites para se tornarem algo maior. Noah pertencia a esse último grupo. Mas, por mais que superasse obstáculos, havia uma área em que sempre fracassava: o amor. Ele nem sempre foi forte. No início, era apenas um garoto frágil, sem coragem ou entusiasmo para aprender qualquer coisa. Sofria na infância, como tantas outras crianças esquecidas em um orfanato sem recursos, ele também não era muito inteligente, não se diferenciava em praticamente nada de qualquer outra criança daquele lugar. Chorava, sentia fome, era alvo dos mais velhos, tudo que ele p
Noah começou pedindo esmolas enquanto não encontrava uma forma de conseguir dinheiro suficiente para sobreviver. Não conhecia nada de verdade, exceto o que tinha lido em livros, mas nem sempre se pode confiar no que se lê. Então, buscou conhecimento nas ruas, observando tudo ao redor, procurando comida onde podia e dormindo em becos, protegendo-se da chuva da forma que fosse possível. Para seu infortúnio, entrou em uma área que não deveria. Aqueles que controlavam o local ficaram visivelmente irritados com sua presença. Poderia ter ido embora calado e seguro, mas seu erro foi xingar um homem com o pavio extremamente curto. O sujeito o ameaçou e correu em sua direção. Desesperado, Noah também correu. Era rápido, mas, comparado a um adulto, não o suficiente. Ao ver uma chance, virou em uma esquina para tentar se esconder, mas era tarde demais: havia entrado em um beco sem saída. O homem o alcançou com facilidade, percebendo que Noah estava encurralado e sozinho, foi então que saco