Capítulo V - Miguel

Meu coração estava batendo disparado, por muito pouco Juninho não foi atropelado, eu tinha medo de imaginar o que ia acontecer com ele se aquela moto tivesse acertado nele.

Apertei ainda mais os braços em volta do seu corpinho e o ouvi resmungar que estava esmagando. Mas que se foda, eu ia esmagar se isso fosse tirar o medo de dentro de mim.

Depois de perder meu pai e minha mãe, me apeguei de mais a família, não aguentaria perder nenhum dos dois.

Assisti Vitor se afastar com a garota no colo. E a vi olhando pro meu irmão, preocupada com o pequeno em meu colo. Mas ele estava bem, quem tinha se ralado toda foi ela.

Porra, não acreditava que agora tinha que agradecer aquela maluca.

— O dona Isabel, o que estava pensando em deixar o moleque sair assim na rua? — questionei a velha entrando na mercearia.

— Aí meu filho, me desculpa! Eu pedi pra Nina olhar ele enquanto eu fechava a compra de um cliente.

Olhei pra garota de cabeça avoada que me encarava com um sorriso sem graça. Que se foda, ela arriscou a vida do meu irmão, ele podia ter morrido.

Ela chegou perto de mim passando a mão na perna de Juninho e se aproveitou pra colocar a mão em meu braço.

Eu sabia bem o que aquela dali queria, e estava bem longe de conseguir. Ela e as amigas costumavam vim cheia de graça pro meu lado, mas dessas garotas sem juízo eu queria distância. Gostava de mulher não de garota recém saída das fraudas, que só quer fazer escândalo e show.

— Tá querendo que meu irmão morra?

— Não! Meu Deus, não. — ela falou espantada e deslizou as unhas enormes por meu braço. — Só me distrai por um segundo e quando eu vi esse lindinho tinha fugido.

Juninho deu língua pra menina, mostrando que não gostava dela nem um pouco, eu nem podia julgar o menino.

— Da próxima vez ela vai prestar mais atenção. — Dona Isabel falou se aproximando e a sobrinha concordou acenando com a cabeça.

— Vai ter próxima vez não. — fui direto ao ponto. — Vou arrumar uma babá pro Juninho pra hoje!

— Mas o que isso João? — Nina me chamou esfregando a unha no meu braço e me irritando com aquilo e por chamar meu primeiro nome, todo mundo ali sabia que eu detestava isso. — Foi só um descuido.

— E se não fosse a outra garota ele podia ter morrido! Tem sorte que ele está bem, ou você ia pagar pelo "descuido". — usei todo deboche pra repetir a palavra dela. — Não sou homem de contar com a sorte. Depois acerto o valor de hoje com você. — falei me virando para a tia dela, que tinha uma expressão fechada.

Sai de lá sem me despedir e quando me virei Juninho aproveitou pra dar língua de novo.

Ele não era uma criança fácil, mas a culpa era toda minha e de Vitor, o deixamos mimado dando tudo o que ele queria.

— Vamos ter uma conversa séria rapazinho. O que falei de atravessar a rua sem olhar?

— Mas quelia você, ela chata. — ele falou baixando os olhos.

Era difícil ficar nervoso com ele por muito tempo quando fazia aquela cara.

— Não pode fazer isso, nunca mais me ouviu? Poderia ter se machucado todo se a moto te pegasse.

— A usinha me salvou. — falou como se fosse fácil e simples.

Para ele com certeza era, já que não tinha preocupação nem nada.

— O nome dela não é ursinha. — só o que faltava agora era ele inventar um apelido pra garota. Achei ridículo o apelido, mas quem podia julgar o pequeno, quando a doida estava usando uma blusa de ursinho. Do tipo bem de criança mesmo.

— Nome? — ele perguntou querendo saber.

Eu lembro de ter ouvido Bianca gritar chamando ela de Camila. Mas fingi de que não sabia e dei de ombros.

Finalmente chegamos na casa da Nalva, mãe da Bianca e se me lembro bem a maluca tá ficando aqui.

Entrei pedindo licença e avistei meu irmão do lado da garota no pequeno sofá.

— Entra aí meu filho. — Dona Nalva falou já me puxando mais pra dentro da sala.

A casa ali era pequena e do jeito que eu me lembrava desde pequeno, fazia tempão que eu não entrava lá, mas me lembrava da época de moleque. O filho dela, que Deus o tenha, vivia andando comigo pra cima e pra baixo nesse morro.

— E aí, machucou muito? — perguntei pra tia da garota.

Bem na hora meu irmão se ajoelhou na frente da maluca, o safado fez questão que segurar bem no meio das coxas dela, alguma coisa se remexeu dentro de mim, quando vi que ela estava tentando segurar a mão dele, não deixando ele subir mais nenhum pouco, também se subisse mais Vitinho ia tá com a mão bem em cima da boceta dela, ele não tinha nenhum pingo de vergonha.

Ela ergueu os olhos castanhos e ficou ali me encarando. O que a garota tinha de maluca, ela também tinha de linda essa era a verdade.

O shorts colado marcando sua bunda e as coxas era uma tentação, o cabelo alisado ia até a cintura dela e mesmo com aquela blusa de bichinho me deu vontade de beijar. Mas ela era nova e maluca, não fazia meu tipo.

— Rasgou toda a perna da coitadinha, o braço acho que foi uma torção boba. Vai melhorar rapidinho, ela é forte! — não entendi a última frase da tia, como assim a mina era forte?

Mas eu estava com os olhos vidrados nela, encarando a boca carnuda, os lábios entreabertos e meu sangue ferveu de pensar que ela podia tá assim meio ofegante pelo toque do Vitor. Porra o que tinha de errado comigo?

— Ahh merda! — ela gritou com dor quando meu irmão colocou o algodão no machucado. — Isso arde de mais.

— Vai ficar tudo bem, calma filha.

Não vou negar que estranhei ela não ter soltado uma penca de palavrão, mas ela parecia certinha de mais pra falar do nosso jeito.

Tinha que sair dali e parar de reparar nela, caralho!

— E como posso agradecer aí, já que ela salvou meu irmão?

— Que isso Miguel, não precisa de nada não! — ela se afastou abanando a mão. — Quem ia deixar o menino morrer homem?

— Não tem essa não dona Nalva! Eu insisto, não gosto de dever a ninguém não!

— Já que insisti então eu aceito um beijo dele. — me virei surpreso pela coragem da garota, acho que não é tão inocente quanto eu pensei. — É só o Juninho me dar um beijinho aqui. — ela falou apontando pra bochecha e eu soltei o ar.

Eita cassete, porque tinha logo pensado que a mina estava falando de mim?

Meu irmão se debateu e eu coloquei ele no chão, que correu direto pro sofá junto dela.

— Você gosta, não é safadinho? — Vitinho falou encarando nosso irmão jogar os braços em volta da garota e dar um beijo, só pra ganhar um monte em troca.

O garotinho gargalhava com as cócegas e os beijos dela, Camila parecia até que tinha esquecido da dor.

— Mas isso não paga minha dívida. — exclamei voltando ao assunto.

Já não bastava o desentendimento da porra que tivemos hoje cedo, só o que faltava era agora ela salvar meu irmão e eu não fazer nada em troca.

— Eu disse que não...

— Arruma um emprego pra ela. — dona Nalva nem deixou ela terminar. — Ela chegou agora do interior, vai ser difícil arrumar emprego e se adaptar ao Rio rápido, se puder arrumar um emprego pra ela já ajuda.

A garota não retrucou dessa vez, ela ficou quieta parecendo pensar no que a tia tinha falado.

Encarei ela, que peste de trabalho eu ia arrumar pra garota? Podia indicar ela pra trabalhar em alguma casa lá no asfalto, ou no escritório dos amigos advogado do Vitinho. Mas porra isso não parecia certo.

Juninho pulou agarrado ao seu pescoço e colou mais um beijo na bochecha dela. Isso me deu um estalo na hora, tinha acabado de achar a babá pra ele.

— Então tá contratada pra ser babá do Juninho!

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