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Capítulo XI - Camila

Quando cheguei na casa de Juninho pela manhã, achei que encontraria o menino dormindo ainda, mas ao invés disso dei de cara com ele terminando a primeira mamadeira do dia, enquanto assistia um desenho na televisão.

— Bom dia, chegou bem na hora. — Miguel cumprimentou não demorando o olhar em mim.

— Bom dia, bom dia lindinho. — falei apertando a bochecha fofinha, mas os olhos dele nem se desviaram da tela. — Minha tia avisou que você precisava de mim o mais rápido possível. — ele se afastou voltando para o irmão. — Não sabia que eu teria que cuidar dele aqui, na sua casa.

— Aqui é mais seguro que na casa da tua tia. Vou ter que sair agora de manhã, resolver umas tretas que apareceram aí. Vem vou te mostrar a casa. — ele se virou seguindo pelo corredor antes mesmo de ver se eu o seguia.

Dei passos apressados atrás dele, que começou a me mostrar os cômodos. A casa não era pequena como a de tia Nalva, além da sala havia três quartos, um para cada um deles, uma varanda e a cozinha.

— Juninho tem horários para comer? Dormir?

— Ele come quando tem quer, sempre pede. Mas o garoto ama doce e precisa de um controle, ele também gosta de ficar assistindo, mas tem brinquedos no quarto dele. — ele estava todo profissional enquanto me explicava tudo. — Se precisar de alguma coisa é só me ligar, meu número é esse. — falou me estendendo um papel com o número anotado.

— Ok.

— E mais uma coisa, Vitinho tá em casa. Provavelmente vai passar o dia dormindo, já que chegou da farra agora. — ele semicerrou os olhos e deu um passo se aproximando. — Vê se lembra do que tá sendo paga pra fazer aqui, é cuidar do Juninho e não ficar arrastando asa pro outro.

Engoli em seco querendo mandar ele tomar naquele lugar e sair dali, mas fiquei quieta, tia Nalva tinha me lembrado de não fazer nenhuma besteira, pois esse dinheiro ia ajudar e já que eu estava morando de favor, não podia ficar retrucando quando não tinha nem mesmo outro trabalho em vista.

— Tchau Juninho, já volto. — ele falou bagunçando os cachinhos loiros e dando um beijo no topo da cabeça do irmão.

Parecia até mesmo outra pessoa e não o cara que fez questão de mostrar qual era o meu lugar aqui.

— Que tal se a gente for passear na rua? — eu precisava de ar e ele de sol, dar uma volta ia fazer bem pra nós dois.

Vamo! — ele gritou animado.

— É sim, vamos colocar o tênis e brincar lá fora.

Estava tão distraída que não reparei em nenhum barulho a minha volta, e quando me virei dei de cara com João Vitor, apenas de toalha com a água escorrendo por seu corpo.

Merda! Se concentra Camila, as palavras de João Miguel se repetiam em minha mente e eu fiz de tudo para me livrar rapidamente dele.

Na rua comecei a andar, vi alguns homens olhando esquisito pra mim, enquanto Juninho falava com eles, acenando ou chamando pelo nome.

Eu não conhecia nenhum deles, mas quem eu conhecia ali não é mesmo?

Usinha, quê doce! — ele falou quando estávamos passando pela rua da mercearia.

— A ursinha não tem dinheiro aqui, depois compro pra você.

Eu não tinha nenhuma moeda sequer nos bolsos, ainda tinha sim um pouco de dinheiro, mas estava em casa, não tinha trazido nenhum dinheiro comigo.

— Mas o Miguel dexa. — ele falou dengoso e errando as palavras.

— A ursinha também deixa, mas preciso pegar o dinheiro primeiro. — me abaixei na frente do menino antes que ele começasse um show ali. — A gente vai dar uma volta até na sede e vamos em casa buscar um dinheiro antes de pegar, pode ser?

Se tivesse sorte ele desistiria do doce antes que descêssemos.

Binado! — ele falou querendo dizer combinado. Era fofo de mais, não tinha como não se apaixonar.

A sede ficava mais ao topo do morro e eu sabia que lá teriam crianças brincando na rua.

E foi dito e feito, o menino brincou, jogou bola, pulou e rolou na terra. Se cansando e brincando como uma criança normal, era assim que devia ser seu dia e não enfurnado em casa assistindo televisão.

Estávamos voltando, Juninho saltitava todo sujo e assim que viramos duas ruas perto da casa da minha tia, dois garotos apareceram na nossa frente fechando a rua.

— Olha só quem tá aqui.

— É a vadia do outro dia.

Merda, eram os mesmos que tentaram me roubar no dia em que cheguei aqui.

— Eu não quero confusão, só estou levando o Juninho na sede. — falei segurando o menino mais perto de mim. — É só me deixarem passar e está tudo bem.

— É, mas a gente não vai deixar. — um deles chegou mais perto e eu recuei, sabendo que não conseguiria correr muito com Juninho no colo e uma perna ainda machucada.

Quando o outro mexeu na cintura puxando uma arma, eu fui rápida em virar a cara do menino contra meu peito. Crianças não deveriam ficar vendo aquilo, mesmo que essa fosse a realidade dos seus irmãos.

— Eu vou voltar pra casa então.

— Tu não vai pra lugar nenhum, ainda não esqueci o chute nas bolas que tu me deu. Tá me devendo e muito piranha.

Recuei não querendo esperar para ver o pior, quando minhas costas acertaram algo duro.

— Tão ficando doido, porra? Não tão vendo que é o irmão do chefe? E a mina agora é babá dele, vai querer mesmo mexer com ela e encarar Miguel depois? — a voz grossa e imperiosa soou atrás de mim, fazendo meu corpo todo arrepiar.

— Foi mau ai Bruno, a gente não sabia.

— Vamos dá no pé! — falou me olhando feio.

E como em um passe de mágica os dois saíram do meu caminho, voltando pelo mesmo lugar por onde tinham vindo.

Me virei com medo de quem eu encontraria atrás de mim, mas respirei mais aliviada quando vi que era o homem do outro dia, o mesmo que João Miguel tinha mandado para me seguir.

— Obrigada. — murmurei quase sem voz.

Não confiava nele, mas ele tinha me salvado, então não podia reclamar.

— Volta pra casa menina, Miguel não vai gostar nenhum pouco de saber que tu tá andando com o garoto por aí sem proteção.

Franzi o cenho sem entender o que aquilo deveria dizer, que tipo de proteção eu deveria carregar para o menino? Mas não disse nada, sai de lá rápido seguindo o seu conselho.

Corremos para casa, eu fiz cócegas e brincadeiras com o menino nas ruas pulando os degraus, subindo e descendo na calçada, queria distrai-lo para que não ficasse com uma imagem ruim daquele momento.

Quando entrei Juninho ria no meu colo e eu dei de cara com Vitor, usando apenas uma samba canção e parado na soleira da porta. Aquilo até me fez esquecer o perigo que passamos minutos atrás.

Que merda, parecia até que ele queria me testar, ver o quanto eu resistiria de olhar para o seu corpo. Podia até ser virgem, mas não era cega e tinha desejos.

Seguir o que Miguel falou estava se tornando impossível com o irmão me provocando daquela maneira.

Levei Juninho para o banheiro, brincamos enquanto ele jogava água e eu tirava toda a sujeira do seu corpinho.

Sai do quarto em busca de uma toalha, realmente desejando poder tomar um banho e acalmar o calor que Vitor insistia em me instigar. Mas o desgraçado me seguiu até lá, me encurralando contra o guarda roupa.

— O que você quer, Vitor?

— Você! — ele afirmou me fazendo erguer os olhos de pressa. — Quero você, ursinha!

Vitor se curvou e, sem esperar dessa vez, colou a boca contra a minha. As mãos que estavam no guarda roupa voaram para meu corpo, os dedos longos se apertaram na minha cintura me puxando mais para si, enquanto os outros se enfiaram em meus cabelos.

Não tinha como resistir aquilo, não importava o que João Miguel tinha dito, ou qual era o meu lugar ali, eu só conseguia sentir os lábios dele.

Abri a boca dando passagem a sua língua e gemi sem conseguir me conter quando ele a deslizou sobre a minha, me arrepiando dos pés a cabeça.

Vitor sugou meu lábio, mordiscando a pontinha e fazendo meu corpo entrar em combustão. Era pra um beijo ser tão bom assim?

— Que porra é essa aqui! — a voz de Miguel fez com que eu o empurrasse no mesmo instante e encarasse o mais velho.

O que eu tinha feito?

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