Sai da casa de dona Nalva com Juninho no colo e Vitor atrás de mim, resmungando sem parar. Eu sabia que o safado estava querendo pegar a mina, ele fez questão de deixar bem claro tocando ela daquele jeito.
— Precisava colocar ela de babá do Juninho porra? Como que fica agora eu levar ela pra cama e ficar esbarrando nela dentro de casa?
— Isso nunca te impediu antes, você já pegou mais minas desse morro do que consegue lembrar.
— É, mas nenhuma dela estava dentro de casa, a garota vai começar a ter ideia errada. — ele passou na frente abrindo o portão de casa. — Você tinha de ver, ela toda sem jeito quando quase a beijei.
— Quase? Desde quando tu fica no quase? — eu sabia bem a fama do safado, bem antes de completar dezesseis anos ele já tinha levado a filha de muita gente pra cama.
— Desde que você e a dona Nalva viraram empata foda, estava já pertinho daquela boca carnuda e você chega gritando.
Não consegui evitar de sorrir, era bem feito que ele tivesse pagado de otário e não conseguiu.
— Tu vê se segura tua onda. Juninho precisa de uma babá e a garota já mostrou serviço sem nem conhecer o moleque.
— Minha usinha, minha! — ele gritou pulando no sofá querendo atenção.
— Sim, é sua ursinha e Vitinho vai deixar a mina em paz.
Eu sabia que ele não se daria por vencido, quando o traste botava uma coisa na cabeça ninguém tirava.
— Eu? Deixar a ursinha em paz? Só depois de ter ela sentando gemendo meu nome.
A imagem se formou em minha mente, Camila subindo e descendo, cavalgando com a cabeça jogada para trás e a boca aberta, gemendo e procurando por ar, a pele negra brilhando de suor e... merda, Vitinho em baixo dela não. Caralho!
— Escuta bem, porque eu só vou mandar o papo uma vez. — falei apontando o dedo pra ele e acabando com o sorrisinho. — Se tu estragar tudo, é tu que vai ficar de babá de agora em diante!
— Porque não deixa o garoto na dona Isabel, como sempre fez?
— Porque a veia doida deixou o moleque na mão da desmiolada da sobrinha e ele quase morreu! — gritei o óbvio na cara dele, não sabia como Vitinho conseguia só pensar com a cabeça de baixo e esquecer todo o resto. — Tá querendo deixar teu irmão morrer por causa de boceta?
Ele encolheu os ombros e baixou a cabeça, coçando a nuca e puxando os fios que escapavam do boné.
— Não cara, claro que não! Sabe que vocês são tudo pra mim. — ele falou baixo e puxou Juninho pro colo, mas o garoto só estava ligado na tv.
— Então melhor tu controlar teu pau, ou arrumar outra mina. Camila tá fora dos limites!
— Pra qualquer um de nós dois! — ele emendou me fazendo sacudir a cabeça concordando a contragosto.
Mas era o certo, ela não era mina pra mim, nem pro meu irmão. Vitinho só estava fascinado porque é carne nova no pedaço, mas assim que tivesse um gostinho ele ia deixar de lado e isso só ia dar dor de cabeça.
Tratei de ocupar a cabeça com o que era importante e esquecer o assunto daquela mina, agilizei os corres do morro, muita treta pra resolver e tudo nas minhas costas claro, se não ficasse em cima tinha cara que não se mexia pra nada.
No começo da noite dei uma passa na sede, deixei Juninho correr pra brincar com as crianças lá, o moleque gostava de ver as aulas de artes marciais, já eu nunca tive jeito pra isso, porrada até sei dar e me garanto bem em uma briga, mas prefiro resolver as coisas na bala, rápido e limpo.
— Não sabia que ele fazia luta. — a voz da ursinha soou atrás de mim.
Merda nem acredito que estava usando aquele apelido, devia chamar ela de diaba isso sim, se materializando em todo lugar que eu estou.
— O que tá fazendo aqui? Não devia tá de cama descansando a perna? — falei sem nem olhar pra trás pra ver ela, mas isso não impediu a danada, que deu um passo parando do meu lado.
— Bianca quis vim ver um garoto e me arrastou com ela, disse que eu tinha que conhecer o lugar.
Ela fala tão certinho, que chega a ser irritante e aquele sotaque de paulista piorava tudo. Mas era só olhar pra criatura pra esquecer isso, a regata azul cheia de flor não era folgada como a blusa de antes, essa estava marcando o corpo dela, a cintura fina, o decote.
Bufei me virando pra frente, a garota era um perigo pros caras dali, mas ela parecia nem perceber geral de olhão em cima dela. Fechei a cara querendo espantar a molecada, mas era impossível não querer olhar para o corpo dela.
— Juninho não faz aula não, mas gosta de ficar olhando. — comentei querendo mudar o rumo dos meus pensamentos e acenei para o professor, mostrando que precisava de cinco minutos.
— Ele é lindo, uma criança muito fofa. — ela se sacudia sem sair do lugar, quase uma criança inquieta.
— Quantos anos tu tem? — a pergunta pulou da minha boca.
— Vinte! E eu já cuidei de criança antes, onde eu morava era a babá do bairro. O lugar era pequeno e todo mundo me conhecia, mas garanto que sou boa com criança, vou cuidar direitinho do Juninho.
Vinte, era uma menina ainda. Pelo menos não era de menor, isso ia atiçar ainda mais o safado do Vitinho, certeza que ele ia cair matando em cima dela quando soubesse a idade.
— Estou preocupado com isso não, sei que vai cuidar direitinho do meu irmão. — me aproximei dela curvando o corpo pra chegar a altura dela. — Mas acho melhor ficar longe do mais velho.
Vi a mina engolir em seco, os olhos castanhos se arregalaram um pouco mais e eu me virei pra sair, ia fumar um cigarro e voltava já pra pegar o garoto.
— Eu não quero nada com seu irmão. — ela disse vindo atrás de mim e eu quis dar um grito pra ela se mandar, só queria a porra de cinco minutos sozinho. — Ele tentou me beijar, mas não foi nada. Eu juro... não foi nada, eu... eu realmente preciso desse emprego.
Acendi o cigarro e dei uma tragada longa, antes de voltar meus olhos pra ela, a luz ali no beco era bem pouca, mas eu conseguia ver a respiração rápida dela e a dificuldade em apoiar a perna no chão.
Camila tossiu e torceu o nariz, mas não disse nada do cheiro do cigarro, continuou ali me olhando, como se tivesse esperando uma resposta. Eu não tinha nada que dizer, era problema dela se queria Vitinho, só não queria ouvir chororô na minha porta depois.
— Porque precisa desse emprego? — questionei jogando o cigarro praticamente inteiro no chão. — O que você aprontou na sua cidadezinha pra ser mandada pra cá? — eu dei um passo na direção dela e um trovão soou, fazendo ela pular no lugar com medo, os olhos arregalados olharam pro céu, o peito subindo e descendo disparado. — O que te aconteceu? É só um trovão.
Mas quando outro mais forte explodiu, Camila deu um passo pra trás, pisando com a perna machucada e perdendo o equilíbrio por um segundo.
Fui mais rápido e segurei seu tronco, antes que se caísse no chão. As mãos dela agarraram meus braços com força e ela me puxou mais pra perto, quando o terceiro trovão encheu nossos ouvidos a garota enterrou o rosto em meu peito.
— Ei, o que você tá fazendo? — estava a um segundo de empurrar ela pra longe quando ouvi o soluço baixo.
Que merda estava acontecendo? A mina estava chorando e se agarrando em mim por causa do trovão? Ou ela tinha ficado completamente maluca?
O som do trovão parecia retumbar por meu corpo, se concentrando em meu coração, ditando o ritmo que ele batia. Enquanto minha mente se enchia de imagens daquela noite, o frio do vento, o gelo das aguas cobrindo minhas pernas e as gotas grossas que molhavam todo o meu corpo.Meu corpo tremia involuntariamente e as lágrimas pesadas rolavam por meu rosto. Eu tinha uma vaga noção de ter braços em volta de mim, me segurando firme e acariciando minhas costas, mas eu só conseguia me concentrar na imagem dos meus pais me olhando do outro lado da cratera, os rostos marcados da vida dura, as marcas de expressões profundas apesar da pouca idade.Mesmo com tudo isso eles me olhavam conformados com o que estava prestes a acontecer, não havia medo ou desespero nos rostos deles quando me deram uma última olhada.“Nós amamos você!” as últimas palavras da minha mãe se repetiam em um loop, eu desejava que aquilo pudesse me acalmar, mas não tinha esse efeito mais, só me trazia a solidão.— Camila olha p
Estava me sentindo um caco quando cheguei em casa já de manhã, alguns amigos advogados me chamaram pra inauguração de uma boate. Tinha me cansado de tentar arrastar Miguel para uma dessas festas, mas ele se recusava. Dizia que era pra evitar pessoas esnobes, mas eu sabia bem que ele não queria era evitar algum encontro indesejado com a polícia, ali no morro tínhamos segurança, mas já no asfalto a conversa era outra.Passei a noite na balada e de lá fui para o motel com uma morena, não tinha conseguido tirar Camila da cabeça e acabei me agarrando com a mulher mais parecida com ela. Sabia que aquilo era fodido de mais, mas não consegui evitar, minha mente ficava a todo momento criando cenas com ela e em minha cama, me chupando, cavalgando em cima de mim, gemendo meu nome, por isso precisei tentar suprir minha vontade dela com outra.— Bom dia. — falei entrando em casa e vendo Miguel entregando a mamadeira pra Juninho. — Já acordado.Bufei sabendo que Miguel ia sair e eu teria que cuidar
Quando cheguei na casa de Juninho pela manhã, achei que encontraria o menino dormindo ainda, mas ao invés disso dei de cara com ele terminando a primeira mamadeira do dia, enquanto assistia um desenho na televisão.— Bom dia, chegou bem na hora. — Miguel cumprimentou não demorando o olhar em mim.— Bom dia, bom dia lindinho. — falei apertando a bochecha fofinha, mas os olhos dele nem se desviaram da tela. — Minha tia avisou que você precisava de mim o mais rápido possível. — ele se afastou voltando para o irmão. — Não sabia que eu teria que cuidar dele aqui, na sua casa.— Aqui é mais seguro que na casa da tua tia. Vou ter que sair agora de manhã, resolver umas tretas que apareceram aí. Vem vou te mostrar a casa. — ele se virou seguindo pelo corredor antes mesmo de ver se eu o seguia.Dei passos apressados atrás dele, que começou a me mostrar os cômodos. A casa não era pequena como a de tia Nalva, além da sala havia três quartos, um para cada um deles, uma varanda e a cozinha.— Junin
Estava conversando com os chefes dos outros morros, resolvendo as tretas que eram da conta de todos nós.O complexo eram várias favelas unidas e sempre mantemos assim. Nós fomos "pacificados" há uns anos atrás, recebíamos até turistas agora, uns subiam pra ver a vida aqui, outros querendo usar o teleférico e ter uma vista top do Rio.Mas essa merda era coisa só pra iludir quem estava de fora, quem morava dentro da comunidade sabia que esses polícias não estavam nem aí pra pacificação. No começo o povo da comunidade toda acreditou, mas depois que muita gente inocente começou a morrer, a ser levada pra depor e nunca mais voltar, a apanhar sem motivo, aí eles viram que não tinha esse negócio de pacífico no nosso mundo.O problema é que polícia é gente e qualquer pessoa pode ser corrompido, o que eles queriam era dinheiro. E depois de ver que bater de frente não ia resolver, começamos a pagar aí pra eles um valor, a gente trabalhava em paz, eles saiam como herói e o povo da comunidade fic
As palavras de Miguel rondavam minha mente, eu nunca pensei que poderia me sentir tão mal assim por algo que as pessoas falassem de mim, mas cada palavra dele, me diminuindo, colocando pra baixo e querendo mostrar qual era o meu lugar, foram como uma faca cravando cada vez mais fundo em meu coração.Depois do banho peguei Juninho e fui para a cozinha fazer o almoço dele, o menino tinha sido tão fofo quando viu que eu estava chorando, ele apoiou as mãos em meu rosto e ficou acariciando minhas bochechas querendo que eu me acalmasse. Era bom ver que ao menos um dos homens daquela família tinha um coração.Por sorte não vi nenhum dos dois mais velhos, não sabia como lidaria com nenhum deles. Ouvir que Vitor passou a noite com outra garota não deveria ter me feito tão mal, mas fez. Mesmo que Bianca tivesse me contado sobre a má fama dele, saber que ele dormiu com outra e poucas horas depois estava me beijando fez eu me sentir ainda pior.Esperei Juninho dormir depois das duas da tarde, par
Eu estava com uma puta dor de cabeça quando acordei, passei boa parte da tarde me revirando na cama, tentando dormir enquanto minha mente se negava a desligar, ficava voltando desde o momento em que finalmente tive aquela boca gostosa contra a minha, e o inferno de momento quando meu irmão me contou tudo.Se tinha uma coisa que eu gostava de manter simplificada na minha vida era o quesito mulheres, todo o resto já era complicado, ter me formado no que meu pai queria só pra ajudar nas coisas ilegais, ajudar criminosos e ser um.Eram várias coisas confusas e fodidas na minha vida, quem passava por minha cama tinha que ser o mais simples possível. Não queria ter que lidar com uma garota que surtava sem mais nem menos, também não queria ter relacionamentos, gostava da minha liberdade.Mas em contrapartida tinha aquela garota com os lábios carnudos e doce, porra sim, ela tinha um gosto doce e o gemido que soltou quando enfiei a língua em sua boca me deixou duro como pedra.Eu queria ter ti
O baile estava lotado como sempre e eu gostava daquele jeito, geral se divertindo, dançando, bebendo e se pegando. Estava no camarote, era como uma varanda enorme, muitos queriam subir até ali, principalmente as garotas que sempre ficavam tentando chamar atenção.Mas essa noite não estava parecendo a mesma coisa, nem Vitinho estava no clima, parecia mais ocupado em conversar com o amigo racker do que nas garotas rebolando na batida do funk.— Está distraído hoje. — Dany falou deslizando as unhas afiadas por meu pescoço. — Quer uma ajudinha?Eu tinha ido buscar ela com outras ideias, era a pessoa perfeita pra tirar todo o estresse dessa semana de cão e pra me fazer parar de pensar em lábios carnudos, olhos castanhos e uma pele negra macia de mais, vulgo Camila.Mas mesmo com ela ali no meu colo, sacudindo a bunda no ritmo da música, isso não me animava para nada. Meu pensamento estava toda hora voltando pra aquela garota e eu me perguntando o que ela deve tá fazendo.— Mais tarde gata.
Não sei bem em que momento peguei no sono ao lado de Juninho, me deitei ali para fazer um cafuné até que ele dormisse, mas fiquei tão envolvida com as vagas de emprego que adormeci ali mesmo, com o celular em cima da minha barriga.Acordei com algumas vozes e passos pela casa, com certeza os dois tinham chegado, mas não ia me arriscar a sair e dar de cara com nenhum deles, muito menos com a mulher linda que ele trouxe mais cedo.Graças a Deus o barulho acabou bem rápido, eu me aconcheguei mais na cama junto com Juninho e tentei voltar a dormir, mas minha mente parecia bem acordada, era em torno de seis da manhã o que explicaria a falta de sono, eu costumava acordar bem cedo.Desbloqueei meu celular e vi mensagens de Bianca, um monte delas mostrando o desespero dela.Bia: primaaaaaaBia: Camila, responde sua vaca!Bia: pelo menos lê mulher!Bia: tá bom, mas fica avisada se qualquer um deles perguntar do trampo diz que arrumei sim, que vai trabalhar comigo na loja.Bia: eu abri a boca e