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Capítulo VIII - Miguel

Sai da casa de dona Nalva com Juninho no colo e Vitor atrás de mim, resmungando sem parar. Eu sabia que o safado estava querendo pegar a mina, ele fez questão de deixar bem claro tocando ela daquele jeito.

— Precisava colocar ela de babá do Juninho porra? Como que fica agora eu levar ela pra cama e ficar esbarrando nela dentro de casa?

— Isso nunca te impediu antes, você já pegou mais minas desse morro do que consegue lembrar.

— É, mas nenhuma dela estava dentro de casa, a garota vai começar a ter ideia errada. — ele passou na frente abrindo o portão de casa. — Você tinha de ver, ela toda sem jeito quando quase a beijei.

— Quase? Desde quando tu fica no quase? — eu sabia bem a fama do safado, bem antes de completar dezesseis anos ele já tinha levado a filha de muita gente pra cama.

— Desde que você e a dona Nalva viraram empata foda, estava já pertinho daquela boca carnuda e você chega gritando.

Não consegui evitar de sorrir, era bem feito que ele tivesse pagado de otário e não conseguiu.

— Tu vê se segura tua onda. Juninho precisa de uma babá e a garota já mostrou serviço sem nem conhecer o moleque.

— Minha usinha, minha! — ele gritou pulando no sofá querendo atenção.

— Sim, é sua ursinha e Vitinho vai deixar a mina em paz.

Eu sabia que ele não se daria por vencido, quando o traste botava uma coisa na cabeça ninguém tirava.

— Eu? Deixar a ursinha em paz? Só depois de ter ela sentando gemendo meu nome.

A imagem se formou em minha mente, Camila subindo e descendo, cavalgando com a cabeça jogada para trás e a boca aberta, gemendo e procurando por ar, a pele negra brilhando de suor e... merda, Vitinho em baixo dela não. Caralho!

— Escuta bem, porque eu só vou mandar o papo uma vez. — falei apontando o dedo pra ele e acabando com o sorrisinho. — Se tu estragar tudo, é tu que vai ficar de babá de agora em diante!

— Porque não deixa o garoto na dona Isabel, como sempre fez?

— Porque a veia doida deixou o moleque na mão da desmiolada da sobrinha e ele quase morreu! — gritei o óbvio na cara dele, não sabia como Vitinho conseguia só pensar com a cabeça de baixo e esquecer todo o resto. — Tá querendo deixar teu irmão morrer por causa de boceta?

Ele encolheu os ombros e baixou a cabeça, coçando a nuca e puxando os fios que escapavam do boné.

— Não cara, claro que não! Sabe que vocês são tudo pra mim. — ele falou baixo e puxou Juninho pro colo, mas o garoto só estava ligado na tv.

— Então melhor tu controlar teu pau, ou arrumar outra mina. Camila tá fora dos limites!

— Pra qualquer um de nós dois! — ele emendou me fazendo sacudir a cabeça concordando a contragosto.

Mas era o certo, ela não era mina pra mim, nem pro meu irmão. Vitinho só estava fascinado porque é carne nova no pedaço, mas assim que tivesse um gostinho ele ia deixar de lado e isso só ia dar dor de cabeça.

Tratei de ocupar a cabeça com o que era importante e esquecer o assunto daquela mina, agilizei os corres do morro, muita treta pra resolver e tudo nas minhas costas claro, se não ficasse em cima tinha cara que não se mexia pra nada.

No começo da noite dei uma passa na sede, deixei Juninho correr pra brincar com as crianças lá, o moleque gostava de ver as aulas de artes marciais, já eu nunca tive jeito pra isso, porrada até sei dar e me garanto bem em uma briga, mas prefiro resolver as coisas na bala, rápido e limpo.

— Não sabia que ele fazia luta. — a voz da ursinha soou atrás de mim.

Merda nem acredito que estava usando aquele apelido, devia chamar ela de diaba isso sim, se materializando em todo lugar que eu estou.

— O que tá fazendo aqui? Não devia tá de cama descansando a perna? — falei sem nem olhar pra trás pra ver ela, mas isso não impediu a danada, que deu um passo parando do meu lado.

— Bianca quis vim ver um garoto e me arrastou com ela, disse que eu tinha que conhecer o lugar.

Ela fala tão certinho, que chega a ser irritante e aquele sotaque de paulista piorava tudo. Mas era só olhar pra criatura pra esquecer isso, a regata azul cheia de flor não era folgada como a blusa de antes, essa estava marcando o corpo dela, a cintura fina, o decote.

Bufei me virando pra frente, a garota era um perigo pros caras dali, mas ela parecia nem perceber geral de olhão em cima dela. Fechei a cara querendo espantar a molecada, mas era impossível não querer olhar para o corpo dela.

— Juninho não faz aula não, mas gosta de ficar olhando. — comentei querendo mudar o rumo dos meus pensamentos e acenei para o professor, mostrando que precisava de cinco minutos.

— Ele é lindo, uma criança muito fofa. — ela se sacudia sem sair do lugar, quase uma criança inquieta.

— Quantos anos tu tem? — a pergunta pulou da minha boca.

— Vinte! E eu já cuidei de criança antes, onde eu morava era a babá do bairro. O lugar era pequeno e todo mundo me conhecia, mas garanto que sou boa com criança, vou cuidar direitinho do Juninho.

Vinte, era uma menina ainda. Pelo menos não era de menor, isso ia atiçar ainda mais o safado do Vitinho, certeza que ele ia cair matando em cima dela quando soubesse a idade.

— Estou preocupado com isso não, sei que vai cuidar direitinho do meu irmão. — me aproximei dela curvando o corpo pra chegar a altura dela. — Mas acho melhor ficar longe do mais velho.

Vi a mina engolir em seco, os olhos castanhos se arregalaram um pouco mais e eu me virei pra sair, ia fumar um cigarro e voltava já pra pegar o garoto.

— Eu não quero nada com seu irmão. — ela disse vindo atrás de mim e eu quis dar um grito pra ela se mandar, só queria a porra de cinco minutos sozinho. — Ele tentou me beijar, mas não foi nada. Eu juro... não foi nada, eu... eu realmente preciso desse emprego.

Acendi o cigarro e dei uma tragada longa, antes de voltar meus olhos pra ela, a luz ali no beco era bem pouca, mas eu conseguia ver a respiração rápida dela e a dificuldade em apoiar a perna no chão.

Camila tossiu e torceu o nariz, mas não disse nada do cheiro do cigarro, continuou ali me olhando, como se tivesse esperando uma resposta. Eu não tinha nada que dizer, era problema dela se queria Vitinho, só não queria ouvir chororô na minha porta depois.

— Porque precisa desse emprego? — questionei jogando o cigarro praticamente inteiro no chão. — O que você aprontou na sua cidadezinha pra ser mandada pra cá? — eu dei um passo na direção dela e um trovão soou, fazendo ela pular no lugar com medo, os olhos arregalados olharam pro céu, o peito subindo e descendo disparado. — O que te aconteceu? É só um trovão.

Mas quando outro mais forte explodiu, Camila deu um passo pra trás, pisando com a perna machucada e perdendo o equilíbrio por um segundo.

Fui mais rápido e segurei seu tronco, antes que se caísse no chão. As mãos dela agarraram meus braços com força e ela me puxou mais pra perto, quando o terceiro trovão encheu nossos ouvidos a garota enterrou o rosto em meu peito.

— Ei, o que você tá fazendo? — estava a um segundo de empurrar ela pra longe quando ouvi o soluço baixo.

Que merda estava acontecendo? A mina estava chorando e se agarrando em mim por causa do trovão? Ou ela tinha ficado completamente maluca?

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