Cap.3
— Volto em alguns minutos. — Falou olhando apreensivo para Deméter. Aurélio queria ficar e ouvir o que ele queria falar com a menina, mas não tinha coragem de retrucar e ficar para ouvir.— Agora que ele saiu, me conte, ele está cuidando de você? — Perguntou com total atenção esperando que ela criasse um pouco de confiança.— Ele é meu pai, senhor, como poderia ele não cuidar de mim? — Falou rapidamente, pois tinha medo de contar a verdade a um desconhecido.— Não sei, só estou pensando demais. Espero que ele cumpra sua palavra até o prazo...— Que prazo? — Perguntou confusa.— Não é nada de mais, não houve nenhuma mudança após sua mãe... Você sabe — Tentou novamente arrancar-lhe algo, mas o que podia fazer Deméter? Ele não parecia uma pessoa em quem se pudesse confiar pelo contrário tudo nele gritava perigo. Dalila sentia medo de contar qualquer coisa a ele, já que ele era amigo de seu pai poderia contar-lhe sobre o que ouviu.— Por que está tão interessado em assuntos relacionados a minha família? Eu não posso falar nada, afinal não sei de nada, tudo que eu sei é que minha mãe estava bem, mas de repente ficou doente até que partiu.— Sim, a morte dela foi estranha, mas acontece. Sei que é recente, mas não fique tão desanimada, coisas boas acontecem nas nossas vidas as vezes. —Tentou a consolar gentilmente, mesmo que sua aparência indicasse que esse homem não era do tipo que poderia ser gentil. Deméter transpirava impiedade com seu jeito sério e expressão sempre dura.— Coisas boas? — soltou um riso discreto e amargo. — Não acho que venha algo de bom a começar de hoje. Eu não sei o que está acontecendo e agora estou sentada conversando com um senhor desconhecido que conheceu a minha mãe, mas não sei quem é.— Tem certeza? Por que já nos vimos algumas vezes.— Como assim? — Perguntou curiosa.— Você sempre vai a boutique e a perfumaria D’cores perto da sua escola, esses estabelecimentos pertencem a mim. Como dono eu ando por esses lugares com uma certa frequência então te vi algumas vezes.— Não é possível! Você é dono daqueles lugares de sucesso? — Falou animada, demonstrando interesse.— Sim, mas não a vejo lá fazem alguns dias, o que está acontecendo?— Meu pai, após mamãe ficar doente ele me proibiu de sair. — Contou se sentindo mais à vontade.— Nem mesmo para ir à escola?— Não, depois da morte de minha mãe ele também me tirou da escola.— Isso parece triste, sem amigos...— Eu fiquei triste porque ele me tirou da escola. Não posso ver minhas duas únicas amigas e nem sequer sair.— Além de que sua educação é importante, seria uma moça medíocre sem estudo.— Tenho uma biblioteca, posso estudar por conta própria! — Comentou de forma arrogante.— Boa garota, eu prezo por moças inteligentes e fortes.— Mas o que eu tenho a ver com isso? — Perguntou o fazendo engolir em seco ficando desconfortável.— Tem uma língua bem afiada, igual a sua mãe, espero que saiba se cuidar bem. — Disse gentilmente, ignorando sua petulância.— O senhor quer dizer algo? Está cheio de entrelinhas. — Perguntou o fazendo engolir em seco novamente.— Não é nada de mais, você deve ignorar.— Mas porque meu pai queria que eu te conhecesse? — Perguntou desconfiada, Deméter já estava se sentindo arrependido visto que Dalila já estava se sentindo mais confortável em lhe fazer perguntas, quando na verdade era ele quem as deveria fazer. A menina já arrancou mais informações em segundos do que ele em todo o tempo em que estiveram juntos.— Voltei! — Avisou seu pai trazendo duas garrafas de vinho e taças cristalizadas.— Papai, posso me retirar? — Perguntou se levantando esperando sua resposta, então Deméter acenou positivamente de forma discreta sem que ela percebesse.— Claro, minha querida filha. — Falou com falsa ternura.— Obrigada. — Agradeceu seguindo até seu quarto.— Com certeza eu irei a levar embora na maior idade. — Comentou voltando a sua expressão dura, quando finalmente a viu subir a escada.— Você realmente está interessado nessa garota... Minha querida filha.— Não precisa manter as aparências, eu sei reconhecer um fingido de longe e eu já percebi que você não gosta dessa menina. Porque quer mantê-la aqui? — Perguntou secamente.— Não é como está pensando... — Mentiu sorrindo cinicamente. — Eu apenas a crio de forma mais severa, se a mimo demais um homem não saberia lidar com ela.— Hum... — Ficou em silêncio pegando uma das garrafas em sua mão, abrindo e inalando o cheiro do vinho demonstrando se agradar, assim ficaram degustando o vinho caro.— Então... O senhor vai transferir o dinheiro? — Perguntou ansioso, se tem uma coisa que Aurélio adora é o dinheiro, se preciso for ele faz as coisas mais sujas para obter.— Metade! Ela deve ser bem cuidada até o fim do prazo e então a outra parte será paga com muito prazer. — Explicou sério, mesmo que no fundo soubesse que ele não cumpriria, não tinha muito o que fazer para ajudar a criança.— Está bem, metade é maravilhoso. — Disse animado "Como ele pode dar tanto dinheiro facilmente por uma m*****a bastarda? Bom para mim, agora que sua mãe morreu posso ficar rico com a sua filha." Pensamentos perversos tomaram sua mente, ele agia como se não fosse pai da menina.— A transferência já foi providenciada, você pode usufruir do seu dinheiro e cuidar da menina, o que não deve ser nenhum sacrifício já que ela é tão educada. Espero vê-la em breve, não a deixe faltar nada, eu farei depósitos periódicos para as necessidades pessoais dela, use esse dinheiro para não se sentir incomodado em gastar com ela.— Sim senhor, você tem razão. Irei cuidar dela sempre e com todo amor, afinal é minha filha! — Concordou demonstrando reverência em demasia.Cap.4 encontro na boutique 3 semanas depois — Deixe a menina sair um pouco, venho observando-a e ela não faz nada de errado. — Pediu por telefone. — Eu vou lhe transferir determinado valor, mande-a comprar algo na butique.— Sim, senhor. — Concordou incomodado já que queria manter Dalila presa. Após a visita de Deméter, seu pai estava de bom humor então não havia maus tratos ou atitudes rigorosas, Dalila por sua vez vivia na biblioteca ou lendo no jardim nos fundos da casa debaixo da sacada do quarto do pai onde ele podia a observar e policiar tudo que ela estaria lendo. O velho seguiu silencioso até o quarto da menina que se penteava de forma delicada, enquanto buscava entre os frascos vazios de perfume desapontada. Dalila era bastante vaidosa e vivia se arrumando, seus grandes e espertos olhos de cor quartzo admiravam sua beleza em frente ao espelho, realmente era uma jovem com aparência alegre e delicada. Sorriu com seus lábios finos e levemente rosados em aprovação ao que via,
Cap.5 o dia que o inferno iniciou.Seu pai estava na sala sentado com os pés descansando sobre a pequena mesa de apoio com o jornal na mão quando Dalila disparou pela escada a fim de esconder todas as sacolas.— Quanto privilégio uma jovem garota pode ter, sabia que não precisava dar dinheiro a essa medíocre. — Resmungou demonstrando seu total incômodo. — Bom, ao menos vou ligar para dizer que o pouco limite foi um mal-entendido e agradecer pelos presentes. — Dizia enquanto discava o número.— Onde ela está? — Perguntou atendendo imediatamente.— Já chegou em casa.— Não conseguir chegar a tempo de vê-la, meu filho não estava muito animado com a ideia de conhecer a garota. — Então o senhor não a viu? — Perguntou curioso se levantando enquanto olhava em direção as escadas com os olhos em chamas de fúria.— Não, infelizmente quando cheguei ela havia ido embora.— Está bem.— Podemos marcar outro dia, no momento não estou com tempo, mas quero vê-la novamente.— Ok, até mais. — Desligou
cap.6Abriu a porta para que Esmeralda entrasse quando Dalila o avistou vindo em sua direção após fechar a porta de esmeralda, ela rapidamente abriu a porta do carro e entrou evitando sua ajuda, ele apertou os lábios em um sorriso divertido e voltou ao volante, a sua animação era aparente e nem mesmo ele entendia o porque da tal emoção.— Onde a senhorita esmeralda quer ir? — perguntou-a ao se sentar ligando o carro, enquanto buscava a garota pelo retrovisor, mas ela se mantinha encolhida atrás do banco do motorista.— Me leve ao centro, tem muitas lojas de bebês conhecidas — Pediu gentilmente, Dalila a olhou furtivamente e estranhou aquele olhar como se o conhecesse.— Então ao centro! Chegaram ao centro em quase meia hora, Vittorio andava ao lado de esmeralda sempre tão próximo, aquilo deixou Dalila com uma pulga atrás da orelha, porém não deu importância, seja o que fosse, ela agia como se não fosse da sua conta.Dalila diminuiu os passos, a fim de não ouvir nada do que conversava
Cap.7Após o nascimento dos bebês passaram-se três meses, não foram os melhores meses porém não foram conturbados como pensou que seria, apesar de não se alimentar direito e seus estudos terem sido realmente excluídos da sua vida. Ainda assim havia a biblioteca lugar no qual não era proibido frequentar, pelo menos ali.Aquele lugar era seu ponto de equilíbrio. Com a iluminação limitada, ar seco, uma grande mesa de leitura e uma luminária para dar melhor iluminação ao local onde as páginas iriam ser lidas, Dalila deitava-se sobre a mesa e relaxava em meio aos livros amontoados ao seu redor que eram lidos um por um gradativamente.Já fazia tempo que ninguém entrava na biblioteca, o cheiro de mofo às vezes era trazido pelo ventilador e mesmo que Dalila cuidasse do local ela não conseguia fazer isso com a frequência que precisava, além disso, o seu pai demitiu a maioria dos empregados deixando apenas a pobre Monalisa.Dalila por sua vez também foi obrigada a cuidar da grande casa, então a
Cap.8 Vittorio ganha a confiança de AurélioSua respiração era pesada e os pés descalços congelavam, mas ela continuava a correr incansavelmente, sabia que seu pai lhe maltrataria mesmo que não tivesse feito nada de errado.Conseguiu chegar até um posto de gasolina, mas não havia ninguém, mal parecia estar funcionando, a lojinha antiga estava fechada e o frio já estava sendo torturante até avistar um banheiro ao lado da loja.Porta pichada, a fechadura parecia não funcionar para trancar mas ela mal se importou apenas entrou, sua visão foi tomada pelas varias divisórias dos banheiros com as portas quebradas, as paredes minadas, limo acumulado, da pia não caia água, algumas nem tinham mais torneiras. Dalila andava pausadamente pelo chão úmido e grudento com crosta grossa, tinha certeza que esse lugar estava abandonado, mas não se importava apenas queria encontrar uma divisão que pudesse se esconder por alguns minutos até seu pai desistir.— Estou falando sério, eu vi uma garota entrar a
Cap.9 aceito o trabalhoAmbos os homens saíram do quarto e seguiram em silêncio pelo corredor, rapidamente Monalisa passou levando uma bacia com água e pano entrando no quarto de Dalila ainda enrolada no sobretudo, dormindo.Após molhar o pano começou ao menos limpar o rosto sujo da garota sem segurar o remorso e o asco, ela não sabia bem o que acontecera, mas torcia para que ela não estivesse machucada em meio a todo aquele sangue respingado.— Queria conversar com o senhor...? — Inquiriu seu nome.— Vittorio.— Senhor Vittorio! Fico feliz em te conhecer e me sinto agradecido por salvar a menina.— Qualquer um o faria. — Disse frívolo, enquanto acompanhava Aurélio que demonstrava desconforto com a presença forte que esse homem transmitia de impetuosidade.— Sim, mas foi o senhor que fez, acredito que seja segurança ou algo assim? — Perguntou curioso ao entrar no escritório.— Sim, eu sou segurança às vezes.— Sinto que você é alguém confiável, eu poderia solicitar seus serviços nessa
Cap.10— O que está comendo? — Perguntou Monalisa perplexa ao entrar no quarto trazendo o absorvente, Dalila parou de mordiscar o chocolate e a encarou com os olhos esbugalhados.— Não foi você?— Não! — Fez cara de pânico ainda de pé próxima à porta.— Mas... Você jogou aqui na cama.— Não foi eu, mas você parece está bem melhor.— Sim! Engoli um desses comprimidos, agora estou bem. — Disse mais disposta e animada.— Mas quem comprou essas coisas? — Perguntou pegando as outras duas barras restantes e a caixa do remédio aberta. — Será que foi Auro? — Impossível... — Foi quando lhe veio Vittorio em seu pensamento, então se sentou próxima a ela para cochichar. — Tem um homem na casa.— Um homem?!— Sim, parece ser o segurança, mas não sei quem é, parece que seu pai colocou ele para te vigiar. — Como se já não estivesse ruim. — Murmurou com semblante triste.— Não fique triste, faltam 4 meses para você fazer 18 e então poderá ir embora. — A garota suspirou desapontada.— Para onde, mo
Cap.11— Estou surpresa! — Comentou Esmeralda sentada sobre a mesa com o pé apoiado na cadeira entre as pernas de Vittorio. — Sei que planejamos isso a uns anos atrás, mas não sabia que você realmente vinha atrás de mim. — Disse arrogante.— Foi uma coincidência, mas não pretendia vir.— Auro me contou que aquela coisinha quase sofreu um estrupo e você matou os dois homens, é uma pena, agora você é um herói! — Bufou como se não tivesse gostado.— Mesmo sendo quem eu sou, nunca permitiria que fizessem algo do tipo no meu território.— Você se interessou por ela? Para salvá-la?— Está equivocada, ela nem sabe que eu a salvei, eu apenas vi uma garota em perigo não tem nada a ver com interesse.— Bom, estou feliz que esteja aqui, eu quero que essa garota vá embora! Auro vem lhe dando uma vida boa e tranquila, eu quero estragar isso.— Por quê?— Ela ficaria na casa até os 18 anos, mas Auro estendeu para mais um ano e eu não sei porque, algo relacionado a herança da mãe, mas não entendo.—