cap.7

Cap.7

Após o nascimento dos bebês passaram-se três meses, não foram os melhores meses porém não foram conturbados como pensou que seria, apesar de não se alimentar direito e seus estudos terem sido realmente excluídos da sua vida. Ainda assim havia a biblioteca lugar no qual não era proibido frequentar, pelo menos ali.

Aquele lugar era seu ponto de equilíbrio. Com a iluminação limitada, ar seco, uma grande mesa de leitura e uma luminária para dar melhor iluminação ao local onde as páginas iriam ser lidas, Dalila deitava-se sobre a mesa e relaxava em meio aos livros amontoados ao seu redor que eram lidos um por um gradativamente.

Já fazia tempo que ninguém entrava na biblioteca, o cheiro de mofo às vezes era trazido pelo ventilador e mesmo que Dalila cuidasse do local ela não conseguia fazer isso com a frequência que precisava, além disso, o seu pai demitiu a maioria dos empregados deixando apenas a pobre Monalisa.

Dalila por sua vez também foi obrigada a cuidar da grande casa, então ajudava Dalila em todos os afazeres . Assim que saiu da biblioteca seguiu pelo corredor após minutos ouvindo os choros ensurdecedores das crianças no quarto, correu até o local e viu as crianças aparentemente agitadas há algum tempo sem ninguém por perto.

— Onde está a mãe de vocês? — Murmurou tentando acalmar as crianças sem as tirar do berço.

— O que você está fazendo com meus filhos?! — Gritou a tirando de perto do berço puxando-a pelo cabelo, foi tão repentino que ela nem conseguiu assimilar o que estava acontecendo até bater as costas na parede quando caiu no chão lançada pela madrasta ficando atordoada.

— O que aconteceu? — Bradou Aurélio ao ver Dalila no chão ainda desnorteada e os bebês chorando histericamente.

— Ela estava agredindo meus filhos! — Acusou deixando Dalila pasma.

— Pai, por favor, eu não fiz nada! — Tentou se defender, mas sua fala foi interrompida por um tapa brusco no pé da orelha.

— Venha aqui! — Seu pai a puxou bruscamente enquanto a madrasta acalmava as crianças. — Você vai aprender a não agredir meus filhos, sua vagabunda! — Começou arrasta-la pelo cabelo seguindo pelo corredor até seu quarto a jogando bruscamente na cama, ela o encarou em cólera ao visualizar a fina vareta que mal conseguiu ver quando ele pegou no chão do corredor, a delicada garota apenas escondeu o rosto enquanto seu pai lhe batia inúmeras vezes sem piedade, nem o tecido do seu vestido lhe salvou das marcas cruéis, suas súplicas não foram ouvidas, nenhuma palavra era pronunciada, apenas seus gritos e soluços enquanto protegia o rosto, nunca havia passado por uma situação tão cruel. Assim que ouviu a porta bater, relaxou sobre a cama ainda se contorcendo de dor sem controlar o choro e assim ficou até adormecer.

— Não vejo nenhum machucado nas crianças. — Comentou ao voltar ao quarto.

— Ela estava aqui de pé próxima ao berço, eu a vi! — Bradou acusando novamente.

— O que ela estava fazendo? — Perguntou confuso sem entender a real situação.

— Eu a vi fazendo algo, não sei bem o quê, mas tenho certeza que aquela despeitada estava maltratando meus filhos. — Continuou a acusar segurando uma das crianças no colo.

— Como pode ser tão imprudente? — Perguntou aborrecido.

— Imprudente!? Essa garota tem uma personalidade ruim igual da mãe, não podemos pegar leve com ela.

— Ela já foi punida, não vai se aproximar das crianças de novo. — Avisou, pegando o outro bebê no colo.

Era madrugada quando Monalisa seguiu silenciosamente pelo corredor dos quartos levando em sua mão alguns frascos, um pedaço de tecido e algodão, as crianças dormiam assim como seus pais, então não havia perigo de ser descoberta. Entrou no quarto da garota adormecida encolhida sobre a cama.

— Como se toda crueldade já não fosse suficiente. — Comentou com remorso ao ver suas marcas e hematomas percorrendo os braços e costas até às pernas da pobre garota, se aproximou do corpo da menina revelando um pouco dos machucados ao afastar o vestido das suas costas.

— Monalisa! — Acordou assustada.

— Se acalme, eles não podem nos ouvir — Sussurrou abrindo o frasco da pomada. — Abaixe o vestido para que eu consiga ver o estrago. —Pediu, a menina se virou de costas deixando o vestido cair revelando o que já era esperado, então Monalisa começou a passar a pomada, a cada vez que o dedo encostava a garota se encolhia de dor.

— Eu não havia feito nada.— Murmurou triste.

— Eu sei, você é incapaz de fazer mal até a uma mosca, desde que essa mulher veio para cá as coisas só pioraram para você.

— Meu pai parece me odiar a cada dia que passa... — Lamentou voltando a chorar.

— Eu sinto muito não poder te consolar em relação a isso, a forma como ela é cruel ao ponto de até cortar sua dieta! É realmente terrível...

— Mas, e você? Por que não procura outro trabalho?

— E deixar todo trabalho para você? Eu sou a única empregada da casa agora e seu pai nem me paga a mais por isso, descobrir que eles estão enfrentando uma crise terrível.

— Ele tem o dedo podre para negócios e ainda arrumou uma mulher que gosta de ostentar.

— Sim, mas não devemos falar sobre essas coisas pela casa, pode ser que ele escute. — Sussurrou cautelosa, assim que terminou de cuidar da menina seguiu novamente para o andar de baixo em direção ao seu quarto nos fundos.

Os maus tratos continuaram mas não foram tão ruins quanto o desse dia mas não cessaram. Ela não podia se aproximar dos bebês, ainda assim tinha pavor de fazer tal asneira, seu pai estava sempre em casa, mas ela sabia o quanto era pior estar com a madrasta sozinha. Limpar e limpar até cair exausta e não poder descansar nem ao menos se alimentar de forma adequada.

Ela mal entendia o porquê seu pai a mantinha presa na casa e descontava toda sua raiva nela, demonstrando cada dia mais o quanto desprezava aquela menina inocente.

Já passaram-se dois anos e seis meses na mesma Cidade de Sant Andreas, Itália. Janeiro é considerado o mês frio na sua cidade e a garota mal tinha um agasalho digno, apesar disso ela ainda tinha a sua fiel amiga Monalisa que não lhe deixava passar tanta necessidade.

Esmeralda havia saído, era um dia raramente tranquilo, Dalila pôde invadir a cozinha e se servir deliberadamente, comeu todos os doces que encontrou, sua punição era garantida, mas dessa vez teria que valer a pena, pensava ela, quando percebeu que Monalisa não estava na cozinha, raramente ela estava em outro lugar.

A menina seguiu pela casa silenciosamente procurando pela moça, ouviu sussurros e gemidos ao passar em frente a porta do quarto entreaberta, "mas não havia ninguém em casa" Assim pensou porém seus olhos curiosos buscam a brecha da porta, porque diabos decidiu fazer isso? Seus olhos lentamente encontraram partes de pele despida ajoelhada sobre a cama com o rosto afundado sobre o colchão, enquanto ouvia o outro corpo se chocar contra o mesmo com força, buscou o rosto do homem com o corpo despido da cintura abaixo e ficou espantada ao ver seu pai e sua intitulada amiga em uma situação tão íntima. Dalila correu envergonhada, mas havia sido percebida por seu pai que vestiu suas roupas arrancando Monalisa de sua cama a jogando no chão ainda em lágrimas e enojada.

— Saia daqui! — Aurélio gritou, ela ajeitou o vestido e correu do quarto. — Dalila! — Gritou, enquanto a menina tentava correr apavorada com medo do que ele poderia fazer.

Entrou em seu quarto trancando a porta, mas há muito tempo sua tranca havia sido quebrada, correu para sacada e pulou, já que não era tão alto, ainda assim se machucou um pouco, mas nada que a impedisse de correr. Vislumbrou o grande portão trancado, o escalou e correu o mais rápido que podia, enquanto seu pai abria o portão nervoso temendo que ela conseguisse fugir.

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