Ana
Parei o carro de frente à mansão. O jardim continuava da mesma forma que me lembrava, cheio de rosas brancas. A casa grande, branca e imponente, permanecia intacta. Decidi que entraria pela porta da frente; seria a primeira vez que Anny estaria aqui, e ela não merecia entrar pela entrada dos fundos. Ela era tão dona deste lugar quanto os demais, mesmo que nunca fosse saber, mesmo que ninguém além de mim soubesse um dia. Peguei Emily, que dormia no banco de trás. Ela estava cansada. Queria acordá-la para que visse onde havíamos chegado, mas fiquei com pena. Apenas a peguei; não teríamos uma entrada triunfal, não como um dia eu sonhei, mas ao menos estávamos entrando pela porta da frente.
Toquei a campainha e esperei para ouvir a voz de Josefa.
— Residência dos Alcântaras. — Ela falou pelo interfone, e senti meu coração martelar. Eu realmente estava fazendo aquilo.
— É Ana. — Falei, sentindo meu coração acelerar.
— Graças a Deus, chegou na hora do almoço. Vou abrir o portão. — E o portão se abriu. Antes, havia um porteiro aqui, mas imagino que, com a tecnologia, isso tenha se alterado.
Fui entrando, passando pelo jardim. O caminho de pedras brancas guiava até a porta da mansão. Dona Helena mantinha tudo em seu lugar. Se eu fechasse os olhos, conseguiria lembrar de cada canto. Mas afastei os pensamentos. Junto com essa lembrança, vinham também as lembranças com ele. Caminhei até a porta e não precisei bater; Josefa abriu a porta antes mesmo que eu tivesse tempo para isso. Ela sorriu.
— Estava com tanta saudade. — Ela falou me olhando. Ela continuava a mesma: rechonchuda, seus cabelos negros amarrados para trás. Seus olhos negros demonstravam ternura e bondade. Josefa era a melhor amiga de minha mãe, e sim, seus olhos brilhando de lágrimas eram verdadeiros.
— Eu também. — Falei por fim. Minha vontade era desabar nos braços de Josefa, assim como fazia quando era mais nova. Queria dizer a ela tudo que passei, queria seu carinho e afago. Eu não sabia que precisava tanto de seu abraço como agora, que a encarava.
Ela olhou para meus braços. Emily ainda dormia, alheia ao que acontecia ao seu redor.
— Não me diga. — E lá estava o motivo pelo qual não procurei todos esses anos. Ela saberia. Assim que colocasse os olhos sobre Emily, ela saberia. Balancei a cabeça em negação. Não admitiria isso para ela nem para ninguém. Morreria com esse meu segredo.
— Emily é filha da minha filha com o meu ex-namorado. Terminamos há pouco tempo, e eu não tinha para onde ir. — Falei, dando a ela uma explicação a qual ela duvidava a cada palavra que saía dos meus lábios, mas ela não ousou me questionar ali.
— Venha, entre. Deve estar cansada. — E eu entrei. O chão branco e polido, o lustre grande no alto, e as escadas para os quartos dos patrões, que sempre deixavam clara a posição que eu estava. Tudo da mesma forma.
— Não mudaram nada. — Falei analisando o lugar, o sentimento de nostalgia me tomando. Cresci aqui, corri muito por esse lugar. Henrique e eu, uma vez, destruímos o vaso — no caso, eu, mas foi ele que tomou a culpa porque eu chorei implorando isso para ele.
— Colocaram tecnologia em tudo, mas dona Helena pediu para manter as coisas como sempre. Sabe, ela tem apego a esse lugar. — Josefa falou, seguindo para a sala de visitas e não para a cozinha, como eu estava acostumada. — Venha, ela está ansiosa para te ver.
Puxei o ar e segui. Me vi sentindo falta de ar. Encarar dona Helena e seus questionamentos me fez me arrepender de ter vindo. Assim que entramos na sala de visitas, eu a vi. Seus cabelos castanhos estavam amarrados. Ela estava mais magra que da última vez. Seus olhos violetas estavam um pouco cansados, mas ela mantinha a mesma postura inabalável e sorriso gentil.
— Nunca a perdoarei por ter partido sem me dar uma explicação. — Ela me repreendeu de maneira gentil. Ela se aproximou de mim, selando um beijo em minhas bochechas. — Está muito magra. Não tem se alimentado direito. E esta pequena?
Meu coração começou a acelerar. Se ela reconhecesse Emily como sua neta, eu estaria perdida. Apenas sorri.
— Ela se chama Emily, é minha filha. — Ela sorriu e passou a mão no rosto de Emily.
— Venha, sente-se. Deve estar cansada. — Ela falou, se sentando em seu largo sofá branco.
E eu estava. Josefa saiu rápido, sem dizer nada. Eu queria ter ido com ela.
— Tem muito a me explicar, mocinha. Aquela carta que deixou não foi suficiente. Procurei sua tia e ela disse que você nunca a procurou. — E eu jamais a procuraria. Minha tia era uma megera amargurada. Quando minha mãe morreu, ela deixou claro que eu nunca deveria procurá-la, que devia me virar. Mas na carta que deixei para eles, disse que estava indo morar com ela.
— Eu ia, de fato. Pensei em ir, mas uma amiga me convenceu a morar com ela em seu apartamento, e eu aceitei. Queria morar na cidade grande. — Menti e dona Helena parecia saber disso.
— E o que a cidade grande te deu além de uma criança? — Ela perguntou de mau humor. Helena estava magoada comigo, conseguia sentir. Ela queria um futuro brilhante para mim, prometeu isso à minha mãe. Sempre incentivou meus estudos e sei que me ver aqui pedindo emprego de empregada novamente a magoa.
— Eu fiz péssimas escolhas, mas Emily é tudo para mim. Não me arrependo de tê-la. — Isso era verdade. Apesar de que, se eu pudesse, teria esperado mais para que ela pudesse ter tudo que merece, Emily era inocente demais para entender o que eu tirei dela, mas um dia talvez ela me cobre por um pai.
— Não irei perturbá-la com isso por enquanto. Vejo que está cansada e deve estar faminta. Pedi que fizessem um almoço para nós. Apenas irei esperar os garotos chegarem para pedir que sirvam. E sobre a sua pequena, é melhor que a coloquemos em algum dos quartos. — Isso era um pesadelo. Dona Helena tem apenas três filhos, e com sorte seria Henrique e Heitor.
— Os meninos? — Ela sorriu orgulhosa, para dona Helena não existia nada mais importante que os filhos.
— Sim. Avisei Henrique que você estava vindo e ele insistiu em vir almoçar aqui. Deve estar com saudade. Vocês eram um grude quando crianças. — Ela se levantou e me senti aliviada. Gostava de Henrique, e Heitor era um adolescente mal-humorado da última vez que eu o vi.
Mas, assim que me levantei para segui-la até os quartos, eu o vi. Ali, parado com seus olhos de mel, tão bonito como antes, mas agora estava mais velho e com um sorriso mais confiante.
— Que prazer é tê-la de volta, Ana. — E minha vontade era pegar Emily e correr para o mais longe dali.
Léo Ana sempre teve cabelos longos e castanhos. Seus olhos grandes agora marcavam o sofrimento; ela não dormia há pelo menos uns dois dias. Seus olhos castanhos não tinham o mesmo brilho e inocência de antes, e mesmo assim, ela continuava linda, me olhando assustada.— Que prazer é tê-la de volta, Ana. — Falei, me aproximando. Percebi que ela segurava a filha com mais força.— Nunca a perdoarei, Ana. — Henrique tomou minha frente. — Estou com tanta saudade. — Ela olhou para ele com ternura.— Também estava morrendo de saudade. — Ela sorriu para ele e ignorou a minha presença.— E essa pequena? — Perguntei, fazendo-a me encarar.— Emily é minha filha. — Havia algo no olhar dela; não sabia descrever o que exatamente.— Sim, Ana agora é mãe. Pensar que vi essa menina ao nascer. — Minha mãe falou, vindo me complementar.— Se casou? — Perguntei, tentando me aproximar mais dela e ver o rosto da menina, que estava adormecida. Ela usava um vestido rosa cheio de flores e meia-calça rosa; seus
AnaRever Léo é difícil para mim,nunca conseguir me envolver com alguém depois dele, sempre que alguém se aproximava eu ficava com medo de querer apenas me usar como ele. E mesmo agora, mesmo depois de tudo que já me fez, não consigo negar que ainda sinto algo por ele.Assim que eu entrei na sala de jantar percebi o olhar de Léo percorrer todo o meu corpo, ele já havia feito isso antes, ele flertava comigo quando ninguém estava olhando, olhei para Henrique que estava sentando ao lado oposto de de Léo, me sinto mais segura ali perto de Henrique, ele sempre foi meu amigo e meu cumples, imagino que se ele não tivesse ido estudar por um ano nos estados unidos eu não teria aceitado tão facilmente os flertes de Léo, porque Henrique iria tirar sarro até eu perceber como aquilo era ridículo. Mas não foi assim, ele não estava para me mostrar o quão patética eu estava sendo me apaixonando por seu irmão e eu me deixei levar. E agora Léo está com o seu jeito arrogante me questionando e me julgand
Léo Quando a pequena entrou com seus cabelos negros lisos e olhos cor de mel, eu soube que era minha filha, meu coração acelerou e foi como se um sobro de vida tivesse me atingido. Aquilo era esperança, preenchendo cada canto da minha alma vazia. Ela correu para os braços da mãe e eu quase me levantei, queria abraçá-la, mas me contive, Ana teria que me explicar por que manteve minha filha longe de mim. — Tá tudo bem, querida. — Ana sussurra para ela. — Mas é uma menina linda. — Minha mãe fala sorrindo. — Quantos anos você tem? A garotinha olha confusa, como se quisesse lembrar de algo, talvez da idade, Ana parece nervosa. — Apenas quatro anos. — Ela fala, e sinto minha esperança se esvaindo, ela foi embora faz seis anos ao menos, a menina teria que ter cinco para ser minha filha, mas Ana pode estar mentindo, meu sentimento por aquela menina não pode estar errado.— Ela é grande para quatro. — Minha mãe e ela têm razão, reparando bem, Emily parece ter mais. — Eu daria cinco a
A forma como Léo olhou para Emily foi diferente, uma vozinha soou em minha mente “ele sabe”. Mas a ignorei, não posso suportar o olhar de pena de dona Helena, e não quero Léo na vida de Emily, não quero ele achando que tem algum direito sobre ela. — Venha Ana, eu pedi que limpasse a casa da piscina para vocês. — Dona Helena falou, se levantando. — Ela claramente suspeita de algo, o olhar que ela deu a Emily deixa isso claro. — Claro, venha Emily. — Eu falei, a segurando pela mão e fomos atrás da dona Helena. A casa da piscina é um lugar amplo e iluminado, é feita de vidro, a não ser o quarto e banheiro que guarda privacidade, mas a cozinha e a sala são de vidro. O lugar é aconchegante, mas isso eu tinha certeza, dona Helena sempre deixou seus convidados confortáveis. — Mamãe. — Emily puxa a minha mão. — Eu posso entrar na piscina. — Não. — Falei, me lembrando das tardes em que eu e Henrique ficávamos aqui, minha mãe horrorizada porque eu entrava na piscina com os donos da casa
LéoE minha tarde foi perdida, não consegui me concentrar em nada além de Ana,e também em sua filha ou nossa filha, Marta concordou em fazer uma entrevista com ela, amanhã e não sei se trabalhar no mesmo ambiente que Ana é uma boa ideia. Ainda a desejo, na verdade sempre a desejei, quando ela foi embora me senti confuso e pensei em desistir do casamento com Mariana, a verdade é que sempre pensei que teria Ana por perto, sei que ela merecia mais que a posição de amante, porém era o que eu podia oferecer a ela, e de fato na época eu acreditei que sim, ela consideraria, mas Ana tem mais valor e carácter que eu. Sai do meu escritório eu não iria render nada lá, não quando meus pensamentos estavam em Ana. — Tem alguma reunião marcada? — Perguntei para Marta. — Não, mas precisa assinar aqueles relatórios hoje. — Eu não quero passar horas vendo número, e vendo número de vendas que estão caindo, a verdade que no último ano a ocorrências chegou em nosso país com força, empresas de fora do pa
Eu nunca havia pisado na empresa dos Alcântaras, mas já tinha visto várias vezes em revistas. Sempre que a empresa era mencionada em alguma revista, dona Helena comemorava com um jantar especial; o pai dos meninos sorria, ele quase nunca sorria, mas nessas ocasiões ele sorria até mesmo para mim. E eu guardei em segredo bem lá no fundo o desejo de um dia trabalhar aqui. Não me lembrava desse sonho até chegar aqui. É um prédio grande com muitas janelas que refletem o sol, em um tom de azul marinho. Encostei no meu carro e um homem bem vestido veio em minha direção.— Como posso ajudar? — ele perguntou, olhando para o meu velho carro.— Tenho uma entrevista. — Ele me olhou como se não acreditasse em mim.— Como se chama?— Ana. Minha entrevista é com a Marta? — Ele olhou para minha roupa.— Por acaso trouxe outra roupa, Ana? — Engoli em seco. Eram minhas melhores roupas.— Não. — Falei constrangida. Ele puxou o ar.— Então lamento por você. Irei comunicar à senhorita Marta que chegou. —
As palavras de Ana ecoaram na minha cabeça. Ela saiu da sala e eu não a impedi, apenas fiquei ali olhando a porta aberta. Passaram alguns minutos e Henrique entrou.— O que aconteceu? Ana passou por mim chorando, Marta se diz inocente, segundo ela Ana saiu desse jeito do seu escritório. — Henrique fechou a porta atrás dele, colocou a mão no bolso e me encarou. — O que aconteceu, irmão?— Ana me acusou de tentar substituir Mateo colocando sua filha no lugar. Henrique foi até a mesa onde ficam as bebidas, colocou uísque em um copo, tomou uma dose e depois encheu outro copo para me entregar.— E é só isso? — Ele me questionou.— Não, claro que não, mas mereço saber se tenho uma filha, e sinto em cada célula do meu corpo que a menina é minha filha. — Henrique sorriu.— Ainda gosta da Ana, não é? — Seu olhar era o mesmo de quando éramos crianças e ele queria me provocar.— Ana está no passado, mas se a menina for minha, eu tenho direito sobre ela e posso proporcionar uma vida mais confortáv
Olhei para o teste em minhas mãos, as duas barras demonstrando positivo, e me sentei no chão do banheiro.— Não pode ser, Deus, não pode ser. — Escutei uma batida na porta.— Ana, vamos, o intervalo acabou, o professor já deve estar na sala. — Geovana falou. Eu queria contar a ela, mas ela diria que eu era burra, e ela estaria certa. Eu era burra. Levantei e puxei o ar. Eu não ia chorar. Léo me amava, íamos nos casar, não precisava ter medo. Abri a porta e Geovana me analisou.— Aconteceu alguma coisa?— Não, estou com medo da prova. — Ela revirou os olhos.— Você tem que parar de se cobrar tanto, é a melhor aluna da turma. — Eu ri.— Não diga isso em voz alta, capaz de Thiago sair das sombras e me desafiar a um duelo matemático. — Ela riu.— Ele acha que ninguém é melhor que ele. Você viu ele questionando o professor? — Revirei os olhos.— Ridículo isso. Se eu fosse o professor, o expulsaria da sala. — Saímos do banheiro e fomos para a sala.A prova foi fácil. Geovana me levou para c