LéoO céu estava tingido de laranja quando estacionei o carro em frente à pensão naquela tarde de domingo. O som do motor desligando ecoou no silêncio da rua, mas meu peito estava tudo menos calmo. Eu tinha passado o fim de semana inteiro com aquela mensagem do Pedro na cabeça — "Posso ajudar, me passa os detalhes" —, e agora, com o plano traçado, cada passo que eu dava parecia mais pesado. Não era só uma dúvida que me movia; Era uma necessidade de saber, de preencher os buracos que Ana deixava abertos toda vez que desviava de mim.Toquei a campainha, ajustando a camiseta que eu tinha jogado por cima da bermuda jeans — nada do paletó formal de sempre, era domingo, afinal, e eu só queria parecer relaxado, mesmo que por dentro estivesse um caos. Josefa abriu a porta com aquele sorriso
AnaUma semana havia se passado desde aquele domingo na mansão, e eu ainda sentia o peso do olhar de Léo enquanto ele brincava com Emily. Desde então, eu vinha fazendo de tudo para evitá-lo — mudando horários, inventando desculpas com Marta, até ficar mais tempo na sala de arquivos só para não cruzar com ele nos corredores da empresa. Cada vez que pensava no que Emily dissera no zoológico, "Você poderia ser meu papai de verdade", meu estômago se revirava. Eu ainda não tinha certeza se iria contar a verdade sobre ele, e a indecisão me corroía. A proposta de Geovana martelava na minha cabeça — trabalhar com ela, sair daqui, recomeçar. Seria mais fácil para mim me afastar do Léo, ganhar tempo para pensar. Mas, ao mesmo tempo, eu não poderia ser ingrata com Dona Helena. Ela me dera esse empr
LéoO silêncio da minha sala parecia ensurdecedor depois que Ana saiu, a porta se fechando com um estalo que ecoou na minha cabeça. Eu ainda senti o gosto dela na minha boca, o calor do corpo dela contra o meu, e meu coração batia descontrolado enquanto eu deixava cair na cadeira atrás da mesa. Passei as mãos pelo rosto, tentando organizar os pensamentos, mas tudo o que vinha era o desejo que queimava em mim. Ana — o jeito que ela se contorceu na minha língua, os gemidos abafados que ela tentou esconder, a forma como cedeu a mim mesmo lutar contra isso. Eu a queria, mais do que poderia admitir, e não era só o calor do momento. Era algo mais profundo, algo que eu carregava desde os velhos tempos, antes de tudo desmoronar. Ela ainda tinha aquele poder sobre mim, e eu detestava o quanto isso me deixava vulnerável. AnaO trajeto de volta para casa naquela noite foi um borrão, as luzes da cidade passando pelas janelas do carro enquanto eu tentava tirar da cabeça o que tinha acontecido na sala do Léo. Meu corpo ainda tremia com a memória — o calor da boca dele contra mim, o jeito que ele me fez gozar, as sugestões prometendo mais. Eu tinha cedido, mesmo sabendo que não podia, mesmo lutando contra cada pedaço de mim que ainda o queria. Era impossível negar a atração que crescia toda vez que ele se aproximava, um fogo que eu vinha tentando sufocar há anos, mas que agora parecia mais forte do que nunca. Como eu continuaria trabalhando com ele assim? Como eu olharia nos olhos dele sem me perder de novo?Cheguei em casa com o peito apertado, o som do motor do Corsinha desligCapítulo 42
LéoA noite já tinha caído quando ao chegar ao cemitério, o motor do carro silenciou enquanto eu estacionava perto dos locais. O envelope branco estava no banco do passageiro, intocado, o nome "Leonado Alcântara" saltando dele. Eu não consigo abri-lo. Ainda não. Minha mão tremia só de tocar o papel, como se ele guardasse uma sentença que eu não estava pronto para ouvir. Emilly é minha filha? A possibilidade me puxou para um futuro que eu queria, mas também me jogou de volta a um passado que eu nunca consegui deixar para trás.Desci do carro, o ar frio da noite batendo no rosto enquanto eu caminhava até o túmulo. A lápide era pequena, delicada demais para o peso que carregava: Mateo Alcâ
Olhei para o teste em minhas mãos, as duas barras demonstrando positivo, e me sentei no chão do banheiro.— Não pode ser, Deus, não pode ser. — Escutei uma batida na porta.— Ana, vamos, o intervalo acabou, o professor já deve estar na sala. — Geovana falou. Eu queria contar a ela, mas ela diria que eu era burra, e ela estaria certa. Eu era burra. Levantei e puxei o ar. Eu não ia chorar. Léo me amava, íamos nos casar, não precisava ter medo. Abri a porta e Geovana me analisou.— Aconteceu alguma coisa?— Não, estou com medo da prova. — Ela revirou os olhos.— Você tem que parar de se cobrar tanto, é a melhor aluna da turma. — Eu ri.— Não diga isso em voz alta, capaz de Thiago sair das sombras e me desafiar a um duelo matemático. — Ela riu.— Ele acha que ninguém é melhor que ele. Você viu ele questionando o professor? — Revirei os olhos.— Ridículo isso. Se eu fosse o professor, o expulsaria da sala. — Saímos do banheiro e fomos para a sala.A prova foi fácil. Geovana me levou para c
AnaCinco anos depois Emily brincava no banco de trás, suas bochechas rosadas e o sorriso confiante me davam forças para continuar. Havíamos sido despejadas, e não culpo o proprietário; seis meses sem pagar o aluguel era demais. Eu devia vender o carro e pagar o aluguel, mas o carro estava com IPVA atrasado e algumas multas acumuladas. O meu Corsinha de 4 portas, vermelho de 2008, não valia tanto quanto quando o adquiri, na verdade, estava caindo aos pedaços. Eu só conseguiria uma merreca e ainda ficaria sem pagar todo o aluguel e sem o carro. Parei o carro na beira da estrada; não podia ficar dirigindo sem rumo. Emily não reclamou, mas imaginei que estivesse com fome. Eu estava com fome. Só tiramos as roupas do corpo. Eu poderia pedir abrigo a alguma amiga, mas isso seria humilhante demais. Olhei para a pulseira em meu pulso. Durante todos esses anos, me recusei a vendê-la, mas era a única coisa de valor que eu tinha. Sempre a guardei caso algo me acontecesse e Emily precisasse prov
LéoO despertador tocou e eu o desliguei. Outro dia e tudo de novo. Os dias se tornavam entediantes: eu acordava, ia para a empresa, fazia reuniões e voltava para o meu apartamento vazio. Dormia e, no dia seguinte, repetia tudo novamente. Minha psicóloga disse que eu devia tentar fazer algo diferente, começar um hobby.— Que tal golfe? — Ela sugeriu, como se eu realmente tivesse tempo para isso ou como se isso fosse preencher o vazio que Mateo deixou.O pensamento intruso me veio. Eu tentava não pensar em Mateo, todos os dias eu tentava não pensar nele, não pensar em suas mãozinhas pequenas e gordinhas, não pensar em como o sorriso dele me fazia falta. Levantei, eu falhei nessa missão hoje e sabia que falharia nessa missão amanhã. Dizem que eu tinha que seguir em frente, Leonardo, ele não iria querer te ver assim.Todos falavam como se conhecessem Mateo, como se soubessem como era superar a morte de um filho, mas eles não sabiam. Ninguém além de mim e de Mariana sabia a falta que Mate