— Não pode ser, Deus, não pode ser. — Escutei uma batida na porta.
— Ana, vamos, o intervalo acabou, o professor já deve estar na sala. — Geovana falou. Eu queria contar a ela, mas ela diria que eu era burra, e ela estaria certa. Eu era burra. Levantei e puxei o ar. Eu não ia chorar. Léo me amava, íamos nos casar, não precisava ter medo. Abri a porta e Geovana me analisou.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não, estou com medo da prova. — Ela revirou os olhos.
— Você tem que parar de se cobrar tanto, é a melhor aluna da turma. — Eu ri.
— Não diga isso em voz alta, capaz de Thiago sair das sombras e me desafiar a um duelo matemático. — Ela riu.
— Ele acha que ninguém é melhor que ele. Você viu ele questionando o professor? — Revirei os olhos.
— Ridículo isso. Se eu fosse o professor, o expulsaria da sala. — Saímos do banheiro e fomos para a sala.
A prova foi fácil. Geovana me levou para casa. Ela tinha uma condição financeira melhor que a minha, não que fosse rica como os Alcântaras, mas ainda assim podia ser considerada herdeira. Ela me olhou desconfiada.
— O que está acontecendo? — Ela sabia que eu escondia algo. Nunca fui de ficar quieta; sou falante no geral, falo até demais.
— Só cansaço. — Ela revirou os olhos azuis como o céu. Geovana era atípica: menina rica, pele clara, olhos claros, cabelos lisos castanho-claros. Tudo nela indicava que vinha de uma família de posses, apesar de não agir dessa forma.
— Pensei que Helena tinha te dispensado para que focasse nas provas. — Eu e minha boca grande.
— E eu foquei, estudei até tarde ontem. — Não era uma mentira completa.
— Se você diz, tudo bem. — Ela deu de ombros. — Tem certeza que não quer ir almoçar comigo e com meu pai?
— Não, obrigada. Como foi a última prova, eu vou voltar para o trabalho. Dona Helena tem sido muito bondosa, não quero abusar. — Ela deu de ombros novamente.
— Ana, você tem que parar de ser tão certinha. — Eu sorri e abri a porta do carro.
— E você tem que parar de ser uma má influência. — Ela riu.
Assim que Geovana sumiu com o carro, me virei e fui atrás de uma farmácia. Queria ter certeza da gravidez antes de contar ao Léo. Imaginei que seria uma confusão quando descobrissem sobre nós. Mas Dona Helena sempre foi gentil comigo, não iria se opor ao nosso casamento. Agora, Senhor Paulo...
Nem queria pensar em como o Senhor Paulo reagiria. Talvez ele fosse contra o meu casamento com Léo, ou talvez a minha gravidez amolecesse o coração dele. Comprei mais dois testes. Seria melhor não ter nenhuma dúvida. Coloquei os testes na bolsa e voltei para a mansão. Por um momento, enquanto olhava aquela casa enorme, senti um frio na barriga. O bebê que carregava agora era um dos donos de tudo isso. E o medo começou a me sufocar. E se Dona Helena pensasse que eu engravidei de propósito? E se Léo achasse isso?
Não, ele não pensaria isso. Ele me conhecia desde pequena, e ele me amava. Sabia que me amava. Ele nunca acharia que eu era uma golpista. Com esse pensamento, entrei na casa. Assim que entrei, vi uma movimentação estranha. Josefa andava de um lado para outro, floristas estavam pela casa e outras pessoas que eu nunca tinha visto.
— Que bom que chegou! — Josefa falou. — Estou ficando louca, Dona Helena decidiu dar um jantar de noivado esta noite. É apenas para os pais da noiva, mas ela está me deixando doida.
— Noivos?! — Quem estava noivo? Josefa já estava andando para a cozinha. — Josefa, quem está noivo? Do que está falando?
— O menino Leonardo, ele pediu a mão de Mariana em casamento. — Senti meu coração desacelerar e tudo se tornou escuro.
Quando acordei, estava no sofá da sala. Dona Helena e Josefa estavam ao meu lado com olhares apreensivos.
— Ela acordou! — Josefa falou aliviada.
— Ana, como está? — Dona Helena me perguntou, mas eu não tinha a resposta. Léo estava noivo de Mariana. Ele nem a suportava; ela sempre correu atrás dele, e ele correu dela. Em que momento isso mudou?
— Cansada. Posso ir para meu quarto? — Dona Helena me olhou desconfiada.
— Chamei o médico. Josefa me falou que você tem se alimentado mal. Eu sei que se preocupa com as provas, mas precisa se cuidar, Ana. — Ela me repreendeu.
— Não precisa de médico. Dormi tarde ontem, estudando. É só cansaço. Umas horas de sono e ficarei bem. — Ela concordou com a cabeça.
— Tudo bem, mas coma algo antes de se deitar. — Ela falou e saiu. Josefa me encarou.
— Foi porque falei do noivado, não é? — Ela sussurrou. — Eu te disse, menina, que essa sua paixão por ele não te faria bem. Eles não se casam com as empregadas. Nunca se casam com elas.
Fui para meu quarto e entrei no banheiro. Assim que os três testes deram positivo, eu soube que estava com problemas. Mandei mensagem para o Léo; ele me devia uma explicação.
Mas ele não me respondeu, e também não respondeu as outras vinte mensagens que mandei. Decidi ir até o quarto dele esperá-lo lá. O aguardei por uma hora até que ele apareceu. Seus olhos azuis caíram sobre mim.
— Você está com uma cara péssima, Ana. — Ele falou fechando a porta. — O que faz aqui?
— Sua mãe está preparando um jantar de noivado. Me disseram que pediu Mariana em casamento. A Mariana, Léo? — Ele puxou o ar e revirou os olhos.
— Estou na idade de casar. Se não fosse ela, seria outra. Ela ao menos me adora. — Ele falou em um tom comum, como se não tivéssemos nada, como se não me devesse nada.
— E eu, Léo? — Ele deu de ombros.
— O que tem você? — Senti meu coração acelerar. — Ana, você não achou que a gente seria mais que amantes, não é?
— Amantes? — Ele balançou a cabeça.
— Podemos continuar com isso. Não amo a Mariana, ela só preenche os requisitos que preciso. — A forma fria como ele falou aquilo me fez ver o quão idiota eu fui.
— Léo...
Eu ia contar, ia dizer a ele que estava grávida, mas não reconhecia esse homem que estava na minha frente. Ele era só um babaca, mesquinho.
— O que, Ana? — Ele se aproximou e eu me afastei.
— Nada. Eu entendi o meu lugar. Com licença. — Falei, indo até a porta.
— Ana, sabe que gosto de você, mas eu nunca poderia me casar com você. — E ele deu a última facada.
— Seja feliz, senhor Leonardo. — Falei saindo daquele quarto, e antes daquele noivado pretendia estar o mais longe possível daquele homem, daquela família.
AnaCinco anos depois Emily brincava no banco de trás, suas bochechas rosadas e o sorriso confiante me davam forças para continuar. Havíamos sido despejadas, e não culpo o proprietário; seis meses sem pagar o aluguel era demais. Eu devia vender o carro e pagar o aluguel, mas o carro estava com IPVA atrasado e algumas multas acumuladas. O meu Corsinha de 4 portas, vermelho de 2008, não valia tanto quanto quando o adquiri, na verdade, estava caindo aos pedaços. Eu só conseguiria uma merreca e ainda ficaria sem pagar todo o aluguel e sem o carro. Parei o carro na beira da estrada; não podia ficar dirigindo sem rumo. Emily não reclamou, mas imaginei que estivesse com fome. Eu estava com fome. Só tiramos as roupas do corpo. Eu poderia pedir abrigo a alguma amiga, mas isso seria humilhante demais. Olhei para a pulseira em meu pulso. Durante todos esses anos, me recusei a vendê-la, mas era a única coisa de valor que eu tinha. Sempre a guardei caso algo me acontecesse e Emily precisasse prov
LéoO despertador tocou e eu o desliguei. Outro dia e tudo de novo. Os dias se tornavam entediantes: eu acordava, ia para a empresa, fazia reuniões e voltava para o meu apartamento vazio. Dormia e, no dia seguinte, repetia tudo novamente. Minha psicóloga disse que eu devia tentar fazer algo diferente, começar um hobby.— Que tal golfe? — Ela sugeriu, como se eu realmente tivesse tempo para isso ou como se isso fosse preencher o vazio que Mateo deixou.O pensamento intruso me veio. Eu tentava não pensar em Mateo, todos os dias eu tentava não pensar nele, não pensar em suas mãozinhas pequenas e gordinhas, não pensar em como o sorriso dele me fazia falta. Levantei, eu falhei nessa missão hoje e sabia que falharia nessa missão amanhã. Dizem que eu tinha que seguir em frente, Leonardo, ele não iria querer te ver assim.Todos falavam como se conhecessem Mateo, como se soubessem como era superar a morte de um filho, mas eles não sabiam. Ninguém além de mim e de Mariana sabia a falta que Mate
AnaParei o carro de frente à mansão. O jardim continuava da mesma forma que me lembrava, cheio de rosas brancas. A casa grande, branca e imponente, permanecia intacta. Decidi que entraria pela porta da frente; seria a primeira vez que Anny estaria aqui, e ela não merecia entrar pela entrada dos fundos. Ela era tão dona deste lugar quanto os demais, mesmo que nunca fosse saber, mesmo que ninguém além de mim soubesse um dia. Peguei Emily, que dormia no banco de trás. Ela estava cansada. Queria acordá-la para que visse onde havíamos chegado, mas fiquei com pena. Apenas a peguei; não teríamos uma entrada triunfal, não como um dia eu sonhei, mas ao menos estávamos entrando pela porta da frente.Toquei a campainha e esperei para ouvir a voz de Josefa.— Residência dos Alcântaras. — Ela falou pelo interfone, e senti meu coração martelar. Eu realmente estava fazendo aquilo.— É Ana. — Falei, sentindo meu coração acelerar.— Graças a Deus, chegou na hora do almoço. Vou abrir o portão. — E o p
Léo Ana sempre teve cabelos longos e castanhos. Seus olhos grandes agora marcavam o sofrimento; ela não dormia há pelo menos uns dois dias. Seus olhos castanhos não tinham o mesmo brilho e inocência de antes, e mesmo assim, ela continuava linda, me olhando assustada.— Que prazer é tê-la de volta, Ana. — Falei, me aproximando. Percebi que ela segurava a filha com mais força.— Nunca a perdoarei, Ana. — Henrique tomou minha frente. — Estou com tanta saudade. — Ela olhou para ele com ternura.— Também estava morrendo de saudade. — Ela sorriu para ele e ignorou a minha presença.— E essa pequena? — Perguntei, fazendo-a me encarar.— Emily é minha filha. — Havia algo no olhar dela; não sabia descrever o que exatamente.— Sim, Ana agora é mãe. Pensar que vi essa menina ao nascer. — Minha mãe falou, vindo me complementar.— Se casou? — Perguntei, tentando me aproximar mais dela e ver o rosto da menina, que estava adormecida. Ela usava um vestido rosa cheio de flores e meia-calça rosa; seus
AnaRever Léo é difícil para mim,nunca conseguir me envolver com alguém depois dele, sempre que alguém se aproximava eu ficava com medo de querer apenas me usar como ele. E mesmo agora, mesmo depois de tudo que já me fez, não consigo negar que ainda sinto algo por ele.Assim que eu entrei na sala de jantar percebi o olhar de Léo percorrer todo o meu corpo, ele já havia feito isso antes, ele flertava comigo quando ninguém estava olhando, olhei para Henrique que estava sentando ao lado oposto de de Léo, me sinto mais segura ali perto de Henrique, ele sempre foi meu amigo e meu cumples, imagino que se ele não tivesse ido estudar por um ano nos estados unidos eu não teria aceitado tão facilmente os flertes de Léo, porque Henrique iria tirar sarro até eu perceber como aquilo era ridículo. Mas não foi assim, ele não estava para me mostrar o quão patética eu estava sendo me apaixonando por seu irmão e eu me deixei levar. E agora Léo está com o seu jeito arrogante me questionando e me julgand
Léo Quando a pequena entrou com seus cabelos negros lisos e olhos cor de mel, eu soube que era minha filha, meu coração acelerou e foi como se um sobro de vida tivesse me atingido. Aquilo era esperança, preenchendo cada canto da minha alma vazia. Ela correu para os braços da mãe e eu quase me levantei, queria abraçá-la, mas me contive, Ana teria que me explicar por que manteve minha filha longe de mim. — Tá tudo bem, querida. — Ana sussurra para ela. — Mas é uma menina linda. — Minha mãe fala sorrindo. — Quantos anos você tem? A garotinha olha confusa, como se quisesse lembrar de algo, talvez da idade, Ana parece nervosa. — Apenas quatro anos. — Ela fala, e sinto minha esperança se esvaindo, ela foi embora faz seis anos ao menos, a menina teria que ter cinco para ser minha filha, mas Ana pode estar mentindo, meu sentimento por aquela menina não pode estar errado.— Ela é grande para quatro. — Minha mãe e ela têm razão, reparando bem, Emily parece ter mais. — Eu daria cinco a
A forma como Léo olhou para Emily foi diferente, uma vozinha soou em minha mente “ele sabe”. Mas a ignorei, não posso suportar o olhar de pena de dona Helena, e não quero Léo na vida de Emily, não quero ele achando que tem algum direito sobre ela. — Venha Ana, eu pedi que limpasse a casa da piscina para vocês. — Dona Helena falou, se levantando. — Ela claramente suspeita de algo, o olhar que ela deu a Emily deixa isso claro. — Claro, venha Emily. — Eu falei, a segurando pela mão e fomos atrás da dona Helena. A casa da piscina é um lugar amplo e iluminado, é feita de vidro, a não ser o quarto e banheiro que guarda privacidade, mas a cozinha e a sala são de vidro. O lugar é aconchegante, mas isso eu tinha certeza, dona Helena sempre deixou seus convidados confortáveis. — Mamãe. — Emily puxa a minha mão. — Eu posso entrar na piscina. — Não. — Falei, me lembrando das tardes em que eu e Henrique ficávamos aqui, minha mãe horrorizada porque eu entrava na piscina com os donos da casa
LéoE minha tarde foi perdida, não consegui me concentrar em nada além de Ana,e também em sua filha ou nossa filha, Marta concordou em fazer uma entrevista com ela, amanhã e não sei se trabalhar no mesmo ambiente que Ana é uma boa ideia. Ainda a desejo, na verdade sempre a desejei, quando ela foi embora me senti confuso e pensei em desistir do casamento com Mariana, a verdade é que sempre pensei que teria Ana por perto, sei que ela merecia mais que a posição de amante, porém era o que eu podia oferecer a ela, e de fato na época eu acreditei que sim, ela consideraria, mas Ana tem mais valor e carácter que eu. Sai do meu escritório eu não iria render nada lá, não quando meus pensamentos estavam em Ana. — Tem alguma reunião marcada? — Perguntei para Marta. — Não, mas precisa assinar aqueles relatórios hoje. — Eu não quero passar horas vendo número, e vendo número de vendas que estão caindo, a verdade que no último ano a ocorrências chegou em nosso país com força, empresas de fora do pa