As palavras de Ana ecoaram na minha cabeça. Ela saiu da sala e eu não a impedi, apenas fiquei ali olhando a porta aberta. Passaram alguns minutos e Henrique entrou.— O que aconteceu? Ana passou por mim chorando, Marta se diz inocente, segundo ela Ana saiu desse jeito do seu escritório. — Henrique fechou a porta atrás dele, colocou a mão no bolso e me encarou. — O que aconteceu, irmão?— Ana me acusou de tentar substituir Mateo colocando sua filha no lugar. Henrique foi até a mesa onde ficam as bebidas, colocou uísque em um copo, tomou uma dose e depois encheu outro copo para me entregar.— E é só isso? — Ele me questionou.— Não, claro que não, mas mereço saber se tenho uma filha, e sinto em cada célula do meu corpo que a menina é minha filha. — Henrique sorriu.— Ainda gosta da Ana, não é? — Seu olhar era o mesmo de quando éramos crianças e ele queria me provocar.— Ana está no passado, mas se a menina for minha, eu tenho direito sobre ela e posso proporcionar uma vida mais confortáv
AnaE estou contratada, agora sou funcionária da empresa em que Léo é o CEO, e apesar disso, não consigo negar que me sinto realizada, é a primeira vez em anos que tenho um emprego de verdade, que tenho a segurança de ter uma carteira assinada. E posso manter Leo longe, só preciso convencê-lo de que Emily não é sua filha. Entrei na mansão e Emily correu em minha direção. — Mamãe. — Ela fala, se jogando em meu colo. — Tia Helena disse que vamos fazer compras de roupas, Emily fala animada, dona Helena aparece e sorri.— Leonardo me ligou, disse que foi contratada, pediu que comprasse o que fosse preciso para ir trabalhar.E assim foi o restante do dia, dona Helena comprou coisas não só para mim, mas para Emily, passamos o dia no shopping, e nunca vi minha filha tão feliz, a verdade é que não tínhamos condições de ter um dia de compra no shopping. — Nunca vou conseguir te agradecer. — Falei para dona Helena que sorriu para mim. — Não se preocupa, fazer Emily feliz me deixa feliz, eu
Léo Eu me olhei no espelho, tentando me convencer de que tudo ficaria bem. Meu reflexo estava ali, mas meus pensamentos estavam longe, perdidos em dúvidas. Eu ainda não sabia se era o pai de Emily. A ideia de que poderia ser, que eu poderia ter uma filha e nem saber, me consume. Me sinto incerto sobre como isso me afeta, talvez eu queira tanto que ela seja minha que esteja me perdendo. Eu quero vê-las, quero estar perto delas, mas, ao mesmo tempo, tenho medo. Medo de descobrir a verdade. Medo de encarar o que minha vida se tornou. Ana está de volta, e, de alguma forma, ela ainda tem o poder de me deixar sem palavras. Quando entrei na mansão, senti o silêncio pesado, como se algo estivesse esperando para explodir. Lá estavam elas: Ana, tão séria e imponente, com Emily ao seu lado. A menina parecia tão pequena, tão vulnerável, mas há algo nela que me chama, uma ligação que posso eu está inventando. Ela tem os olhos, o sorriso parecido com o meu, com os de Mateeo. Não tem como não ac
AnaOlhei para o relógio, já era tarde. Emily já estava dormindo, e o silêncio da casa só me fazia sentir mais sozinha. Eu me sentei no sofá, com uma xícara de chá entre as mãos, e deixei os pensamentos tomarem conta. A lembrança do jantar ainda estava fresca na minha mente — Léo, com seu olhar cheio de incerteza e, ao mesmo tempo, uma intensidade que eu não conseguia ignorar.O que eu queria de verdade? Eu ainda me pergunto. Ele estava tentando se aproximar, mas algo dentro de mim me impedia de me entregar completamente. O passado entre nós não é simples. Nunca seria.Eu me peguei pensando em Emily e no sorriso dela quando falava da boneca. Como ela parecia tão feliz com tão pouco. Como eu gostaria de ter tido essa felicidade, aquela sensação de que alguém estava ao meu lado, me apoiando de verdade. E Léo... ele me deixou, me abandonou em um dos momentos mais difíceis da minha vida. Agora ele estava de volta, com todo esse carinho por Emily, tentando estabelecer algum vínculo com ela
Léo Olhei para o relógio novamente. O tempo parecia correr mais devagar desde que ela entrou na empresa. Cada vez que meus olhos a viam, algo dentro de mim se agitava. Eu tentava me concentrar no trabalho, mas as distrações eram demais. Ana estava ali, sempre ali, com aquele olhar cauteloso, com a postura rígida que me fazia querer puxá-la para mais perto ou afastá-la completamente. Não sabia qual era o melhor caminho.Eu sabia que ela estava nervosa, o jeito como olhava para o chão, como evitava meus olhos, como se eu fosse uma ameaça. Talvez eu fosse. Talvez fosse o maior erro da minha vida voltar agora e tentar fazer as pazes, mas eu não sabia fazer diferente. Não sei como concertar as coisas, como explicar para Ana que ela não foi um caso de adolescência que sempre a aquis.Eu me recostei na cadeira e me forcei a olhar para os papéis na minha mesa. Mas tudo o que via era a imagem dela. O jeito como ela se movia, o jeito como sua presença preenchia o ambiente, como ela ainda tinha
Ana A manhã passou em um turbilhão. Eu mal pude respirar entre as tarefas. Às vezes, me sentia como uma máquina, trabalhando sem parar, sem pensar, apenas respondendo à demanda. Mas a verdade é que por dentro, eu estava frágil. O ambiente novo, as expectativas, a pressão de estar aqui, tudo isso me consumia mais do que eu queria admitir.Marta não fazia questão de disfarçar a distância. Ela me observava com aqueles olhos calculistas, esperando por qualquer deslize, e eu sabia que não podia vacilar. Eu percebia como ela tentava estabelecer sua autoridade, como se não fosse só minha chefe, mas também alguém decidida a me lembrar constantemente do meu lugar aqui. E o pior de tudo era o olhar de desaprovação que ela direcionava sempre que Léo estava por perto.Ela já tinha deixado claro o suficiente: nada de envolvimento com Léo. “Este é um trabalho, Ana. Não quero ver nenhum comportamento impróprio, e não vou facilitar as coisas para você, entendeu?”. As palavras de Marta ecoavam em min
LéoO espaço no carro era apertado, e o ar parecia mais pesado. Cada segundo ali, tão perto dela, me fazia lembrar de como era difícil manter a distância. Mas também sabia que, com Ana, qualquer passo em falso poderia arruinar tudo.A chuva começou a engrossar, batendo no vidro com mais força. Eu a observei de soslaio, notando como ela tentava disfarçar o desconforto.— Ana... — comecei, mas parei. Não sabia exatamente o que queria dizer, só sabia que precisava quebrar aquela barreira que parecia nos separar há tanto tempo.Ela me olhou, e por um momento, achei que ia dizer algo. Mas então desviou o olhar para a chuva lá fora, deixando o silêncio preencher o espaço entre nós.— Minha mãe está feliz que tenha voltado. — Falei por fim, qualquer conversa seria melhor que o silencio. — Eu sei, mas pretendo alugar algum apartamento, não posso abusar da hospitalidade de sua mãe. — Ela fala sem me encarar, mexendo levemente a perna demonstrando seu completo desconforto. — A casa é grand
Ana O espaço no carro era apertado, e cada segundo ali parecia se arrastar como uma eternidade. O som da chuva batendo no vidro deveria ser algo reconfortante, mas, naquela situação, apenas aumentava a minha tensão. Estar sozinha com Léo novamente era algo que eu não tinha planejado, nem queria. Ainda assim, lá estava eu, tentando manter a compostura enquanto o passado se desenrolava entre nós, como um fantasma que não conseguía ser exorcizado.Eu sentia o olhar dele em mim, aqueles olhos que já haviam me feito sentir especial, agora apenas me deixavam desconfortável. Ele parecia querer dizer algo, mas hesitava, e eu não tinha intenção de facilitar. Já havia dado muito de mim para ele no passado. Dessa vez, era diferente. Eu era diferente.— Ana... — ele finalmente disse, mas a frase morreu ali. Olhei para ele por um instante, curiosa sobre o que ele tentaria dizer, mas desviei o olhar antes que ele pudesse interpretar meu interesse como algo mais.O silêncio voltou a preencher o carr