Ana O espaço no carro era apertado, e cada segundo ali parecia se arrastar como uma eternidade. O som da chuva batendo no vidro deveria ser algo reconfortante, mas, naquela situação, apenas aumentava a minha tensão. Estar sozinha com Léo novamente era algo que eu não tinha planejado, nem queria. Ainda assim, lá estava eu, tentando manter a compostura enquanto o passado se desenrolava entre nós, como um fantasma que não conseguía ser exorcizado.Eu sentia o olhar dele em mim, aqueles olhos que já haviam me feito sentir especial, agora apenas me deixavam desconfortável. Ele parecia querer dizer algo, mas hesitava, e eu não tinha intenção de facilitar. Já havia dado muito de mim para ele no passado. Dessa vez, era diferente. Eu era diferente.— Ana... — ele finalmente disse, mas a frase morreu ali. Olhei para ele por um instante, curiosa sobre o que ele tentaria dizer, mas desviei o olhar antes que ele pudesse interpretar meu interesse como algo mais.O silêncio voltou a preencher o carr
LéoTrabalhar ao lado de Ana era um desafio que eu nunca achei que enfrentaria novamente. Quando entrei na sala de reuniões e a vi sentada ali, revisando alguns relatórios, meu coração deu um salto. Ela estava tão concentrada, tão alheia à minha presença, que quase parecia inalcançável. Mas eu estava decidido. Decidido a não cometer os mesmos erros, a não deixar o passado ser a única história entre nós.— Bom dia — disse, tentando soar casual.Ela levantou os olhos rapidamente, sem muito entusiasmo.— Bom dia — respondeu, voltando a se concentrar nos papéis à sua frente.Eu me sentei ao lado dela, mantendo uma distância respeitosa, mas perto o suficiente para sentir o perfume que ela usava. Era o mesmo de anos atrás, e, por um momento, fui transportado para outra época. Uma época em que tudo entre nós parecia possível.Marta entrou em seguida. Ela nos olhou e vi o julgamento em seus olhos. Eu a conheço bem.— Precisamos revisar juntos a proposta para a apresentação de amanhã — disse,
Trabalhar ao lado de Léo era um desafio que eu nunca imaginei que enfrentaria novamente. Quando entrei na sala de reuniões, sentia um peso no peito. Tinha passado a noite em claro, revivendo memórias que deveriam permanecer enterradas. Mas lá estava ele, atravessando a porta com aquele mesmo sorriso casual que um dia já me desarmou.— Bom dia — ele disse, como se não houvesse anos de distância entre nós.Eu levantei os olhos, tentando me manter indiferente.— Bom dia — respondi, voltando a me concentrar nos relatórios. Não queria dar brechas. Não podia dar.A presença dele ao meu lado era desconfortável. Mesmo mantendo uma distância respeitosa, ele estava perto o suficiente para que eu sentisse o perfume que eu conhecia bem. Fiquei presa em um instante, tentando ignorar a onda de lembranças que aquilo trouxe.Quando Marta entrou na sala, respirei aliviada. Sua energia enérgica rapidamente preencheu o espaço.— Precisamos revisar juntos a proposta para a apresentação de amanhã — disse
Léo Quando cheguei na casa da minha mãe, fui recebido pelo cheiro inconfundível de lasanha. Era um aroma que trazia memórias da infância, de domingos preguiçosos e conversas longas à mesa. Emily já estava correndo pela sala com uma energia que parecia inesgotável. Minha mãe, claro, estava radiante com a presença dela.— Mas como posso agradecer Ana por trazer meu filho para jantar comigo? — Minha mãe disse, franzindo o cenho ao perceber que eu estava sozinho.— Ela veio com Henrique devem está chegando.Ela assentiu, mas o olhar que me lançou era mais curioso do que eu gostaria. Antes que pudesse fazer mais perguntas, Emily correu até mim.— Tio Léo! Olha o que eu fiz na escola! — Ela me entregou um desenho todo colorido, com rabiscos que eu sabia que eram importantes para ela.— Uau, Emily! Você está ficando uma verdadeira artista. — Sorri para ela, que pulou de alegria antes de voltar a brincar.Foi então que a porta se abriu, e Ana apareceu ela estava um pouco molhada. Nossos olhos
AnaO silêncio do quarto deveria ser reconfortante, mas, naquela noite, parecia um peso sobre meus ombros. Emily já dormia profundamente ao meu lado, sua respiração leve e tranquila, completamente alheia ao turbilhão de emoções que me dominava.Fechei os olhos, tentando afastar os pensamentos, mas a cena no elevador voltou com força total. O calor do corpo de Léo contra o meu, a forma como seus lábios tocaram os meus sem hesitação. O mais perturbador não era o beijo em si, mas a minha reação. Eu o beijei de volta.Passei a mão pelo rosto, frustrada. O que havia de errado comigo? Eu sabia que me aproximar de Léo era perigoso. Eu passei anos reconstruindo minha vida, garantindo que nada do passado pudesse me atingir. Mas, com um único toque, ele quebrou todas as barreiras que eu havia erguido.Ele sempre teve esse poder sobre mim.O pior de tudo era saber que não poderia me dar ao luxo de ceder novamente.Me virei na cama, puxando o cobertor sobre mim. Mas o sono não veio fácil. Fiquei
LéoAna fechou a porta atrás de si e cruzou os braços, o olhar afiado como uma lâmina pronta para cortar qualquer tentativa de aproximação. Eu já esperava essa resistência, mas não pretendia recuar.— O que uma simples empregada teria para conversar com o patrão? — ironizou, o sarcasmo escorrendo de cada sílaba.Seu tom debochado me irritou, mas eu mantive o controle. Se ela queria transformar isso em um jogo de provocações, eu sabia jogar. Mas hoje, eu queria algo diferente. Queria que ela me ouvisse. Queria que, pela primeira vez em anos, ela baixasse essa guarda que erguera contra mim.— Ah, Ana… sabemos que você não é só uma simples empregada — respondi, apoiando as mãos no bolso da calça e a observando com calma. — Você é a mulher que sumiu da minha vida sem explicações. E agora volta, trazendo com você uma filha e agindo como se nada tivesse acontecido. Acha mesmo que posso ignorar isso?Ela respirou fundo, desviando o olhar por um breve segundo. Peguei isso como um pequeno sina
AnaO táxi avançava lentamente pelas ruas movimentadas da cidade, mas minha mente estava longe dali, ainda presa na conversa com Léo. Meu coração martelava no peito, a adrenalina ainda percorria minhas veias. Fechei os olhos e recostei a cabeça no encosto do banco, tentando acalmar a tempestade dentro de mim.Eu sabia que voltar para esta cidade significava, inevitavelmente, reencontrá-lo. Mas nunca imaginei que seria tão difícil. Léo sempre teve o poder de me desestabilizar, de arrancar de mim reações que eu não queria sentir.Ele pediu uma chance. Como se as palavras pudessem apagar anos de abandono e dor. Como se um jantar pudesse reescrever a história que ele escolheu para nós.Suspirei e olhei para fora da janela. As luzes do dia refletiam nos prédios altos, mas nada era capaz de dissipar o peso que se instalara em meu peito.Léo queria que eu acreditasse que havia mudado. E talvez tivesse. O tempo faz isso com as pessoas. Mas e daí? Isso não significava que o passado podia ser a
AnaO escritório estava lotado, mas eu me sentia sozinha em meio à multidão de funcionários apressados. O barulho dos teclados, das conversas e dos telefones tocando criava um fundo distante para meus pensamentos, que ainda estavam presos à conversa daquela manhã com Léo. Desde que ele reapareceu na minha vida, a cada dia parecia mais difícil manter a fortaleza que construí ao meu redor.Eu não podia me dar ao luxo de fraquejar.Suspirei e foquei na tela do computador, organizando os números que Marta me designara. Trabalhar era a única forma de manter minha mente ocupada. Mas, como se o universo estivesse testando minha resistência, senti uma presença se aproximando. Antes mesmo de olhar, já sabia quem era.— Trouxe um café para você — a voz de Léo soou casual, mas havia algo mais ali, algo intencional.Meus ombros se enrijeceram. Levantei os olhos lentamente e vi a mão dele estendida, segurando o copo de papel. Meu olhar alternou entre o café e o rosto dele, tentando decifrar sua re