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AnaO silêncio do quarto deveria ser reconfortante, mas, naquela noite, parecia um peso sobre meus ombros. Emily já dormia profundamente ao meu lado, sua respiração leve e tranquila, completamente alheia ao turbilhão de emoções que me dominava.Fechei os olhos, tentando afastar os pensamentos, mas a cena no elevador voltou com força total. O calor do corpo de Léo contra o meu, a forma como seus lábios tocaram os meus sem hesitação. O mais perturbador não era o beijo em si, mas a minha reação. Eu o beijei de volta.Passei a mão pelo rosto, frustrada. O que havia de errado comigo? Eu sabia que me aproximar de Léo era perigoso. Eu passei anos reconstruindo minha vida, garantindo que nada do passado pudesse me atingir. Mas, com um único toque, ele quebrou todas as barreiras que eu havia erguido.Ele sempre teve esse poder sobre mim.O pior de tudo era saber que não poderia me dar ao luxo de ceder novamente.Me virei na cama, puxando o cobertor sobre mim. Mas o sono não veio fácil. Fiquei
LéoAna fechou a porta atrás de si e cruzou os braços, o olhar afiado como uma lâmina pronta para cortar qualquer tentativa de aproximação. Eu já esperava essa resistência, mas não pretendia recuar.— O que uma simples empregada teria para conversar com o patrão? — ironizou, o sarcasmo escorrendo de cada sílaba.Seu tom debochado me irritou, mas eu mantive o controle. Se ela queria transformar isso em um jogo de provocações, eu sabia jogar. Mas hoje, eu queria algo diferente. Queria que ela me ouvisse. Queria que, pela primeira vez em anos, ela baixasse essa guarda que erguera contra mim.— Ah, Ana… sabemos que você não é só uma simples empregada — respondi, apoiando as mãos no bolso da calça e a observando com calma. — Você é a mulher que sumiu da minha vida sem explicações. E agora volta, trazendo com você uma filha e agindo como se nada tivesse acontecido. Acha mesmo que posso ignorar isso?Ela respirou fundo, desviando o olhar por um breve segundo. Peguei isso como um pequeno sina
AnaO táxi avançava lentamente pelas ruas movimentadas da cidade, mas minha mente estava longe dali, ainda presa na conversa com Léo. Meu coração martelava no peito, a adrenalina ainda percorria minhas veias. Fechei os olhos e recostei a cabeça no encosto do banco, tentando acalmar a tempestade dentro de mim.Eu sabia que voltar para esta cidade significava, inevitavelmente, reencontrá-lo. Mas nunca imaginei que seria tão difícil. Léo sempre teve o poder de me desestabilizar, de arrancar de mim reações que eu não queria sentir.Ele pediu uma chance. Como se as palavras pudessem apagar anos de abandono e dor. Como se um jantar pudesse reescrever a história que ele escolheu para nós.Suspirei e olhei para fora da janela. As luzes do dia refletiam nos prédios altos, mas nada era capaz de dissipar o peso que se instalara em meu peito.Léo queria que eu acreditasse que havia mudado. E talvez tivesse. O tempo faz isso com as pessoas. Mas e daí? Isso não significava que o passado podia ser a
AnaO escritório estava lotado, mas eu me sentia sozinha em meio à multidão de funcionários apressados. O barulho dos teclados, das conversas e dos telefones tocando criava um fundo distante para meus pensamentos, que ainda estavam presos à conversa daquela manhã com Léo. Desde que ele reapareceu na minha vida, a cada dia parecia mais difícil manter a fortaleza que construí ao meu redor.Eu não podia me dar ao luxo de fraquejar.Suspirei e foquei na tela do computador, organizando os números que Marta me designara. Trabalhar era a única forma de manter minha mente ocupada. Mas, como se o universo estivesse testando minha resistência, senti uma presença se aproximando. Antes mesmo de olhar, já sabia quem era.— Trouxe um café para você — a voz de Léo soou casual, mas havia algo mais ali, algo intencional.Meus ombros se enrijeceram. Levantei os olhos lentamente e vi a mão dele estendida, segurando o copo de papel. Meu olhar alternou entre o café e o rosto dele, tentando decifrar sua re
LéoO escritório estava movimentado como sempre. O som dos teclados sendo digitados, os telefones tocando e as conversas discretas enchiam o ambiente de um ritmo produtivo. Mas meu foco não estava em relatórios ou reuniões. Estava nela.Ana.Ela estava sentada em sua mesa, o olhar fixo na tela do computador, as sobrancelhas ligeiramente franzidas enquanto digitava. Mesmo tentando se manter concentrada, eu via sua tensão. Desde nossa última conversa, ela vinha me evitando. Mas hoje, eu não permitiria que fugisse.Peguei um café e caminhei até sua mesa, parando ao lado com a naturalidade de quem tinha um motivo qualquer para estar ali. Ela percebeu minha presença, mas demorou um segundo antes de me encarar. Quando o fez, sua expressão foi de pura resistência.— Precisa de algo, senhor Alcântara? — Sua voz era formal, cortante. Como se tentasse me lembrar de que, ali, eu era apenas seu chefe. Como se tentasse colocar uma barreira entre nós.Sorri de canto e estendi o café para ela.— Tro
LéoO dia tinha sido exaustivo. Entre reuniões intermináveis e a tensão constante que envolvia Ana, tudo o que eu queria era um pouco de silêncio ao chegar em casa. Mas, assim que atravessei a porta da minha sala, percebi que isso não aconteceria.Mariana estava sentada no sofá de couro branco, cruzando as pernas com elegância. Vestia um vestido vermelho impecável, a maquiagem realçando seus traços refinados. Ela parecia exatamente como sempre foi: calculista.Fechei a porta atrás de mim, sentindo a irritação crescer no meu peito.— O que você está fazendo aqui, Mariana?Ela sorriu, mas seus olhos estavam afiados como lâminas. Pegou um envelope sobre a mesa e o ergueu no ar, balançando-o levemente.— Recebi seus papéis de divórcio hoje. Achei que deveríamos conversar antes de eu assinar qualquer coisa.Respirei fundo, fechando os olhos por um breve momento antes de encará-la.— Não há nada para conversar. O casamento já acabou há muito tempo. Você sabe disso.Ela soltou uma risada cur
AnaO jantar foi tranquilo, embalado pelas risadas de Emily e pelas histórias que ela contava sobre seu novo amigo do parque. Enquanto cortava pequenos pedaços de carne para ela, observei dona Helena sorrindo ao ouvir as aventuras da neta. A cada dia, percebia o quanto Emily trazia luz para aquela casa.— E ele disse que o cachorrinho dele chama Rex! — Emily exclamou, os olhos brilhando. Dona Helena riu.— Gostaria de um cachorrinho?— Nem pense nisso. — Falei rindo,dona Helena sorriu para mim. — Emily ainda não tem responsabilidade para um cachorro, talvez no próximo ano. — Falei olhando para Emily que não disse nada, mas fez um pequeno bercinho. Depois de ajudar a arrumar a mesa, vi dona Helena levando Emily para brincar na sala enquanto eu fui até a cozinha, onde Josefa terminava de guardar a louça. O cheiro de temperos ainda pairava no ar, dando ao ambiente uma sensação acolhedora.— Precisa de ajuda? — perguntei, encostando-me ao balcão.Josefa sorriu de leve.— Não, menina,
LéoO silêncio do apartamento parecia mais sufocante do que nunca. Mariana havia saído há pouco, deixando para trás apenas o eco das palavras que ela nunca deveria ter dito. Meu peito ainda estava pesado, e minha mente rodava em círculos, revivendo aquela discussão, trazendo à tona a culpa que eu tentava enterrar.Andei até o bar no canto da sala e peguei uma garrafa de uísque. Girei-a entre os dedos, observando o líquido âmbar brilhar sob a luz fraca do abajur. Por um instante, considerei beber. Esquecer. Silenciar a tempestade dentro de mim com o fogo descendo pela garganta. Mas, em vez disso, soltei um longo suspiro e coloquei a garrafa de volta na prateleira.Não.Peguei a chave do carro e saí do apartamento sem pensar muito no destino. Dirigi pelas ruas vazias da cidade, deixando a escuridão e as luzes dos postes passarem por mim como borrões. Minha mente ainda pulsava com tudo o que Mariana havia dito. Suas acusações. Sua culpa. Minha própria culpa.Antes que percebesse, meus de