LéoO dia tinha sido exaustivo. Entre reuniões intermináveis e a tensão constante que envolvia Ana, tudo o que eu queria era um pouco de silêncio ao chegar em casa. Mas, assim que atravessei a porta da minha sala, percebi que isso não aconteceria.Mariana estava sentada no sofá de couro branco, cruzando as pernas com elegância. Vestia um vestido vermelho impecável, a maquiagem realçando seus traços refinados. Ela parecia exatamente como sempre foi: calculista.Fechei a porta atrás de mim, sentindo a irritação crescer no meu peito.— O que você está fazendo aqui, Mariana?Ela sorriu, mas seus olhos estavam afiados como lâminas. Pegou um envelope sobre a mesa e o ergueu no ar, balançando-o levemente.— Recebi seus papéis de divórcio hoje. Achei que deveríamos conversar antes de eu assinar qualquer coisa.Respirei fundo, fechando os olhos por um breve momento antes de encará-la.— Não há nada para conversar. O casamento já acabou há muito tempo. Você sabe disso.Ela soltou uma risada cur
AnaO jantar foi tranquilo, embalado pelas risadas de Emily e pelas histórias que ela contava sobre seu novo amigo do parque. Enquanto cortava pequenos pedaços de carne para ela, observei dona Helena sorrindo ao ouvir as aventuras da neta. A cada dia, percebia o quanto Emily trazia luz para aquela casa.— E ele disse que o cachorrinho dele chama Rex! — Emily exclamou, os olhos brilhando. Dona Helena riu.— Gostaria de um cachorrinho?— Nem pense nisso. — Falei rindo,dona Helena sorriu para mim. — Emily ainda não tem responsabilidade para um cachorro, talvez no próximo ano. — Falei olhando para Emily que não disse nada, mas fez um pequeno bercinho. Depois de ajudar a arrumar a mesa, vi dona Helena levando Emily para brincar na sala enquanto eu fui até a cozinha, onde Josefa terminava de guardar a louça. O cheiro de temperos ainda pairava no ar, dando ao ambiente uma sensação acolhedora.— Precisa de ajuda? — perguntei, encostando-me ao balcão.Josefa sorriu de leve.— Não, menina,
LéoO silêncio do apartamento parecia mais sufocante do que nunca. Mariana havia saído há pouco, deixando para trás apenas o eco das palavras que ela nunca deveria ter dito. Meu peito ainda estava pesado, e minha mente rodava em círculos, revivendo aquela discussão, trazendo à tona a culpa que eu tentava enterrar.Andei até o bar no canto da sala e peguei uma garrafa de uísque. Girei-a entre os dedos, observando o líquido âmbar brilhar sob a luz fraca do abajur. Por um instante, considerei beber. Esquecer. Silenciar a tempestade dentro de mim com o fogo descendo pela garganta. Mas, em vez disso, soltei um longo suspiro e coloquei a garrafa de volta na prateleira.Não.Peguei a chave do carro e saí do apartamento sem pensar muito no destino. Dirigi pelas ruas vazias da cidade, deixando a escuridão e as luzes dos postes passarem por mim como borrões. Minha mente ainda pulsava com tudo o que Mariana havia dito. Suas acusações. Sua culpa. Minha própria culpa.Antes que percebesse, meus de
AnaEnquanto ele a levava em seus braços eu percebi como aquilo era terrivelmente adorável, e o segredo pairava sobre mim, cheio de culpa e acusação, não é justo com os dois manter a paternidade dele em segredo, mas preciso pensar em como contar ao Léo sem que ele fique irritado comigo, e também tenho que pensar em um jeito de contar para Emily. Léo a colocou sob as cobertas com uma delicadeza que eu jamais imaginei vê-lo ter. Ele afastou uma mecha de cabelo de seu rosto adormecido e suspirou, um gesto tão sincero que me fez prender a respiração.Quando saímos do quarto, fechei a porta devagar, como se o menor ruído pudesse perturbar a paz que se instalara ali. Meu coração estava acelerado e minha mente fervilhava. Emily dormia tranquila, mas eu não tinha a mesma sorte. Algo naquela noite parecia diferente, como se uma fronteira invisível estivesse prestes a ser cruzada.Seguimos para a sala de estar. Léo se recostou no sofá, os olhos cansados, mas com um brilho tranquilo que eu não
LéoO gosto do beijo dela ainda estava nos meus lábios.Saí do apartamento de Ana com um sorriso satisfeito, mas, por dentro, eu estava um caos. Desde o momento em que ela aceitou jantar comigo, algo dentro de mim despertou—algo que eu achava que tinha enterrado há anos.Quando cheguei ao escritório na manhã seguinte, tentei me concentrar no trabalho. Mas era impossível. Cada vez que baixava a cabeça para assinar um contrato ou revisar um relatório, minha mente me arrastava de volta para a noite anterior. Para Ana.Sentei-me na cadeira, massageando as têmporas, e encarei o skyline da cidade através das janelas de vidro. A porta do meu escritório se abriu de repente, sem nem ao menos uma batida.Henrique.Ele entrou como se fosse dono do lugar, já se jogando na poltrona de frente para minha mesa.— Bom dia pra você também — murmurei, cruzando os braços.Meu irmão mais novo me estudou com um olhar avaliador.— Então, vai me contar o que aconteceu?Fingi desinteresse.— Não sei do que es
AnaO gosto do beijo dele ainda estava nos meus lábios.Acordei cedo, mas passei longos minutos encarando o teto do quarto, sentindo o coração inquieto. Ainda conseguia sentir o toque de Léo, o calor da sua mão na minha pele, o jeito que ele me olhava como se eu fosse a única coisa que importava no mundo.E o pior? Eu queria sentir aquilo de novo.Fechei os olhos com força, tentando afastar o turbilhão dentro de mim. Isso não podia acontecer. Eu sabia quem Léo era. Conhecia suas promessas vazias e as cicatrizes que ele havia deixado em mim no passado.Ele pode ter mudado.Afastei o pensamento antes que ele se enraizasse.Levantei-me, tomei um banho e vesti um vestido preto discreto, elegante e profissional. Precisava manter o foco. O trabalho era o único lugar onde eu ainda tinha controle sobre alguma coisa.Mas, no fundo, eu sabia: não havia controle quando se tratava de Léo.Ao chegar à empresa, passei direto pela recepção onde uma garota gentil tentou se minha amiga, não tenho nada
Ana O restaurante escolhido por Léo ficava em uma área sofisticada da cidade. Do lado de fora, as luzes douradas refletiam no vidro escuro do prédio, e a entrada elegante era cercada por plantas bem cuidadas. Um lugar refinado, muito diferente dos encontros casuais que costumávamos ter no passado.Respirei fundo antes de sair do carro. O jantar era apenas um acordo, um momento entre dois adultos que compartilham um histórico complicado. Não significava nada mais do que isso. Pelo menos, era o que eu tentava repetir para mim mesma.Léo contornou o carro e abriu a porta para mim, um gesto natural, como se fôssemos um casal comum. Apenas lhe lancei um olhar rápido antes de me dirigir para dentro do restaurante.Assim que entramos, fomos recebidos por um garçom de luvas brancas que nos conduziu a uma mesa reservada próxima às janelas panorâmicas. A vista da cidade iluminada era deslumbrante, mas nada parecia ser suficiente para distrair meu coração acelerado.Sentamos e, por alguns segund
LéoO jantar com Ana era para ser apenas um encontro formal, um momento para conversarmos sem as paredes do escritório entre nós. Mas desde o momento em que ela entrou no meu carro, percebi que não seria tão simples assim.Ela estava linda. Sempre foi. Mas havia algo na forma como cruzou as pernas, como manteve o olhar firme no caminho à nossa frente, fingindo que minha presença não a afetava, que fez com que minha paciência fosse testada.Durante o trajeto, tentei manter a conversa leve. Mas Ana tinha uma habilidade inata de levantar muros ao meu redor, como se estivesse se protegendo de algo que já conhecia bem demais. E talvez estivesse.Quando chegamos ao restaurante, abri a porta para ela, mas ela apenas me lançou um olhar breve antes de sair do carro. Quanta resistência... e quanta mentira. Eu via a tensão nos ombros dela, sentia a forma como prendia a respiração quando me aproximava.Já passamos dessa fase, Ana.Nos sentamos à mesa, e, por um instante, apenas observá-la foi suf