Capítulo 3 - Dívidas

Eu nunca me senti tão pressionada como no dia em que fui conversar com o advogado. Precisava urgentemente arranjar uma babá para as crianças. Não era justo continuar dependendo da boa vontade de Liz por muito tempo, mesmo sabendo que minhas condições financeiras estavam longe de permitir isso. Mas como eu pagaria? Acabara de gastar uma quantia considerável para instalar um telefone, e minhas economias estavam acabando depressa. Depois de comprar mantimentos e outros produtos essenciais para a casa, restaram-me exatamente quinhentos e quarenta dólares. Se eu controlasse rigorosamente cada centavo, poderia manter a família por mais umas seis semanas.

— Sra. Simpson, o Sr. Brown vai recebê-la agora — avisou a secretária.

Respirei fundo e, tensa, peguei a bolsa antes de me dirigir ao escritório que ela indicou. O homem magro, parado junto à escrivaninha abarrotada de papéis, levantou-se ao me ver entrar e estendeu a mão com um sorriso amistoso.

— Sou Ned Brown. Seja bem-vinda à nossa cidade. Fico feliz por ver que o desejo de sua avó finalmente se concretizou. Cora sempre quis que você viesse morar aqui; vivia dizendo que este era o melhor lugar para você criar sua família.

— Acho que vovó tinha razão. Acredito que seremos muito felizes aqui — respondi, embora um pensamento sombrio me atravessasse a mente: "Se não morrermos de fome antes."

— Ótimo. Faço votos para que tudo dê certo. — Ele soltou minha mão e indicou a cadeira à frente, sentando-se logo em seguida. Afrouxou a gravata antes de abrir uma pasta que estava sobre a escrivaninha. — Vou colocá-la a par dos fatos. Você é a única herdeira dos bens de Cora Kensington, de acordo com o testamento que ela deixou. A escritura da casa foi passada para o seu nome e... isso é tudo. — Ele franziu a testa enquanto examinava um documento manuscrito que retirou da pilha de papéis. — Você era filha única?

— Não, sou a única neta da minha avó. Ela teve duas filhas gêmeas, mas uma morreu logo após o nascimento. Minha mãe faleceu quando eu era muito pequena, e meu pai se casou novamente há dezesseis anos. Tenho dois meio-irmãos.

— Ah, sim. Agora me lembro. Parece que Cora não se dava bem com sua madrasta, certo?

— Isso é uma forma muito branda de descrever a situação. Velda sabia ser bastante... agressiva — respondi, tentando disfarçar. Na verdade, Velda era uma verdadeira bruxa.

— Você tem algum contato com ela?

— Não a vejo há cinco anos, desde o enterro do meu pai. Nós nunca nos demos muito bem — disse, baixando os olhos. Eu sabia que estava suavizando os fatos. Velda foi a principal razão pela qual me casei tão cedo, mais até do que a gravidez inesperada. Casar foi a minha fuga do ambiente sufocante de casa, das brigas intermináveis entre meu pai e ela. O casamento deles foi um pesadelo do início ao fim.

Ned Brown recostou-se na cadeira, cruzando os braços enquanto me observava com um ar especulativo.

— E seus meio-irmãos? Você tem notícias deles?

— Não. Nem sei por onde andam.

— Ótimo — disse ele, com um sorriso satisfeito pelas respostas que eu dava. — Sua avó estava preocupada com eles e com sua madrasta. Segundo Cora, eles não passavam de sanguessugas, e ela queria garantir que não se aproveitariam de você ou da sua situação aqui. — Ele começou a juntar os papéis, fechando a pasta. — Bem, isso é tudo o que eu tinha para lhe dizer. Tem alguma dúvida quanto ao testamento?

— Não, suas cartas foram muito claras — respondi, sentindo um aperto repentino na garganta. — Quero agradecer por tudo o que fez por minha avó. Saber que o senhor estava por perto para cuidar de tudo deu a ela muita paz de espírito no final da vida.

— Foi um prazer. Cora Kensington era uma mulher extraordinária. — Ele ficou pensativo por alguns instantes, como se estivesse perdido em lembranças, então bateu as mãos na escrivaninha e se levantou. — Se tiver mais alguma pergunta ou se eu puder ser útil de alguma forma, telefone. Annie tem alguns documentos para você assinar e... Ah, sim, há a questão do dinheiro que sua avó tinha no banco. Annie cuidará disso também; ela está com a lista de todas as despesas do inventário. Pelo que me lembro, não sobrou muita coisa. Creio que cerca de trezentos dólares.

Trezentos dólares! Para mim, aquele dinheiro era uma fortuna, e me esforcei para não deixar transparecer o alívio que senti. Juntando com os quinhentos dólares que eu já tinha, poderia estender minhas reservas para cerca de dois meses. Isso me daria mais tempo para encontrar um emprego, adiando um pouco mais o confronto com um futuro que me parecia assustador.

— Ah, mais uma coisa! — disse o advogado quando eu estava prestes a sair. — Todas as contas pendentes foram pagas, mas os impostos sobre a casa vencem no próximo mês. Você pode verificar a situação com a Sra. Townsend, no escritório imobiliário.

Senti o estômago revirar. Nem sequer tinha pensado nas taxas.

Eu ainda estava processando a informação quando o Sr. Brown me fez mais uma pergunta:

— A senhora sabe qual a quantia aproximada?

Tentei parecer tranquila, mesmo que por dentro eu estivesse em pânico. Minha mente estava a mil, mas consegui forçar um sorriso.

— Não sei ao certo — respondi, com a voz mais calma do que me sentia. — Por volta de quinhentos ou seiscentos dólares, não deve ser mais do que isso.

Quinhentos ou seiscentos dólares! Como eu iria arranjar esse dinheiro? Por dentro, meu coração disparou, mas por fora mantive a expressão o mais neutra possível. Precisava continuar forte.

— Obrigada novamente, Sr. Brown — disse, tentando ser educada.

— Às suas ordens. Não se esqueça de falar com Annie antes de sair e assinar os papéis.

Sai da sala com o coração pesado e a respiração curta. Onde, em nome de Deus, eu conseguiria tanto dinheiro?

Mais tarde, descobri que a quantia exata era seiscentos e vinte e três dólares, a serem pagos até o primeiro dia do próximo mês. Tinha exatos dezessete dias para arrumar o dinheiro. Quando saí do escritório imobiliário da Sra. Townsend, meu rosto estava pálido. Ela deixou bem claro que eu precisava pagar tudo de uma vez; não haveria qualquer possibilidade de parcelamento. Queriam a quantia total em apenas dezessete dias.

O choque inicial foi lentamente se transformando em desespero, e ao chegar no caminhão, sentia-me à beira das lágrimas. Abri a porta, tentando controlar o pânico que estava tomando conta de mim. Como eu iria conseguir todo aquele dinheiro?

— Ei, moça, você sabia que está com um pneu furado?

Eu me virei na direção da voz e vi três homens vestidos em roupas de trabalho saindo de um café e parando na calçada. Um deles apontava para o pneu traseiro direito do meu caminhão.

Antes que eu pudesse responder, um quarto homem saiu do prédio e se juntou ao grupo. Mesmo sem olhar diretamente para ele, eu podia sentir seus olhos fixos em mim, o que me fez sentir ainda mais desconfortável. Desci do caminhão com um aperto no peito e fui verificar o pneu.

— Se você tiver um macaco, posso trocar o pneu para você. Não vai demorar nem cinco minutos — ofereceu o homem mais velho, o mesmo que me alertou sobre o problema.

Tentei responder, mas meu olhar se prendeu ao homem que havia chegado por último. Senti-me mais tímida e embaraçada do que nunca. Ele aparentava ter trinta e poucos anos, era alto e vigoroso, com um rosto forte e másculo. Mas o que realmente me impressionou foi a intensidade magnética dos seus olhos. Aqueles olhos azuis... Eu nunca havia experimentado algo como a sensação atordoante de encará-los. Um arrepio estranho percorreu minha espinha.

Mas minha paralisia momentânea foi interrompida quando o rapaz mais jovem do grupo, que parecia ter uns vinte anos, disse algo em voz baixa que fez dois de seus companheiros rirem. Ele estava olhando diretamente para mim, e pela maneira como me observava, eu sabia que ele havia feito algum comentário malicioso. Senti o rosto esquentar e, naquele instante, fui transportada para um flashback: revi os colegas de rodeio de Derek aparecendo em nossa casa numa madrugada, fazendo comentários grosseiros e obscenos enquanto Derek, deitado no sofá, com o chapéu sobre os olhos, se divertia com as investidas dos vaqueiros bêbados contra sua própria esposa. Aquilo aconteceu duas semanas antes de ele morrer, e eu nunca vou esquecer como me senti envergonhada.

Agora, experimentava de novo a mesma terrível sensação. Com tantos problemas na cabeça, aquilo era mais do que eu podia suportar. Contendo as lágrimas de humilhação, apertei os lábios e abri o capô do caminhão.

— Posso cuidar disto sozinha, obrigada — disse friamente.

— Isso não é trabalho para uma mocinha bonita como você — o homem mais velho insistiu.

Virei-me para ele, trêmula de indignação.

— O problema é meu e posso muito bem trocar este pneu sozinha.

O homem dos olhos azuis me encarou com uma expressão tão dura que me fez estremecer. Era evidente que ele estava zangado com a minha atitude.

— No caso de você não ter notado, a oferta de Mike foi um ato de cortesia. Ele não teve qualquer intenção de ofendê-la. Mas se você está preocupada em defender ideias feministas, então se vire! — Ele ajeitou o boné na cabeça e se voltou para os companheiros. — Vamos embora.

Enquanto os homens se afastavam, eu mirava fixamente um ponto de ferrugem na lataria do caminhão, com os olhos nublados de lágrimas. Eu sabia que havia agido como uma tola, interpretando a situação de forma totalmente errada e agora estava pagando por isso. Tudo o que eu queria era apoiar a cabeça nas mãos e chorar. Não aguentava mais tanta pressão. Queria desistir de tudo, parar de me angustiar a cada dia com a incerteza de não saber como iria sustentar meus filhos. Sentia-me arrasada, com vontade de abandonar essa luta desesperada pela sobrevivência, mas sabia que não podia fazer isso.

Apertando os lábios com força, enxuguei lentamente as lágrimas. Depois, arregaçei as mangas da blusa e peguei o macaco.

Na manhã seguinte, eu estava parada junto à porta, com uma xícara de café na mão, sentindo os primeiros raios de sol no rosto. A cidade ainda estava silenciosa, e eu fiquei ali por vários minutos, observando o céu escuro clarear num azul-pálido, enquanto as nuvens no horizonte se tingiam de vários tons, do laranja ao púrpura. O alvorecer era tão lindo...

Suspirei e levei a xícara até os lábios. Passei metade da noite fazendo contas, tentando achar uma solução para o problema dos impostos, mas a situação não oferecia muita esperança.

Por mais que eu pensasse em várias possibilidades, desde vender algumas coisas da vovó até cortar mais despesas, tudo me levava a um fato evidente: não podia mais manter o caminhão. O seguro venceria em dois meses, os gastos com combustível não cabiam no orçamento, e os freios precisavam de regulagem. Vender o veículo seria uma atitude sensata e necessária. Não gostava da ideia, mas eu não tinha outra escolha.

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