Eu nunca me senti tão pressionada como no dia em que fui conversar com o advogado. Precisava urgentemente arranjar uma babá para as crianças. Não era justo continuar dependendo da boa vontade de Liz por muito tempo, mesmo sabendo que minhas condições financeiras estavam longe de permitir isso. Mas como eu pagaria? Acabara de gastar uma quantia considerável para instalar um telefone, e minhas economias estavam acabando depressa. Depois de comprar mantimentos e outros produtos essenciais para a casa, restaram-me exatamente quinhentos e quarenta dólares. Se eu controlasse rigorosamente cada centavo, poderia manter a família por mais umas seis semanas.— Sra. Simpson, o Sr. Brown vai recebê-la agora — avisou a secretária.Respirei fundo e, tensa, peguei a bolsa antes de me dirigir ao escritório que ela indicou. O homem magro, parado junto à escrivaninha abarrotada de papéis, levantou-se ao me ver entrar e estendeu a mão com um sorriso amistoso.— Sou Ned Brown. Seja bem-vinda à nossa cida
Eu afastei o cabelo do rosto e apoiei a cabeça na madeira fria da porta, sentindo o peso do desânimo no olhar. Precisava me lembrar constantemente dos aspectos positivos da minha situação: a casa estava paga, as crianças tinham saúde, e eu ainda era capaz de trabalhar duro. Poderia ser pior, eu dizia a mim mesma.Admirei o nascer do sol por mais alguns momentos, antes de desviar o olhar para a rua tranquila. A casa da minha avó era muito bem localizada. A rua em frente à propriedade já fora parte de uma auto-estrada, e, desde que a nova rodovia foi construída há alguns anos, tornou-se a principal via de acesso à cidade. Não havia muitos sinais de desenvolvimento na região, até a estrada de ferro: uma oficina reformada com uma grande placa dizendo "O'Neil Veículos", um posto de gasolina, a velha estação ferroviária e um grande prédio que pertencia a um comerciante de implementos agrícolas. Mais adiante, do outro lado dos trilhos, erguiam-se quatro enormes elevadores de grãos, que abast
Megan, por outro lado, sempre tentou agradar o pai, apesar de ele deixar claro que não a suportava. Ele vivia chamando-a de "bebê mimado", o que a tornou tímida e insegura. É curioso como os sentimentos se desenvolvem, pensei. Apesar de tudo, era Megan quem mais sentia falta dele. Já os meninos, especialmente Trevor, reagiram à morte de Derek com uma raiva que beirava o ódio, como se a morte fosse mais uma maneira dele os irritar.Entrei na sala com a xícara nas mãos, coloquei-a sobre a mesa e me agachei na frente do meu filho.— Você sente falta dele, Trevor? — perguntei suavemente.— Não — ele respondeu, balançando a cabeça e desviando o olhar.— Não tem problema nenhum falar sobre isso, querido. — Apoiei o queixo nas mãos, esperando pacientemente.Ele levantou os olhos para mim e repetiu com firmeza:— Não sinto falta dele, mamãe. Ele só fazia você sofrer, e eu não suportava isso.A dor nos olhos dele me atingiu como uma faca. Ele enxugou uma lágrima antes de continuar:— Estou fel
Eu estava sentada à mesa da cozinha, tentando desesperadamente equilibrar as contas. O caminhão vendido, os impostos pagos, e ainda assim, o dinheiro parecia evaporar antes de eu conseguir respirar aliviada. Era como se a vida jogasse contra mim. O pagamento pelo serviço na escola ainda estava distante, e o pouco que ganhara ajudando a limpar as salas mal cobria a babá. Minha cabeça latejava, mas eu precisava me concentrar.— Mamãe, eu preciso falar com você. — A voz de Ryan cortou minha concentração.— Só um minuto, Ryan. Deixe-me terminar estas contas. — Respondi sem tirar os olhos da coluna de números.Mas ele insistiu, e algo na sua voz me fez largar a caneta.— O que foi, Ryan? Não vê que estou ocupada?— Eu e Trev tivemos uma espécie de acidente. — Ele parecia ansioso, pálido até.Meu coração apertou.— Acidente? Trev está machucado?— Não, ele está bem. Foi um tipo diferente de acidente.— O que aconteceu desta vez? — Perguntei, já prevendo algum estrago.Então, Ryan confessou
Mulher Irresistível Por Grady O’neill Eu saí da oficina naquele dia com a intenção de dar um tempo para a mente. Tinha passado a manhã inteira resolvendo problemas de clientes, negociando preços e lidando com mais papelada do que eu gostaria. Tudo o que eu queria era um café forte e uns minutos de silêncio. Mike e os outros já estavam do lado de fora do café quando cheguei. Eles conversavam animadamente sobre qualquer coisa que homens discutem para matar o tempo. Eu mal prestei atenção até que notei algo na rua. Um caminhão. Não, mais que isso... uma mulher saindo dele com um ar visivelmente tenso. — Ei, moça, você sabia que está com um pneu furado? — Mike apontou, sempre o primeiro a notar tudo e a se intrometer. Assim que os olhos dela se levantaram, fui atingido por um instante de algo que não acontecia há anos: curiosidade. A mulher tinha um jeito que mesclava fragilidade e força, como alguém que já carregou mais do que deveria, mas ainda assim se mantém em pé. Eu
Enquanto atravessávamos a rua, percebi que meu coração estava mais leve. Grady O’Neil não era apenas o carrancudo que aparentava ser. Ele havia demonstrado bondade e compreensão. Isso me fez refletir: Se ele foi capaz de ajudar os meninos com esse trabalho, talvez pudesse ter algo para mim também.Nos últimos meses, a situação financeira tinha se tornado insustentável. Era como se cada dia trouxesse mais contas, mais dificuldades e menos soluções. Eu estava disposta a aceitar qualquer trabalho: faxina, lavagem de carros, organização do pátio... qualquer coisa que pudesse aliviar a carga que pesava sobre meus ombros.Quando vi o homem mexendo no motor do caminhão, decidi voltar. Talvez ele pudesse me ajudar de algum jeito. Não custa tentar, pensei, tentando afastar a vergonha e o medo de ser rejeitada.Sem esperar por mais nada, segurei Megan pela mão e conduzi meus filhos até a calçada. Ao atravessar a rua, notei um homem mexendo no motor de um caminhão. Um frio percorreu minha espinh
Não conseguiria dormir. Levantei-me devagar, com cuidado para não fazer barulho e não acordar Megan, que dormia tranquila do outro lado da cama. Fui ao banheiro e, em seguida, parei ao lado do beliche onde meus meninos dormiam. Fiquei ali, parada, por alguns minutos, apenas observando-os. Eles estavam tão serenos e tão vulneráveis. Aquilo me cortou o coração. Sentia-me tão pequena diante do peso que carregava todos os dias, a luta para dar a eles um futuro melhor. Com os olhos cheios de lágrimas, fechei a porta sem fazer barulho e me dirigi à cozinha. Eu sabia que eles mereciam muito mais do que eu poderia dar. Esse pensamento me angustiava. Sentei-me em uma cadeira, apoiei o rosto nas mãos e deixei as lágrimas caírem. Chorei por eles, pelo meu casamento infeliz, pela ausência de minha avó, que tanto significava para mim, mas, acima de tudo, chorei pelo vazio que parecia se expandir diante de mim sem que eu soubesse como preenchê-lo. Olhei para a velha máquina de costura que esta
Para a Sra. Potter, derrubar a cerca já seria um grande problema; estragar algumas de suas preciosas plantas atingia o nível de catástrofe.— Se acontecer alguma coisa, tomem cuidado para não rir.— Está bem. — Ele virou-se e caminhou para a porta. — Pelo menos não na frente dela.— Trevor! — avisei.— Pode ficar sossegada, mamãe. Nós não vamos incomodar. O que acha que ela vai fazer se o caminhão passar por cima das rosas? — ele indagou, com um sorriso travesso.— Nem pense nisso! -- Falei, eu queria sorrir, mais precisava passar autoridade para ele.Ele riu e abriu a porta, mas antes de sair olhou para mim com uma firmeza que não condizia com sua pouca idade.— Não fique triste por causa do cinema, mamãe. Logo eu e Ryan vamos crescer e poderemos trabalhar. Aí você não precisará se preocupar tanto. — Ele levantou os ombros num gesto tímido e saiu da cozinha.Eu o observei através de uma nova cortina de lágrimas. Havia muitas coisas ruins na minha vida, mas as crianças certamente não