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Capítulo 02 - As Relíquias de Vovó

Assim que a recém-chegada acenou para mim, abriu um sorriso ainda maior ao se aproximar. Era como se já nos conhecêssemos, e sua energia era quase contagiante.

— Oi! Você é a Holly, certo? Eu a reconheci pelas fotos que sua avó me mostrava. Já estou aqui esperando desde cedo e achei que vocês não viriam mais! — Ela estendeu a mão quando chegou perto o suficiente. Seu rosto irradiava uma alegria genuína, refletindo sua natureza extrovertida. — Sou Liz Crawford, moro a duas casas daqui, descendo a rua. Seja bem-vinda a Jennings.

— Obrigada — respondi, devolvendo o sorriso. — Também achei que não chegaríamos mais. Foi uma viagem longa.

— Imagino, ainda mais com crianças, não é? — Liz riu, parecendo entender perfeitamente o que eu passara. — Os meus brigam, discutem e reclamam até estarmos a uns dez quilômetros de casa. Só então encostam a cabeça no banco e dormem.

— Os meus passaram os últimos mil e duzentos quilômetros brigando pela janela. — Suspirei, lembrando da jornada exaustiva.

— E as pessoas ainda se perguntam por que as mães ficam grisalhas tão rápido. — Liz afastou o cabelo loiro e curto do rosto, de repente adotando uma expressão mais séria. Sua voz ficou mais suave, carregada de emoção. — Sua avó era muito especial para mim. Não é a mesma coisa aqui sem a Cora.

Engoli em seco, sentindo um nó se formar na garganta. Minhas mãos buscaram abrigo nos bolsos da calça.

— Eu gostaria de ter vindo antes que ela... — Não consegui terminar a frase. — Detesto pensar que ela ficou sozinha.

— Mas ela não ficou sozinha, Holly — Liz me assegurou, sorrindo de forma terna. — Cora tinha muitos amigos e sabia que você queria estar aqui, mesmo que não pudesse. Ela entendia.

Desviei o olhar, tentando conter a dor que me inundava. Saber que minha avó estava morrendo e não poder juntar dinheiro suficiente para estar ao lado dela foi uma das piores coisas que já vivi. Não tive nem a chance de considerar essa possibilidade. Cada centavo que eu tinha era para alimentar as crianças, e viajar mais de mil quilômetros era um luxo que nunca pude me dar. Derek, meu marido, sempre dava um jeito de arranjar dinheiro para os rodeios, mas para coisas mais importantes... nunca sobrava.

— Ela realmente compreendia — Liz insistiu, aproximando-se para me dar um abraço. — Cora tinha um jeito especial de perceber tudo o que se passava.

Por um breve instante, me senti exposta, como se minha avó tivesse visto mais do que eu jamais quis mostrar. Talvez por isso Liz mencionasse a morte de Cora, que aconteceu há mais de cinco meses, e não dissesse nada sobre a morte de Derek, que morreu há menos de doze semanas. A saudade de Cora apertou meu peito, e foi difícil segurar as lágrimas.

Minha avó sempre viu Derek pelo que ele realmente era, desde o começo. Ela nunca se deixou enganar pelo charme ou a boa aparência dele. Sabia que ele jamais cresceria, que sempre viveria em seus sonhos, incapaz de assumir qualquer responsabilidade. Ela tentou me fazer enxergar isso, mesmo quando descobriu que eu, aos dezessete anos, estava grávida. Quis me convencer a desistir do casamento, mas eu estava apaixonada demais para ouvir. Achei que sabia tudo sobre Derek, que nossos sentimentos eram imutáveis... No final, percebi o quanto estava errada.

— Já deu uma olhada na casa? — Liz me trouxe de volta ao presente com sua pergunta.

Respirei fundo antes de responder:

— Só dei uma olhada rápida. Não me lembrava de como ela era pequena.

— Imagino que esteja pensando que vai ser apertado para vocês aí dentro, né?

Eu ia responder que, pelo menos, agora tínhamos um teto sobre nossas cabeças, mas resolvi ficar quieta. O passado estava morto. Essa mudança era uma chance de recomeço, para mim e para as crianças. Eu não queria parecer que estava me lamentando. Passei os últimos cinco anos tendo que aceitar ajuda e caridade para poder alimentar e vestir minha família; isso feriu muito meu orgulho.

Mas agora, tinha a oportunidade de mudar tudo. Aqui, ninguém iria balançar a cabeça de desgosto toda vez que Derek aparecesse bêbado na cidade, pedindo dinheiro emprestado para mais um rodeio em algum lugar. Aqui, eu podia recomeçar, sem a humilhação de depender da bondade dos outros. Talvez eu tivesse que contar cada centavo, mas estava disposta a trabalhar em qualquer emprego que surgisse para sustentar minha família.

Eu era a única responsável pelo bem-estar dos meus filhos... e isso me aterrorizava.

O som das crianças brincando me trouxe de volta à realidade. Forçando um sorriso, olhei para Liz.

— Vamos ter trabalho para limpar esse pátio.

Liz sentou-se no degrau de cimento que levava à cozinha e deu uma olhada em volta.

— Não deve estar tão ruim assim. Quando Ned Brown nos contou que você viria morar aqui, meu marido, Eric, disse que ia dar um jeito nessa selva, mas ele teve tanto trabalho na primavera que mal parou em casa. Tenho sorte quando o vejo antes de ir dormir.

— Ned Brown é o advogado que cuidou da herança da minha avó, certo? — perguntei, sentando-me ao lado dela.

— Sim, ele mesmo. Ele nos ligou para avisar que você viria com as crianças.

— Então foi você quem limpou a geladeira e cuidou da ligação da água e da luz?

— Bem, eu achei que poderia ao menos melhorar a aparência da cozinha. Foi o Eric que cuidou da ligação da luz e da água. Quando soubemos que você vinha, ele conseguiu convencer as companhias de que era só restabelecimento do serviço, e não uma nova instalação. Senão, você teria que pagar uma taxa enorme. É um absurdo o custo quando alguém vem de outro Estado.

Eu temia a próxima pergunta, mas não podia evitar. Desviei o olhar, preparando-me para o pior.

— Quanto ficou? — perguntei, tentando manter a calma.

— Não faço ideia. O Eric entregou os recibos ao Ned, e imagino que ele tenha sido reembolsado, mas é melhor você verificar com ele.

Soltei a respiração devagar. Não esperava por despesas tão cedo. Precisava arrumar um meio de ganhar dinheiro antes que começasse a gastar, ou iria à falência. Com a testa franzida, mexi nos pedregulhos do chão com o sapato.

— Sabe de algum emprego na cidade?

— Não há muita coisa — Liz respondeu, lançando-me um olhar rápido, como se tentasse entender minha situação. — O hotel sempre precisa de funcionários, e há também o lar para idosos. A cidade é pequena e tem poucas oportunidades. O que você gostaria de fazer?

— Qualquer coisa, por enquanto — murmurei, sem conseguir encará-la.

Liz ficou em silêncio por um instante, me observando. Eu precisava de ajuda, e ela parecia saber disso.

— A Sra. Propowski está procurando alguém para trabalhar algumas horas por semana na casa dela. Ela é uma viúva de setenta e poucos anos e não consegue mais cuidar dos afazeres sozinha. Deve haver outros casos assim na cidade. Talvez o Ned saiba de algo.

— Onde mora a Sra. Propowski?

— Ela é minha vizinha. Mais tarde, te levo até lá e apresento vocês. — Liz se levantou, batendo o short para tirar a poeira. — Melhor ainda, venha tomar um café comigo, e eu a convidarei também. Fiz uns bolinhos que devem estar saindo do forno agora. Deixe a casa para depois.

— Se eu pudesse, acho que adiaria essa tarefa para sempre. — Suspirei, me levantando devagar. — Nem sei por onde começar. Há tanta coisa para fazer aqui!

— Siga o conselho da sua avó: ela dizia que nenhuma tarefa era difícil demais quando começada com uma boa xícara de café quente e uma grande dose de determinação.

Sorri, hesitante. Sabia que precisaria de mais do que uma xícara de café e determinação para enfrentar o que estava por vir. Eu precisava de um milagre.

Nos dois dias seguintes, trabalhei desde as primeiras horas da manhã até o entardecer para limpar o pó e o mofo acumulados há meses sobre os móveis envelhecidos. Até encontrei uma família de ratos instalada no galpão. Cada vez que mexia em algo, descobria uma nova preciosidade: uma caixa com velhas fotografias de família, um porta-jóias forrado de veludo e cheio de peças antigas, alguns móveis belíssimos e valiosos para colecionadores, um relógio de pêndulo feito à mão.

Porém, o tesouro mais inacreditável estava no armário na pequena sala de jantar. Lá, encontrei um aparelho de jantar completo de porcelana antiga, lindas peças de cristal, um serviço de chá de prata e, na última gaveta, escondidas sob uma toalha de linho, todas as cartas que eu escrevera para minha avó. Sentei-me no chão, com a pilha de envelopes no colo, enquanto as lágrimas corriam pelo meu rosto.

Eu queria tanto ter tido a oportunidade de, ao menos uma vez antes que minha avó morresse, dizer frente a frente o quanto eu a amava. Agora, só me restava acreditar que Cora sabia disso, mesmo sem o auxílio das palavras.

Apesar do cansaço e da dor nas costas causados pela arrumação da casa, o que mais me preocupava era o rápido consumo da minha reserva de dinheiro. A Sra. Propowski me contratara para trabalhar duas vezes por semana, e eu consegui me inscrever para serviços ocasionais no hotel, mas o que eu ganharia não seria suficiente nem para as compras na mercearia. Precisava de outro emprego. Todas as vezes que pensava nisso, o que ocorria com uma frequência desesperadora, uma sensação de pânico me invadia.

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