Uma Mãe Viúva e o Mecânico Sedutor
Uma Mãe Viúva e o Mecânico Sedutor
Por: Wilma G Silva
Capítulo 01 - Recomeçar

A casa se erguia solitária no meio de um amplo terreno abandonado, onde o mato atingia mais de um metro de altura. A pintura branca, gasta pela contínua exposição ao tempo, estava descascando por toda a extensão das paredes, e a porta de tela, solta das dobradiças, estava caída na varanda. A madeira envelhecida dos batentes das janelas ainda revelava restos de tinta verde, e, de frente para a rua, um vidro quebrado brilhava como uma teia de aranha prateada sob o sol de fim de tarde. Apesar do mato, eu conseguia distinguir uma calçada de cimento em torno da residência, com plantas crescendo pelas rachaduras, revelando os vários meses de total negligência. Apenas as quatro grandes árvores alinhadas no fundo do terreno se salvavam da atmosfera de destruição e descaso que permeava todo o local.

Apertei as mãos úmidas e respirei fundo antes de descer do caminhão, tentando disfarçar a profunda decepção que me invadiu. Por um breve instante, uma onda de pânico quase me dominou, mas consegui me controlar, mesmo vendo minha última esperança evaporar-se diante dos meus olhos.

— É aqui, mamãe? É esta a casa que sua avó lhe deixou? — perguntou Trevor, meu filho de nove anos, com um tom de surpresa.

Forcei um sorriso e me virei para ele, que estava apoiado na janela do velho caminhão, examinando a casa abandonada.

— Sim, querido, é aqui.

— Você disse que era bonita e que nós íamos gostar muito. — Havia um tom de acusação em sua voz.

— Ela era bonita, mas faz muito tempo que eu não vinha aqui — respondi, sem saber como ainda conseguia manter o sorriso nos lábios. — Nós vamos reformá-la.

Uma nova sensação de medo começou a tomar conta de mim, e desviei o olhar para que as crianças não percebessem o quanto eu estava abalada. Eu tinha contado tanto com essa casa e, no fim, tudo parecia ser mais uma tentativa inútil. Agora eu realmente estava num beco sem saída. Três filhos pequenos, uns poucos milhares de dólares que sobraram do seguro, nenhum emprego e tudo o que eu possuía para recomeçar a vida era uma casa caindo aos pedaços.

Respirei fundo mais uma vez, encarando outro aspecto da fria realidade: se as coisas piorassem muito, eu teria que vender o caminhão. Olhei para as crianças novamente e vi Ryan se apertando ao lado do irmão para também apoiar-se na janela e observar a casa.

— É bem feia, não é, mamãe? Parece mal-assombrada! Vai ver tem uma bruxa morando lá.

Segurei a maçaneta da porta e lancei um olhar de repreensão para Ryan, meu filho de oito anos.

— Chega, Ryan. Você vai deixar Megan assustada com essas bobagens.

Ele olhou para a irmãzinha e sorriu.

— Não, mamãe, ela ainda está dormindo.

— Ótimo, então desçam do caminhão. Eu vou pegá-la. — Os meninos saíram do veículo, e eu sacudi gentilmente Megan. — Meg, querida, chegamos.

Megan se espreguiçou, e eu a levantei nos braços. Em seguida, tirei um chaveiro do bolso da calça e o entreguei a Trevor.

— Vá à frente e abra a porta, está bem? Ryan, você poderia apanhar minha bolsa? — Tentando mostrar-me forte, ajeitei Megan no colo e caminhei em direção à velha residência da minha avó, rezando fervorosamente para que o interior não estivesse tão ruim quanto a aparência do lado de fora mostrava. Meus filhos precisavam de um lugar para morar.

Sentia a ansiedade me sufocar ao ver Trevor abrir a porta. Não tinha outro lugar para ir e ninguém a quem recorrer. Nada.

— Venha, mamãe — Ryan chamou, aproximando-se. — O que você está olhando? Vamos entrar.

Apertei Megan com mais força e subi os degraus da varanda. Contornei a porta de tela caída no chão, parei por um instante para que meus olhos se adaptassem à penumbra e entrei. O lugar era tão pequeno! Dez vezes menor do que eu me lembrava. Havia poeira por toda parte, mas tudo estava exatamente como minha avó deixara: os móveis velhos, os enfeites de porcelana, as cortinas bege, os quadros de flores nas paredes, a lareira em um dos cantos. A casa cheirava a mofo e umidade, mas eu mal atentei para isso enquanto me recostava ao batente da porta com um suspiro de alívio. O interior não estava num estado tão deplorável quanto o lado externo. Eu poderia transformar essa casa numa moradia decente, compensando os meses de abandono e negligência com uma boa arrumação geral. Sabia que iria ter trabalho, mas isso não me incomodava. O importante era que tínhamos um lar.

— Chegamos? — Megan perguntou, esfregando os olhinhos sonolentos.

— Sim, querida. Estamos em casa.

— Eu quero ver.

A menina agitou-se nos meus braços, querendo ir para o chão. Abaixei-a, e, vendo-a correr para longe, estiquei o corpo para dissipar a tensão que se acumulava nas minhas costas e pescoço. Olhei em volta com mais cuidado e reparei que nada havia mudado. O aposento à esquerda da entrada servia como sala de jantar, com seu pequeno espaço sobrecarregado de móveis pesados e antigos. À direita, ficava a sala de estar e, ao fundo desta, uma porta levava a um dos dois quartos. O lugar ficaria agradável quando eu removesse parte da mobília e limpasse tudo.

Afastando o cabelo do rosto com ambas as mãos, caminhei até o quarto da minha avó. Controlando a emoção, revi a cama antiquada junto a uma das paredes. Apenas um plástico transparente cobria o colchão, que parecia relativamente novo. Havia um pequeno criado-mudo ao lado da cama, uma penteadeira com espelho e um grande armário ainda repleto de roupas. Senti os olhos molhados de lágrimas ao perceber os velhos vestidos pendurados em cabides de madeira, mas logo fechei a porta do guarda-roupa e saí do cômodo. Precisava me concentrar na situação presente e avaliar as possibilidades. A única mobília que possuía eram as camas das crianças, mas o quarto era tão pequeno que não havia espaço sequer para o berço de Megan.

A cozinha mostrava sinais de mudanças recentes, que incluíam dois armários novos e uma lavadora de pratos. O chão, contudo, conservava o mesmo piso escurecido que eu observei em minha última visita, há dez anos. Abri a torneira da pia por mero acaso e me surpreendi ao ouvir um ruído nos canos e, em seguida, deparar-me com um jato de água límpida. Experimentei o interruptor de luz, e as lâmpadas fluorescentes piscaram e encheram o ambiente com sua luz clara. Fechei a torneira e franzi a testa, intrigada. Talvez o advogado que cuidou do patrimônio da minha avó tivesse providenciado para que a água e a luz fossem ligadas novamente ao receber o comunicado de que eu não queria mais vender a casa, mas pretendia morar lá. Nem pensei em indagar sobre esses detalhes quando fui buscar as chaves com a secretária dele.

Me virei para a geladeira, esperando pelo pior. Porém, a porta entreaberta mostrava que o interior parecia ter sido limpo. Talvez tivessem cuidado disso também, pensei.

O segundo quarto, que se situava além da cozinha, estava vazio, exceto por uma velha máquina de costura, uma enorme penteadeira, uma cadeira e a estrutura de uma cama de campanha. O aposento era pequeno, mas, por sorte, os meninos dormiam em beliche, e seria possível acomodá-los bem. Afinal, o tamanho da casa era um problema irrelevante; pelo menos agora tínhamos um lar.

Dei uma olhada rápida no banheiro antes de retornar à cozinha e abrir a porta dos fundos, curiosa por saber por onde as crianças andavam. Reparei no pequeno galpão que fora construído há poucos anos e que agora servia como depósito para móveis velhos. Entre as peças ali armazenadas, havia um fogão a lenha que devia ter mais de cem anos. Examinei a relíquia com cuidado. Antes de me casar, eu trabalhava para um comerciante de móveis usados que se interessava imensamente por antiguidades. Com certeza, ele adoraria aquela peça. O fogão estava em excelentes condições e poderia valer uma pequena fortuna se fosse vendido para a pessoa certa. De repente, possuir tal preciosidade em minha própria casa me fez sentir mais segura e, pela primeira vez em muitos dias, respirei aliviada.

Levantei os olhos na direção da garagem e vi uma mulher baixa e roliça aparecer junto ao portão. Observei o rosto sorridente e sardento, o andar apressado, e deduzi que só poderia ser Liz Crawford. Minha avó a descreveu em suas cartas e sempre se referia a ela com grande afeição.

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