Mulher Irresistível
Por Grady O’neill Eu saí da oficina naquele dia com a intenção de dar um tempo para a mente. Tinha passado a manhã inteira resolvendo problemas de clientes, negociando preços e lidando com mais papelada do que eu gostaria. Tudo o que eu queria era um café forte e uns minutos de silêncio. Mike e os outros já estavam do lado de fora do café quando cheguei. Eles conversavam animadamente sobre qualquer coisa que homens discutem para matar o tempo. Eu mal prestei atenção até que notei algo na rua. Um caminhão. Não, mais que isso... uma mulher saindo dele com um ar visivelmente tenso. — Ei, moça, você sabia que está com um pneu furado? — Mike apontou, sempre o primeiro a notar tudo e a se intrometer. Assim que os olhos dela se levantaram, fui atingido por um instante de algo que não acontecia há anos: curiosidade. A mulher tinha um jeito que mesclava fragilidade e força, como alguém que já carregou mais do que deveria, mas ainda assim se mantém em pé. Eu me aproximei devagar, sem intenção de intimidar. Apenas observava. Não era minha intenção prolongar o olhar, mas algo nela me fazia querer entender mais. Como se a forma como ela segurava a chave na mão, apertando com força, dissesse mais do que qualquer palavra. Mike, sempre prestativo e talvez um pouco antiquado, ofereceu ajuda. E foi aí que tudo desandou. O jeito como ela rejeitou a oferta, erguendo o queixo com um misto de nervosismo e orgulho, me fez perceber que havia mais ali do que apenas um pneu furado. Era como se ela tivesse algo a provar, para nós, para si mesma, ou talvez para o mundo. Mas o que realmente me incomodou foi o riso baixo de Pete. Conhecia bem aquele tom. Era o tipo de comentário que fazia qualquer mulher querer desaparecer. Tentei não reagir, mas quando vi a expressão dela mudar, passando de insegura para absolutamente devastada, alguma coisa em mim se acendeu. Eu devia ter falado com Pete, mas ao invés disso, direcionei minha irritação a ela. — No caso de você não ter notado, a oferta de Mike foi um ato de cortesia. Ele não teve qualquer intenção de ofendê-la. Mas se você está preocupada em defender ideias feministas, então se vire! Assim que as palavras saíram, percebi que não deveria ter falado. Mas o orgulho me fez virar de costas e sair dali com os outros. Ainda assim, mesmo enquanto caminhava, não conseguia tirar o rosto dela da cabeça. A forma como ela segurava o capô do caminhão, como se ele fosse um escudo, e o olhar determinado, mesmo enquanto parecia à beira de desabar. Quando entrei na oficina novamente, algo em mim já sabia que aquela não seria a última vez que veria aquela mulher. E, de alguma forma, isso me incomodava mais do que eu estava disposto a admitir. Estava absorto em meus pensamentos no escritório, uma mistura de preocupações e memórias que não conseguiam me deixar em paz. Meu cérebro insistia em me lembrar daqueles olhos azuis, tão brilhantes e tão intensos. A beleza de Holly me perseguia, um lembrete doloroso que eu tentava ignorar. Foi então que ouvi a batida leve na porta. Era Eric, sempre tão alegre, entrando com aquele jeito descontraído que tornava tudo mais leve. — Ei, Grady — ele disse, com um sorriso largo. — Minha esposa acabou de passar um café e fazer um bolo. Que tal dar um pulo lá em casa para um lanche? Eu hesitei por um segundo. Precisava tirar minha mente desses pensamentos. A presença de Holly era uma distração perigosa, e talvez sair um pouco fosse o que eu precisava. — Claro — respondi, levantando-me da cadeira. — Aceito com prazer. Chegando à casa de Liza, fui recebido por aquele ar acolhedor que sempre tinha. Ela abriu a porta com um sorriso gentil e nos convidou para entrar. — Grady! Que bom que você veio — disse Liza, com aquele tom amigável. — Sinta-se à vontade para se sentar. Ela foi até a cozinha, e Eric puxou conversa enquanto eu observava o ambiente tranquilo. Era um bom espaço, muito organizado, com aquele cheiro agradável de café e bolo recém-saído do forno. Foi quando Liza voltou e, com uma leve curiosidade, perguntou: — Vocês já conhecem a nova vizinha que chegou? Eu não sabia o que responder, mas Eric parecia estar prestando atenção na pergunta. Ele deu um passo para frente, coçando a nuca, meio desconfortável. — Ah... eu esbarrei com ela no centro outro dia — disse Eric, quase envergonhado. — Foi um pouco constrangedor, para ser honesto. Fiquei em silêncio, apenas ouvindo. Não queria me intrometer em suas conversas, mas a informação sobre a nova vizinha me prendeu a atenção. Liza pareceu entender o desconforto e logo pediu que não levassem aquilo muito a sério: — Ah, não se preocupem — disse, com a voz suave e compreensiva. — Holly está passando por um momento difícil. Ela tem três filhos pequenos e está numa situação financeira bem complicada. Vamos ser compreensivos. Concordei, mas algo me incomodava. Eu sabia que havia algo grotesco naquele encontro e me senti culpado por aquilo. Não disse nada, mas a sensação de arrependimento me apertava. Precisava corrigir isso assim que tivesse a oportunidade. Eric, sempre leve e brincalhão, aproveitou aquele momento para mudar o clima: — Grady, você precisa arrumar uma namorada, meu amigo — ele disse, rindo. — Você anda muito estressado. Todos riram com aquilo, e eu não pude evitar um sorriso também. A leveza do momento era bem-vinda, especialmente depois de tantos pensamentos. — Não, não é meu momento, Eric — respondi, tentando manter um tom firme, mas com um sorriso no rosto. — Eu não sou do tipo que gosta de correr atrás de mulheres. A conversa terminou em risadas e descontração. Eric se despediu de Liza com um beijo carinhoso, e logo nos levantamos para sair. A atmosfera leve e acolhedora da casa de Liza fez bem ao meu espírito, mesmo que apenas por alguns instantes. Saindo dali, eu continuei a me questionar sobre Holly e aquela sensação perturbadora. Não sabia o que o futuro traria, mas sabia que havia algo que precisava ser consertado. — Vamos, Grady? — perguntou Eric, com um sorriso no rosto. — Vamos — respondi, respirando fundo. Deixamos a casa para trás, mas minha mente continuava inquieta.Enquanto atravessávamos a rua, percebi que meu coração estava mais leve. Grady O’Neil não era apenas o carrancudo que aparentava ser. Ele havia demonstrado bondade e compreensão. Isso me fez refletir: Se ele foi capaz de ajudar os meninos com esse trabalho, talvez pudesse ter algo para mim também.Nos últimos meses, a situação financeira tinha se tornado insustentável. Era como se cada dia trouxesse mais contas, mais dificuldades e menos soluções. Eu estava disposta a aceitar qualquer trabalho: faxina, lavagem de carros, organização do pátio... qualquer coisa que pudesse aliviar a carga que pesava sobre meus ombros.Quando vi o homem mexendo no motor do caminhão, decidi voltar. Talvez ele pudesse me ajudar de algum jeito. Não custa tentar, pensei, tentando afastar a vergonha e o medo de ser rejeitada.Sem esperar por mais nada, segurei Megan pela mão e conduzi meus filhos até a calçada. Ao atravessar a rua, notei um homem mexendo no motor de um caminhão. Um frio percorreu minha espinh
Não conseguiria dormir. Levantei-me devagar, com cuidado para não fazer barulho e não acordar Megan, que dormia tranquila do outro lado da cama. Fui ao banheiro e, em seguida, parei ao lado do beliche onde meus meninos dormiam. Fiquei ali, parada, por alguns minutos, apenas observando-os. Eles estavam tão serenos e tão vulneráveis. Aquilo me cortou o coração. Sentia-me tão pequena diante do peso que carregava todos os dias, a luta para dar a eles um futuro melhor. Com os olhos cheios de lágrimas, fechei a porta sem fazer barulho e me dirigi à cozinha. Eu sabia que eles mereciam muito mais do que eu poderia dar. Esse pensamento me angustiava. Sentei-me em uma cadeira, apoiei o rosto nas mãos e deixei as lágrimas caírem. Chorei por eles, pelo meu casamento infeliz, pela ausência de minha avó, que tanto significava para mim, mas, acima de tudo, chorei pelo vazio que parecia se expandir diante de mim sem que eu soubesse como preenchê-lo. Olhei para a velha máquina de costura que esta
Para a Sra. Potter, derrubar a cerca já seria um grande problema; estragar algumas de suas preciosas plantas atingia o nível de catástrofe.— Se acontecer alguma coisa, tomem cuidado para não rir.— Está bem. — Ele virou-se e caminhou para a porta. — Pelo menos não na frente dela.— Trevor! — avisei.— Pode ficar sossegada, mamãe. Nós não vamos incomodar. O que acha que ela vai fazer se o caminhão passar por cima das rosas? — ele indagou, com um sorriso travesso.— Nem pense nisso! -- Falei, eu queria sorrir, mais precisava passar autoridade para ele.Ele riu e abriu a porta, mas antes de sair olhou para mim com uma firmeza que não condizia com sua pouca idade.— Não fique triste por causa do cinema, mamãe. Logo eu e Ryan vamos crescer e poderemos trabalhar. Aí você não precisará se preocupar tanto. — Ele levantou os ombros num gesto tímido e saiu da cozinha.Eu o observei através de uma nova cortina de lágrimas. Havia muitas coisas ruins na minha vida, mas as crianças certamente não
"Eu Te Esperarei"Eu te esperareiEla tentava se esquivar. Eu podia sentir. Toda vez que nossos olhares se cruzavam, Holly desviava os olhos rapidamente, como se temesse que eu enxergasse algo que ela escondia a sete chaves. Não era a primeira vez que percebia isso, mas naquela manhã, com a luz dourada atravessando a cozinha, pareceu mais evidente.Holly era um enigma. Eu a observava enquanto ela movia os braços no fogão, o rosto parcialmente voltado para longe de mim, e me perguntava o que a fazia se recolher para dentro de si daquele jeito. Sua vulnerabilidade estava visível, como uma corda tensa prestes a se romper.Quando seus olhos umedecidos brilharam antes que ela se virasse, algo dentro de mim se apertou. Eu sabia o que era ser forte por fora, enquanto por dentro tudo desmoronava. Reconhecia a forma como ela erguia as defesas e forçava um sorriso para os filhos, tentando esconder o peso que carregava.Mas o que me perturbava mais do que qualquer coisa era o modo como ela reag
Eu não vi os meninos pelo resto da tarde. Por volta das cinco horas, não consegui mais conter a minha curiosidade e fui espiar o que estava acontecendo. minha cerca ficou reduzida a uma pilha caprichada de madeira para fogo e a terra havia sido espalhada por igual sobre a horta da sra. Potter. Eu mal contive o riso quando dei a volta na garagem e vi Trevor, sério e suado, varrendo dedicadamente a calçada da vizinha enquanto Ryan vinha atrás com uma mangueira de água.Eu ia voltar para casa quando o caminhão da O’Neil Veículos estacionou no meio-fio e Grady desceu. Ele me cumprimentou com um aceno de cabeça e encaminhou-se para onde os meninos se encontravam. Colocou as mãos nos quadris, olhou em volta e falou alguma coisa com Trevor. O garoto pegou as pás e a vassoura e depositou-as na carroceria do caminhão. Ryan enrolou a mangueira e aproximou-se do irmão.Eu os observei por um momento, depois virei-me e voltei para casa. Ao passar pelos canteiros de flores, notei algum mato cresc
"Risadas e Frustrações" Enquanto cuidava do jardim, meus olhos inevitavelmente se voltaram para a varanda. As pilastras cederam sob o peso do peitoril de cimento, e a cena gritava por uma solução. A casa ficaria com uma aparência bem melhor se eu conseguisse consertá-la. Era uma ideia simples: com um macaco de automóvel grande o suficiente, poderia levantar o parapeito inclinado e colocar sob ele os blocos de cimento que vi na garagem. Não parecia algo tão difícil. Olhei na direção da oficina de Grady, onde Mike Tuttle acabava de estacionar seu caminhão. Hesitei por um momento antes de atravessar a rua e me aproximar. — Oi, Mike. Como vai? — cumprimentei, tentando parecer casual. — Ótimo. E você? — Estou bem, obrigada. Será que poderia me emprestar o macaco do seu caminhão? Quero tentar levantar o parapeito da varanda. — Pode pegar. Está na caixa de ferramentas. Quando terminar, é só colocá-lo de volta. Sinto muito por não poder ajudar, mas tenho uma entrega para fazer daqui a po
— É só apoiar direito que não acontecerá nada — garanti, confiante. — Será seguro se colocarmos uma escora aqui na frente. Vamos tentar?Ele respirou fundo, ainda desconfiado, mas cedeu.— Está certo, mas espere até eu deixar isso bem firme.E assim começamos de novo. Uma hora depois, com as mãos sujas de terra e o cabelo desalinhado, observei a varanda praticamente nivelada e senti um orgulho imenso.— Foi uma melhora e tanto! — comemorei, limpando a testa com as costas da mão.Mas Grady, com aquele jeito provocador de sempre, me analisou de cima a baixo antes de declarar:— É pena que eu não possa dizer o mesmo de você.Revirei os olhos, exasperada.— Muito obrigada!Ele riu, satisfeito.— De nada. Agora, vamos aos bolinhos de canela.Cruzei os braços e fiz minha melhor imitação de uma mãe exigente.— Diga, "por favor".Grady parou, sua expressão mudando de súbita leveza para algo mais intenso. Quando respondeu, sua voz estava repleta de algo que não consegui decifrar.— Não,
"Olá Tigrinha... "Ela estava furiosa, claro. Não era exatamente uma novidade, mas, por algum motivo, eu nunca me cansava de vê-la assim. Holly tinha esse jeito peculiar de transformar a raiva em um espetáculo. Até o modo como jogava o macaco no chão parecia coreografado. Frustrada, determinada, ferozmente encantadora.A ironia na resposta dela me fez sorrir. Não importava quantas vezes eu tentasse ajudar, ela sempre rebatia com alguma provocação. Ainda assim, eu sabia que ela precisava de mim, mesmo que nunca admitisse.Enquanto inspecionava o parapeito, ouvi sua ameaça de dinamite e ri baixinho. Era típico de Holly exagerar, mas eu não duvidava que, se tivesse mesmo uma banana de dinamite, ela já teria resolvido a questão sozinha. Ela era como uma tempestade—intensa e impossível de ignorar."Você quer ou não quer ajuda?" perguntei, mantendo o tom leve, mesmo enquanto meu coração dava aquele salto irritante. Não sei bem por que gostava tanto de provocá-la. Talvez fosse o jeito como o