Vitória estava no segundo ano de faculdade e, ansiosa para terminar logo, mantinha-se focada. Ela não tinha amigos e Vivia de casa para a faculdade, até que um dia conheceu Lucian, seu professor. Foi uma paixão imediata. Desde então, ela foi para casa pensando nele, e para a faculdade, seu coração parecia sair pela boca a cada vez que o via.
Uma tarde, Vitória estava na biblioteca depois da aula quando Lucian se mudou e perguntou se poderia sentar-se à mesa dela. Ela concordou, e eles começaram a conversar. A partir daquele dia, passamos a conversar com frequência. Meses depois, saiu pela primeira vez, e o encontro se tornou algo regular sempre que Vitória tinha tempo. Com o tempo, comecei a namorar. Lucian, porém, fez questão de dizer que eles não poderiam contar a ninguém sobre o relacionamento. Explicou que, se alguém soubesse, ele seria demitido. Mas ele a tranquilizou: disse que, assim que ela se formasse, assumiriam o namoro e se casariam. Vitória estava encantada e mais apaixonada a cada dia, acreditando completamente nas promessas dele. Mesmo com toda a animação de Vitória, ela percebeu que Lucian sempre evitava falar sobre a família ou a vida pessoal, justificando que eles precisavam manter o namoro em segredo para evitar problemas. No último ano da faculdade, não tão aguardado o dia de sua formação, Vitória ficou sozinha. Seus pais não fizeram questão de estar presentes, mas ela estava esperançosa e feliz, aguardando o momento em que finalmente estaria livre para viver seu romance. Vitória nunca se sentiu tão ansiosa. Era sua formação, o dia em que ela sonhou desde criança, o marco de uma nova etapa de sua vida, e também o momento que imaginou ser o início de uma vida ao lado de Lucian, o homem por quem se apaixonara perdidamente. Mesmo que seus pais não estivessem presentes — eles nunca apoiaram sua escolha de seguir a carreira e construir uma vida por conta própria — ela acreditava que aquele dia ainda seria perfeito. Vitória passa boa parte da noite procurando por Lucian na cerimônia, ansiando pelo abraço dele, pelas palavras de orgulho e pela promessa de um futuro juntos. Eles tinham combinado que, depois de sua formação, finalmente contariam ao mundo sobre o relacionamento e fariam planos para uma vida a dois. Quando finalmente o viu, Vitória sentiu o coração disparar de alegria, mas a cena que se revelou diante dela fez o chão desaparecer sob seus pés. Lucian não estava sozinho. Ele estava com uma mulher, segurando-a pela cintura e trocando olhares apaixonados. Eles estavam tão próximos, tão íntimos, que Vitória sentiu o estômago se revirar. Observava tudo, incrédula, até que uma colega de sala, Kátia, se moveu e soltou, como se fosse uma fofoca qualquer: Kátia: Dá para acreditar que o professor Lucian é casado? Nunca teríamos descoberto se ele não tivesse trazido a mulher dele hoje. Vitória: Casado? — murmurou, atordoada. Ela sentiu que o ar lhe faltava, e Kátia, sem perceber a angústia de Vitória, contínua: Kátia: Sim, parece que a mulher está grávida. Ele enganou muitas garotas por aqui, viu? Eu mesmo caí na lábia dele, acreditei que ele me amava e que deixaram tudo para ficarmos juntos. Tudo mentira. Foi como se uma onda de choque tomasse Vitória como se o chão fosse desabar. As palavras de Kátia ecoavam em sua mente, deixando-a sem acreditar, enquanto uma angústia crescente tomava conta de seu peito. Ela assistia enquanto Kátia, em um impulso furioso, jogava bebida em Lucian, fazendo um escândalo que chamou a atenção de todos. A mulher de Lucian, visivelmente grávida, olhou incrédula para o marido, completamente desmoronada diante das revelações. Ao notar a presença de Vitória, Lucian tentou se aproximar, gesticulando, desesperado para falar com ela. Vitória, já com o rosto coberto de lágrimas, virou-se e saiu correndo até o banheiro, onde desabou em prantos. Lá, seu coração parecia se despedaçar a cada solução. Tudo o que ela havia sonhado, planejado e esperado parecia ser apenas uma mentira cruel. Ela chorou tanto que começou a passar mal, sentindo seu corpo frágil e esgotado. Depois de um tempo, Vitória se recompôs, limpou as lágrimas e saiu do banheiro. Estava decidida a deixar aquela festa e aquele pesadelo para trás. Mas, ao sair, deu de cara com Lucian, que a interceptou, ainda tentando explicar o inexplicável. Lucian: Vitória, não é o que você pensa. Eu estou com ela pelo bebê, mas o meu coração é seu! Era só questão de tempo para resolver tudo. Tenha paciência… Vitória: Não me procure mais. Acabou. Eu quero esquecer que você existe, que eu me apaixonei por você, que acreditei nas suas promessas vazias. Não quero mais você na minha vida. Você não passa de uma mentira. Ela se afastou, recusando-se a ouvir qualquer outra palavra, deixando Lucian para trás. Caminhou algumas horas pela cidade, até chegar em casa. Ao entrar, deixou-se cair na cama, ainda com o vestido da festa, e adormeceu com o coração partido, ciente de que o amor que um dia imaginou ter era, na verdade, uma ilusão cruel. As semanas seguintes foram arrastadas. Vitória já tinha o dinheiro que precisava e logo iria embora. Não aguentava mais viver sob o mesmo teto, as mesmas conversas e os mesmos argumentos. O assunto sempre voltava para o casamento e para a ideia de que ela já estava velha para casar, que ninguém mais iria querer uma mulher como ela. Seus pais insistiam que ela se casasse com o dono do supermercado de outra cidade, assim uniriam seus comércios em um único negócio. Até mesmo organizaram um jantar de noivado, sem que ela soubesse de nada. Quando descobriu, desfez tudo na hora. Jamais aceitaria aquilo. Um dia, durante um exame de rotina, Vitória estava se sentindo mal e pensou que fosse apenas algo relacionado à alimentação, algo que tivesse estragado. Mas a verdade era ainda mais angustiante: ela estava grávida. Vitória chorou em desespero. Um bebê, agora, sem marido e sem emprego. Naquele mesmo dia, quando seu pai chegou de sua ida à igreja, a conversa voltou ao casamento. Depois de uma briga intensa, Vitória não aguentou mais e, em um acesso de raiva e medo, revelou a ele: Vitória: Eu estou grávida e não vou me casar com alguém, obrigada por você. Everaldo: Quem é o pai? Ele tem dinheiro? Vitória: Meu filho não tem um pai, e você não tem que se preocupar com isso. Foi a gota d'água para Everaldo. Ele, com a raiva transbordando, deu um tapa nela e a mandou embora de casa. Everaldo: Saia de casa agora! Não quero mais você aqui! Vitória mal teve tempo de pegar uma bolsa com seus documentos, o dinheiro que conseguiu juntar e uma pequena mala com algumas roupas. Ela não sabia para onde iria, mas sabia que precisava sair. Era noite, estava chovendo, e ela, sozinha, se viu perdida nas ruas, sem rumo, sem saber o que faria a seguir. Ela se lembra de um lugar que ela e sua mãe costumavam visitar quando ela era adolescente. Era um convento, uma instituição que ajudava mulheres que precisavam de abrigo e apoio. Sem mais opções, ela decidiu bater à porta do convento, com a esperança de que, ao menos, ali encontraria um pouco de acolhimento. As freiras foram recebidas com carinho, sem julgamentos, e acolhidas foram de braços abertos. Eles a ajudaram a se recompor e, quando Vitória explicou sua situação, deixando claro que não queria dar o bebê, que pretendia criá-lo sozinha, as freiras a compreenderam. Elas não fizeram perguntas desnecessárias, apenas ofereceram o apoio necessário para que ela pudesse seguir em frente, até que encontrasse um emprego e um lugar para viver. Durante os meses de gestação, Vitória passou seu tempo no convento. Ela se dedicou ao trabalho, para retribuir a ajuda, começou a trabalhar no escritório, fazendo pequenos serviços para elas. Com o tempo começou a receber um pequeno salário, o que ajudava a aliviar a pressão, embora saiba que ainda teria muito a enfrentar pela frente. As freiras fizeram o possível para garantir que ela se sentisse segura e acolhida, e Vitória era imensamente grata por tudo. Quando finalmente chegou o dia do parto, Vitória se lembra de como se fosse ontem. A dor, o medo, mas também a esperança de que sua vida e o filho que ela esperava fossem diferentes. E então, seu filho nasceu. Era um menino lindo, com o rosto de Vitória, e ela o olhava com os olhos cheios de amor e de emoção. Ela deu a ele o nome de Carlos, em homenagem ao avô que ela jamais conheceu, e as freiras, sempre carinhosas, apelidaram-no de "Carlinhos". A chegada de Carlos foi um momento de renovação para Vitória. Mesmo em meio a tantas dificuldades, ela encontrou força no amor que sentia por seu filho. Juntas, ela e Carlinhos formaram um laço inquebrável, e a partir dali, Vitória sabia que faria qualquer coisa para garantir que ele tivesse uma vida que ela sempre sonhou, longe da crueldade de seu passado.Eduardo estava de férias da faculdade e, como sempre, passava esses dias com o pai. Olavo adorava a companhia do filho; era um descanso da rotina e também um momento de se aproximarem ainda mais. Naquela noite, saíram para jantar em um restaurante elegante, aproveitaram a deliciosa comida e, depois, caminharam pela cidade. Florianópolis era linda, com as luzes refletindo no mar, e os dois se deixaram levar pelo clima tranquilo da noite.Eduardo, embora estivesse gostando da experiência da faculdade, sentia saudade de casa. Ele planejava, assim que o curso terminasse, voltar para ficar perto do pai. Via que Olavo, apesar de ser um homem bem-sucedido, levava uma vida um tanto solitária e parecia viver no “automático”. Mais de uma vez, Eduardo tenta incentivá-lo a encontrar alguém. Desejava que o pai pudesse encontrar o amor verdadeiro, algo que ele mesmo ainda não experimentara.Eduardo, aos 23 anos, começava a pensar que era de família a falta de sorte no amor. Ele também não se via in
Milene se deu conta de que seus sentimentos por Olavo, que ela acreditava estarem adormecidos há anos, na verdade, nunca haviam desaparecido. Desde a adolescência, quando ele passou a fazer parte de sua vida, ela sempre tentou de tudo para chamar sua atenção, esperando que ele finalmente correspondesse a seus sentimentos. A mágoa de ser constantemente rejeitada se enraizou nela, e ela passou anos convencida de que deveria ter sido ela, e não sua irmã Luiza, a se casar com Olavo.O ressentimento que guardava a levou a fazer escolhas impensáveis. No fundo de sua amargura, ela foi a culpada da morte da irmã, silenciosamente, fazendo com que Luiza não sobrevivesse ao parto, acreditando que isso abriria espaço para que ela pudesse, finalmente, ficar com Olavo. Mas o destino não seguiu seu plano sombrio: mesmo com a perda da esposa, Olavo jamais olhou para Milene com outros olhos. E, ao se casar, ela se viu presa em um casamento infeliz. Seu marido percebeu os sentimentos que ainda nutria p
Karina e Vitória logo realizaram uma amizade especial desde o dia em que Karina apareceu com um bolo de boas-vindas para receber seu novo vizinho e seu filho, Carlinhos. Em poucos dias, as duas se aproximaram, e as crianças — Carlinhos e José, o irmãozinho de Karina — já estavam inseparáveis, ansiosos para estudar na mesma escola, onde Karina também trabalha como professora.Karina veio de um passado difícil e doloroso. Criada em um lar destruído pela dependência dos pais em drogas e álcool, ela cresceu sem o apoio e o cuidado que toda criança merece. Quando completou 18 anos, ela se libertou daquele ambiente, mas quase 2 anos após sua saída, seus pais acabaram falecendo devido a dívidas com pessoas perigosas. Foi nesse momento que Karina descobriu a existência de José, um bebê que ela nem sabia que tinha como irmão. Decidida a cuidar e criar e dar-lhe um futuro diferente, Karina assumiu a guarda do pequeno e, com o dinheiro da venda da antiga casa, mudou-se de São Paulo para Florianó
Vitória finalmente estava se adaptando à nova rotina. Trabalhar na clínica era algo completamente diferente de tudo o que ela já havia feito, mas, de alguma forma, ela se sentiu realizada. Todos os dias, ao vestir o uniforme, ela sente uma enorme gratidão pela oportunidade. A clínica era movimentada, e Vitória gostava do ambiente. A recepção, os pacientes, o cheiro de café no ar, e até os papeis acumulados em sua mesa tudo faz parte de uma nova fase de sua vida.Ela estava saindo bem. Os colegas de trabalho elogiaram sua simpatia e eficiência, e até o doutor Olavo pareciam satisfeitos com seu desempenho. Ele era sempre educado, mas mantinha certa distância profissional. Ainda assim, Vitória não podia evitar os pensamentos que surgiam toda vez que seus olhos se encontravam.Toda vez que ela o via, sentia aquele frio na barriga que não conseguia controlar. Era o jeito como ele sorria de lado, o tom calmo de sua voz ou até o perfume amadeirado que deixava um rastro por onde ele passava.
Vitória olhou pela janela do quarto, fixando o olhar nas colinas do pequeno município onde vivia. O sol se punha devagar, tingindo o céu com uma laranja forte que ela raramente tinha tempo de apreciar. As sombras da noite chegaram, e junto delas, as lembranças dos dias de sua infância e juventude, pesadas e vívidas como se nunca tivessem partido.Crescer no supermercado da família não foi exatamente um sonho, mas um destino decidido. Filha única de Everaldo e Marisa, Vitória sempre sabia que seus pais queriam mais que uma menina. Eles queriam um sucessor, um herdeiro para a “Família Damasceno” e o pequeno império do supermercado que sustentava a casa e a imagem deles na cidade. Mas ela era o que eles tinham, e cabia a ela preencher o vazio da expectativa frustrada.Desde cedo, sua rotina era meticulosamente traçada: escola, casa, igreja. Aos domingos, Vitória usava seu vestido mais bonito e acompanhava a mãe à missa, ouvindo, no caminho, como ela deveria ser recatada, comportada, "dig
Olavo Castellani, médico de 40 anos, terminou mais um dia de trabalho exaustivo, em que mal teve tempo para começar. Depois de um banho rápido, foi à cozinha e pegou uma de suas muitas marmitas congeladas, que enchiam o congelador. Era assim quase todas as noites: uma refeição solitária, rápida, antes de encontrar algum momento de paz. Com um copo de uísque na mão, caminhou até a varanda do apartamento, sentou-se e permitiu-se, mais uma vez, relembrar sua vida.Ele nasceu em uma família rica e tradicional, onde todos eram médicos. Desde pequeno, sempre soubemos que o mesmo destino o aguardava. Como único filho, carregava a expectativa dos pais de seguir os passos deles e dar continuidade ao legado familiar. Seus pais, rígidos e muito religiosos, vinham de um casamento arranjado. Não havia amor entre eles; sua união era um negócio de família, algo que Olavo cresceu observando em silêncio.Na faculdade de medicina, o peso dessas expectativas tornou-se ainda maior quando seu pai foi info