Capítulo 4

Eduardo estava de férias da faculdade e, como sempre, passava esses dias com o pai. Olavo adorava a companhia do filho; era um descanso da rotina e também um momento de se aproximarem ainda mais. Naquela noite, saíram para jantar em um restaurante elegante, aproveitaram a deliciosa comida e, depois, caminharam pela cidade. Florianópolis era linda, com as luzes refletindo no mar, e os dois se deixaram levar pelo clima tranquilo da noite.

Eduardo, embora estivesse gostando da experiência da faculdade, sentia saudade de casa. Ele planejava, assim que o curso terminasse, voltar para ficar perto do pai. Via que Olavo, apesar de ser um homem bem-sucedido, levava uma vida um tanto solitária e parecia viver no “automático”. Mais de uma vez, Eduardo tenta incentivá-lo a encontrar alguém. Desejava que o pai pudesse encontrar o amor verdadeiro, algo que ele mesmo ainda não experimentara.

Eduardo, aos 23 anos, começava a pensar que era de família a falta de sorte no amor. Ele também não se via interessado nas garotas da sua idade; preferia mulheres mais velhas, com quem sentia uma conexão mais profunda. No entanto, sabia que era difícil alguém levar ele a sério as mulheres achavam que ele queria somente sexo e, por isso, acabava evitando se envolver.

Enquanto isso, Olavo enfrentava um desafio constante na clínica. Nos últimos três anos, desde que a antiga secretária se aposentou, ele estava em busca de alguém para ocupar seu lugar. Várias pessoas passaram pelo cargo, mas nenhuma parecia se encaixar: cada nova contratação trazia um problema maior que o anterior. Depois de tantas tentativas, ele decidiu finalmente colocar um anúncio no jornal para tentar encontrar alguém competente e que realmente ajudasse a clínica a funcionar melhor. As secretárias estavam sobrecarregadas, e ele sabia que não poderia mais adiar a contratação de alguém.

Entre conversas e risadas, Eduardo e Olavo falaram sobre isso e tantos outros assuntos. Eduardo tentava animar o pai e, mais uma vez, brincou que ele deveria dar uma chance ao amor. Olavo apenas riu e mudou de assunto, mas, no fundo, começou a pensar que talvez o filho tivesse razão — que talvez fosse hora de permitir a si mesmo um pouco mais de felicidade.

Naquela noite, Olavo fez algo que não costumava fazer: saiu para se distrair. Encontrou um bar com música ao vivo e decidiu relaxar um pouco, algo que não fazia há anos. Pediu uma bebida, deixou-se levar pela música, até dançou com algumas mulheres e, entre risos e olhares, até trocou um ou outro beijo. Contudo, no fundo, ele sabia que essas interações não foram feitas para ele. Ainda assim, foi um rompimento momentâneo.

Olavo estava absorvido em seus pensamentos quando, de repente, notou uma figura familiar se aproximando. Era Milene, a irmã mais velha de sua falecida esposa, Luiza. Ele não é uma via desde que Eduardo era pequeno, uma das últimas visitas da família de Luiza para ver o sobrinho. Milene sempre fora intensa, e ele se lembrava bem das investidas dela, mesmo com ele ainda era casado com Luiza. Milene tinha tentado, em vários benefícios, se insinuar, mas ele sempre a rejeitou com firmeza. Ele sabia que, naquela época, Milene também era casada e, até onde sabia, ainda era.

Milene, sem hesitar, veio em sua direção.

Milene : Quanto tempo, Olavo! — disse, com um sorriso exagerado, enquanto tentava envolvê-lo em um abraço.

Olavo recebeu de imediato que o abraço dela não era exatamente amigável. Ele se desvencilhou sutilmente, deixando claro que não estava interessado.

Olavo : Oi, Milene. Sim, faz muito tempo. Como você está?

Ela tentou iniciar uma conversa, mas rapidamente foi direta. Tentou beijá-lo, insinuando que poderia ser apenas algo casual, sem compromisso.

Milene : Ah, Olavo, para que todo esse drama? Meu marido não vai saber. Você agora está viúvo, e... eu sempre gostei de você, sabia? Bem antes da Luiza.

Olavo respirou fundo, tentando manter a paciência.

Olavo : Milene, não rolou no passado e não vai rolar agora. E acho que você deveria voltar para casa.

Milene, tentando disfarçar a ocultação, forçou um sorriso e soltou um último comentário.

Milene : Você realmente é difícil, Olavo... mas tudo bem, fica aí com sua 'honra'. Acho que ela te faz companhia.

Ele apenas deu um leve aceno e se afastou. Olavo sabia que o encontro inesperado com Milene só reforçava algo que ele já sentia: não queria problemas, muito menos algo que envolvesse o marido de outra pessoa. Ele não tinha pressa para encontrar um amor, mas sabia que, se viesse, queria algo verdadeiro.

Enquanto isso

Vitória nunca mais viu seus pais, e a verdade é que, com o tempo, a dor de suas palavras e atitudes foi se apagando, sendo substituída por uma rotina diária focada em seu filho. Ela ainda ficava sabendo das coisas da cidade pequena, porque em lugares assim, todos sabem de tudo. As fofocas sobre ela começaram a se espalhar rapidamente, mas ela não se importava. Para ela, o que os outros pensavam já não fazia diferença. No entanto, ela soube que o pai havia deixado sua mãe, feito um acordo com muito dinheiro e que a mãe de Vitória foi embora. Depois disso, o pai de Vitória se casou novamente com uma mulher mais nova, buscando herdeiros, pois a sua mãe não poderia mais lhe dar filhos.

A vida de Vitória seguiu sem mais notícias ou encontros com os pais. O que chegava até ela eram apenas fofocas de uma cidade pequena, mas, no fundo, ela sabia que não queria mais fazer parte daquele mundo. Sua vida agora estava centrada em Carlos, seu filho, e nas novas possibilidades que surgiam para ela e para ele.

Quando Carlinhos completou três anos, Vitória sentiu que era o momento de mudar. A cidade já não tinha mais nada a oferecer a ela, e o peso do passado ainda pesava sobre seus ombros. A gratidão pelas freiras e pela acolhida que lhe deram nunca seria esquecida, mas ela sabia que, para seguir em frente e dar uma nova vida a Carlos, precisava partir para um novo lugar.

O gatilho para essa decisão aconteceu de forma inesperada. Um dia, ela foi ao mercado e, para seu desgosto, se deparou com Lucian, o homem que ela acreditou ser o amor de sua vida, mas que a traíra de forma tão cruel. Ele estava lá, ao lado de sua esposa, como se nada tivesse acontecido. Vitória, sem querer ser vista, fez questão de ignorá-los. Não o amava mais, mas sentia que ele nunca deveria saber sobre Carlinhos.

Esse momento foi a última gota. Ela se deu conta de que era hora de mudar de vez, recomeçar a sua vida em um lugar onde ninguém soubesse de seu passado, onde ela e Carlos poderiam viver sem as sombras que ainda pairavam sobre ela. O desejo de começar uma nova jornada, com o filho que ela tanto amava e cuidava, se fortaleceu naquele instante. Ela sabia que, para ter uma nova vida, precisava deixar para trás tudo o que a prendia ao passado.

Vitória havia economizado cada centavo e, após muita pesquisa, decidiu se mudar para Florianópolis. A cidade parecia encantadora, cheia de possibilidades e com um clima acolhedor para ela e Carlinhos. Antes da mudança, encontrou um anúncio de uma kitnet para alugar que parecia ideal: ficava ao lado da escola onde pretendia matricular Carlinhos e em uma área onde ela poderia facilmente buscar um emprego. Era o primeiro passo para a nova vida que tanto sonhava.

As freiras do convento, que haviam sido sua família e apoio durante anos, organizaram uma festa de despedida. Entre abraços e lágrimas, Vitória prometeu que voltaria para visitá-las sempre que possível. No dia da viagem, as despedidas foram emocionantes, com abraços apertados e votos de boa sorte. Cada uma das freiras desejou que ela e Carlinhos fossem felizes, e que Deus os abençoasse na nova jornada.

Vitória partiu com o coração grato e a alma renovada, pronta para recomeçar. Ela sabia que, em Florianópolis, teria uma chance real de construir a vida que sempre sonhou para si e para seu filho.

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