Milene se deu conta de que seus sentimentos por Olavo, que ela acreditava estarem adormecidos há anos, na verdade, nunca haviam desaparecido. Desde a adolescência, quando ele passou a fazer parte de sua vida, ela sempre tentou de tudo para chamar sua atenção, esperando que ele finalmente correspondesse a seus sentimentos. A mágoa de ser constantemente rejeitada se enraizou nela, e ela passou anos convencida de que deveria ter sido ela, e não sua irmã Luiza, a se casar com Olavo.
O ressentimento que guardava a levou a fazer escolhas impensáveis. No fundo de sua amargura, ela foi a culpada da morte da irmã, silenciosamente, fazendo com que Luiza não sobrevivesse ao parto, acreditando que isso abriria espaço para que ela pudesse, finalmente, ficar com Olavo. Mas o destino não seguiu seu plano sombrio: mesmo com a perda da esposa, Olavo jamais olhou para Milene com outros olhos. E, ao se casar, ela se viu presa em um casamento infeliz. Seu marido percebeu os sentimentos que ainda nutria por Olavo e, como reação, passou a controlá-la, impedindo-a de se aproximar dele ou de sair para qualquer lugar onde pudesse encontrá-lo. Agora, contudo, o marido de Milene havia falecido, deixando-a livre de qualquer impedimento. Quando reencontrou Olavo no bar, foi como se o tempo tivesse voltado. Ela acreditava que, desta vez, finalmente poderia conquistá-lo. Em sua mente, eles se casariam, e ele logo descobriria que era ela, e não Luiza, a mulher ideal para ele. Teriam filhos juntos, construíram a família perfeita que ela sempre sonhara, e Olavo veria que ela sempre esteve ao lado dele, esperando por esse momento. Milene estava decidida: nada e ninguém a impediria de realizar seu sonho. Enquanto isso, Vitória ligou para a Dona Rosa e o Sr. Matias, os proprietários da kitnet onde iria morar, para avisar que estava chegando em Florianópolis. Eles disseram que aguardavam na mercearia que possuíam ao lado das kitnets. Depois de uma longa viagem de ônibus, Vitória e Carlinhos finalmente chegaram à rodoviária. Carlinhos, com fome após tantas horas, pediu algo para comer. Vitória o levou até a lanchonete da rodoviária, onde comprou uma Coca-Cola, pão de queijo e uma coxinha para ambos. Após comerem, pegaram um táxi rumo à mercearia de Dona Rosa e Sr. Matias. Levavam apenas o essencial: três malas grandes, contendo documentos e roupas, pois o importante para ela era recomeçar, com seu filho ao lado. Ao chegarem, foram recebidos calorosamente pelos donos da kitinet, que comentaram como Carlinhos era uma criança linda. Ele, todo educado, agradeceu com sua vozinha de criança, encantando o casal. Dona Rosa e Sr. Matias levou Vitória e Carlinhos até a kitinet. O lugar era simples, mas perfeito para ela: um quarto, uma cozinha e sala pequena, um banheiro, varanda e uma área de serviço compacta. Vitória decidiu pagar adiantado três meses de aluguel, para garantir um tempo para se estabelecer e buscar emprego sem pressa. O casal disse que não era necessário pagar tantos meses de uma vez, mas Vitória insistiu. Como boas-vindas, eles deixaram uma cesta com frutas e verduras frescas na mesa. A kitnet tinha alguns móveis básicos, mas faltavam alguns itens que Vitória planejava comprar nas lojas populares do centro. Ao ver a cesta, ela ficou encantada com a gentileza e atenção do casal. Carlinhos, sem perder tempo, já estava sentado à mesa comendo uma maçã, sorrindo feliz para a mãe, que sentiu o coração se encher de esperança ao ver o sorriso dele. Era o início de uma nova fase para eles. Assim que se instalaram na nova kitnet, Vitória começou a organizar as malas, enquanto Carlinhos explorava o ambiente ao seu redor, encantado com o lugar. Depois de alguns minutos, ele se mudou da mãe com um sorriso no rosto. Carlinhos: Mamãe, eu gostei daqui! Vamos ficar pra sempre? Vitória (sorrindo, emocionada com a alegria dele): Gostou, filho? Que bom! Eu também achei bem aconchegante. Carlinhos: Sim! E eu gostei da Dona Rosa e do Seu Matias. Eles são bem legais! Você viu que me deram uma maçã? E eles têm aquela mercearia com um monte de coisas gostosas! Vitória (com carinho): Eles são muito queridos, né? Acho que vamos dar bem com eles. Carlinhos: Então, a gente não vai mais mudar? Aqui é nossa casa agora? Vitória: Isso mesmo, Carlinhos. Vamos fazer desse lugar o nosso lar. Carlinhos (abraçando a mãe): Eba! Estou muito feliz, mamãe. Esse lugar é o melhor! Vitória sorriu e o abraçou de volta, sentindo-se grata por ver o filho tão feliz e seguro naquele novo recomeço. Após arrumarem suas coisas no guarda-roupa, Vitória arrumou os brinquedos de Carlinhos em um armário. Juntos, eles fecharam a kitnet e desceram as escadas em direção à mercearia da Dona Rosa e do Seu Matias para fazer uma pequena compra de itens essenciais, já que ainda não tinham muitos alimentos ou produtos em casa além dos que receberam de boas-vindas. Vitória encheu o carrinho com alimentos básicos e alguns itens que Carlinhos adorava. Compre também produtos de higiene e de limpeza para manter a casa organizada. Na lojinha ao lado, que tinha preços acessíveis, Vitória encontrou algumas utilidades que ela precisava, como copos, talheres e panelas simples. Também aproveitou para comprar uma lancheira e uma mochilinha para Carlinhos levar para a creche, escolhendo tudo de forma econômica. De volta à kitnet, pouco depois, o entregador trouxe as compras. Vitória e Carlinhos guardaram tudo juntos: colocaram os alimentos na geladeira e os produtos nos armários. Para o jantar, ela decidiu fazer uma lasanha de frango, a comida preferida do Carlinhos, e serviu suco de uva, o favorito dele. Carlinhos estava radiante com o novo lar e, enquanto esperavam a lasanha, eles ouviram a campainha. Era uma vizinha, que trouxe um bolo de boas-vindas e apresentou o filho, um menino chamado José um pouco mais velho que Carlinhos. Os dois rapidamente se deram bem e foram brincar. Mais tarde, ao ver Carlinhos feliz e o lar se enchendo de vida, Vitória sentiu o coração leve. Animada, ela ligou para as freiras, que sempre a apoiaram, para contar que havia chegado bem e estava se ajustando, e já estava morrendo de saudades delas. Ela sentiu que, pela primeira vez em muito tempo, sua vida não estava no caminho certo, e agradeceu em silêncio por cada detalhe que estava dando certo. Na manhã seguinte, Vitória foi até a creche e fez a matrícula de Carlinhos, que já começaria no dia seguinte. Carlinhos estava radiante com a ideia de conhecer outras crianças, e ficou ainda mais animado ao saber que seu novo amigo, José, o vizinho que conheceu no dia anterior, estudou na mesma creche. Para completar, a mãe de José, que era professora lá, cuidaria de Carlinhos também. Vitória sentiu-se aliviada em saber que ele estaria em boas mãos. Após resolver a questão da creche, ela parou em uma banca de revista e comprou o jornal do dia para verificar a seção de empregos. Depois de muita busca, encontrei um anúncio para uma vaga de secretária em uma clínica médica, localizada a cerca de 40 minutos de sua casa. Vitória sentiu aquilo como um sinal de que as coisas estavam se encaixando, então designada para o número do anúncio. Foi atendida por uma moça muito simpática, que afirmou que a vaga ainda estava disponível e a chamou para uma entrevista no dia seguinte, às nove da manhã. Vitória aceitou com entusiasmo, oferecemos deixar Carlinhos na creche e seguir direto para a clínica. Enquanto isso, na clínica, Olavo ficou esperançoso ao saber que finalmente alguém havia ligado para marcar uma entrevista para a vaga de secretária, que estava aberta há semanas, sem nenhum candidato interessado. Empolgado, ele decidiu que ele mesmo faria a entrevista. Conversando com sua atual secretária, combinou que, no dia seguinte, ela iria encaminhar a candidata diretamente para sua sala assim que ela chegasse. Vitória e Olavo, cada um em sua jornada, sentiram que algo especial estava por vir, ainda que não fizessem ideia do que o destino reservava para aquele encontro.Karina e Vitória logo realizaram uma amizade especial desde o dia em que Karina apareceu com um bolo de boas-vindas para receber seu novo vizinho e seu filho, Carlinhos. Em poucos dias, as duas se aproximaram, e as crianças — Carlinhos e José, o irmãozinho de Karina — já estavam inseparáveis, ansiosos para estudar na mesma escola, onde Karina também trabalha como professora.Karina veio de um passado difícil e doloroso. Criada em um lar destruído pela dependência dos pais em drogas e álcool, ela cresceu sem o apoio e o cuidado que toda criança merece. Quando completou 18 anos, ela se libertou daquele ambiente, mas quase 2 anos após sua saída, seus pais acabaram falecendo devido a dívidas com pessoas perigosas. Foi nesse momento que Karina descobriu a existência de José, um bebê que ela nem sabia que tinha como irmão. Decidida a cuidar e criar e dar-lhe um futuro diferente, Karina assumiu a guarda do pequeno e, com o dinheiro da venda da antiga casa, mudou-se de São Paulo para Florianó
Vitória finalmente estava se adaptando à nova rotina. Trabalhar na clínica era algo completamente diferente de tudo o que ela já havia feito, mas, de alguma forma, ela se sentiu realizada. Todos os dias, ao vestir o uniforme, ela sente uma enorme gratidão pela oportunidade. A clínica era movimentada, e Vitória gostava do ambiente. A recepção, os pacientes, o cheiro de café no ar, e até os papeis acumulados em sua mesa tudo faz parte de uma nova fase de sua vida.Ela estava saindo bem. Os colegas de trabalho elogiaram sua simpatia e eficiência, e até o doutor Olavo pareciam satisfeitos com seu desempenho. Ele era sempre educado, mas mantinha certa distância profissional. Ainda assim, Vitória não podia evitar os pensamentos que surgiam toda vez que seus olhos se encontravam.Toda vez que ela o via, sentia aquele frio na barriga que não conseguia controlar. Era o jeito como ele sorria de lado, o tom calmo de sua voz ou até o perfume amadeirado que deixava um rastro por onde ele passava.
Vitória olhou pela janela do quarto, fixando o olhar nas colinas do pequeno município onde vivia. O sol se punha devagar, tingindo o céu com uma laranja forte que ela raramente tinha tempo de apreciar. As sombras da noite chegaram, e junto delas, as lembranças dos dias de sua infância e juventude, pesadas e vívidas como se nunca tivessem partido.Crescer no supermercado da família não foi exatamente um sonho, mas um destino decidido. Filha única de Everaldo e Marisa, Vitória sempre sabia que seus pais queriam mais que uma menina. Eles queriam um sucessor, um herdeiro para a “Família Damasceno” e o pequeno império do supermercado que sustentava a casa e a imagem deles na cidade. Mas ela era o que eles tinham, e cabia a ela preencher o vazio da expectativa frustrada.Desde cedo, sua rotina era meticulosamente traçada: escola, casa, igreja. Aos domingos, Vitória usava seu vestido mais bonito e acompanhava a mãe à missa, ouvindo, no caminho, como ela deveria ser recatada, comportada, "dig
Olavo Castellani, médico de 40 anos, terminou mais um dia de trabalho exaustivo, em que mal teve tempo para começar. Depois de um banho rápido, foi à cozinha e pegou uma de suas muitas marmitas congeladas, que enchiam o congelador. Era assim quase todas as noites: uma refeição solitária, rápida, antes de encontrar algum momento de paz. Com um copo de uísque na mão, caminhou até a varanda do apartamento, sentou-se e permitiu-se, mais uma vez, relembrar sua vida.Ele nasceu em uma família rica e tradicional, onde todos eram médicos. Desde pequeno, sempre soubemos que o mesmo destino o aguardava. Como único filho, carregava a expectativa dos pais de seguir os passos deles e dar continuidade ao legado familiar. Seus pais, rígidos e muito religiosos, vinham de um casamento arranjado. Não havia amor entre eles; sua união era um negócio de família, algo que Olavo cresceu observando em silêncio.Na faculdade de medicina, o peso dessas expectativas tornou-se ainda maior quando seu pai foi info
Vitória estava no segundo ano de faculdade e, ansiosa para terminar logo, mantinha-se focada. Ela não tinha amigos e Vivia de casa para a faculdade, até que um dia conheceu Lucian, seu professor. Foi uma paixão imediata. Desde então, ela foi para casa pensando nele, e para a faculdade, seu coração parecia sair pela boca a cada vez que o via.Uma tarde, Vitória estava na biblioteca depois da aula quando Lucian se mudou e perguntou se poderia sentar-se à mesa dela. Ela concordou, e eles começaram a conversar. A partir daquele dia, passamos a conversar com frequência. Meses depois, saiu pela primeira vez, e o encontro se tornou algo regular sempre que Vitória tinha tempo. Com o tempo, comecei a namorar.Lucian, porém, fez questão de dizer que eles não poderiam contar a ninguém sobre o relacionamento. Explicou que, se alguém soubesse, ele seria demitido. Mas ele a tranquilizou: disse que, assim que ela se formasse, assumiriam o namoro e se casariam. Vitória estava encantada e mais apaixon
Eduardo estava de férias da faculdade e, como sempre, passava esses dias com o pai. Olavo adorava a companhia do filho; era um descanso da rotina e também um momento de se aproximarem ainda mais. Naquela noite, saíram para jantar em um restaurante elegante, aproveitaram a deliciosa comida e, depois, caminharam pela cidade. Florianópolis era linda, com as luzes refletindo no mar, e os dois se deixaram levar pelo clima tranquilo da noite.Eduardo, embora estivesse gostando da experiência da faculdade, sentia saudade de casa. Ele planejava, assim que o curso terminasse, voltar para ficar perto do pai. Via que Olavo, apesar de ser um homem bem-sucedido, levava uma vida um tanto solitária e parecia viver no “automático”. Mais de uma vez, Eduardo tenta incentivá-lo a encontrar alguém. Desejava que o pai pudesse encontrar o amor verdadeiro, algo que ele mesmo ainda não experimentara.Eduardo, aos 23 anos, começava a pensar que era de família a falta de sorte no amor. Ele também não se via in