Suas botas de segunda faziam barulho, enquanto ela corria. A cada curva em um novo corredor da empresa o barulho fino e alto das solas dos calçados era ouvido. Ela estava atrasada para a peça primordial, aquela que a levaria ao seu tão sonhado sucesso, caso não a fizesse, estaria fadada ao fracasso para todo o sempre, era assim que se sentia diante da situação, pois havia sido avisada que aquela seria a última peça do ano, aquela onde haveria a seleção final.
Ser atriz era o sonho de Emmy desde a infância. Durante anos estudou tudo que podia para ser boa nos palcos e por trás das câmeras, por isso ela não mediria esforços para continuar com a carreira, por hora era atriz de teatro. Quase deslizando pelos corredores de forma nada elegante com suas botas, Emmy correu ao camarim torcendo para ainda ter tempo para vestir o figurino que havia sobrado, como estava atrasada não tinha mais direito de escolha, era pegar o que estivesse disponível.Passou pela porta do camarim que compartilhava com as outras colegas, o espaço compartilhava a parede com o camarim dos outros atores. O prédio não era pequeno, pois disponibiliza uma lanchonete, uma área para os atores, outra para os ajudantes de palco, para o CEO, a área fechada do palco, onde eram feitas as apresentações, dentre outros.Emmy largou suas coisas na bancada perto do espelho e correu para o fundo do camarim, onde encontrou apenas um lindo vestido azul-claro, ele era cheio de detalhes pequeninos que ela não podia se dá ao luxo de admirar agora, com o traje havia uma tiara, que mais parecia uma pequena coroa de brilhantes, e um salto médio semelhante ao de cristal da própria Cinderela. Esta foi sua vez de suspirar enquanto recolhia tudo para vestir na frente do espelho, pois, haviam cordões da mesma cor do tecido do vestido fazendo x nas costas dele, ela teria que encontrar um meio de entrar nele sem desmanchar aquilo, já não tinha ninguém para lhe ajudar a vestir, afinal, estava sozinha, todos estavam no palco apresentando suas peças separadamente. — Eu preferia a pequena sereia… Cinderela é o conto que eu menos vi! — suspirou frustrada. Emmy não gostava muito do conto da Cinderela, pensava que romantizar a realidade que é difícil em algo fantástico para alegrar as crianças e fazê-las sonhar com o príncipe encantado, não era a melhor forma de motivação. No entanto, não negava que em uma época de sua vida pensara sobre o conto como um sonho distante. — Que seja! Este será o meu papel hoje à noite, ser a melhor Cinderela. — disse a si mesma. Seus olhos brilharam em determinação, mas logo se apagou. — A mais atrapalhada, isso sim! Balançou a cabeça em negação. Deixando suas coisas sobre a poltrona enquanto tirava sua jaqueta de couro, da cor bege, com as demais roupas. — Não, eu vou dar o meu melhor! — comentou, tentando ser confiante, repetindo aquilo em sua mente, como um eco.Tirou sua bota de couro branca, jogando perto da poltrona, retirou a calça colada, também branca, jogando a mesma no braço do móvel, ficando apenas com suas peças íntimas, que também eram brancas. Rapidamente calçou os sapatos de falso cristal, desmanchou o coque bem feito que tinha na cabeça, deixando seus cabelos castanhos claros e lisos caíam pelas costas, logo em seguida passou o vestido por cima da cabeça com todo cuidado, se apertou para não forçar demais as costuras do vestido. Com muito cuidado e paciência conseguiu pôr os braços no lugar das mangas curtas e ajustou o vestido ao seu corpo. Retirou os cabelos de dentro do vestido e vestiu rapidamente as luvas nas mãos, luvas estas que iam até os cotovelos, acabando depois das suas dobras, elas também eram da mesma cor do vestido, um azul leve.Passou as mãos enluvadas rapidamente pela extensão da barra volumosa do vestido, pela segunda vez, e apressou o passo para arrumar seus cabelos e maquiagem. Fez outro coque agora um pouco mais baixo, este ficou quase na sua nuca e um pouco mais frouxo também. Emmy colocou a tiara na frente do coque a ajustando a ele, ela coube perfeitamente. — Pelo menos isso está dando certo! — Emmy quase sorriu, pegando a maquiagem em cima da bancada de mármore branco.Fez uma maquiagem simples. Apenas base, um pouco de pó, blush, batom vermelho opaco, lápis de olho e rímel. Assim que terminou, se olhou por dois segundos no espelho e constatou que seu brinco de falsa pérola combinava com o figurino. Segurou a barra do vestido o levantando na altura dos tornozelos, correu para fora do camarim.Assim que chegou perto dos colegas que faltavam se apresentar, ela soltou a barra do vestido, respirando ofegante pela corrida nos corredores do lugar para chegar ali. — Quem… é agora? — Emmy perguntou para seus colegas de trabalho, que estavam assistindo à peça da bela e a fera por trás das grandes cortinas vermelhas.Todos se voltaram para ela, olhando-a rapidamente, ela não ligava por estar sendo analisada, já que gostava daquele trabalho onde ganhava bastante atenção, além de está acostumada com os colegas. — A Cinderela apareceu! — um dos seus colegas ao seu lado, falou em alto tom, olhando para trás, onde estava o dono do projeto. O diretor e também CEO.Emmy olhou para trás vendo o diretor a olhar surpreso. Ela pensou que aquela surpresa fosse por ela estar ali, mas a realidade era por aparecer uma Cinderela naquela noite. Carlos Bayrec não acreditava que iria ganhar a aposta, estava desanimado há alguns minutos, mas agora o sorriso iluminava seu rosto como se ele estivesse olhando para uma montanha de ouro a sua frente, e talvez realmente fosse. Ele se apressou a escolher os príncipes para a Cinderela sem ao menos olhar. Emmy estranhou sua empolgação enquanto a mirava sem parar, com o maior sorriso que ela jamais vira em seu rosto antes. — Não posso ser o príncipe. — disse o jovem que ele escolheu. — Então você! Seja o príncipe! — ainda mantinha os olhos presos em Emmy.A esta altura ela se sentia como um boneco vestido de soldado que um garotinho tanto quer para si, seus olhos brilhavam cada vez mais e pareciam faróis.— Mas senhor Bayrec, sou a fera que acabou de sair do palco! — disse o jovem alto, com corpo esbelto, parecendo moldado, cabelos loiros até os ombros e olhos azuis, que realmente acabava de sair do palco com a sua Bela, também loira.Emmy apertou os olhos na direção da loira. Estava chateada. — Você que era para ser a Cinderela, não era? — Emmy perguntou para a garota à sua frente, que sorriu pequeno. — Você chegou tarde, Emmy! — Louis respondeu sincera, seu sorriso se tornou maior, parecia que ela fugia de algo com aquela troca repentina de papéis, não que Emmy quisesse ser o par do orgulhoso loiro. Era apenas por notar que as cinderelas sempre tinham cabelos loiros nas peças e as belas tinham castanhos, como os de Emmy.O casal combinava perfeitamente, eram dois loiros bonitos de olhos azuis que ainda por cima ficavam a maioria do
O tal príncipe não vestido de príncipe, e sim como um homem de poder, cheio de negócios lucrativos, ofereceu a mão para Emmy segurar como sinal de cavalheirismo enquanto fazia seu papel. Emmy lhe entregou sua mão esquerda enluvada, era uma ação normal em cima dos palcos, com seus colegas, mas com ele, era inédito, isso poderia explicar porque ela se sentiu nervosa com algo corriqueiro. Reprimindo seus sentimentos como as boas atrizes que considerava dignas de admiração, ela se manteve plena por fora, por mais que estivesse sentindo coisas estranhas. Ele segurou quase nas pontas de seus dedos, se curvou um pouco e beijou por cima de sua luva; no dorso da sua mão. Ela viu seus lábios aparentemente macios pousarem ali, pressionando levemente, por mais que fosse por cima da luva, ela quase podia sentir o calor que aquele pequeno contato teria se não houvesse nenhum impedimento. Emmy fez uma saudação um pouco diferente, segurou com a mão livre um pouco do comprimento do vestido, baixou u
Ela tinha sobrancelhas grossas e bem comportadas acima dos olhos azuis-escuros. Tinha ainda, nariz arrebitado, lábios carnudos, seu rosto era perfeito, queixo pequeno, pele perfeita, seu colo já indicava que seu corpo também era na medida certa. Talvez ele não tenha feito um negócio ruim. A mulher jovem aprendia rápido, parecia inteligente, além de carregar beleza em seu ser e voz. Emmy fingiu não se distrair com o homem lindo com quem ela dançava. Ela não poderia perder o emprego dos sonhos por se distrair com a beleza de alguém que ela nem se quer veria mais depois da peça. Emmy encorajou-se a desfazer o sentimento de ansiedade, espantou o frio na barriga, fingiu não sentir tudo, mas demonstra suavidade sem deixar de prestar atenção ao seu redor, não podia esquecer estar trabalhando, sendo observada e avaliada.Recordou-se como parte do papel, ele deveria falar algo em poucos minutos e ela só teria de responder da melhor forma possível. Somente esperava que o desconhecido soubesse
Silas fez como príncipe, pegou o sapatinho olhando para todos os lados e constatou que ela não estava mais ali, mesmo a vendo escondida junto com os outros atrás da cortina. Seguiu todos os passos do príncipe nos filmes, procurou pela Cinderela em todos os lugares.Era tão confiante que não achou ridículo fazer aquilo, via como um dever, para compensar o que estava prestes a fazer. — O público está amando a sua escolha, senhor Bayrec. — comentou Louis admirando Silas no palco. Enquanto Emmy tirava as luvas e entregava para assistente de palco, calçava outro sapato, agora de couro, apenas no pé que faltava, para facilitar.Louis não podia negar, o homem era lindo e talentoso. — Eu sei! — respondeu Carlos satisfeito.— Volte pro palco Cinderela! — Carlos quase empurrou Emmy, assim que o piso do palco se ajustou, ficando completamente plano. “O que deu nele? Pra quê tanta empolgação?” Emmy se perguntou, enquanto reapareceu no palco.Silas quis a medi por inteira, mas se conteve, não
— Como fiz isso? — pergunta, curiosa e intrigada. — Emmy, você ganhou na loteria. Salvou nossa empresa e não precisa mais trabalhar! — Bayrec parecia ter perdido a cabeça ao seu ver, mas logo a jovem ligou os pontos, ficando chateada no mesmo instante.— Então tudo isso é só para me dizer que estou sendo demitida? — para ela era inacreditável, até mesmo a cara do seu chefe, que permanecia sem remorso. — Eu me esforcei muito hoje em um papel que eu nem tinha ideia de como fazer, e com um cara que nem ator era, para ser demitida?? — Emmy pergunta, exaltadaBayrec levanta as mãos em sinal de rendição com um sorriso no rosto, um sorriso um tanto cafajeste para um cara de quarenta anos. Aquilo apenas alimentou a raiva da atriz. — Você não precisa mais trabalhar, porque está rica. – não vendo nada mudar nas feições de Emmy, ele continua. — Deixa eu lhe explicar. Você não precisa mais disso aqui! — suas mãos agora apontaram para todos os lados, parando no camarim por um breve segundo e
— Pergunte o que quiser! — disse Silas ao seu lado, ofegante chamando a atenção da mulher logo à sua frente. Notou que ela carregava as roupas que provavelmente tinha vestido para ir até ali, então se abaixou pegando uma sacola perto de seus pés, a entregando.— Ponha suas roupas aqui! — ele pediu, a vendo analisar o lado de fora da sacola com uma marca bem cara estampada no centro da mesma.Sem ao menos reclamar, ela o fez, sem notar que tinham mais coisas ali dentro. — Primeiramente... — ela começou assim que voltou a sua postura de durona recatada.Silas a olhou nos olhos dando toda atenção que ela jamais imaginou que um dia receberia daquele homem. Emmy havia imaginado que assim que ela abrisse a boca para fazer suas diversas perguntas, ele não lhe daria o mínimo de atenção, e com isso ela poderia insultá-lo ao máximo, entretanto, ele a surpreendeu.Emmy fez um pequeno barulho com a garganta no momento em que desviou os olhos para frente, naquele instante ela pode jurar que o o
— Eu não ligo! — Emmy fingiu não se importar, continuando onde havia parado. As pontas de seus dedos foram de encontro com o anel, estava preste a desliza-lo para fora de seu anelar, quando ouviu novamente a voz de Silas. — Eu deixarei de ser sócio de Bayrec, e todos eles perderão o emprego. A empresa vai à ruína. — Silas estava sério.Não estava feliz com aquilo, mas não queria casar com alguém que sua mãe escolhesse para ele, como nos séculos passados, por mais que achasse que seu método não fosse agradável, que não houvesse alguém como ela para o fazer perder uma aposta, considerava agora a melhor opção.Emmy levantou a cabeça para encontrar seus olhos. Ele não estava mentindo ou mesmo blefando, afinal, ele poderia fazer aquilo, tinha todo poder que precisava. Sua mão se afastou daquela em que o anel decorava seu dedo no momento seguinte, ele havia seguido o gesto, se entreolharam por alguns minutos, ambos permaneceram em silêncio enquanto pareciam vasculhar a alma um do outro
Deveria aproveitar para relaxar por completo, mas não teria a audácia de abusar do espaço e nem das coisas que não eram suas, olhando em volta encontrou uma toalha pendurada ao lado de um grande espelho onde estava a pia de mármore bem extensa, apenas pensou em tomar uma breve ducha antes de ir embora e acabar com aquele encanto luxuoso.Depois de ter aparecido em um hotel cinco estrelas ou mais, ao lado de um príncipe, vestida de princesa, Emmy sabia que jamais retornaria a sua pacata realidade, teria de se habituar a nova vida que estava prestes a conhecer junto a Silas.Depois de tomar um banho relaxante, decidiu ser rápida em sua visita, ou pelo menos era o que ela desejava que fosse, apenas uma visita.Emmy vestiu as mesmas roupas que havia vestido antes do traje da peça, calçou as botas e penteou os cabelos com os dedos. Deixou tudo que acompanhava o traje de Cinderela em cima da cama, pegando apenas sua pequena bolsa de colo, se dirigiu ao closet, pois não havia espelho naquel