Capítulo 4

Hoje cedo, dei um beijo no meu noivo ao sair para trabalhar no meu sedã branco, encontrei Rachel para o almoço no salão de festas que contratei para a festa de casamento. Até aquele momento eu não podia imaginar que uma sequência de acontecimentos iam me trazer onde estou pondo os pés agora.

Devia ter anoitecido em algum momento no trajeto até a delegacia, mas eu nem mesmo pude perceber, estava apenas sendo levada pela maré direto para o fundo.

A ante sala da delegacia estava bem iluminada por um excesso de lâmpadas fluorescentes que pareciam refletores virados para mim. Ofuscando minha visão ao olhar para o policial que me algemou. Ele disse que eu teria que falar com o delegado de plantão e depois poderia ligar para alguém. Fui levada até o delegado, um homem robusto de meia idade com olhos cansados.

Ele estava atrás de uma mesa bagunçada

falando estridente com alguém no telefone. Assim que me viu ao lado do policial parado na porta, interrompeu a ligação.

— Ótimo, encerrando o ciclo. — disse ele, olhando para mim ao desligar.

“Encerrando o ciclo”

As palavras me acertaram como um tapa na cara. Encerrando o ciclo, isso se repetiu na minha cabeça. Essa foi a exata frase que a cigana havia dito horas antes.

Claro! A lembrança da cigana com aquela m*****a carta na mão voltou com clareza na minha mente. Senti um calafrio percorrer minha espinha. Não acredito que isso seja magia, maldição ou seja lá o que ela faz, mas isso tem a ver com ela. Resmunguei um palavrão.

— Está esperando o quê? Sente-se.

O grave da voz do delegado impaciente me trouxe de volta à realidade e eu obedeci. O policial fechou a porta e eu estava por mim mesma agora.

— Nora Jason Baker, certo? — ele começou, olhando para os papeis na mesa. — Você pode me explicar o que aconteceu.

Como?

— Senhor, eu não vi a moto… estava... — tentei dizer o que eu lembrava mas ele me interrompeu.

Ele se debruçou no encosto da cadeira e dobrou a perna, relaxando as costas antes de me encarar.

— Você avançou um sinal vermelho, sra Baker. Um homem está no hospital, gravemente ferido. — Ele rosnou. — E se ele não sobreviver, já pensou nisso?

Meu peito doeu. Eu não parava de pensar nisso nem por um minuto desde o momento que aconteceu. E essas palavras não aliviam em nada a dor da incerteza perfurando meu peito como uma faca.

— Eu preciso saber como ele está, por favor.

— No hospital e não temos mais informações no momento. Mas, sra Baker, é melhor que ele se recupere caso contrário terá sérios problemas. — ele recolheu os papeis enquanto falava, — Agora, pode fazer uma ligação e depois o policial a levará ao local onde passará a noite.

Me aproximei da mesa entrando em pânico.

— Eu vou ficar presa?

— Talvez, mas nesse caso cabe fiança.

Engoli em seco, com o coração acelerado.

— Quanto?

— 23 mil dólares. Se não pagar, ficará aqui até sua audiência. — Ele disse empurrando um papel para eu assinar .

O pânico se instalou em mim. Não tenho todo esse dinheiro. E para quem vou ligar, Rachel nem mesmo sabe que estou aqui. A última vez que a vi foi justamente onde toda essa merda começou, como vou explicar isso? E Chayse, ela com certeza tentou me ligar por não ter aparecido para o evento com os artistas na galeria… contar a Chayse seria uma escolha ainda mais difícil.

O delegado recolheu o papel que eu tinha assinado e disse:

— Vou deixá-la. Você pode usar o telefone desta fala, seja breve.

Depois de minutos hesitando, peguei o telefone em cima da mesa e agradeci mentalmente por saber o número de Chayse na cabeça e liguei. Ela logo atendeu.

— Alô, Chayse, sou eu, Nora. Ouça, eu… eu estou na delegacia. Aconteceu um acidente. Eu preciso de ajuda para pagar a fiança. Prometo explicar tudo depois. Mas por favor, não conte a ninguém. — minha voz falhou enquanto as lágrimas queriam voltar a escorrer.

— Nora? O que aconteceu? Estou no evento, eu vou demorar.

Do outro lado da linha eu não sabia o que dizer.

— Como você está, Nora? Me passa o endereço e eu farei o possível para chegar aí o mais rápido possível.

— Estou bem, mas ele… ele está no hospital. Você pode saber alguma notícia do homem, por favor, Chayse.

— Ok, vou resolver isso. Dê-me algumas horas. Preciso sair do evento e encontrar meu advogado. Deixe eu falar com o policial. — Chayse disse firme.

Depois que falei com Chayse o delegado voltou e dessa vez ele foi compreensível, permitiu que eu esperasse por ela na sala ao lado, assim não seria preciso ficar em uma cela. Respirei aliviada. A sala era um anexo da recepção. As paredes de vidro ao redor eram um lembrete que eu estava sendo vigiada de todos os lados, como uma criminosa.

Olhei para o relógio pela vigésima vez, parecia girar para trás. Sentei numa das cadeiras encostadas na parede de vidro sentindo meu corpo esgotado. O cheiro forte de café revirou meu estômago. Estava cansada física e mentalmente, exausta de tudo. Queria deitar e esquecer tudo que aconteceu, desejando que tudo não passasse de um pesadelo.

Fechei os olhos me permitindo um pouco de descanso, mas meu corpo foi teleportado contra minha vontade para o acidente. Eu estava ajoelhada ao lado dele rezando para que ele estivesse vivo. Seu corpo forte estava imóvel no chão, como um boneco sem vida. Talvez eu tivesse notado algo mais grave se não estivesse tão atordoada, mas só consegui ver aquele ferimento na altura da coxa, onde a calça preta estava rasgada.

De repente senti uma mão no meu ombro e imediatamente meus olhos se abriram. Era Chayse. Num impulso, me coloquei de pé e a abracei. Graças a deus.

— Nora..

Me afastei aliviada.

— Oh, Chayse, que bom que você está aqui!

— Claro que estou. Espere aí um segundo, já volto.

Chayse e o advogado caminharam até o delegado, assinaram os papeis da fiança e ela voltou até mim. Ela sempre era direta, prática, em poucos minutos estava tudo resolvido. E eu podia ir para casa, mas que casa? Senti a tristeza voltar. A meses eu e Dean morávamos juntos na casa que ia ser nossa depois do casamento. A verdade é que eu até podia não ter percebido que Dean me traia, mas perdoar, isso era demais pra mim.

Em algum momento eu teria que voltar e pegar minhas coisas e também precisava por um fim de verdade, mas esse momento não era agora. Nem mesmo para pegar minhas coisas.

Meu apartamento. Eu vou para lá.

— Vamos. — Chayse murmurou enquanto saíamos da delegacia — Martin está esperando por nós no carro, vamos levar você pra casa.

Assim que entramos no carro, Martin, marido de Chayse perguntou o endereço e eu tive que dizer que não voltaria para a casa do Dean. Levei algum tempo para finalmente conseguir falar o motivo que levou tudo isso. As palavras pareciam entaladas na minha garganta como um nó, então eu cuspi de uma vez.

— Não vai ter casamento, Dean tem uma amante!

Depois de resumir o dia, Chayse ofereceu sua casa para que eu passasse a noite, mas recusei. Então, Martin dirigiu em direção ao meu apartamento.

Poucos minutos o carro estacionou no Moriland. Abracei ela novamente e antes de eu sair ela me disse:

— Nora o delegado me mostrou o relatório. O homem está no hospital Center Medical.

Meu coração soltou. A primeira coisa que pensei foi em ir imediatamente ao hospital, mas ela me impediu.

— Você precisa descansar e tomar um banho. Amanhã, mais tranquila você vai no hospital. E outra coisa — ela disse deslizando o dedo na tela do celular e virou pra mim — tirei essa foto do relatório.

Era ele. O homem do acidente, sem capacete, desacordado em uma maca no hospital.

Minha respiração estava acelerada. Peguei o celular. O rosto dele parecia esculpido, com traços fortes. A pele era pálida, mas não tinha hematomas. Um alívio surgiu em mim.

O homem cuja eu quase matei tinha uma perfeição sombria, lábios cerrados, a linha do maxilar dura como se tentasse conter a dor.

Senti um nó na boca do estômago ao olhar para ele.

Eu gostaria de ter sido eu no seu lugar!

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo