Capítulo 6

O efeito da sedação deve passar em breve — explicou a enfermeira, empurrando a porta de vidro com um movimento suave. — Pode ficar por alguns minutos, só não o toque.

Eu não prestei muita atenção no que ela dizia, a única coisa que tomava meus sentidos era a imagem do homem. Seus ombros largos e braços fortes imóveis na cama de hospital. Mesmo assim ele ainda tinha uma figura imponente, que, pra falar a verdade, não combinava em nada com o lugar.

Mal podia acreditar que logo ele acordaria e descobriria que não vai lembrar da própria vida. Ele vai me odiar, me processar ou até tentar me matar. Ou tudo isso ao mesmo tempo. Droga!

Senti o peso do meu corpo mudar de um pé para o outro e percebi que passei um longo momento ali, parada. Realmente, me mantive paralisada ao lado da cama que claramente não suportava o tamanho dele, mas não era isso que me mantinha concentrada. E sim a forma perfeitamente esculpida de um um homem de verdade, que fora capaz de hipnotizar até mesmo à mim —uma ex-noiva, arrasada

De repente ele mexeu um dos braços e o coberto deslizou para o lado mostrando parte do peito, deixando à mostra uma curva de músculos.

Mova-se, Nora! Ordenei para meu corpo que teimava em não obedecer. Não tenho certeza se disse isso em voz alta. No entanto, o homem abriu os olhos imediatamente.

Desengonçada, dei um passo para trás, cambaleando, incapaz de dizer uma palavra siquer. Me virei e saí do quarto, quase dando de cara na porta de vidro.

Três dias se arrastaram. Eu consegui evitar Dean a todo custo desde o acidente, e ignorado Rachel até ontem — mesmo que isso me incomode muito — e não tinha derramado mais nenhuma lágrimas pelo infeliz do Dean. Eu estava evoluindo a cada dia apesar dos problemas que estão literalmente caindo no meu colo.

Rachel ligou na noite passada e eu finalmente atendi. Depois de derramar toda os seus sermãos sobre eu não tê-la atendido marcamos um almoço juntas para que eu pudesse explicar o que não deu para falar pelo telefone. Afinal ela tinha me arrastado até aquela cigana, e com certeza estava feliz em supor que a cigana estava certa.

Enquanto eu ainda tentava equilibrar todos os problemas nos últimos três dias, algumas coisas estavam entrando nos eixos. Meu apartamento ainda tinha ar de abandono, mas agora havia um sofá simples na sala e uma mesa que eu mesma montei vendo vídeos no YouTube. Graças a Chayse, eu também tinha roupas, material de trabalho, meu notebook e inclusive várias plantas que comprei para o meu escritório na casa que ia dividir com Dean. Chayse fez questão de fretar um carro apenas para trazer as plantinhas, sabendo que eu ficaria feliz. Ela estava certa.

No entanto, Cada centavo gasto com o colchão e o sofá era uma facada no meu estômago. Tenho dívidas e elas pioram a cada dia, pois não tive coragem de ligar para todos os fornecedores e cancelar tudo. Listei os mais importantes mentalmente: fiança, os móveis, o casamento cancelado. Tudo somava uma pilha de problemas.

Respirei fundo afastando o pensamento sobre as dívidas enquanto descia do uber. Era meio da manhã, e estava quente quando entrei no pátio do guincho. Um cheiro de óleo queimado e borracha encheu meu nariz tornando o lugar ainda mais desagradável. Me aproximou de um homem usando um uniforme azul que acabara de manobrar um carro.

— Olá, vim pegar meu carro.

O homem rechonchudo olhou para mim e consultou um papel em suas mãos.

— Qual seu nome?

— Nora Baker.

Ele empurrou uma folha de papel para mim.

— Assine aqui e pode levar.

— E... e a moto? Vocês encontraram uma moto no local, certo? Posso vê?

O homem franziu o cenho.

— Moto? Não há nenhuma moto no relatório, moça. Só o seu carro.

Meu coração disparou. Como assim não havia uma moto? O homem estava numa moto, eu tinha certeza.

— Como não? O homem, ele estava numa moto. Eu o atropelei, não estou louca!

O funcionário levantou as sobrancelhas e pegou o papel da minha mão.

— Olha, moça, o que eu sei é que você precisa pagar o guincho e depois comparecer na delegacia para dar baixa no seu veículo. Já foi notificada?

Nora arregalou os olhos.

— Sim. Eu sei o que devo fazer. Vou resolver isso.

Abri minha bolsa e tirei o cartão de crédito.

— Aqui está o pagamento. Mas… você pode deixar meu carro aqui por alguns dias? Eu ainda não tenho onde colocá-lo.

O homem deu de ombros.

— Como quiser, mas vai ter que pagar pelas diárias adicionais.

Merda!

Paguei os adicionais com dor no coração, depois o homem me guiou até meu carro. E quando eu o vi, senti minhas pernas estremecerem. A porta do passageiro estava enfiada para dentro, espremendo o banco. Aquele homem está vivo por um milagre.

De repente, uma sincronia, como se o universo conspirasse com o meu pensamento, meu celular tocou na bolsa. Precisei encostar na lateral do carro quando meus olhos reconheceram o número não salvo. Era do hospital.

Segurei o celular com as mãos trêmulas.

—O…Oi. Aconteceu…alguma coisa?

Senti o silêncio pesar após minhas palavras.

— Olá, Nora. Estou ligando para informá-la que a sra pode vir pegá-lo. Ele teve alta a algumas horas e aguarda sua chegada.

As palavras me atingiram como um golpe bem no estômago. O telefone quase escorregou da minha mão quando ela repetiu.

— Teve alta

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo