Capítulo 5

Abri os olhos, da pequena janela do quarto, o céu apareceu alaranjado ao nascer do sol. Estiquei-me sobre o colchão. Que noite horrível, meu corpo estava moído, eu precisava comprar uma cama urgentemente.

Me sentei devagar, esfregando os olhos que deviam estar cheios de olheiras roxas em volta. Eram as consequências dos últimos acontecimentos.

Levantei e tomei ar.

— Chega, tenho coisas mais importantes para me preocupar.

O apartamento estava um grande caos, caixas e alguns móveis que deviam ter ido pro lixo estavam pelos cantos. Olhei pela mesma janela mais uma vez, dava pra ver parte do rio. A rua tranquila e a vizinha antiga foi o que me cativou. Lembrei do dia que encontrei este apartamento, eu tinha acabado a faculdade e pouco dinheiro, e foi aí que o micro apartamento apareceu pra mim. Não podia ser mais perfeito que isso. Até hoje ainda era perfeito. Um pouco vazio e bagunçado, mas perfeito.

Abri as portas do armário e encontrei algumas roupas que deveria ter doado.

— Graças a Deus eu não dei isso.

Eram roupas que eu já não usava mais, coisas que eu gostava e Dean odiava. Droga, porque eu fiz isso? Foca-se, Dean!

Tirei um vestido chumbo de botões e uma toalha. Precisava de um banho.

Quando a água gelada caiu na minha pele os pelos do meu corpo eriçaram. Preciso encontrar um encanador para arrumar a água quente urgentemente. Mesmo que a água estivesse fria a sensação era boa, dava dormência ao meu corpo, fazendo apenas minha mente planejar o que faria depois.

Mas antes de qualquer coisa, havia algo mais urgente. Ir ao hospital.

Desliguei a água e saí do banheiro.

— Como será que ele está?

Enquanto os pensamentos tentavam me dorminar me vesti rapidamente e sem me preocupar com a aparência do meu rosto, penteei meu cabelo longo num coque com um elástico.

Olhei agradecida para minha bolsa, Chayse tinha pensado em tudo, pegou minhas coisas na delegacia e eu nem mesmo lembrava disso. Peguei a bolsa em cima do sofá e saí.

Fiquei na rua apenas o suficiente para chamar um uber. Eu não tinha mais meu sedã comigo.

O motorista me olhou pelo retrovisor assim que entrei.

— Hospital Medical Center, certo?

Confirmei com a cabeça.

Enquanto atravessava a cidade, olhei pela janela, mas só conseguia pensar em como minha vida pôde ser destruída do dia para a noite. O que vai acontecer agora? Como está o homem? Como vou contar para meus pais que não haverá mais casamento?

Engoli o choro. Estou bem!

Tirei o celular da bolsa, religuei e uma enxurrada de notificações apareceu.

Dean, Rachel… tentaram insistentemente contato, mas quem poderia imaginar que eu estava presa? Deslizei o dedo pela tela, ignorando todas as ligações. Eu lhe daria com isso depois. Busquei Chayse e apertei o botão de discagem.

— Chayse? É a Nora.

— Oi, como você está hoje?

— Bem, — respondi, olhando pela janela do táxi enquanto as ruas deslizavam como um borrão. — Chayse, eu preciso de um dia livre.

— Não se preocupe, você pode voltar na segunda. Tire alguns dias para colocar a cabeça no lugar.

Mesmo sabendo que tínhamos muito trabalho para os últimos meses do ano, Chayse me deu folga.

— Obrigada por tudo. Eu também não quero deixar nas suas costas. Posso entrar em contato com os artistas por e-mail e marcar as reuniões. Te envio os relatórios.

— Está tudo bem. Cuide-se.

Houve uma pausa. Hesitei, mas acabei pedindo:

— Chayse, preciso de outro favor, — busquei as palavras — na galeria, na minha mesa... tem uma chave reservada para a casa do Dean. Você poderia ir na casa dele pegar algumas roupas e meu notebook?

— Claro, Nora. Vou passar por lá hoje à tarde.

— Obrigada, novamente.

Desligou a ligação com um suspiro pesado.

Assim que cheguei no hospital pedi auxilio para chegar até a emergência. Relatei o que eu sabia sobre o paciente. A atendente imediatamente me perguntou o parentesco.

Meu corpo ficou tenso.

— Sou parte da…. família. — disse engasgando — Nora Baker.

Ela me deu uma identificação e um cartão guia para chegar até a área de emergência. Eu não queria mentir, mas precisei.

Caminhei atentamente pelos corredores do hospital, o som de meus passos ecoando estavam me deixando ainda mais nervosa. Assim que virei, uma grande sala de espera se materializou. Emergência.

Com zero paciência sentei no grande sofá marrom onde outras pessoas já aguardavam por notícias de seus parentes e esperei. Sei lá por quanto tempo, mas assim que um homem de jaleco apareceu dei um pulo do sofá.

Parei abruptamente na frente dele, nervosa, ajustando a alça da bolsa no ombro.

— O sr veio da emergência?

Ele estendeu a mão para mim em cumprimento.

— Sim, sou Kenneth Brown, — anunciou apertando minha mão — E você?

Soltei sua mão.

— Sou, Nora Baker, eu… eu vim para saber notícias de um homem — ele notou meu nervosismo — Ele deu entrada ontem. Atropelamento.

Dr. Brown desviou o olhar por um momento, lembrando.

— Claro — começou ele — O paciente está estável. Teve uma lesão na perna e outras superficiais, mas nada que não possa se recuperar. É um homem jovem, de boa condição física, isso ajuda bastante na recuperação.

Um suspiro escapou dos meus lábios enquanto levei a mão ao peito.

— Oh, isso é um grande alívio. Muito obrigado, dr.

Ele baixou o olhar, não parecia tão feliz. Até que ele falou :

— No entanto, Nora, ele sofreu uma pancada forte na cabeça. Isso causou uma perda de memória temporária. Ele não se lembra de nada antes do acidente.

O chão embaixo dos meus pés começou a afundar e me engolir. O que eu fiz?

— Amnésia? — murmurei sem acreditar — Mas, ele vai lembrar... algum dia?

— Claro, essa é uma condição temporária como eu disse. Vai depender da recuperação total da parte afetada cérebro. Mas, não a um prazo para isso, pode levar dias, meses ou até anos.

O que eu fiz? As palavras se repetiam na minha cabeça enquanto meu coração parecia disparado como em uma maratona.

Dr. Kenneth notou que eu estava num estado de choque com a informação e continuou:

— Ele vai se recuperar. Acredito que mais alguns dias em observação ele poderá receber alta e ir para casa. Você é parente?

Um nó fechou minha garganta por um instante. Era culpa.

— Sim. Eu... eu vou levá-lo, — murmurei, quase sem acreditar nas minhas próprias palavras — Vou... cuidar dele.

Olhei para o médico, com uma expressão mista de preocupação e medo. Ele assentiu.

— Entendo. Será bom para ele ter alguém conhecido por perto. Certifique-se apenas de continuar observando qualquer sinal de desconforto ou alteração no comportamento dele.

Concordei balançando a cabeça e sentindo o nó crescer na minha garganta.

— Farei isso — disse com a voz baixa — Dr... eu posso vê-lo? —

O médico me olhou por um momento, a expressão neutra.

— Ele está dormindo — disse, com a voz mais brando que antes. — Se quiser vê-lo, tudo bem, mas não o incomode.

— Eu... eu só preciso vê-lo, por favor — murmurou

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo