Os dias passaram em um turbilhão de eventos. Sophia finalmente tinha voltado para a faculdade, e eu mal tive tempo de parar para pensar no que tinha acontecido com Dean naquela noite. Isso era ótimo. A galeria estava tomada por preparativos para as exposições exclusivas, e meu foco estava completamente ali. No entanto, eu tinha outras coisas a resolver. Faltavam poucos dias para o casamento que não aconteceria, o local da festa foi desmarcado e eu tinha uma dívida crescente com a rescisão do contrato que estava me deixando com os nervos à flor da pele. Além disso, nos últimos dois meses, desde que Dean veio, as dúvidas aumentaram consideravelmente, eu tinha abusado do cartão de crédito numa tentativa de deixar a casa menos parecida com um muquifo. Durante a semana Dean e eu seguimos num silêncio desconcertante, fingindo que nada havia acontecido. Ele parecia confortável com isso— talvez até bem demais. Eu, por outro lado, tentava me convencer de que também estava. E aqui esta
Carter fechou a porta do apartamento atrás de nós. Eu senti o ar ficar mais pesado. E já desejava não ter feito uma péssima escolha em ter aceitado vir. Ele deu dois passos à minha frente na sala de estar, estava me dando espaço. Então, se virou para mim, os olhos azuis estavam mais escuros e expressivos. Olhei em volta. Nada tinha mudado. Mas ao mesmo tempo não parecia ser a nossa casa, como ele havia dito antes. Impaciente, Carter limpou o rosto com as mãos e deu um passo à frente, reduzindo a distância entre nós. — Você está muito linda. — ele anunciou e pensou um pouco antes de continuar, — quer tomar alguma coisa? Vinho? Ainda tenho aquele português que você gosta. Franzi as sobrancelhas. O que você está tentando fazer? Não vim aqui para ficar bêbada e transar com você. — Não — eu respondi, seca. — Só quero as chaves. Ele olhou para mim por um momento, os olhos dele percorre
A ligação para o delegado mais rápido do que tinha imaginado que seria. Ele atendeu logo assim que liguei. E eu não me demorei com enrolação e fui direto ao ponto. Disse-lhe como tinha conseguido seu contato e por que estava interessada em saber sobre Dean. Naquele instante eu agradeço não ter reconhecido a voz dele, isso significava que não era o mesmo delegado que esteve comigo na noite da prisão. Comecei como eu tinha conseguido seu contato pessoal. Para minha surpresa, ele se mostrou solícito e disponível para me receber hoje ao meio dia. Meio dia? Eu precisarei sair mais cedo para o almoço, então eu teria uma hora livre para ir na delegacia. Suspirei aliviada. Minhas entranhas reviraram, antecipando-se ao que viria. Ao que eu podia descobrir, ou confirmar. Sei lá. Era coisa demais pra minha cabeça. E saber que Carter podia ter razão sobre Dean não deixava as coisas mais fáceis de engolir. Na hora do almoço, dispensei Rachel e contei-lhe uma mentirinha. Menti, mas por uma boa
— Você devia estar no trabalho, ou não? Eu hesitei por um momento, tentando encontrar uma desculpa para estar em casa naquela hora. — Eu…— gaguejei, e virei o rosto, evitando olhar diretamente pra ele. — Me diga você, onde está indo? Dean enfiou a mão no bolso do moletom e tirou as chaves que eu havia lhe dado na noite passada. O chaveiro que Carter mandou fazer tinha suas iniciais. A plaquinha dourada balançava entre os dedos de Dean agora. — Agora que estou livre, pensei em sair e correr na margem do rio. — ele disse passando por mim — Você vem? Correr? Ouvi certo? — Qual seu problema? Tá frio pra caramba, e ainda por cima vai chover! Ele deu de ombros e começou a se afastar, indo em direção à saída da rua. Droga. Eu estava ali para fazer perguntas, se ele está indo correr em meio a chuva eu tenho que ir atrás. Mesmo que isso significasse ficar encharcada e pegar um resfriado. — Ei, Dean! — Chamei enquanto apressava o passo para alcançá-lo — Você não tá cem por
— Você deveria estar no trabalho, ou não? Eu hesitei por um momento, tentando encontrar uma desculpa para estar em casa naquela hora.— Eu…— gaguejei, e virei o rosto, evitando olhar diretamente pra ele. — Me diga você, onde está indo? Dean enfiou a mão no bolso do moletom e tirou as chaves que eu havia lhe dado na noite passada. O chaveiro que Carter mandou fazer tinha suas iniciais. A plaquinha dourada balançava entre os dedos de Dean agora. — Agora que estou livre, pensei em sair e correr na margem do rio. — ele disse ao passar por mim. — Você vem? Correr? Ouvi certo?— Qual seu problema? Tá frio pra caramba, e ainda por cima vai chover! Ele deu de ombros e começou a se afastar, indo em direção à saída da rua. Droga. Eu estava ali para fazer perguntas, se ele está indo correr em meio a chuva eu tenho obrigação de ir atrás. Mesmo que isso significasse ficar encharcada e pegar um resfriado. — Espera. — Chamei enquanto apressava o passo para alcançá-lo — Você não tá cem por cent
— Você só pode estar louca, Rachel. — esbravejei entrando no meu carro — Videntes? Sério? Vai jogar dinheiro fora! Rachel revirou os olhos enquanto fechava o cinto. — Se eu contasse antes, você não iria comigo. — Tem toda razão, não iria mesmo. — Nora, sua insensível, você só diz isso porque está prestes a se casar — Ralhou ela — mas eu não. Caramba, eu tenho 27 anos e com nenhum cara rolou conexão. Só pode ter alguma coisa errada. Olhei para a aliança de noivado dourada no meu dedo no mesmo instante que o sol tocava a jóia pelo vidro do carro. Eu vinha tentando não me arrepender de tê-la convidado para ser madrinha no casamento. O convite, inevitavelmente, tocou a num ponto fraco que ela tentava de todas as formas não pensar. Agora deu nisso. — Que conexão, Rachel? — questionei quase rindo, tentando não ficar para trás do sinal vermelho. — Conexão com quem? Você espera que uma cigana te dê conexões? Ela vai esvaziar sua carteira, isso sim. — Ai, cala a boca. — Rac
Isso é ridículo, eu repeti mentalmente assim que a porta se fechou atrás de nós. Mesmo que essa golpista tenha feito a cabeça de Rachel, não faria a minha. Simplesmente porque isso é ridículo. Era por isso que eu detestava esse tipo de coisa. Ignorei a tagarelice sem sentido de Rachel e enfiei a mão dentro da bolsa à procura das chaves do sedã, quando finalmente abri a porta do motorista notei minhas mãos tremendo. Meus nervos estavam gritando. Eu tinha tantas coisas do casamento para me preocupar e estou aqui, no meio de uma sessão fajuta para descobrir se o futuro namorado de Rachel existe. Saímos da rua esquisita onde encontramos a cigana e logo estávamos indo em direção ao centro comercial de Portland. Vê os prédios altos e vitrines nas ruas principais reduziram a tensão que eu sentia antes. Estamos chegando na galeria, pensei.Rachel sentada no banco do carona não parou de falar até que eu precisei interromper:— Sério, Rachel? aquela mulher estava fazendo o trabalho dela. Vo
— Você é um canalha! Todo o meu alto controle escorreu ralo abaixo assim que entrei no carro. Meu mundo estava dismoronando. Girei as chaves na ignição e dei partida. O mais rápido que eu podia para sair dali. Pra esquecer aquele desgraçado. Pisei no acelerador com força, meu carro disparou pela rua, a borracha dos pneus gritando com o atrito no asfalto. A dor me consumia a cada segundo, e era tanta que até mesmo as lágrimas que turvavam meus olhos doíam. Soquei o volante com ódio. — Maldito! — gritei — Como pôde? Como pôde fazer isso comigo? Seis longos anos juntos, jogados fora! A gente ia casar em dois meses, droga. Mordi o lábio entando conter meu desespero. Eu estava morando na sua casa! Como eu não percebi isso, como? Meu coração se partia cada vez que eu lembrava da cena dos dois aos beijos. Do sorriso que deveria ser pra mim. A rua era um borrão de luzes e sombras enquanto eu dirigia, completamente destruída. Nada mais importava. Tudo que tínhamos planejado pro