Um Estranho Em Minha Vida
Um Estranho Em Minha Vida
Por: R. Grace
Capítulo 1

— Você só pode estar louca, Rachel. — esbravejei entrando no meu carro — Videntes? Sério? Vai jogar dinheiro fora!

Rachel revirou os olhos enquanto fechava o cinto.

— Se eu contasse antes, você não iria comigo.

— Tem toda razão, não iria mesmo.

— Nora, sua insensível, você só diz isso porque está prestes a se casar — Ralhou ela — mas eu não. Caramba, eu tenho 32 anos e com nenhum cara rolou conexão. Só pode ter alguma coisa errada.

Olhei para a aliança de noivado dourada no meu dedo no mesmo instante que o sol tocava a jóia pelo vidro do carro.

Eu vinha tentando não me arrepender de tê-la convidado para ser madrinha no casamento. O convite, inevitavelmente, tocou a num ponto fraco que ela tentava de todas as formas não pensar. Agora deu nisso.

— Que conexão, Rachel? — questionei quase rindo, tentando não ficar para trás do sinal vermelho. — Conexão com quem? Você espera que uma cigana te dê conexões? Ela vai esvaziar sua carteira, isso sim.

— Ai, cala a boca. — Rachel sorriu, sem um pingo de irritação. — Você fala como se isso fosse fácil.

Ah, eu sei. Era mais fácil nevar no deserto que esvaziar a carteira dela. Isso era uma das qualidades herdadas do pai dela.

Ao entrar na rua onde o GPS indicava, avistei o movimento de carros e estacionei logo em frente ao lugar.

— Vamos logo com isso, não quero passar o resto do horário de almoço enfiada aqui.

Rachel me olhou com uma carreta e não falou mais nada. Ela apenas apontou para uma entrada estreita entre dois prédios antigos, com uma placa que pendia de ganchos na parede do lado da porta “ Universo da Madame Irna”.

Dava pra ver a respiração dela agitada enquanto sorria pra mim como uma criança quando ganha um doce.

— É aqui!

Rachel, radiante, abriu a porta e um sino tocou acima de nós. O cheiro sufocante de incensos queimando, entupiu minhas narinas. Levei a mão ao rosto numa tentativa de proteger meus pulmões da fumaça.

Olhei para Rachel que entrava na frente e não parecia nem um pouco incomodada.

O espaço interno do lugar era apertado, com algumas poltronas de veludo e objetos decorativos numa prateleira presa a parede da ante sala. Por falar nisso, as paredes foram revestidas com um tecido púrpura grosso que mais parecia gritar "coviu"

Ah, Rachel, você me paga!

— Não tem ninguém, vamos embora.

Antes que Rachel pudesse tocar na cortina de miçangas à nossa frente, alguém apareceu dentro da sala de atendimento, além das cortinas. Uma velha Cigana de pelo menos cinquenta anos estava de pé a poucos passos de nós.

— Entrem, e desliguem os celulares. Não permito que a minha sessão seja interrompida.

Que grossa, Sra Irna.

Minha amiga irritante, Rachel, mergulhou na sala empurrando a cortina na minha cara. Eu nunca estive numa Cigana que lê cartas antes, mas sabia que ciganos tinham fama de golpistas. Talvez, Rachel, não soubesse.

Inclinei um pouco para dentro e dei uma olhada desconfiada na sala de atendimento.

— Rachel, eu vou ficar esperando aqui fora.

Ela juntou as sobrancelhas e eu sabia pela cara feia que ela fez, que estava brava, mas e daí? Ela nunca vai sossegar até encontrar um namorado.

Mas isso já é perda de tempo.

Ignorando o olhar insistente de Rachel, me afundei numa das poltronas encostadas na parede. Não havia nada para passar o tempo além de livros, o que era bom porque gosto de ler.

Apesar da leitura nada empolgante sobre ervas, o tempo estava se arrastando e minha paciência não durava mais que um minuto. Fui obrigada a deixar o livro onde estava e ir ver através da cortina de miçangas de novo.

— Entre logo e sentisse!

Engoli o nó em minha garganta.

Não tive escolha, fiz o que a Cigana mandou. Entrei na sala e me sentei no banco de couro ao lado de Rachel.

— Pode continuar. Não quero atrapalhar.

Madame Irna tinha a aparência caricata de uma Cigana Vidente, com argolas douradas penduradas nas orelhas, pulseira extravagantes e seu típico lenço floral sobre o cabelo cheio. O que mais eu esperava?

A velha Cigana estava sentada atrás da mesa redonda. Ela tinha espalhado cartas de tarô sobre a toalha de lantejoulas douradas. Aquele deveria ser o belo destino de Rachel.

Depois de me encarar friamente por ter atrapalhado a sessão, ela se voltou para Rachel.

— Você encontrará alguém que espera por você — começou a falar apontando para uma carta que mostrava dois caminhos divergentes. — Mas ele estará longe, talvez em outro lugar.

— Longe? Que tipo de longe? Outra cidade? Outro país? — Rachel perguntou instantaneamente.

— O destino não dá pistas. Você o encontrará, e não demora muito para que isso aconteça. — a Cigana disse e começou a juntar as cartas na mesa.

— Ah que bom Rachel, já podemos ir.

Levantei e peguei em seu braço induzindo a fazer o mesmo.

Antes que a velha pudesse recolher todo o baralho nas mãos, uma carta deslizou sozinha dos dedos dela, caindo sobre a mesa virada para cima.

Irna franziu a testa, me olhando.

— É para você.

Minha respiração parou por um momento.

— Não. Eu não estou aqui para ver o futuro. Já sei tudo que preciso saber. Obrigada, mas estamos indo, não é mesmo Rachel?

Fuzilei minha amiga.

— O universo não comete erros. — Irna inclinou-se sobre a carta. — A Torre. Isto é um aviso do universo, Nora. Um ciclo está se encerrando para você e para isso algo terá que acontecer. Sua vida está prestes a mudar drasticamente. Uma reviravolta. E você vai sofrer.

Eu ri sem vontade.

— Isso é ridículo. Vamos embora, agora.

Puxei o antebraço dela mais uma vez até que ela levantou. Rachel olhou para a Cigana ainda sentada com a carta da torre nas mãos e apenas se desculpou.

— Sinto muito pela minha amiga.

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