Capítulo 2

Isso é ridículo, eu repeti mentalmente assim que a porta se fechou atrás de nós.

Mesmo que essa golpista tenha feito a cabeça de Rachel, não faria a minha. Simplesmente porque isso é ridículo. Era por isso que eu detestava esse tipo de coisa.

Ignorei a tagarelice sem sentido de Rachel e enfiei a mão dentro da bolsa à procura das chaves do sedã, quando finalmente abri a porta do motorista notei minhas mãos tremendo. Meus nervos estavam gritando. Eu tinha tantas coisas do casamento para me preocupar e estou aqui, no meio de uma sessão fajuta para descobrir se o futuro namorado de Rachel existe.

Saímos da rua esquisita onde encontramos a cigana e logo estávamos indo em direção ao centro comercial de Portland. Vê os prédios altos e vitrines nas ruas principais reduziram a tensão que eu sentia antes. Estamos chegando na galeria, pensei.

Rachel sentada no banco do carona não parou de falar até que eu precisei interromper:

— Sério, Rachel? aquela mulher estava fazendo o trabalho dela. Você pagou para e ela respondeu convenientemente. E pra completar, me enfiou nisso. Que grande amiga você é, não é mesmo?

Ela revirou os olhos

— Não seja tão pessimista, eu confio nas previsões dela. Madame Irmã tem boa reputação e falou coisas certeiras sobre mim e...

Meu deus, ela está louca

Soltei uma risada seca.

— Carteira tipo "alguém estará esperando por você, mas não estará perto"? Isso é tão inútil que me faz pensar que ela deve dizer isso para todos que a procuram. Esse é o script perfeito, Rachel. Convincente. — disse ironicamente, mas logo me arrependi — você é linda, inteligente, e tem uma capacidade inexplicável de se lembrar de todos os nomes das obras de Monet, mas esquece o meu aniversário todo ano.

Rachel jogou o celular na sua bolsa preta de franjas, habitual.

— E você acha que é tão simples assim? Eu sei que sou bonita, Nora, não sou cega. Mas isso não resolve. Quero alguém que me entenda.

Ri alto balançando a cabeça.

— Impossível, Rachel, tá bom, você pode escolher. Quer que eu te arrume um tarot ou um óculos? Porque só assim você vai encontrar um cara sem graça que seja compassivo com você. Você vai enjoar

Ela revirou os olhos, sorrindo.

— Você me entendeu.

De repente um carro entrou na minha frente e eu pisei forte no freio.

— Que droga, Nora, você deveria voltar para as aulas de direção.

Desdenhei balançando a cabeça, sem tirar os olhos da rua. Nunca fui uma ótima motorista, mas ninguém podia se queixar quanto a minha pontualidade. Honestamente, eu quase nunca pego um sinal vermelho.

— Só estou tentando nos levar a tempo para a curadoria dos artistas de Chicago. Você se lembra disso, né? Nossa cabeça vai rodar se Chayse não nos encontrar lá.

Finalmente, Rachel se calou e eu pude dar atenção ao trânsito. Era início de julho, então não tinha tantos carros nas ruas, se tornava fácil dirigir.

Olhei pro lado e vi Rachel pensativa. E deveria mesmo. Nem posso imaginar o que aconteceria com nossos empregos se não conseguíssemos chegar. Chayse era uma ótima chefe, mas não era tolerante quando o assunto era os artistas que vinham conhecer a galeria.

Reduzi a velocidade para entrar numa rua à esquerda quando vi, Dean, saindo do carro dele. Por um momento achei ter visto errado, mas não, aquele era mesmo meu noivo.

— Espera... aquele é o Dean? — Rachel perguntou inclinando para o meu lado.

Senti um aperto no peito inexplicável ao passar pelo carro dele e parar mais na frente. Olhei pelo retrovisor. Ele estava arrumado, com o cabelo bem penteado, vestia aquele terno cinza que eu mesma comprei no ano passado.

— O que ele faz aqui? — eu disse, mas era uma pergunta feita para mim mesma — ele nunca me falou que vinha para esses lados da cidade.

Ele deu a volta no carro e abriu a porta como um cavalheiro. Foi aí que meu coração disparou. Ele estava acompanhado. Uma mulher loura de corpo modelado por um vestido preto, pegou na mão dele e saiu do carro.

— Quem diabos é essa?— eu murmurei, apertando meus dedos no volante com força.

— Nora, eles vão entrar no restaurante. Pode ser reunião de trabalho… — Rachel falou ao mesmo tempo que abria a porta do carro — vem, vamos segui-lo

Meu coração estava disparado, como se um sentimento ruim acontecer. Mas, não, Dean não faria isso. Vamos nos casar em dois meses, está tudo pronto. Respirei profundamente tentando colocar a cabeça no lugar e segui Rachel.

Eles se sentaram em uma mesa no meio do salão do restaurante. Enquanto eu e Rachel observamos de longe, quase escondidas numa mesa distante. Estava imperceptível nossa presença atrás de um vaso de plantas.

Logo um garçom veio até nós, Rachel foi mais rápida que eu e pediu o vinho mais caro da carta.

Ele nunca me trouxe aqui. Isso era um problema? Eu devo me preocupar? Minha cabeça estava a mil. A atmosfera elegante e sofisticada não combinava com os restaurantes que costumávamos ir juntos.

Sem tirar meus olhos da mesa dos dois, eu acompanhei cada gesto. Até que Dean inclinou-se, sorrindo daquele jeito íntimo. Do jeito que ele sorria pra mim. Ela retribuiu de volta e se inclinou sobre a mesa. Então, como num filme terrível, ele a beijou.

Não consegui ouvir mais nada. Tudo parecia abafado, como se eu estivesse submersa em água. Literalmente me afogando. O chão parecia ter desaparecido sob meus pés e um buraco atravessou meu peito como um tiro. Mal conseguia respirar. Senti uma gota quente escorrer no meu rosto, mas eu não queria chorar.

— Nora… Eu vou matar…

Mas antes que ela pudesse terminar a frase eu levantei. Disparei para longe, enquanto Rachel ia na direção da mesa dele. Prendi a respiração por alguns segundos tentando controlar meu choro e sem pensar, sai correndo de volta para o carro.

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