Lembrei do dia que fui a primeira vez no hospital para ver Dean. Nesse dia, eu estava tão sozinha e destruída que até pensei que tinha matado um homem. Mas o que ainda viria a seguir quando o médico me disse o estado em que Dean estava. Amnésia temporária. Eu jamais poderia imaginar como seria perder a memória, esquecer a família, os amigos,toda a vida até ali. Mas eu havia feito isso com Dean e ele estava com toda a razão quando escondeu de mim que sabia tudo sobre o acidente, tinha direito de estar amargurado e com ódio de mim. Estamos quites? Ele se aproximou de mim, sua coxa roçou na minha. — Eu observei você, Nora. Foi tão fácil ler você. Seu jeito, sua fala mansa mesmo estando brava, suas palavras sobre como tudo aconteceu.— ele respondeu, com a voz rouca — Eu sei o que você pensa… Minha respiração ficou presa na garganta. — Por que não me disse nada? — Eu queria ver o que você ia me dizer. Baixei o olhar para o sanduíche parcialmente mordido na minha mão — Eu ia
Os dias passaram em um turbilhão de eventos. Sophia finalmente tinha voltado para a faculdade, e eu mal tive tempo de parar para pensar no que tinha acontecido com Dean naquela noite. Isso era ótimo. A galeria estava tomada por preparativos para as exposições exclusivas, e meu foco estava completamente ali. No entanto, eu tinha outras coisas a resolver. Faltavam poucos dias para o casamento que não aconteceria, o local da festa foi desmarcado e eu tinha uma dívida crescente com a rescisão do contrato que estava me deixando com os nervos à flor da pele. Além disso, nos últimos dois meses, desde que Dean veio, as dúvidas aumentaram consideravelmente, eu tinha abusado do cartão de crédito numa tentativa de deixar a casa menos parecida com um muquifo. Durante a semana Dean e eu seguimos num silêncio desconcertante, fingindo que nada havia acontecido. Ele parecia confortável com isso— talvez até bem demais. Eu, por outro lado, tentava me convencer de que também estava. E aqui esta
Carter fechou a porta do apartamento atrás de nós. Eu senti o ar ficar mais pesado. E já desejava não ter feito uma péssima escolha em ter aceitado vir. Ele deu dois passos à minha frente na sala de estar, estava me dando espaço. Então, se virou para mim, os olhos azuis estavam mais escuros e expressivos. Olhei em volta. Nada tinha mudado. Mas ao mesmo tempo não parecia ser a nossa casa, como ele havia dito antes. Impaciente, Carter limpou o rosto com as mãos e deu um passo à frente, reduzindo a distância entre nós. — Você está muito linda. — ele anunciou e pensou um pouco antes de continuar, — quer tomar alguma coisa? Vinho? Ainda tenho aquele português que você gosta. Franzi as sobrancelhas. O que você está tentando fazer? Não vim aqui para ficar bêbada e transar com você. — Não — eu respondi, seca. — Só quero as chaves. Ele olhou para mim por um momento, os olhos dele percorre
A ligação para o delegado mais rápido do que tinha imaginado que seria. Ele atendeu logo assim que liguei. E eu não me demorei com enrolação e fui direto ao ponto. Disse-lhe como tinha conseguido seu contato e por que estava interessada em saber sobre Dean. Naquele instante eu agradeço não ter reconhecido a voz dele, isso significava que não era o mesmo delegado que esteve comigo na noite da prisão. Comecei como eu tinha conseguido seu contato pessoal. Para minha surpresa, ele se mostrou solícito e disponível para me receber hoje ao meio dia. Meio dia? Eu precisarei sair mais cedo para o almoço, então eu teria uma hora livre para ir na delegacia. Suspirei aliviada. Minhas entranhas reviraram, antecipando-se ao que viria. Ao que eu podia descobrir, ou confirmar. Sei lá. Era coisa demais pra minha cabeça. E saber que Carter podia ter razão sobre Dean não deixava as coisas mais fáceis de engolir. Na hora do almoço, dispensei Rachel e contei-lhe uma mentirinha. Menti, mas por uma boa
— Você devia estar no trabalho, ou não? Eu hesitei por um momento, tentando encontrar uma desculpa para estar em casa naquela hora. — Eu…— gaguejei, e virei o rosto, evitando olhar diretamente pra ele. — Me diga você, onde está indo? Dean enfiou a mão no bolso do moletom e tirou as chaves que eu havia lhe dado na noite passada. O chaveiro que Carter mandou fazer tinha suas iniciais. A plaquinha dourada balançava entre os dedos de Dean agora. — Agora que estou livre, pensei em sair e correr na margem do rio. — ele disse passando por mim — Você vem? Correr? Ouvi certo? — Qual seu problema? Tá frio pra caramba, e ainda por cima vai chover! Ele deu de ombros e começou a se afastar, indo em direção à saída da rua. Droga. Eu estava ali para fazer perguntas, se ele está indo correr em meio a chuva eu tenho que ir atrás. Mesmo que isso significasse ficar encharcada e pegar um resfriado. — Ei, Dean! — Chamei enquanto apressava o passo para alcançá-lo — Você não tá cem por
— Você deveria estar no trabalho, ou não? Eu hesitei por um momento, tentando encontrar uma desculpa para estar em casa naquela hora.— Eu…— gaguejei, e virei o rosto, evitando olhar diretamente pra ele. — Me diga você, onde está indo? Dean enfiou a mão no bolso do moletom e tirou as chaves que eu havia lhe dado na noite passada. O chaveiro que Carter mandou fazer tinha suas iniciais. A plaquinha dourada balançava entre os dedos de Dean agora. — Agora que estou livre, pensei em sair e correr na margem do rio. — ele disse ao passar por mim. — Você vem? Correr? Ouvi certo?— Qual seu problema? Tá frio pra caramba, e ainda por cima vai chover! Ele deu de ombros e começou a se afastar, indo em direção à saída da rua. Droga. Eu estava ali para fazer perguntas, se ele está indo correr em meio a chuva eu tenho obrigação de ir atrás. Mesmo que isso significasse ficar encharcada e pegar um resfriado. — Espera. — Chamei enquanto apressava o passo para alcançá-lo — Você não tá cem por cent
— Você só pode estar louca, Rachel. — esbravejei entrando no meu carro — Videntes? Sério? Vai jogar dinheiro fora! Rachel revirou os olhos enquanto fechava o cinto. — Se eu contasse antes, você não iria comigo. — Tem toda razão, não iria mesmo. — Nora, sua insensível, você só diz isso porque está prestes a se casar — Ralhou ela — mas eu não. Caramba, eu tenho 27 anos e com nenhum cara rolou conexão. Só pode ter alguma coisa errada. Olhei para a aliança de noivado dourada no meu dedo no mesmo instante que o sol tocava a jóia pelo vidro do carro. Eu vinha tentando não me arrepender de tê-la convidado para ser madrinha no casamento. O convite, inevitavelmente, tocou a num ponto fraco que ela tentava de todas as formas não pensar. Agora deu nisso. — Que conexão, Rachel? — questionei quase rindo, tentando não ficar para trás do sinal vermelho. — Conexão com quem? Você espera que uma cigana te dê conexões? Ela vai esvaziar sua carteira, isso sim. — Ai, cala a boca. — Rac
Isso é ridículo, eu repeti mentalmente assim que a porta se fechou atrás de nós. Mesmo que essa golpista tenha feito a cabeça de Rachel, não faria a minha. Simplesmente porque isso é ridículo. Era por isso que eu detestava esse tipo de coisa. Ignorei a tagarelice sem sentido de Rachel e enfiei a mão dentro da bolsa à procura das chaves do sedã, quando finalmente abri a porta do motorista notei minhas mãos tremendo. Meus nervos estavam gritando. Eu tinha tantas coisas do casamento para me preocupar e estou aqui, no meio de uma sessão fajuta para descobrir se o futuro namorado de Rachel existe. Saímos da rua esquisita onde encontramos a cigana e logo estávamos indo em direção ao centro comercial de Portland. Vê os prédios altos e vitrines nas ruas principais reduziram a tensão que eu sentia antes. Estamos chegando na galeria, pensei.Rachel sentada no banco do carona não parou de falar até que eu precisei interromper:— Sério, Rachel? aquela mulher estava fazendo o trabalho dela. Vo