Acho que eu estou dormindo e nada disso está de fato acontecendo. Claro, era isso. Não havia dean sentado à mesa, ou minha irmã tagarelando sobre a vida no Maine, nem mesmo eu paralisada com um prato de macarrão na minha frente. Sophia apoiou o cotovelo, sustentou o queixo na mão, e lançou-me um olhar atrevido como se estivesse prestes a armar uma armadilha. Eu conheço a irmã que tenho, por essa razão eu sabia que o fato de ela estar pensado antes de falar significava que uma grande estupidez estava pronta para ser lançada no jogo. — Bem, a vida não é a mesma, — ela começou, lançando um olhar presunçoso na minha direção —, a gente mora no Maine, agora somos só, eu, o papai e a mamãe. Desde que Nora conheceu o idiota do Carter e se mudou pra Portland, nunca mais voltou pra casa. — Sophia… — O que? Não estou falando nenhuma novidade, você sempre soube o que eu penso sobre Carter.. Ah, isso me faz lembrar da última vez que estivemos juntas, faz um tempo né? Você lembra quando
Horas mais tarde eu estava esticada sobre cobertores no não do meu quarto, depois de Dean ceder a minha cama para Sophia. A cama era pequena, mas apesar disso caberia tranquilamente nós duas, contudo eu preferia deixar que ela estivesse mais confortável e me arranjar no chão. Era um alívio para minha coluna lombar deitar em algo rígido e plano. Desliguei a luz. Me acomodei no chão, puxei um cobertor até o pescoço. O silêncio tomou conta do quarto, e naquele instante eu sabia que não ia conseguir dormir tão cedo. Sophia já estava roncando baixinho, a pelo menos quarenta minutos, mas minha mente não parava de dar voltas. Olhei pro teto. Que estranho. Era como estar no quarto de um desconhecido, um lugar que não era mais meu. A pequena janela do lado da cama estava fechada evitando que o frio entrasse, mas não impediu que a claridade da lua chegasse. Tudo que minha mente conseguia pensar era no Dean. Aquele sofá estava estragando minha postura de um jeito que me fazia acordar mal hu
Lembrei do dia que fui a primeira vez no hospital para ver Dean. Nesse dia, eu estava tão sozinha e destruída que até pensei que tinha matado um homem. Mas o que ainda viria a seguir quando o médico me disse o estado em que Dean estava. Amnésia temporária. Eu jamais poderia imaginar como seria perder a memória, esquecer a família, os amigos,toda a vida até ali. Mas eu havia feito isso com Dean e ele estava com toda a razão quando escondeu de mim que sabia tudo sobre o acidente, tinha direito de estar amargurado e com ódio de mim. Estamos quites? Ele se aproximou de mim, sua coxa roçou na minha. — Eu observei você, Nora. Foi tão fácil ler você. Seu jeito, sua fala mansa mesmo estando brava, suas palavras sobre como tudo aconteceu.— ele respondeu, com a voz rouca — Eu sei o que você pensa… Minha respiração ficou presa na garganta. — Por que não me disse nada? — Eu queria ver o que você ia me dizer. Baixei o olhar para o sanduíche parcialmente mordido na minha mão — Eu ia
Os dias passaram em um turbilhão de eventos. Sophia finalmente tinha voltado para a faculdade, e eu mal tive tempo de parar para pensar no que tinha acontecido com Dean naquela noite. Isso era ótimo. A galeria estava tomada por preparativos para as exposições exclusivas, e meu foco estava completamente ali. No entanto, eu tinha outras coisas a resolver. Faltavam poucos dias para o casamento que não aconteceria, o local da festa foi desmarcado e eu tinha uma dívida crescente com a rescisão do contrato que estava me deixando com os nervos à flor da pele. Além disso, nos últimos dois meses, desde que Dean veio, as dúvidas aumentaram consideravelmente, eu tinha abusado do cartão de crédito numa tentativa de deixar a casa menos parecida com um muquifo. Durante a semana Dean e eu seguimos num silêncio desconcertante, fingindo que nada havia acontecido. Ele parecia confortável com isso— talvez até bem demais. Eu, por outro lado, tentava me convencer de que também estava. E aqui esta
Carter fechou a porta do apartamento atrás de nós. Eu senti o ar ficar mais pesado. E já desejava não ter feito uma péssima escolha em ter aceitado vir. Ele deu dois passos à minha frente na sala de estar, estava me dando espaço. Então, se virou para mim, os olhos azuis estavam mais escuros e expressivos. Olhei em volta. Nada tinha mudado. Mas ao mesmo tempo não parecia ser a nossa casa, como ele havia dito antes. Impaciente, Carter limpou o rosto com as mãos e deu um passo à frente, reduzindo a distância entre nós. — Você está muito linda. — ele anunciou e pensou um pouco antes de continuar, — quer tomar alguma coisa? Vinho? Ainda tenho aquele português que você gosta. Franzi as sobrancelhas. O que você está tentando fazer? Não vim aqui para ficar bêbada e transar com você. — Não — eu respondi, seca. — Só quero as chaves. Ele olhou para mim por um momento, os olhos dele percorre
A ligação para o delegado mais rápido do que tinha imaginado que seria. Ele atendeu logo assim que liguei. E eu não me demorei com enrolação e fui direto ao ponto. Disse-lhe como tinha conseguido seu contato e por que estava interessada em saber sobre Dean. Naquele instante eu agradeço não ter reconhecido a voz dele, isso significava que não era o mesmo delegado que esteve comigo na noite da prisão. Comecei como eu tinha conseguido seu contato pessoal. Para minha surpresa, ele se mostrou solícito e disponível para me receber hoje ao meio dia. Meio dia? Eu precisarei sair mais cedo para o almoço, então eu teria uma hora livre para ir na delegacia. Suspirei aliviada. Minhas entranhas reviraram, antecipando-se ao que viria. Ao que eu podia descobrir, ou confirmar. Sei lá. Era coisa demais pra minha cabeça. E saber que Carter podia ter razão sobre Dean não deixava as coisas mais fáceis de engolir. Na hora do almoço, dispensei Rachel e contei-lhe uma mentirinha. Menti, mas por uma boa
— Você só pode estar louca, Rachel. — esbravejei entrando no meu carro — Videntes? Sério? Vai jogar dinheiro fora! Rachel revirou os olhos enquanto fechava o cinto. — Se eu contasse antes, você não iria comigo. — Tem toda razão, não iria mesmo. — Nora, sua insensível, você só diz isso porque está prestes a se casar — Ralhou ela — mas eu não. Caramba, eu tenho 27 anos e com nenhum cara rolou conexão. Só pode ter alguma coisa errada. Olhei para a aliança de noivado dourada no meu dedo no mesmo instante que o sol tocava a jóia pelo vidro do carro. Eu vinha tentando não me arrepender de tê-la convidado para ser madrinha no casamento. O convite, inevitavelmente, tocou a num ponto fraco que ela tentava de todas as formas não pensar. Agora deu nisso. — Que conexão, Rachel? — questionei quase rindo, tentando não ficar para trás do sinal vermelho. — Conexão com quem? Você espera que uma cigana te dê conexões? Ela vai esvaziar sua carteira, isso sim. — Ai, cala a boca. — Rac
Isso é ridículo, eu repeti mentalmente assim que a porta se fechou atrás de nós. Mesmo que essa golpista tenha feito a cabeça de Rachel, não faria a minha. Simplesmente porque isso é ridículo. Era por isso que eu detestava esse tipo de coisa. Ignorei a tagarelice sem sentido de Rachel e enfiei a mão dentro da bolsa à procura das chaves do sedã, quando finalmente abri a porta do motorista notei minhas mãos tremendo. Meus nervos estavam gritando. Eu tinha tantas coisas do casamento para me preocupar e estou aqui, no meio de uma sessão fajuta para descobrir se o futuro namorado de Rachel existe. Saímos da rua esquisita onde encontramos a cigana e logo estávamos indo em direção ao centro comercial de Portland. Vê os prédios altos e vitrines nas ruas principais reduziram a tensão que eu sentia antes. Estamos chegando na galeria, pensei.Rachel sentada no banco do carona não parou de falar até que eu precisei interromper:— Sério, Rachel? aquela mulher estava fazendo o trabalho dela. Vo