Capítulo 3

— Você é um canalha!

Todo o meu alto controle escorreu ralo abaixo assim que entrei no carro. Meu mundo estava dismoronando. Girei as chaves na ignição e dei partida. O mais rápido que eu podia para sair dali. Pra esquecer aquele desgraçado.

Pisei no acelerador com força, meu carro disparou pela rua, a borracha dos pneus gritando com o atrito no asfalto. A dor me consumia a cada segundo, e era tanta que até mesmo as lágrimas que turvavam meus olhos doíam.

Soquei o volante com ódio.

— Maldito! — gritei — Como pôde? Como pôde fazer isso comigo?

Seis longos anos juntos, jogados fora! A gente ia casar em dois meses, droga. Mordi o lábio entando conter meu desespero. Eu estava morando na sua casa! Como eu não percebi isso, como? Meu coração se partia cada vez que eu lembrava da cena dos dois aos beijos. Do sorriso que deveria ser pra mim.

A rua era um borrão de luzes e sombras enquanto eu dirigia, completamente destruída. Nada mais importava. Tudo que tínhamos planejado pro futuro, tudo virou cinzas.

E a viajem para Cancun? A casa planejada? Os filhos? Desgraçado!

Cada lágrima que escorria dos meus olhos era como um lembrete da cena que se repetia em câmera lenta. Dean, inclinado para beijar outra mulher. As mãos dele na cintura dela, o mesmo Dean que me beijou e disse que me amava hoje pela manhã em sua cama. Ele me tocava e me beijava daquele meamo jeito, como ele pode?

Passei a mão na boca, sentindo o nojo dele. Eu queria lavar minha boca o quanto antea. Mas minha mente queria me punir e me trazia outras lembranças e outras após outra.

Pisei ainda mais fundo no acelerador, o carro avançando em uma fuga pelas ruas.

— Eu odeio vo…

O barulho ralhou como um trovão ao mesmo tempo que algo colidiu contra a lateral do sedã. Meu corpo foi violentamente lançado para o lado contra a porta do motorista. Minha cabeça acertando o vidro com força. Meu grito de pânico estrangulado ecoou com o impacto.

Não sei como, mas tive a reação de enfiar o pé no freio e o carro parou com um solavanco. Fiquei imóvel, uma mão na cabeça e a outra agarrando o volante com força. Meu coração batia como um tambor furioso no peito e meu corpo trêmulo ainda não me obedecia. Então tirei o sinto e eu abri a porta. Saí, tropeçando nos meus próprios pés completamente confusa.

Olhei para além do parabrisa quebrado. Meu Deus… o que eu fiz? A cena era aterrorizante. O homem deitado no chão, a moto caída a poucos metros dele completamente distorcida, os farois ainda acesos. Corri e ajoelhei ao lado do homem. Ele estava de bruços, o rosto virado para o lado ainda com o capacete.

— Não… não, não, não!

Meus olhos pararam no ferimento que sangrava na perna. Com o impacto, o asfalto rasgou a calça preta e chegou até a pele. Senti meu corpo amolecer com aquela visão.

Toquei seu pulso.

— Acorde... Por favor!

Sem resposta. Ele não se mexia.

— Ligue para a emergência. — alguém ordenou

Emergência! Ligue! Foi aí que meu sentidos voltaram a funcionar. Tirei meu celular do bolso do casaco com as mãos tremulas. Disquei o número. Cada toque parecia ecoar como um grito dentro da minha mente, enquanto eu praguejava desesperadamente para que alguém atendesse do outro lado da linha.

Atenda isso, droga!

Finalmente, após alguns segundos que pareceram durar uma eternidade, uma voz respondeu do outro lado.

— Alô, emergência. Qual é a situação?

Minha voz falhou por um momento, mas forcei as palavras para fora.

— Houve um acidente. Eu... eu atropelei alguém — sussurrei, com os olhos cheios de lágrimas — acho que eu o matei.

Minutos depois o barulho das sirenes ecoavam junto com a polícia, a distância. Além disso, muitas pessoas chegaram ao local. Algumas delas me olhavam como se eu fosse uma criminosa, e a essa altura eu não sabia se elas estavam erradas.

Não o abandonei nem por um segundo. A pancada na minha cabeça doía, meu corpo tremia, meus joelhos falhavam, e para completar sentia uma pressão crescente no peito, como se não pudesse respirar direito. Estou em pânico. Meu Deus, salve-o.

— Você é uma irresponsável! — rugiu um homem apontando pra mim com raiva. — Avançou o sinal em alta velocidade, podia ter matado alguém!

Eu olhei para ele, com os olhos cheios de lágrimas, tentando me defender, mas as palavras não vinham. Minha mente estava paralisada. Que droga aconteceu?

— Eu... eu não vi!

Mas a cada palavra que eu dizia, o peso da minha culpa aumentava. Como eu fui tão burra? Como pude ser tão irresponsável, tão... distraída? Por que não percebi o que estava acontecendo? Tudo isso era culpa do maldito, Dean! Eu sabia, no fundo, que precisava culpar alguém, mas ainda assim eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo.

Assim que a ambulância chegou eu levantei vacilante do asfalto, e notei o sorriso no rosto de uma mulher. Segui o olhar dela e ali estava, duas viaturas de polícia. O que mais faltava acontecer?

— Está vendo o que você fez? Agora a polícia vai levar você presa! Você vai pagar pelo que fez! — outra voz gritou, e meu corpo gelou.

O som das sirenes pararam. E meus olhos moviam dos paramédicos que levavam o homem para a ambulância, para o dois policiais que vinham em minha direção.

— Precisamos que a senhora nos acompanhe à delegacia.

— O quê?

O outro policial, mais jovem, me olhou com desdém e mostrou às algemas:

— A senhora é suspeita de avançar o sinal, causar um acidente grave que pode levar uma pessoa a óbito. Você precisa vir conosco.

Olhei para o sangue no chão depois para as algumas em meus pulsos, e não contive as lágrimas. Eu tinha mesmo destruído minha vida em poucas horas.

E agora eu tenho uma certeza, pela primeira vez em toda minha vida eu conheci o fundo do poço. Ele é frio e solitário.

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