Uma semana tinha se passado desde a vinda de Dean e eu ainda não sabia nada sobre ele. Pelo menos, nada que valesse algo para chegar até sua família. Eu tinha chegado a algumas conclusões, breves, e talvez precipitadas, mas Dean não era um homem comum. Ninguém, comum, saberia fazer um curativo em si mesmo com tamanha precisão. As coisas ainda estavam estranhas, eu passava o dia na galeria tentando equilibrar o trabalho e a quebra dos vários contratos da organização do casamento. Tinha conseguido rescindir a maior parte dos contratos, e para minha desgraça, as mutas eram altas. Em algum momento eu teria que encontrar Carter, eu não pagaria por nada disso sozinha. Não quando ele é o causador do problema. Dia apos dia eu chegava exausta, porém algo me confortava, Dean não precisava mais de remédios. Hoje eu terei uma noite completa e livre do despertador da madrugada. Minha mente começava a aceitar o fato de tê-lo em minha casa, mesmo que ainda fosse estranho. Dean tinha uma vida fora
Um grito estridente saiu da minha garganta segundos depois de sentir seu cotovelo acertar meu rosto. A dor foi instantânea, levei as mãos ao nariz sentindo a dor martelar meus ossos faciais enquanto eu cambaleava para trás tentando não xingá-lo com todos os palavrões possíveis. Antes que eu pudesse assimilar de onde vinha a dor, sentir o sangue nas mãos.— Merda, Nora – resmungou puxando a camisa pela cabeça em um movimento rápido — Deixe-me ver isso!Eu não consegui esboçar nenhuma reação quando Dean se aproximou com a camisa embolada na minha direção. Quando tirei as mãos do rosto, o sangue escorria de um corte no meu lábio inferior. Gosto pungente, metálico, invadindo minha boca.— Você tinha que estar tão perto de mim? – perguntou com algo retórico — Levante a cabeça e respire devagar. Eu mal olhei pra cara dele. A raiva doía tanto quanto o corte em meu lábio, mas a droga da culpa era minha. Dean estava tão perto, tão grande, tão presente, que parecia ocupar todo o espaço da min
Carter estreitou os olhos, e deu um passo à frente, desafiando o tamanho de Dean. Ele parecia um menino tentando intimidar um leão, com sua camisa bem passada de botões alinhados. Seu atrevimento mascarava o medo. — Ah, agora entendi — Carter rosnou, o rosto se contorcendo na minha direção em desprezo. — Então é isso. Você já arrumou outro. Enquanto eu me afastei tentando te dar espaço, você tava aqui transando com esse… você é uma vadia. Suas palavras me cortaram como uma faca, e eu senti o sangue ferver nas minhas veias. Minhas mãos tremeram, mas antes que eu pudesse reagir, Dean se moveu. Foi rápido, quase sobrenatural, o punho cerrado zumbindo pelo ar como um projétil. Ele avançou em direção a Carter, até que o baque oco dos dedos dele acertaram o rosto de Cárter. — Não! — eu gritei, sem perceber. Empurrei as mãos contra o peito de Dean, tentando conter ele. Meu corpo magro era fraco demais para alguém com o porte dele, mas ele me viu tentar e recuou. Por um momento, ele paro
— Então é sempre culpa minha? Ok, eu não prestei atenção, e eu sempre faço isso na minha casa. Ah, mas você não tem como saber,porque não sabe nada da minha vida. Pronto, satisfeito? Ele se afastou enquanto eu banhava minha mão ardida de baixo da torneira. — Não se trata de satisfazer ninguém, — ele respondeu nitidamente zangado, — Você tem essa... habilidade de ignorar o perigo quando ele está bem na sua frente. É até patético, ver como aquele idiota não tá nem ai pra você. Tá na cara dele, só você não percebeu. Meu peito apertou com a bomba de palavras, meu sangue fervendo na mesma intensidade da panela que acabou de me queimar. Ah, eu não darei esse gosto a você. — E você, o que é? Meu guarda-costas agora? Porque, pra ser sincera, você tá falando como se fosse dono da verdade, mas não sabe nada sobre nada. Alias, se soubesse que não estaria aqui ainda não é. Foda-se você com sua superioridade e soberba, foda-se toda essa merda de vida. Voltei a respirar olhando pra ele. de rep
— Você só pode estar louca, Rachel. — esbravejei entrando no meu carro — Videntes? Sério? Vai jogar dinheiro fora! Rachel revirou os olhos enquanto fechava o cinto. — Se eu contasse antes, você não iria comigo. — Tem toda razão, não iria mesmo. — Nora, sua insensível, você só diz isso porque está prestes a se casar — Ralhou ela — mas eu não. Caramba, eu tenho 27 anos e com nenhum cara rolou conexão. Só pode ter alguma coisa errada. Olhei para a aliança de noivado dourada no meu dedo no mesmo instante que o sol tocava a jóia pelo vidro do carro. Eu vinha tentando não me arrepender de tê-la convidado para ser madrinha no casamento. O convite, inevitavelmente, tocou a num ponto fraco que ela tentava de todas as formas não pensar. Agora deu nisso. — Que conexão, Rachel? — questionei quase rindo, tentando não ficar para trás do sinal vermelho. — Conexão com quem? Você espera que uma cigana te dê conexões? Ela vai esvaziar sua carteira, isso sim. — Ai, cala a boca. — Rac
Isso é ridículo, eu repeti mentalmente assim que a porta se fechou atrás de nós. Mesmo que essa golpista tenha feito a cabeça de Rachel, não faria a minha. Simplesmente porque isso é ridículo. Era por isso que eu detestava esse tipo de coisa. Ignorei a tagarelice sem sentido de Rachel e enfiei a mão dentro da bolsa à procura das chaves do sedã, quando finalmente abri a porta do motorista notei minhas mãos tremendo. Meus nervos estavam gritando. Eu tinha tantas coisas do casamento para me preocupar e estou aqui, no meio de uma sessão fajuta para descobrir se o futuro namorado de Rachel existe. Saímos da rua esquisita onde encontramos a cigana e logo estávamos indo em direção ao centro comercial de Portland. Vê os prédios altos e vitrines nas ruas principais reduziram a tensão que eu sentia antes. Estamos chegando na galeria, pensei.Rachel sentada no banco do carona não parou de falar até que eu precisei interromper:— Sério, Rachel? aquela mulher estava fazendo o trabalho dela. Vo
— Você é um canalha! Todo o meu alto controle escorreu ralo abaixo assim que entrei no carro. Meu mundo estava dismoronando. Girei as chaves na ignição e dei partida. O mais rápido que eu podia para sair dali. Pra esquecer aquele desgraçado. Pisei no acelerador com força, meu carro disparou pela rua, a borracha dos pneus gritando com o atrito no asfalto. A dor me consumia a cada segundo, e era tanta que até mesmo as lágrimas que turvavam meus olhos doíam. Soquei o volante com ódio. — Maldito! — gritei — Como pôde? Como pôde fazer isso comigo? Seis longos anos juntos, jogados fora! A gente ia casar em dois meses, droga. Mordi o lábio entando conter meu desespero. Eu estava morando na sua casa! Como eu não percebi isso, como? Meu coração se partia cada vez que eu lembrava da cena dos dois aos beijos. Do sorriso que deveria ser pra mim. A rua era um borrão de luzes e sombras enquanto eu dirigia, completamente destruída. Nada mais importava. Tudo que tínhamos planejado pro
Hoje cedo, dei um beijo no meu noivo ao sair para trabalhar no meu sedã branco, encontrei Rachel para o almoço no salão de festas que contratei para a festa de casamento. Até aquele momento eu não podia imaginar que uma sequência de acontecimentos iam me trazer onde estou pondo os pés agora. Devia ter anoitecido em algum momento no trajeto até a delegacia, mas eu nem mesmo pude perceber, estava apenas sendo levada pela maré direto para o fundo. A ante sala da delegacia estava bem iluminada por um excesso de lâmpadas fluorescentes que pareciam refletores virados para mim. Ofuscando minha visão ao olhar para o policial que me algemou. Ele disse que eu teria que falar com o delegado de plantão e depois poderia ligar para alguém. Fui levada até o delegado, um homem robusto de meia idade com olhos cansados.Ele estava atrás de uma mesa bagunçada falando estridente com alguém no telefone. Assim que me viu ao lado do policial parado na porta, interrompeu a ligação.— Ótimo, encerrando o c