Início / Romance / Um Casamento Por Razão / Capítulo 03: Alex Montenegro
Capítulo 03: Alex Montenegro

Meu olhar segue os passos de Ofélia enquanto ela sai do quarto, com os lábios apertados de frustração. Os empregados, que haviam assistido a situação à distância, parecem aliviados quando percebem que o clima tenso havia finalmente se dissipado. Um a um, eles saem em silêncio, fechando a porta do quarto da Olívia atrás de si. Solto um suspiro pesado, sentindo meus ombros relaxarem um pouco. Quando me viro para Olívia, encontro-a sentada no chão, seus olhos vidrados, perdidos em um ponto qualquer do chão de madeira. Seus dedos finos arranham a própria pele com uma leveza quase automática, um reflexo da angústia silenciosa que eu conhecia bem.

Sinto um aperto no peito ao vê-la assim, tão fragilizada e tão distante. O silêncio entre nós é denso, mas eu sabia que ela precisava desse tempo. Aproximo-me devagar, quase sem fazer barulho. Tiro o paletó e o jogo sobre a cama, me sentando ao lado dela no chão, o mais próximo possível. Sem pedir permissão, envolvo seus ombros com um braço, puxando-a delicadamente para junto de mim. Aquele gesto era o único consolo que eu podia oferecer naquele momento. Ela não esboça resistência, mas também não retribui o abraço. Sua cabeça encosta no meu ombro, e nós permanecemos assim, em um silêncio pesado, mas familiar.

Fico pensando nas palavras certas para dizer, escolhendo cuidadosamente como abordar o que eu precisava falar sem pressioná-la demais. Finalmente, rompo o silêncio, a voz saindo suave:

— Liv... — Começo, hesitante. — Tu sabes que não vou prolongar essa discussão, certo?

Ela ergue lentamente o olhar para mim, seus olhos castanhos cheios de cansaço, como se já soubesse o que eu estava prestes a dizer. Ela não fala nada, mas aquele olhar bastava. Estávamos acostumados a nos comunicar assim, com um simples olhar, quando as palavras não pareciam suficientes ou eram difíceis demais de serem ditas.

— Precisamos encerrar ciclos, Liv. — Continuo, com cautela. — Não podemos continuar assim. Já passou da hora de deixarmos isso para trás. Recomeçar em um lugar onde as coisas sejam melhores para nós.

Fico em silêncio por um instante, observando suas reações, antes de soltar, quase num sussurro:

— Minha proposta de morarmos juntos ainda está de pé.

Ela desvia o olhar, mordendo levemente o lábio inferior, em dúvida. O silêncio se alonga, e eu espero pacientemente por sua resposta. Quando ela finalmente fala, sua voz sai baixa, quase um sussurro.

— Eu não quero incomodar-te, Alex. — Diz ela, a hesitação clara em cada palavra. — O teu apartamento... o seu espaço. Eu não quero ser um peso.

— Tu nunca serias um peso, Liv. — Respondo, imediatamente. — Muito pelo contrário. Eu adoraria ter tua companhia. O apartamento é grande, vazio e... sinceramente, é bem solitário sem ti por lá.

Ela sorri de leve, um sorriso tímido, mas que ilumina o seu rosto. Esse era o sorriso que eu queria ver mais vezes, um lampejo da Olívia de antes, daquela que sempre encontrava um motivo para sorrir, mesmo nas situações mais difíceis.

— Tu vais dormir aqui hoje? — Ela pergunta, a voz um pouco mais animada.

— Sim. — Respondo, relaxando um pouco — Tenho que aproveitar que amanhã temos o leilão. Então, o que me dizes? Aceitas a minha proposta?

Ela hesita novamente, brincando com os dedos, mas seu semblante revela que estava pensando seriamente sobre isso.

— Eu preciso pensar um pouco mais. — Responde, com sinceridade. — É tentador, mas... ainda não sei se estou pronta para sair daqui.

— Não há pressa. — Digo, suavemente. — Leve o tempo que precisar. Só quero que tu te sintas bem e segura, seja onde for.

Acaricio seus cabelos antes de inclinar a cabeça e depositar um beijo suave na sua testa. Fico de pé e aliso as roupas, tentando afastar a sensação de peso que pairava sobre nós.

— Vou te deixar descansar agora. — Falo, com um sorriso gentil. — O pai me pediu para resolver umas coisas, mas mais tarde podemos ver um filme, se quiser. O que achas?

— Que tal os filmes do Tim Burton? — Ela sugere, com um brilho no olhar que não via há algum tempo. — Faz tempo que não assistimos.

— Ótima escolha. — Digo, sorrindo. — Então, até mais tarde.

Saio do quarto com um último olhar para Olívia, ainda sentada no chão, agora com uma expressão um pouco mais leve. Fecho a porta atrás de mim e dou alguns passos no corredor, mas paro abruptamente ao ver minha mãe vindo na minha direção. Seu andar é apressado, e a expressão dura em seu rosto deixa claro que não estava nada satisfeita.

— A Olívia está aí? — Ela pergunta, sem rodeios.

Faço que sim com a cabeça.

— Ótimo. — Ela diz, ainda mais séria. — Ela precisa ouvir umas boas verdades. Estou farta dessas atitudes, Alex. Sabe o que aconteceu? Ela atacou a Ofélia! Sem motivo algum!

Minha mãe tenta passar por mim, mas rapidamente bloqueio a porta, impedindo sua passagem.

— Alex, me deixe passar. — Ela diz, a voz carregada de autoridade. — Eu sou sua mãe.

— E eu sou o irmão dela. — Respondo, mantendo minha postura firme. — Ser minha mãe não te dá o direito de vir aqui e julgar a Olívia sem ouvir o lado dela. Sabemos como Ofélia pode ser provocativa, mãe.

Ela me encara, chocada com minha resposta, como se não acreditasse no que eu estava dizendo.

— Alex, isso não justifica. Ela a atacou! Violência não se resolve assim.

— E eu concordo, mas também não podemos ignorar que Ofélia provocou. E se vamos resolver isso, tem que ser de forma justa, com as duas presentes. Você sabe que isso nunca acontece. — Insisto, minha voz mais firme do que antes. — Não podemos continuar com esse favoritismo. Se você quer justiça, tem que ouvir ambos os lados.

Minha mãe cruza os braços, balançando a cabeça.

— Ofélia é sensível, Alex. Ela não aguenta essas situações. Quero resolver isso sozinha.

— Sensível? — Rio sem humor. — Mãe, Ofélia não é mais uma criança. Você a trata como se fosse frágil, mas ela sabe muito bem o que está fazendo. E lembre-se de uma coisa: Olívia também é sua filha.

O silêncio entre nós se alonga enquanto ela me encara, os olhos escurecendo de frustração. Mas, no fim, ela não diz mais nada. Dá meia-volta e sai. Solto um suspiro pesado e encaro meu celular ao sentir a vibração de uma notificação. Uma mensagem de Olívia aparece na tela: "Obrigada, Alex."

Passo a mão pelo rosto, exausto. Sabia que os próximos dias seriam desafiadores.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo