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Capítulo 08: Damien Carter

Assim que acordo, sinto uma dor de cabeça latente, como se tivesse estado horas sob uma sensação de tortura. Faço uma careta ao tentar levantar da cama; ainda estou com as roupas da noite anterior. Ergo o pulso e vejo que são 4:30 PM de sábado. Sinto-me aliviado, porque hoje não tenho nenhum trabalho. Detesto ter que faltar com as minhas obrigações. Pego o celular e vejo várias chamadas perdidas da minha mãe. Suspiro fundo, já sabendo que, provavelmente, ela queria saber como foi o jantar com a filha da amiga dela. Aperto a tecla e deixo que seu número chame. Quando ela atende, não ouço seus gritos histéricos sobre as atualizações, apenas um:

“Não se esqueça do leilão dos Montenegro, será dentro de horas.”

Por um momento, eu tinha esquecido que hoje seria o leilão dos Montenegro. Olhei para as minhas vestimentas e lembrei que não tinha vindo de carro. Recolho meus pertences e faço o check-out antes de pegar o primeiro táxi para casa.

Ao entrar, sou recebido pelos olhares julgadores da minha mãe. Ela nada diz, apenas caminha em direção ao meu pai e ajeita sua gravata. Ethan desce as escadas. Não me lembro da última vez que ele apareceu tão arrumado assim.

— É bom que não se atrase, Damien Carter.

Minha mãe dá sua última sentença, como se fosse uma ordem irrevogável. Meu pai me encara, transmitindo que devo aceitar sem questionar, para não perturbar sua esposa. Ethan, por sua vez, passa por mim como se não tivesse me visto. Subo as escadas até o meu quarto, tiro as roupas e entro no banho. A dor de cabeça lentamente começa a dissipar, mas eu adoraria poder dormir um pouco mais. Contudo, o leilão é um evento importante, especialmente para os negócios da Orion, e, sem contar, que preciso fechar o acordo com a Elysium o quanto antes para assumir a posição de CEO. Sei que não posso correr muito, pois Ethan não está tão interessado.

Após um longo banho, vejo que estou pronto. Ficarei apenas algumas horas, e depois disso irei embora. Desço as escadas novamente, pego as chaves do carro e dirijo tranquilamente pelas ruas de Manhattan até chegar em Upper East Side. Já está escuro, e as luzes dos postes e dos carros iluminam o caminho, refletindo no asfalto molhado pela chuva que caiu mais cedo. Não me recordo exatamente onde ficava a casa dos Montenegro, então sigo minha intuição em meio aos veículos que chegam. Estaciono após os guardas da mansão liberarem a minha passagem. Desço e observo o lugar. A mansão tem um ar acolhedor, o jardim é bonito e extenso, com flores que parecem dançar sob a luz suave dos holofotes estrategicamente posicionados. No céu, as estrelas tímidas se escondem por trás de nuvens escuras, e, ao fundo, ouço uma música calma que complementa a atmosfera elegante do local.

Enquanto um dos empregados me conduz ao salão onde ocorrerá o evento, mal presto atenção aos detalhes do caminho, até que algo me faz parar. Uma mulher de vestido verde atravessa meu campo de visão. O tecido cobre seus braços, e ela usa luvas que dão um ar refinado e misterioso. Seu cabelo está preso, mas duas mechas loiras soltas emolduram seu rosto de forma delicada. Não consigo ver seu rosto completamente, mas algo em sua postura chama minha atenção, quase como se ela estivesse absorvida em pensamentos.

Antes que eu possa pensar mais sobre ela, um grito estridente interrompe minha concentração.

— Damien!!! — A voz de Ofélia ecoa antes que ela tente se aproximar e colocar as mãos em mim. Eu a impeço e ela sorri, sem jeito. — Estou tão feliz por você estar aqui! Quando meu pai disse que vocês viriam, eu não imaginei que você realmente viria.

— Ofélia, também estou feliz em te ver. — Ofélia é uma das filhas de Orlando Montenegro. Modelo, bonita e carismática, já tínhamos ficado juntos algumas vezes, mas nada sério.

— Sabe a novidade do ano? Serei uma das atrações do leilão ao lado da idiota da minha irmã. — Ela disse, revirando os olhos. — Acredita que ela me atacou do nada?

Ofélia sempre me falou da irmã, mas nunca a conheci pessoalmente. Eram gêmeas, mas a relação entre elas parecia complicada.

— A relação de vocês parece mesmo ser bem complicada...

Antes que Ofélia pudesse responder, vejo seus olhos se fixarem em um ponto atrás de mim. Eu acompanho seu olhar e vejo a mulher do vestido verde. É Olívia, a irmã gêmea de Ofélia. Embora sejam idênticas, algo na presença de Olívia me atrai de um jeito diferente.

— Ela realmente veio... — Ofélia sussurra, ajeitando-se antes de completar, com um sorriso forçado. — Nos falamos depois, Damien. Espero que você aproveite o leilão. Não é qualquer um que vai ter a sorte de passar uns dias comigo.

Ela se afasta como se eu estivesse realmente interessado em passar mais tempo com ela. Ofélia parece esquecer que eu sigo a regra de nunca me envolver demais com ninguém. Foi bom passar um tempo com ela, mas não significa que eu queira mais do que isso.

Pego uma taça de champanhe e caminho em direção ao senhor Montenegro, que estava saudando meus pais ao lado de Olívia e Alex. Chego sutilmente, a tempo de ouvir um pouco da conversa.

— Olívia, como tem passado? Espero que esteja bem depois do infortúnio. — Minha mãe pergunta, com um olhar preocupado. Olívia sorri de forma fraca e desconfortável, enquanto sua irmã a observa.

— Agora, estou bem.

Todos sorriem, menos ela. Conheço aquela expressão, e me pergunto o que de fato aconteceu. Assim que fico perto o suficiente, cumprimento todos e me junto à minha família. Os Montenegro saem para saudar outros convidados, e então quando estamos sozinhos o meu pai diz:

— Você não deveria ter dito aquilo, Celine.

— Joseph, eu só estava curiosa. A menina deve estar traumatizada.

— Traumatizada por quê?

— Querido, você não sabia? Olívia Montenegro, nos primeiros anos de faculdade, acabou sendo sequestrada pelo reitor dela. Ela ficou desaparecida por anos até finalmente conseguir escapar. O reitor morreu ao oferecer resistência. Ninguém sabe ao certo suas motivações. Olívia não sofreu nenhum tipo de abuso, mas alguns dizem que eles eram amantes. Ninguém sabe ao certo, e ela não fala sobre isso.

Ouço minha mãe falar e volto meu olhar para Olívia. Ela está com o irmão, e nossos olhares se cruzam por alguns segundos. Há algo nos olhos dela, uma profundidade que me hipnotiza. É como se estivessem cheios de segredos, escondendo verdades que ninguém se atreve a perguntar. E, naquele breve momento, sinto que quero saber mais, que preciso entender quem é a verdadeira Olívia Montenegro. Mas antes que eu possa me aprofundar no olhar dela, ela vira o rosto, quebrando o contato. Fico ali, frustrado e curioso, tentando entender o que exatamente me chamou a atenção.

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