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Capítulo 09: Olívia Montenegro

Embora eu estivesse confiante de que me sairia bem durante o evento, o medo começou a tomar conta de mim assim que entrei no salão e vi a quantidade de pessoas no leilão. Meu coração disparou, as mãos tremiam levemente, e os meus pés pareciam querer vacilar a cada passo. Os olhares curiosos, os sussurros discretos, o som suave de música clássica ao fundo... tudo aquilo começou a se misturar numa cacofonia desconfortável, como se o mundo ao meu redor estivesse comprimido e me observando de perto. Era como se, de algum modo, eu estivesse fazendo algo de errado. Respirei fundo, tentando afastar o nó que começava a se formar no meu estômago, e continuei andando.

Ao longe, meus olhos encontraram o olhar firme e crítico da minha mãe. Mesmo à distância, pude perceber que ela não estava nada satisfeita com o meu visual. Seu pedido havia sido simples: que eu deixasse o cabelo todo natural, sem as mechas loiras que eu insistia em manter. Provavelmente, aquilo a deixara furiosa. Para evitar que a noite se transformasse num desastre completo, decidi ficar próxima de Alex, que me recebeu com um sorriso genuíno. Seus olhos tinham uma gentileza que me confortava, um contraste acolhedor em meio à frieza do evento.

— Você está linda, Olívia — ele disse, e senti minhas tensões diminuírem por um breve momento.

A segunda pessoa com quem sinto mais conexão, claro, é meu pai. Ele parecia genuinamente feliz em me ver ali. Acho que, para ele, esta era uma pequena vitória, me ver presente num evento depois de tanto tempo. Seu sorriso era leve, e ele fez questão de me abraçar carinhosamente, algo que eu não esperava, mas apreciei.

— Está se sentindo bem? — ele perguntou, enquanto me afastava um pouco para observar melhor meu rosto. — Qualquer coisa, sabe que pode ir embora a qualquer momento.

— Estou bem, pai. É sério. — Assenti, tentando convencê-lo e a mim mesma ao mesmo tempo. — Quero ficar.

Após trocarmos algumas palavras, Alex e meu pai decidiram que era hora de cumprimentar os Carters. Eu não os conhecia muito bem, mas sabia que eram uma das famílias mais influentes da cidade e tinham dois filhos: Damien, o primogênito, apenas alguns meses mais velho que Alex, e Ethan, o caçula. Quando nos aproximamos, fui surpreendida pela senhora Carter, uma mulher de elegância impecável e um sorriso meticulosamente treinado.

— Olívia, como tem passado? Espero que esteja bem depois do infortúnio. — Ela falou, estendendo a mão e me observando com um olhar que parecia perfurar minha alma.

Aquela pergunta me pegou de surpresa. Foi estranho, porque era uma pergunta que só minha terapeuta e Alex faziam com alguma frequência. Eu hesitei antes de responder, sentindo-me um pouco exposta, mas sorri de volta e murmurei:

— Agora, estou bem.

Antes que o momento ficasse ainda mais desconfortável, Damien apareceu. Ele era extremamente alto, sua figura imponente quase me fez sentir pequena. Sua presença era marcante, com uma voz grave que reverberava suavemente no ar. Seus olhos escuros tinham um brilho intenso, profundo, como se pudessem ver através das pessoas. O cabelo curto e perfeitamente alinhado, os ombros largos, tudo nele transmitia uma confiança calculada. Ele era, sem dúvida, um homem bonito. Mas não tanto quanto Ethan, que, para mim, tinha uma beleza mais natural e acessível, quase gentil. Era como se ele fosse mais verdadeiro, menos polido que os outros ao nosso redor.

Cumprimentei todos com um sorriso educado, tentando não me perder nos meus pensamentos enquanto Alex e meu pai continuavam a trocar amenidades com a família. Fiquei vagamente atenta às conversas, até que me senti sufocada e desejei fugir dali por um momento.

— Vou até o jardim respirar um pouco de ar fresco. Volto antes do leilão começar — avisei, aproveitando a primeira oportunidade para escapar.

No caminho, vi Ofélia, que parecia estar à minha espera. Seus olhos verdes me fitavam de cima a baixo, analisando cada detalhe do meu visual, antes de exibir um sorriso que não escondia a provocação. Ela estava deslumbrante em um vestido vermelho que destacava suas curvas, o decote generoso quase atraindo olhares indesejados. Seu cabelo estava solto e brilhante, e os olhos marcados pela maquiagem pareciam ainda mais penetrantes.

— Olha só quem resolveu aparecer... — ela disse, aproximando-se com passos calculados, a voz carregada de sarcasmo. — Só porque está arrumada e em roupas elegantes, não significa que pode mudar a sua essência, Olívia. Ainda dá tempo de desistir e sair daqui antes que faça algo embaraçoso.

Eu mantive meu sorriso, agora mais afiado. Se fosse alguns anos atrás, talvez essas palavras tivessem me feito chorar, me perguntando por que minha irmã parecia me odiar tanto. Mas hoje, enxergava aquilo de outra forma. As palavras de Ofélia eram um reflexo das suas próprias inseguranças. Ela cresceu recebendo toda a atenção e os elogios de nossa mãe, acreditando ser a perfeição em pessoa. Dividir o mesmo espaço comigo, com o mesmo rosto, era um pesadelo para ela. Não que eu gostasse dessa rivalidade. Honestamente, eu também odiava tudo isso.

Continuei andando até chegar ao jardim. O ar fresco e o silêncio do lugar eram um alívio bem-vindo após o caos do salão. Me sentei em um banco próximo à fonte, e, por um momento, me permiti relaxar. As memórias me inundaram de repente, transportando-me para uma época mais simples, quando eu brincava ali com Alex. Ele ria, eu ria... éramos só duas crianças se divertindo. O som suave da água caindo na fonte era reconfortante, quase hipnótico. Mas então, uma voz quebrou o silêncio.

— Não é uma grande apreciadora de eventos, não é?

Virei-me, surpresa, e vi um homem vindo em minha direção. Ele era loiro, com olhos azuis intensos, vestindo um terno preto sob medida que se ajustava perfeitamente ao seu corpo atlético. A sua presença tinha algo de elegante e tranquilo, e eu não pude evitar sentir um leve nervosismo ao encará-lo. Havia algo nele, uma familiaridade que eu não conseguia identificar.

— Não sou — admiti, tentando soar casual. — Presumo que você também não seja, certo?

Ele sorriu, e meu nervosismo aumentou. Era um sorriso charmoso, fácil, como se ele estivesse se divertindo comigo.

— Depende. Quando eventos como este me colocam diante de alguém como você... talvez eu até goste.

Senti minhas bochechas corarem, e desviei o olhar para a fonte, tentando esconder meu embaraço. O vento fresco da noite acariciou meu rosto, e, por um momento, me senti grata por isso. Ficamos em silêncio por um tempo, apenas sorrindo um para o outro. Eu queria dizer algo, perguntar quem ele era, mas as palavras ficaram presas na minha garganta. Antes que eu conseguisse encontrar uma desculpa para puxar assunto, um dos empregados do evento se aproximou.

— Senhorita Olívia, o leilão vai começar em breve. A senhora Montenegro pediu que se reúna com os demais.

Eu me levantei, e o homem fez o mesmo. Só então percebi o quanto ele era alto, imponente. Ele me olhou com um sorriso discreto, como se estivesse guardando um segredo.

— Acho que preciso ir. Como devo chamá-lo? — perguntei, ainda curiosa.

Ele inclinou a cabeça para o lado, o sorriso brincalhão surgindo novamente.

— Alguém ninguém.

— Pensei que fosse me dizer seu nome — insisti, tentando decifrá-lo. — “Alguém ninguém” não parece um nome muito convincente.

Ele riu, se aproximando de mim até que eu pudesse sentir o calor do seu corpo contra o meu. Meu coração acelerou, e o resto do mundo pareceu desaparecer por um instante.

— Pensei que você fosse se lembrar — disse ele, a voz baixa e gentil. — Estou um pouco ofendido, mas tudo bem.

Eu queria perguntar mais, entender o que ele queria dizer, mas o empregado apareceu novamente, impaciente. Eu fui obrigada a me afastar e voltar para o salão, mas antes de ir, lancei um último olhar para trás. Ele estava parado ali, me observando, e havia algo nos olhos dele, algo que eu deveria reconhecer.

Céus, por que sou tão ruim em memorizar rostos?

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