Eu segui Ofélia até a biblioteca em completo silêncio. Meu coração estava inquieto, mas minha mente estava ainda pior, completamente tomada por pensamentos desconexos. O que eu poderia dizer a ela? Como começar uma conversa que parecia impossível de se ter? A verdade era que aquela era a primeira vez, em anos, que tínhamos um momento de interação sem gritos, acusações ou olhares carregados de desprezo. A biblioteca era um ambiente silencioso e acolhedor, mas naquele momento o ar parecia pesado. As altas estantes repletas de livros formavam corredores intermináveis, e o cheiro de papel antigo se misturava ao perfume sutil que Ofélia usava. Assim que entramos, ela se dirigiu a uma cadeira próxima à janela, sentando-se de forma casual, como se tentasse não demonstrar a tensão que claramente sentia. Eu, por outro lado, me sentei na cadeira em frente a ela, ajustando a barra do meu vestido com dedos trêmulos. Sua expressão era difícil de ler. Os olhos dela, tão semelhantes aos meus, pare
A casa dos sonhos de Olivia e Damien era tudo o que um dia imaginaram, e talvez até mais. Situada em uma região tranquila, cercada por árvores frondosas e um extenso jardim colorido, o lar que construíram era cheio de vida e significado. Cada canto parecia contar uma história, cada detalhe carregava um pedaço do amor e da luta que os uniu. No jardim, os gêmeos Ian e Matteo corriam descalços, rindo alto enquanto perseguiam um ao outro. Ian, o mais destemido dos dois, liderava a brincadeira, fingindo ser um aventureiro em busca de um tesouro. Matteo, por outro lado, preferia observar antes de agir, mas nunca ficava muito atrás do irmão. — Matteo, rápido! O dragão vai pegar você! — gritou Ian, segurando um pedaço de graveto que imaginava ser uma espada. — Não! Eu sou o dragão, e você tem que correr! — Matteo respondeu, com as bochechas coradas de tanto rir. Enquanto os dois disputavam quem era o herói e quem era o vilão da brincadeira, Damien estava sentado em uma espreguiçadeira na
Carl Sagan disse uma vez que, se quisermos fazer uma simples torta de maçã, precisamos inventar o universo. Sim, uma simples torta requer esse processo todo. Quando ele fala sobre inventar o universo, refere-se ao início de tudo. Todas as coisas que conhecemos na vida partem de um início. Mas, para que existam começos, é preciso que fins sejam declarados. O que fazemos, então, quando nos encontramos presos em um ciclo vicioso? Como quebramos esse ciclo de uma vez por todas?Essa pergunta ecoa em minha mente sempre que estou diante de uma situação que exige uma resposta. Sinto que minha vida está presa nesse ciclo repetitivo: reclamar sobre o quanto sou controlada pelos meus pais e, no fim, ceder às suas imposições. Parece simples, mas há algo mais sombrio quando o que enfrentamos é uma relação de poder. Quando estamos à mercê de regras que não fomos nós que criamos, e cada tentativa de fuga é rapidamente sufocada.Eu costumava me refugiar no hipismo, a única coisa que me traz paz. Car
Assim que saio da sala de reuniões com as minhas tias, finjo que estou indo para outro cômodo, mas, ao ver o corredor vazio, corro silenciosamente até a porta para escutar a conversa entre minha irmã e mãe. O tapete felpudo do corredor abafa meus passos, e me posiciono atrás da porta de madeira maciça, sentindo o frio que emanava dela.As palavras de minha mãe ecoam pelo ambiente, como uma música já ensaiada várias vezes: criticar Olívia, apontar suas falhas, e exaltá-la à força para corresponder às expectativas de ser uma Montenegro. A minha mãe não cansa de usá-la como bode expiatório e, como sempre, sou eu quem sirvo de exemplo. A filha perfeita. Meu nome é invocado, como sempre. Eu, o espelho da perfeição. E Olívia... bem, ela nunca entenderá isso. Se ela não fosse minha irmã gêmea, eu diria que foi adotada, tamanha é a diferença entre nós.Um sorriso divertido brota em meus lábios quando ouço minha mãe mencionar como ela precisaria abandonar essa ideia tola de se esconder atrás
Meu olhar segue os passos de Ofélia enquanto ela sai do quarto, com os lábios apertados de frustração. Os empregados, que haviam assistido a situação à distância, parecem aliviados quando percebem que o clima tenso havia finalmente se dissipado. Um a um, eles saem em silêncio, fechando a porta do quarto da Olívia atrás de si. Solto um suspiro pesado, sentindo meus ombros relaxarem um pouco. Quando me viro para Olívia, encontro-a sentada no chão, seus olhos vidrados, perdidos em um ponto qualquer do chão de madeira. Seus dedos finos arranham a própria pele com uma leveza quase automática, um reflexo da angústia silenciosa que eu conhecia bem.Sinto um aperto no peito ao vê-la assim, tão fragilizada e tão distante. O silêncio entre nós é denso, mas eu sabia que ela precisava desse tempo. Aproximo-me devagar, quase sem fazer barulho. Tiro o paletó e o jogo sobre a cama, me sentando ao lado dela no chão, o mais próximo possível. Sem pedir permissão, envolvo seus ombros com um braço, puxan
Orion Global Enterprises é uma empresa multinacional que opera em diversos setores estratégicos, sendo referência em Tecnologia e Inovação; Energia e Recursos Naturais; Imobiliário e Construção; Finanças & Investimentos; Saúde & Farmacêutica e Agro-indústria. Com forte presença nos principais mercados globais, como China e Japão, a Orion Global Enterprises se destaca pela capacidade de inovar, expandir e integrar soluções de impacto, promovendo o desenvolvimento sustentável e a transformação de indústrias ao redor do mundo.Combinando expertise local com uma visão global, a empresa oferece produtos e serviços de alta qualidade, sempre buscando o equilíbrio entre inovação tecnológica e responsabilidade social. Agora, assim como meu pai fez comigo, é chegada a hora de passar essa responsabilidade de liderar para um dos meus filhos.Se eu pudesse escolher, seria Damien. Ele é focado, dinâmico e totalmente comprometido aos negócios, me lembrando dos meus anos de juventude. No entanto, ao
— Você vai participar dessa competição? Pergunto a Damien assim que saímos da sala de reuniões na nossa empresa.Ele para no corredor, ainda com os olhos presos aos documentos que segurava, mas logo ergue o olhar para mim. Seus olhos frios parecem me analisar, como se estivesse pesando cada palavra antes de falar. Esse é o estilo dele — sempre calculado, sempre um passo à frente, ou pelo menos ele acha que está.— Isso não é uma competição, Ethan — Ele responde, com o tom casual de quem faz uma constatação óbvia. — Para que fosse uma competição, seria necessário um adversário à altura. E você, definitivamente, não é um.O desprezo escorre nas palavras como veneno, e a tensão no ar é palpável. É um padrão em nossas interações: Damien sempre tenta me diminuir. Mas, desta vez, sinto uma neutralidade tomar conta de mim. Nossas relações nunca foram boas, e eu já deixei de me importar em tentar entender onde foi que as coisas começaram a se romper entre nós.— Se eu não fosse um adversári
Enquanto analisava os documentos da Elysium Holdings, tentando traçar uma estratégia para o acordo de distribuição, ouvi batidas leves na porta. Soltei um suspiro e coloquei a esferográfica de lado. Sem tirar os olhos dos papéis, respondi com uma voz baixa, mas firme:— Entre.Os passos elegantes que seguiam em minha direção eram familiares. Minha mãe entrou no escritório como quem já sabe que está no comando, com a postura impecável e um brilho característico nos olhos. Era aquele olhar que sempre significava problemas — ou, como ela preferia, “soluções”.— Pela sua cara, parece que não está feliz em me ver — Começou, balançando a cabeça levemente, como se minha expressão contrariada fosse um exagero.Me esforcei para manter a calma. Quando Celine Carter vinha até mim assim, cheia de confiança, significava que eu estava prestes a ser envolvido em mais uma de suas tramas. Respirei fundo e tentei manter a paciência.— Mãe, estou no meio de algo importante. Vá direto ao ponto, por favor