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Capítulo 02: Ofélia Montenegro

Assim que saio da sala de reuniões com as minhas tias, finjo que estou indo para outro cômodo, mas, ao ver o corredor vazio, corro silenciosamente até a porta para escutar a conversa entre minha irmã e mãe. O tapete felpudo do corredor abafa meus passos, e me posiciono atrás da porta de madeira maciça, sentindo o frio que emanava dela.

As palavras de minha mãe ecoam pelo ambiente, como uma música já ensaiada várias vezes: criticar Olívia, apontar suas falhas, e exaltá-la à força para corresponder às expectativas de ser uma Montenegro.

A minha mãe não cansa de usá-la como bode expiatório e, como sempre, sou eu quem sirvo de exemplo. A filha perfeita. Meu nome é invocado, como sempre. Eu, o espelho da perfeição. E Olívia... bem, ela nunca entenderá isso. Se ela não fosse minha irmã gêmea, eu diria que foi adotada, tamanha é a diferença entre nós.

Um sorriso divertido brota em meus lábios quando ouço minha mãe mencionar como ela precisaria abandonar essa ideia tola de se esconder atrás de uma aparência simplória. Como se sua essência pudesse mudar com uma nova roupa ou penteado.

De repente, a porta se abre de forma abrupta, fazendo meu coração pular, mas rapidamente dou um passo para trás, mantendo a compostura. Olívia sai do cômodo com passos pesados e a expressão que ela traz no rosto é de pura raiva. E isso só me diverte mais. Um sorriso satisfeito surge no meu rosto, mas é rapidamente coberto pelo tédio crescente. Não há muito mais a ganhar com essa cena.

Decido segui-la, em passos lentos, quase preguiçosos. Olívia sempre foi interessante de observar, como um animal selvagem preso em uma jaula, incapaz de escapar do que é.

Quando chego ao seu quarto, a porta está entreaberta, e os sons abafados de gritos e frustração ecoam de dentro.

Empurro a porta devagar, oscilando entre a diversão e o desprezo. Ali está ela, desferindo socos em um travesseiro, como uma criança mimada em um acesso de raiva. A cena quase me faz rir alto, mas eu me contenho. Ao invés disso, cruzo os braços e a observo em silêncio antes de falar.

— Sabe, até que você é engraçada, Olívia.

Minha voz ecoa no quarto, fazendo com que ela pare de imediato, e vire-se para me encarar.

Seus olhos, ainda vermelhos pela raiva, se estreitam ao me ver.

— Sempre quis saber qual era a cara do fracasso. — Dou alguns passos lentos, me deliciando com o impacto das minhas palavras. — E agora, te vendo assim, vejo o quanto você representa tão bem essa imagem. Diga-me, como é viver do lado feio da moeda?

Olívia levanta-se da cama com a rapidez de um predador ferido. Seus olhos são frios e seu corpo todo parece pulsar com raiva. Ela caminha até mim, sua proximidade seria intimidadora para qualquer outro, mas tudo que eu sinto é o cheiro forte de cavalo que ela carrega. É quase nauseante, mas eu me recuso a deixar transparecer qualquer sinal de fraqueza.

— Saia do meu quarto agora, Ofélia.

Sua voz sai tensa, controlada, como se estivesse se segurando para não me atacar ali mesmo.

— Não quero. — Respondo calmamente, inclinando a cabeça. — Os incomodados que se retirem. Está incomodada? Então vá embora. Pare de fingir, Olívia. Nossas vidas seriam muito melhores se você não estivesse aqui. Todos nós sabemos disso.

A tensão no ar é palpável. Consigo ver o esforço dela em manter a calma, os punhos cerrados ao lado do corpo, as narinas dilatando a cada respiração forçada. Ela está à beira de um colapso, e isso só me faz querer continuar.

— Você odeia o fato de que sou tudo aquilo que você sempre quis ser, desde criança. — Dou mais um passo à frente, ficando perigosamente perto. — Mesmo tendo um rosto igual ao meu, você nunca vai conseguir. És tão medíocre que nem um rosto bonito te coloca no mesmo patamar que o meu. Mas relaxa, Olívia, você não é a única. Eu também odeio o fato de termos o mesmo rosto. Seria muito mais fácil se você tivesse morrido naquele sequestro.

O tapa veio mais rápido do que eu poderia prever, a dor queimando no meu rosto de imediato. Sinto o impacto reverberar pela minha pele, mas tudo que faço é rir. Rir alto, quase histérica.

— Está batendo porque ouviu verdades? — Minha voz sai baixa, carregada de sarcasmo. — Você não pode fugir de quem você é, Olívia. Você sempre será um fracasso.

— Estou batendo porque essa é a única forma aceitável que eu tenho de descontar a raiva que sinto toda vez que você ousa abrir a boca. — Sua voz é quase um sussurro, cada palavra carregada de ódio. — Saia daqui, Ofélia. Se você não sair em três segundos, eu juro que não me responsabilizo pelos meus atos.

— Você realmente acha que pode me intimidar? — Dou um passo à frente, encurtando ainda mais a distância. — Escuta aqui, é melhor você não aparecer no leilão. Faça qualquer coisa, mas não estrague-

Minha fala é interrompida por outro tapa, ainda mais forte que o primeiro. Desta vez, cambaleio e caio no chão, mas me levanto de imediato, cheia de fúria. Parto para cima dela, empurrando-a contra a cama. O que se segue é uma confusão de t***s, gritos e puxões de cabelo. Não há mais controle. Tudo o que quero é destruí-la.

Os empregados entram apressados, tentando nos separar, suas vozes em pânico ecoando pelo quarto, mas eu não consigo parar. Minhas mãos se agarram aos cabelos de Olívia, puxando-os com força enquanto ela faz o mesmo comigo. Sinto o gosto de sangue nos meus lábios, mas ignoro. Alex, nosso irmão mais velho, entra correndo e me puxa pela cintura, me separando à força de Olívia.

— Vocês estão loucas? — Ele grita, o rosto contorcido de raiva. — Que inferno é esse?

— Você vai pagar por isso, Olívia. — Rosno, enquanto limpo o sangue que escorre do meu nariz. — O que é teu está guardado.

— Você vem aqui me provocar e acha ruim quando eu revido? — Olívia grita de volta, ofegante, o cabelo desgrenhado. — Pois venha, Ofélia, estarei pronta para acabar contigo.

— Chega! — Alex berra, e o silêncio imediato que se segue é quase tão violento quanto a briga. Ele nos encara com olhos duros, exasperado. — Vocês são irmãs! Será que podem, pelo menos, tentar ser civilizadas uma com a outra? Vocês deveriam ser unidas!

Eu rio, fria e amarga.

— Ela é só uma esquisita que tem o mesmo rosto que eu.

Respondo, saindo do quarto, ainda cheia de raiva.

Alex nunca fica do meu lado, ele sempre protege Olívia, como se ela fosse a vítima de tudo. Caminho até o meu quarto, fechando a porta com força. Minha respiração está pesada e a raiva borbulha em mim como um vulcão prestes a explodir. Sem pensar, arranco um dos sapatos e o arremesso contra o espelho, que se estilhaça com um estrondo.

Um grito de frustração sai dos meus lábios, e logo em seguida minha mãe entra no quarto, alarmada. Seus olhos correm pelo ambiente até pousarem no meu rosto machucado. Sabendo que aquela era a minha chance, corro até ela, fingindo um choro desesperado.

— Minha bebê, quem fez isso com você? — Ela pergunta, horrorizada. — Que tipo de monstro faria isso?

Abraço-a com força, aproveitando o momento. Desfaço o abraço devagar e abaixo os olhos, fingindo vulnerabilidade.

— Foi a Olívia, mãe. — Sussurro com a voz trêmula. — Eu só queria ajudá-la, porque sei o quanto o leilão é importante, e ela simplesmente me atacou como se fosse um animal.

O horror no rosto da minha mãe é tudo o que eu precisava. Ela me abraça novamente, com a força de alguém que deseja proteger sua filha do mundo. No fundo, já sei como isso vai acabar: Olívia será repreendida, e tudo sairá exatamente como planejei.

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