Assim que saio da sala de reuniões com as minhas tias, finjo que estou indo para outro cômodo, mas, ao ver o corredor vazio, corro silenciosamente até a porta para escutar a conversa entre minha irmã e mãe. O tapete felpudo do corredor abafa meus passos, e me posiciono atrás da porta de madeira maciça, sentindo o frio que emanava dela.
As palavras de minha mãe ecoam pelo ambiente, como uma música já ensaiada várias vezes: criticar Olívia, apontar suas falhas, e exaltá-la à força para corresponder às expectativas de ser uma Montenegro. A minha mãe não cansa de usá-la como bode expiatório e, como sempre, sou eu quem sirvo de exemplo. A filha perfeita. Meu nome é invocado, como sempre. Eu, o espelho da perfeição. E Olívia... bem, ela nunca entenderá isso. Se ela não fosse minha irmã gêmea, eu diria que foi adotada, tamanha é a diferença entre nós. Um sorriso divertido brota em meus lábios quando ouço minha mãe mencionar como ela precisaria abandonar essa ideia tola de se esconder atrás de uma aparência simplória. Como se sua essência pudesse mudar com uma nova roupa ou penteado. De repente, a porta se abre de forma abrupta, fazendo meu coração pular, mas rapidamente dou um passo para trás, mantendo a compostura. Olívia sai do cômodo com passos pesados e a expressão que ela traz no rosto é de pura raiva. E isso só me diverte mais. Um sorriso satisfeito surge no meu rosto, mas é rapidamente coberto pelo tédio crescente. Não há muito mais a ganhar com essa cena. Decido segui-la, em passos lentos, quase preguiçosos. Olívia sempre foi interessante de observar, como um animal selvagem preso em uma jaula, incapaz de escapar do que é. Quando chego ao seu quarto, a porta está entreaberta, e os sons abafados de gritos e frustração ecoam de dentro. Empurro a porta devagar, oscilando entre a diversão e o desprezo. Ali está ela, desferindo socos em um travesseiro, como uma criança mimada em um acesso de raiva. A cena quase me faz rir alto, mas eu me contenho. Ao invés disso, cruzo os braços e a observo em silêncio antes de falar. — Sabe, até que você é engraçada, Olívia. Minha voz ecoa no quarto, fazendo com que ela pare de imediato, e vire-se para me encarar. Seus olhos, ainda vermelhos pela raiva, se estreitam ao me ver. — Sempre quis saber qual era a cara do fracasso. — Dou alguns passos lentos, me deliciando com o impacto das minhas palavras. — E agora, te vendo assim, vejo o quanto você representa tão bem essa imagem. Diga-me, como é viver do lado feio da moeda? Olívia levanta-se da cama com a rapidez de um predador ferido. Seus olhos são frios e seu corpo todo parece pulsar com raiva. Ela caminha até mim, sua proximidade seria intimidadora para qualquer outro, mas tudo que eu sinto é o cheiro forte de cavalo que ela carrega. É quase nauseante, mas eu me recuso a deixar transparecer qualquer sinal de fraqueza. — Saia do meu quarto agora, Ofélia. Sua voz sai tensa, controlada, como se estivesse se segurando para não me atacar ali mesmo. — Não quero. — Respondo calmamente, inclinando a cabeça. — Os incomodados que se retirem. Está incomodada? Então vá embora. Pare de fingir, Olívia. Nossas vidas seriam muito melhores se você não estivesse aqui. Todos nós sabemos disso. A tensão no ar é palpável. Consigo ver o esforço dela em manter a calma, os punhos cerrados ao lado do corpo, as narinas dilatando a cada respiração forçada. Ela está à beira de um colapso, e isso só me faz querer continuar. — Você odeia o fato de que sou tudo aquilo que você sempre quis ser, desde criança. — Dou mais um passo à frente, ficando perigosamente perto. — Mesmo tendo um rosto igual ao meu, você nunca vai conseguir. És tão medíocre que nem um rosto bonito te coloca no mesmo patamar que o meu. Mas relaxa, Olívia, você não é a única. Eu também odeio o fato de termos o mesmo rosto. Seria muito mais fácil se você tivesse morrido naquele sequestro. O tapa veio mais rápido do que eu poderia prever, a dor queimando no meu rosto de imediato. Sinto o impacto reverberar pela minha pele, mas tudo que faço é rir. Rir alto, quase histérica. — Está batendo porque ouviu verdades? — Minha voz sai baixa, carregada de sarcasmo. — Você não pode fugir de quem você é, Olívia. Você sempre será um fracasso. — Estou batendo porque essa é a única forma aceitável que eu tenho de descontar a raiva que sinto toda vez que você ousa abrir a boca. — Sua voz é quase um sussurro, cada palavra carregada de ódio. — Saia daqui, Ofélia. Se você não sair em três segundos, eu juro que não me responsabilizo pelos meus atos. — Você realmente acha que pode me intimidar? — Dou um passo à frente, encurtando ainda mais a distância. — Escuta aqui, é melhor você não aparecer no leilão. Faça qualquer coisa, mas não estrague- Minha fala é interrompida por outro tapa, ainda mais forte que o primeiro. Desta vez, cambaleio e caio no chão, mas me levanto de imediato, cheia de fúria. Parto para cima dela, empurrando-a contra a cama. O que se segue é uma confusão de t***s, gritos e puxões de cabelo. Não há mais controle. Tudo o que quero é destruí-la. Os empregados entram apressados, tentando nos separar, suas vozes em pânico ecoando pelo quarto, mas eu não consigo parar. Minhas mãos se agarram aos cabelos de Olívia, puxando-os com força enquanto ela faz o mesmo comigo. Sinto o gosto de sangue nos meus lábios, mas ignoro. Alex, nosso irmão mais velho, entra correndo e me puxa pela cintura, me separando à força de Olívia. — Vocês estão loucas? — Ele grita, o rosto contorcido de raiva. — Que inferno é esse? — Você vai pagar por isso, Olívia. — Rosno, enquanto limpo o sangue que escorre do meu nariz. — O que é teu está guardado. — Você vem aqui me provocar e acha ruim quando eu revido? — Olívia grita de volta, ofegante, o cabelo desgrenhado. — Pois venha, Ofélia, estarei pronta para acabar contigo. — Chega! — Alex berra, e o silêncio imediato que se segue é quase tão violento quanto a briga. Ele nos encara com olhos duros, exasperado. — Vocês são irmãs! Será que podem, pelo menos, tentar ser civilizadas uma com a outra? Vocês deveriam ser unidas! Eu rio, fria e amarga. — Ela é só uma esquisita que tem o mesmo rosto que eu. Respondo, saindo do quarto, ainda cheia de raiva. Alex nunca fica do meu lado, ele sempre protege Olívia, como se ela fosse a vítima de tudo. Caminho até o meu quarto, fechando a porta com força. Minha respiração está pesada e a raiva borbulha em mim como um vulcão prestes a explodir. Sem pensar, arranco um dos sapatos e o arremesso contra o espelho, que se estilhaça com um estrondo. Um grito de frustração sai dos meus lábios, e logo em seguida minha mãe entra no quarto, alarmada. Seus olhos correm pelo ambiente até pousarem no meu rosto machucado. Sabendo que aquela era a minha chance, corro até ela, fingindo um choro desesperado. — Minha bebê, quem fez isso com você? — Ela pergunta, horrorizada. — Que tipo de monstro faria isso? Abraço-a com força, aproveitando o momento. Desfaço o abraço devagar e abaixo os olhos, fingindo vulnerabilidade. — Foi a Olívia, mãe. — Sussurro com a voz trêmula. — Eu só queria ajudá-la, porque sei o quanto o leilão é importante, e ela simplesmente me atacou como se fosse um animal. O horror no rosto da minha mãe é tudo o que eu precisava. Ela me abraça novamente, com a força de alguém que deseja proteger sua filha do mundo. No fundo, já sei como isso vai acabar: Olívia será repreendida, e tudo sairá exatamente como planejei.Meu olhar segue os passos de Ofélia enquanto ela sai do quarto, com os lábios apertados de frustração. Os empregados, que haviam assistido a situação à distância, parecem aliviados quando percebem que o clima tenso havia finalmente se dissipado. Um a um, eles saem em silêncio, fechando a porta do quarto da Olívia atrás de si. Solto um suspiro pesado, sentindo meus ombros relaxarem um pouco. Quando me viro para Olívia, encontro-a sentada no chão, seus olhos vidrados, perdidos em um ponto qualquer do chão de madeira. Seus dedos finos arranham a própria pele com uma leveza quase automática, um reflexo da angústia silenciosa que eu conhecia bem.Sinto um aperto no peito ao vê-la assim, tão fragilizada e tão distante. O silêncio entre nós é denso, mas eu sabia que ela precisava desse tempo. Aproximo-me devagar, quase sem fazer barulho. Tiro o paletó e o jogo sobre a cama, me sentando ao lado dela no chão, o mais próximo possível. Sem pedir permissão, envolvo seus ombros com um braço, puxan
Orion Global Enterprises é uma empresa multinacional que opera em diversos setores estratégicos, sendo referência em Tecnologia e Inovação; Energia e Recursos Naturais; Imobiliário e Construção; Finanças & Investimentos; Saúde & Farmacêutica e Agro-indústria. Com forte presença nos principais mercados globais, como China e Japão, a Orion Global Enterprises se destaca pela capacidade de inovar, expandir e integrar soluções de impacto, promovendo o desenvolvimento sustentável e a transformação de indústrias ao redor do mundo.Combinando expertise local com uma visão global, a empresa oferece produtos e serviços de alta qualidade, sempre buscando o equilíbrio entre inovação tecnológica e responsabilidade social. Agora, assim como meu pai fez comigo, é chegada a hora de passar essa responsabilidade de liderar para um dos meus filhos.Se eu pudesse escolher, seria Damien. Ele é focado, dinâmico e totalmente comprometido aos negócios, me lembrando dos meus anos de juventude. No entanto, ao
— Você vai participar dessa competição? Pergunto a Damien assim que saímos da sala de reuniões na nossa empresa.Ele para no corredor, ainda com os olhos presos aos documentos que segurava, mas logo ergue o olhar para mim. Seus olhos frios parecem me analisar, como se estivesse pesando cada palavra antes de falar. Esse é o estilo dele — sempre calculado, sempre um passo à frente, ou pelo menos ele acha que está.— Isso não é uma competição, Ethan — Ele responde, com o tom casual de quem faz uma constatação óbvia. — Para que fosse uma competição, seria necessário um adversário à altura. E você, definitivamente, não é um.O desprezo escorre nas palavras como veneno, e a tensão no ar é palpável. É um padrão em nossas interações: Damien sempre tenta me diminuir. Mas, desta vez, sinto uma neutralidade tomar conta de mim. Nossas relações nunca foram boas, e eu já deixei de me importar em tentar entender onde foi que as coisas começaram a se romper entre nós.— Se eu não fosse um adversári
Enquanto analisava os documentos da Elysium Holdings, tentando traçar uma estratégia para o acordo de distribuição, ouvi batidas leves na porta. Soltei um suspiro e coloquei a esferográfica de lado. Sem tirar os olhos dos papéis, respondi com uma voz baixa, mas firme:— Entre.Os passos elegantes que seguiam em minha direção eram familiares. Minha mãe entrou no escritório como quem já sabe que está no comando, com a postura impecável e um brilho característico nos olhos. Era aquele olhar que sempre significava problemas — ou, como ela preferia, “soluções”.— Pela sua cara, parece que não está feliz em me ver — Começou, balançando a cabeça levemente, como se minha expressão contrariada fosse um exagero.Me esforcei para manter a calma. Quando Celine Carter vinha até mim assim, cheia de confiança, significava que eu estava prestes a ser envolvido em mais uma de suas tramas. Respirei fundo e tentei manter a paciência.— Mãe, estou no meio de algo importante. Vá direto ao ponto, por favor
A noite passou em um breve estalo, e por um momento, quase esqueci o quão caótico havia sido o dia anterior. Meu pescoço dói, resultado de ter dormido numa posição desconfortável na cama. Abro os olhos lentamente e a primeira visão que tenho é de Alex, ainda adormecido ao meu lado. A televisão está ligada, o som baixo, e o filme parece estar no início, como se estivéssemos revivendo o mesmo ciclo de repetições. Não lembro ao certo quanto tempo ficamos acordados, mas certamente não foi muito.Levanto-me devagar para não acordá-lo e pego um cobertor para cobri-lo. Antes que eu possa fazer mais alguma coisa, a porta do quarto se abre bruscamente, revelando Constance, a governanta da casa.— A senhora Montenegro exige a sua presença no café da manhã. — Ela faz uma breve pausa, como se ponderasse se deveria dizer mais. — Imediatamente.Com a mesma rapidez com que entrou, Constance desaparece. Solto um longo suspiro, passando a mão pelos cabelos, ainda confusa com o dia que se inicia. Camin
Assim que acordo, sinto uma dor de cabeça latente, como se tivesse estado horas sob uma sensação de tortura. Faço uma careta ao tentar levantar da cama; ainda estou com as roupas da noite anterior. Ergo o pulso e vejo que são 4:30 PM de sábado. Sinto-me aliviado, porque hoje não tenho nenhum trabalho. Detesto ter que faltar com as minhas obrigações. Pego o celular e vejo várias chamadas perdidas da minha mãe. Suspiro fundo, já sabendo que, provavelmente, ela queria saber como foi o jantar com a filha da amiga dela. Aperto a tecla e deixo que seu número chame. Quando ela atende, não ouço seus gritos histéricos sobre as atualizações, apenas um:“Não se esqueça do leilão dos Montenegro, será dentro de horas.”Por um momento, eu tinha esquecido que hoje seria o leilão dos Montenegro. Olhei para as minhas vestimentas e lembrei que não tinha vindo de carro. Recolho meus pertences e faço o check-out antes de pegar o primeiro táxi para casa.Ao entrar, sou recebido pelos olhares julgadores da
Embora eu estivesse confiante de que me sairia bem durante o evento, o medo começou a tomar conta de mim assim que entrei no salão e vi a quantidade de pessoas no leilão. Meu coração disparou, as mãos tremiam levemente, e os meus pés pareciam querer vacilar a cada passo. Os olhares curiosos, os sussurros discretos, o som suave de música clássica ao fundo... tudo aquilo começou a se misturar numa cacofonia desconfortável, como se o mundo ao meu redor estivesse comprimido e me observando de perto. Era como se, de algum modo, eu estivesse fazendo algo de errado. Respirei fundo, tentando afastar o nó que começava a se formar no meu estômago, e continuei andando.Ao longe, meus olhos encontraram o olhar firme e crítico da minha mãe. Mesmo à distância, pude perceber que ela não estava nada satisfeita com o meu visual. Seu pedido havia sido simples: que eu deixasse o cabelo todo natural, sem as mechas loiras que eu insistia em manter. Provavelmente, aquilo a deixara furiosa. Para evitar que
— Mãe, você realmente vai deixar a Olívia participar do leilão? — pergunto, a indignação transparecendo na minha voz assim que ela fica sozinha após uma conversa com uma das convidadas. O sorriso dela é o mesmo de sempre, aquele que tenta me acalmar, mas que só serve para aumentar minha frustração.— Não tenho muito o que fazer, Ofélia. As nossas atrações tiveram um imprevisto e precisamos de uma substituição — responde, seu tom firme, mas não sem um toque de exaustão. Esse tipo de situação parece estar se tornando comum, e isso só me irrita ainda mais.Eu não posso acreditar que ela realmente acha que isso é aceitável. Olívia não merece esse tipo de chance. — Ela vai estragar tudo. — A minha voz se eleva.— Imagine se ela não for escolhida e atacar-me por inveja? Mãe, a Olívia me odeia porque você gosta de mim.A expressão de minha mãe muda ligeiramente, como se um feixe de preocupação cruzasse seu rosto. Mas logo, essa preocupação é substituída por uma frieza que não consigo entende