Minha curiosidade sobre o homem que conheci no jardim crescia a cada vez mais. Ele parecia conhecer pedaços de mim que eu mesma desconhecia, como se enxergasse através de uma cortina que bloqueava minhas memórias. Seus olhares, suas palavras, carregavam uma familiaridade que eu não conseguia ignorar, mas também não conseguia decifrar. A psicóloga dizia que a perda de memória era um mecanismo de defesa da mente após eventos traumáticos. Um jeito de lidar com algo que a consciência se recusava a aceitar. Mas isso nunca pareceu uma explicação completa. Era como se houvesse buracos na minha história, peças faltando em um quebra-cabeça que, mesmo incompleto, ainda me atormentava. Quando eu tentava lembrar, sentia como se minha mente estivesse presa em um labirinto, incapaz de encontrar a saída.No entanto, havia algo que eu sabia com certeza: aquele leilão era o último lugar onde eu queria estar. Detestava ser o centro das atenções, ser exibida como um prêmio, mas minha mãe insistiu para q
Vejo Olívia saindo de mãos dadas com Easton, e algo dentro de mim se contrai. Eles passam por mim como se o ambiente ao redor fosse uma extensão de seu próprio mundo, e eu fico ali, com o copo de uísque na mão, tentando entender como aqueles dois se conhecem. Olívia não parece o tipo de mulher que Easton escolheria; seu jeito, seu estilo de vida, tudo nela soa como um contraste direto ao que ele costuma buscar. Levo o copo aos lábios, e o gosto forte do uísque desce rasgando minha garganta, mas não apaga o incômodo que vai crescendo a cada segundo.Por que estou irritado? Afinal, eu sequer a conheço bem. Paguei 25 milhões de dólares por ela no leilão. Qualquer outra mulher em Nova York enlouqueceria só por ter a minha atenção, mas Olívia? Ela parecia distante, intocável. Havia uma naturalidade desarmante no jeito como falava e se portava, como se eu fosse apenas mais um nome em sua lista de contatos, e não alguém que praticamente pagou por ela.Percorro os olhos pelo salão. Poderia es
São muitas emoções para uma só noite. Penso comigo mesma logo após voltar a atenção para Easton. A sensação de nervosismo, curiosidade e as borboletas no estômago que antes tomavam conta de mim na presença dele, foram substituídas pela recente chegada de Damien. Ele apareceu tão discreto quanto ousou ser, mas seu olhar direto e sua presença imponente não passaram despercebidos.— Eu preciso ir. Falamos depois, certo? — Pergunto, tentando manter a voz firme, mas a sensação de inquietação na minha mente é clara. Ele apenas sorri, um sorriso tranquilo, antes de depositar um leve selar no canto dos meus lábios. Isso deixa meu coração acelerado e uma sensação estranha invade o meu corpo.Como posso deixar um completo estranho chegar assim tão perto de mim? Por que, em vez de afastá-lo, sinto-me segura em dar-lhe tanto espaço? O que aconteceu com minha capacidade de julgar pessoas? O quanto da minha memória eu perdi nos últimos anos?Suspiro fundo, tentando afastar os pensamentos e encontra
Dormir nunca foi uma tarefa complicada para mim. Sempre foi natural, como desligar um interruptor ao fim de um dia exaustivo. No entanto, pela primeira vez em muito tempo, virei de um lado para o outro, incapaz de silenciar os pensamentos sobre o leilão. Não me arrependo do lance. Quando os primeiros raios de sol atravessam as persianas, finalmente desisto de tentar descansar. Levanto da cama com um suspiro pesado, observando o quarto em sua desordem incomum. Caminho até a varanda, buscando clareza na brisa matinal. O céu está limpo, e o som dos pássaros se mistura ao leve borrifar do sistema de irrigação no jardim. É um momento de calma que, infelizmente, não dura.Depois de realizar minha rotina matinal, escolho roupas leves, mas elegantes, e desço para o café da manhã. Na sala de refeições, meus pais estão conversando em um tom baixo, mas a conversa cessa assim que me aproximo. Minha mãe me entrega um iPad com um sorriso enigmático.— Bom dia, Damien. — Há algo entre diversão e cur
Ofélia é quem deveria estar na matéria, e não eu. Essa frase martela na minha mente enquanto fecho a aba da página de fofocas. O brilho da tela parece zombar de mim, enquanto as mensagens continuam a chegar sem cessar. Ana, sempre curiosa, já tinha me confrontado mais cedo:— Como você se sente caindo na graça de Damien Carter? — perguntou, com um tom que oscilava entre provocação e genuíno interesse.Eu apenas dei de ombros na hora, mas a verdade era que eu não sabia como me sentia. Parte de mim, talvez uma parte que eu relutava em admitir, gostava da ideia de finalmente roubar o brilho que sempre pertenceu à Ofélia. Pela primeira vez, ela não era o centro de algo.Mas essa pequena satisfação veio acompanhada de um gosto amargo. Ser observada, analisada, colocada sob holofotes que nunca pedi... era sufocante.Tentei me concentrar no trabalho. O restaurante estava calmo naquele horário, e a vista do jardim do lado de fora sempre me ajudava a encontrar equilíbrio. O lago artificial, ce
— Ainda acho que é uma péssima ideia, Easton. — Rhianon disse enquanto ajustava o último detalhe no buquê de tulipas amarelas. Seus olhos precisos varreram minhas feições, analisando cada detalhe como se pudesse decifrar meus pensamentos. — Você deveria contar-lhe a verdade.Soltei um suspiro pesado, fechando os olhos por alguns segundos. A verdade, é claro, parecia a escolha mais lógica. Mas era também a mais arriscada. Desde que Olívia voltou para casa, parecia uma sombra do que era antes. Mesmo se eu quisesse, como poderia jogar mais peso sobre ela? E se ela não se lembrasse de quem eu era? Pior ainda, e se ela não quisesse lembrar?— Não é tão simples assim, Rhianon. — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. — Ela esqueceu tudo. "Alguém Ninguém" não significa nada para ela agora.Rhianon bufou, cruzando os braços.— Esqueceu porque foi traumatizada, Easton. E você decidiu que esconder quem você realmente é vai ajudá-la?Olhei para minha irmã, tentando ignorar a pontada de cu
“Você não é tão interessante como pensa que é.”Olívia acha mesmo que pode tirar esse tipo de conclusão sobre mim? Eu sou Damien Carter, um homem de negócios com qualificações impecáveis, respeitado no meu ramo. É claro que sou interessante o suficiente para qualquer um. Ela só disse isso para me provocar.Respiro fundo, encarando a fachada do The Royal Club. Detesto frequentar esse lugar. Easton e Ethan estão sempre por aqui, e a ideia de cruzar com eles é desgastante. Mas meus amigos insistiram em passar o domingo no Velvet Lounge, então aqui estou. Saio do carro e ajusto a postura antes de entrar, como se estivesse prestes a enfrentar uma batalha.Ainda não consigo tirar Olívia Montenegro da cabeça. Ela é teimosa, difícil, obstinada. Tão diferente de Ofélia, sua irmã gêmea, que sabe como aceitar as coisas sem questionar. Mas, no fundo, percebo que essas comparações não levam a nada. Olívia não facilita minha vida, mas é inegável que sua ousadia me intriga, mesmo quando irrita.O el
— O Carter esteve aqui.A voz de Alex atravessa o silêncio do meu quarto e me faz abrir os olhos, interrompendo minha tentativa de repouso. Estou deitada no divã, com o corpo exausto não pelas longas horas na cozinha do restaurante, mas pela burocracia, os prazos e a preparação do cronograma para os próximos dias. Fecho os olhos novamente, tentando ignorar o cansaço que me consome.— Ele esteve no restaurante também. — minha voz sai arrastada, como se ainda quisesse dormir. — Não sabia disso.Quando finalmente consigo abrir os olhos, vejo Alex parado à porta. Seus braços estão cruzados, e seu semblante é sério, mais sério do que o normal. Percebo uma sombra de frustração em seu olhar, o que não é bom.— Esse olhar não é bom. — Acomodo-me no divã, tentando me erguer um pouco. — O que aconteceu?— Não gosto desse Damien. — A voz de Alex, normalmente tranquila, tem um tom carregado de desagrado. Suspiro, apoiando o queixo na mão.— Nem eu. Ele acha que tem poder sobre todo mundo. Não me