Estou na minha sala enquanto o sol adentra pelas janelas, iluminando suavemente o ambiente. Sobre a mesa, uma pilha de papéis exige minha atenção. Analiso com cuidado a proposta de acordo entre a Orion e a Elysium, tentando pesar os riscos e os benefícios. A concentração é total, até que ouço batidas na porta. Sem tirar os olhos dos documentos, digo:— Entre.Pelo som dos passos, logo deduzo que é Parks, minha secretária. Levanto o olhar por um momento e confirmo.— A senhorita Montenegro está aqui e deseja vê-lo. Posso permitir que entre? — ela pergunta.Um sorriso leve surge em meus lábios, e faço um gesto afirmativo com a cabeça. Viro minha cadeira para encarar a vista do Central Park pela janela. O dia está claro, mas a presença dela promete trazer uma tempestade. A porta se fecha atrás de Parks, e deduzo que Olívia já está ali. Mas, ao girar a cadeira, meu sorriso desaparece imediatamente ao ver quem realmente entrou.— O que você está fazendo aqui? — pergunto, contendo minha irr
Definitivamente, foi um erro vir até aqui. Penso comigo mesma sobre as reais motivações que me trouxeram. Desde o encontro no restaurante, o modo como Damien agiu e as mensagens que ele manda, sem sequer se dar ao trabalho de cumprimentar, irritam-me profundamente. Tudo nele me faz acreditar que não é alguém com quem eu gostaria de passar mais tempo. Mas então lembro-me do leilão e do acordo. Se eu não cumprir, minha mãe não me dará sossego. Afinal, isso faz parte da tradição da família Montenegro. É um motivo suficiente para abaixar a guarda, aceitar o encontro e suportá-lo até o fim. São apenas seis encontros, penso. Depois disso, cada um seguirá sua vida. Ainda assim, não consigo evitar o desconforto. Talvez tenha sido imprudente deixar meus sentimentos interferirem em minhas decisões. O som do elevador interrompe meus devaneios. Cheguei ao estacionamento. Saio e caminho até meu carro, procurando as chaves na bolsa. Pretendo ir ao restaurante e trabalhar até tarde. Talvez depois
A sala de reuniões estava mergulhada em um silêncio tenso. As projeções das novas estratégias da Orion piscavam no telão, mas eu mal ouvia. Minha mente vagava para um nome que, por mais que eu tentasse, não conseguia afastar: Olívia Montenegro. Havia algo na sua teimosia, na forma como desafiava cada palavra minha, que se recusava a sair da minha cabeça. Um vibrar interrompeu meus pensamentos. Meu celular, esquecido sobre a mesa, piscava com insistência. Ignorei o primeiro aviso. O segundo veio acompanhado de um olhar enviesado de Ronan, ao meu lado.— Parece urgente, primo. — Ele murmurou com um sorriso, mas sua expressão mudou quando viu a minha ao olhar para a tela. Era Parks, minha secretária.— Senhor Carter — a voz dela estava tensa, quase ofegante —, a senhorita Montenegro sofreu um acidente no estacionamento.Por um instante, senti como se o chão tivesse desaparecido sob os meus pés.— O quê? — A palavra escapou num tom mais alto do que eu pretendia. Tentei recuperar o control
A porta do quarto se abre, revelando a silhueta de Celine Carter. Sua entrada é marcada por uma aura de calma e elegância, seus passos firmes e delicados, quase como se cada movimento fosse ensaiado. Agora que reparo melhor, Damien herdou alguns traços dela, embora sua semelhança com o senhor Joseph seja mais evidente. Celine me olha, e seu sorriso doce quase faz meu peito se aquecer em meio à dor física que ainda sinto.Ela se aproxima com postura impecável, inclinando levemente a cabeça enquanto seus olhos examinam cada detalhe do meu estado.— Querida, como você se sente? — Sua voz soa suave, mas firme, carregada de genuína preocupação.— Estou bem, não foi nada demais — respondo no automático, sem realmente pensar.Celine franze levemente o cenho, e seu olhar afiado me faz sentir que minha resposta foi avaliada e descartada como insatisfatória.— É uma nova moda entre os jovens dizerem que estão bem mesmo após situações devastadoras? — Sua pergunta é retórica, mas o peso das palav
Encaro a vista do térreo do hospital enquanto o final da tarde pinta o céu com tons alaranjados. Respiro fundo, tentando dissipar a inquietação que me acompanha desde que cheguei aqui. Jogo a bituca do cigarro no chão, esmagando-a com o pé. Já estou aqui há tempo demais. Mordo o lábio inferior e decido voltar para o quarto da Olívia.Subo lentamente, e ao chegar no corredor, percebo que está vazio. Talvez meus pais, o senhor Montenegro e o Alex já tenham ido embora. É melhor assim. Não terei que lidar com aquelas conversas desconfortáveis tão cedo.Abro a porta do quarto, mas a cena que encontro me paralisa. Olívia está chorando, mas, ao notar minha presença, apressa-se a limpar as lágrimas, como se quisesse esconder qualquer sinal de fraqueza.Fecho a porta atrás de mim e caminho até ela. Seus traços delicados estão marcados pela tristeza, e, de alguma forma, isso me incomoda.— O que aconteceu com o teu rosto? — ela pergunta, a voz rouca de tanto chorar.— Nada demais — respondo, se
— Então aquele é o incrível Damien Carter em carne e osso? Ele é muito bonito, você é muito sortuda, Liv. — Ana comenta em tom divertido assim que Damien sai do quarto. Ela balança as mãos agitadas, soltando um gritinho de animação.— Ana... para. — Tento conter o riso, mas é quase impossível.— Você sabe que é verdade. — Ela rebate, apontando o dedo na minha direção com um sorriso travesso.— Sim, ele é muito bonito, mas beleza não é tudo. Além disso... ele já ficou com a Ofélia e, muito provavelmente, ela está apaixonada por ele ao ponto de me atropelar.Ana para de sorrir. Sua expressão muda, carregada de incredulidade.— O quê? Como assim foi a Ofélia que te atropelou?— O Alex disse-me que o Damien descobriu isso nas filmagens do estacionamento. — Digo, hesitante.— Que maldosa, não estou surpresa. E, honestamente, não seria a primeira vez que a tua irmã... — Ana para de falar abruptamente, mordendo o lábio, como se estivesse prestes a cruzar uma linha que prometemos não ultrapas
Assim que chego em casa, estaciono o carro e entro na residência. Deixo as chaves do veículo na entrada e subo as escadas, cansado, mas com a mente fervilhando. Quando estou no meio do corredor, vejo o Ethan descendo as escadas, todo arrumado. A última vez que o vi assim foi no leilão. Ele me vê e sorri, e logo percebo que está planejando algo. Ignoro por completo o seu olhar curioso e continuo subindo as escadas sem responder ao questionamento sobre o que aconteceu com o meu rosto.Chego ao meu quarto e, sem hesitar, vou direto ao banheiro. O reflexo no espelho me faz suspirar, faço um banho e depois de um breve curativo, visto algo mais confortável. O cansaço começa a pesar, mas a pressão não me deixa descansar. Saio do quarto e sigo até o escritório.Sento-me na cadeira e abro o relatório da reunião que a Parks enviou. Leio-o atentamente e faço algumas anotações enquanto penso na melhor maneira de apresentar meu projeto à equipe da Elysium. O tempo parece ter desaparecido enquanto
Existiam mil e uma coisas que imaginei encontrar ao acordar, mas nunca minha mãe sentada numa cadeira ao lado da cama, os olhos fixos no nada e o rosto marcado pelo cansaço e, aparentemente, por uma noite de choro. A luz do sol filtrava-se pelas cortinas, mas não parecia aliviar o peso que pairava no ar. Ela percebeu quando abri os olhos, e sua postura mudou imediatamente. Sem dizer nada, ela se levantou, caminhou até mim e, num gesto inesperado, desferiu um tapa contra o meu rosto.O impacto ecoou pelo quarto, mais pela surpresa do que pela dor. Levei a mão à bochecha, atônita, tentando entender o que tinha acabado de acontecer.— Isso é pela minha filha. — Ela disse, com uma voz cortante que parecia carregada de ressentimento.— Mãe...? O que foi isso? — Perguntei, confusa e incrédula.Ela respirou fundo, como se precisasse se acalmar, mas a frustração transparecia em cada palavra.— Você percebeu os problemas que provocou, Olívia? Eu tentei de todos os jeitos ajudar você, mas é imp