A porta do quarto se abre, revelando a silhueta de Celine Carter. Sua entrada é marcada por uma aura de calma e elegância, seus passos firmes e delicados, quase como se cada movimento fosse ensaiado. Agora que reparo melhor, Damien herdou alguns traços dela, embora sua semelhança com o senhor Joseph seja mais evidente. Celine me olha, e seu sorriso doce quase faz meu peito se aquecer em meio à dor física que ainda sinto.Ela se aproxima com postura impecável, inclinando levemente a cabeça enquanto seus olhos examinam cada detalhe do meu estado.— Querida, como você se sente? — Sua voz soa suave, mas firme, carregada de genuína preocupação.— Estou bem, não foi nada demais — respondo no automático, sem realmente pensar.Celine franze levemente o cenho, e seu olhar afiado me faz sentir que minha resposta foi avaliada e descartada como insatisfatória.— É uma nova moda entre os jovens dizerem que estão bem mesmo após situações devastadoras? — Sua pergunta é retórica, mas o peso das palav
Encaro a vista do térreo do hospital enquanto o final da tarde pinta o céu com tons alaranjados. Respiro fundo, tentando dissipar a inquietação que me acompanha desde que cheguei aqui. Jogo a bituca do cigarro no chão, esmagando-a com o pé. Já estou aqui há tempo demais. Mordo o lábio inferior e decido voltar para o quarto da Olívia.Subo lentamente, e ao chegar no corredor, percebo que está vazio. Talvez meus pais, o senhor Montenegro e o Alex já tenham ido embora. É melhor assim. Não terei que lidar com aquelas conversas desconfortáveis tão cedo.Abro a porta do quarto, mas a cena que encontro me paralisa. Olívia está chorando, mas, ao notar minha presença, apressa-se a limpar as lágrimas, como se quisesse esconder qualquer sinal de fraqueza.Fecho a porta atrás de mim e caminho até ela. Seus traços delicados estão marcados pela tristeza, e, de alguma forma, isso me incomoda.— O que aconteceu com o teu rosto? — ela pergunta, a voz rouca de tanto chorar.— Nada demais — respondo, se
— Então aquele é o incrível Damien Carter em carne e osso? Ele é muito bonito, você é muito sortuda, Liv. — Ana comenta em tom divertido assim que Damien sai do quarto. Ela balança as mãos agitadas, soltando um gritinho de animação.— Ana... para. — Tento conter o riso, mas é quase impossível.— Você sabe que é verdade. — Ela rebate, apontando o dedo na minha direção com um sorriso travesso.— Sim, ele é muito bonito, mas beleza não é tudo. Além disso... ele já ficou com a Ofélia e, muito provavelmente, ela está apaixonada por ele ao ponto de me atropelar.Ana para de sorrir. Sua expressão muda, carregada de incredulidade.— O quê? Como assim foi a Ofélia que te atropelou?— O Alex disse-me que o Damien descobriu isso nas filmagens do estacionamento. — Digo, hesitante.— Que maldosa, não estou surpresa. E, honestamente, não seria a primeira vez que a tua irmã... — Ana para de falar abruptamente, mordendo o lábio, como se estivesse prestes a cruzar uma linha que prometemos não ultrapas
Assim que chego em casa, estaciono o carro e entro na residência. Deixo as chaves do veículo na entrada e subo as escadas, cansado, mas com a mente fervilhando. Quando estou no meio do corredor, vejo o Ethan descendo as escadas, todo arrumado. A última vez que o vi assim foi no leilão. Ele me vê e sorri, e logo percebo que está planejando algo. Ignoro por completo o seu olhar curioso e continuo subindo as escadas sem responder ao questionamento sobre o que aconteceu com o meu rosto.Chego ao meu quarto e, sem hesitar, vou direto ao banheiro. O reflexo no espelho me faz suspirar, faço um banho e depois de um breve curativo, visto algo mais confortável. O cansaço começa a pesar, mas a pressão não me deixa descansar. Saio do quarto e sigo até o escritório.Sento-me na cadeira e abro o relatório da reunião que a Parks enviou. Leio-o atentamente e faço algumas anotações enquanto penso na melhor maneira de apresentar meu projeto à equipe da Elysium. O tempo parece ter desaparecido enquanto
Existiam mil e uma coisas que imaginei encontrar ao acordar, mas nunca minha mãe sentada numa cadeira ao lado da cama, os olhos fixos no nada e o rosto marcado pelo cansaço e, aparentemente, por uma noite de choro. A luz do sol filtrava-se pelas cortinas, mas não parecia aliviar o peso que pairava no ar. Ela percebeu quando abri os olhos, e sua postura mudou imediatamente. Sem dizer nada, ela se levantou, caminhou até mim e, num gesto inesperado, desferiu um tapa contra o meu rosto.O impacto ecoou pelo quarto, mais pela surpresa do que pela dor. Levei a mão à bochecha, atônita, tentando entender o que tinha acabado de acontecer.— Isso é pela minha filha. — Ela disse, com uma voz cortante que parecia carregada de ressentimento.— Mãe...? O que foi isso? — Perguntei, confusa e incrédula.Ela respirou fundo, como se precisasse se acalmar, mas a frustração transparecia em cada palavra.— Você percebeu os problemas que provocou, Olívia? Eu tentei de todos os jeitos ajudar você, mas é imp
— Bom dia. Digo ao entrar na sala de jantar, minha voz quebrando o silêncio pesado que paira no ar.Minha mãe, sentada à cabeceira, ergue os olhos do copo de suco. Seu sorriso é frio, quase automático.— Bom dia, querido. Descansou bem?— Sim. — Minto. O sono tem sido uma miragem nos últimos dias, e as olheiras sob meus olhos denunciam isso. Mas não é algo que minha mãe ou qualquer outra pessoa precise saber. Meu pai, sentado ao lado dela, permanece calado. Ele mexe no café com a colher sem nunca levantar os olhos. É estranho vê-lo assim, alheio ao que acontece ao redor. — Pai, está tudo bem? — Pergunto, tentando entender o que se passa.Minha mãe suspira, impaciente.— Seu pai está bem, talvez apenas um pouco abalado pelas ações do seu irmão. — Sua voz carrega o tom cortante de reprovação que lhe é característico. — Tudo isso seria evitado se não fosse por essa competição absurda. Era mais simples passar a posição para você e acabar logo com isso.Antes que eu pudesse responder, Eth
O tempo, em sua essência, é tanto nosso aliado quanto nosso maior adversário. Ele nos ensina que tudo o que existe está intrinsecamente conectado: cada ação, cada escolha, cada respiração. Carl Sagan nos lembra que nossas vidas são apenas breves momentos, pequenos fios em uma vasta tapeçaria que começou muito antes de nós e continuará muito além de nossa existência. Há algo profundamente melancólico nessa perspectiva. Vivemos com a ilusão de permanência, mas o tempo nos força a confrontar a transitoriedade de tudo o que amamos. Ele molda nossas histórias, mas nunca nos permite segurá-lo. Cada instante é precioso porque escapa de nós antes mesmo de podermos compreendê-lo plenamente. Enquanto reflito sobre isso, observo o quarto em que estou. O silêncio é quase absoluto, quebrado apenas pelo som distante de passos no corredor e o bip ocasional das máquinas conectadas a outros pacientes. O cheiro de antisséptico impregna o ar, e a luz fria do hospital parece intensificar o vazio que s
— Eu estou morto. — Ronan suspira dramaticamente, largando os papéis sobre a mesa e reclinando-se na cadeira. Ele passa a mão pelos cabelos e fecha os olhos, como se o peso do mundo estivesse sobre ele. — Sério, como você consegue trabalhar tanto e não surtar?— Talvez porque eu amo o meu trabalho? — respondo, mantendo meu tom calmo, sem desviar o olhar dos relatórios à minha frente.— Isso não é amor, primo, é obsessão. Coitada da Parks, tendo que te aturar todos os dias. Aliás, onde ela está?— Já foi para casa.— O quê? Você dispensou a Parks, mas me prendeu aqui?— Parks é uma funcionária como qualquer outra. Ela tem um horário de entrada e saída, e só faz horas extras em situações de emergência. Eu prefiro fazer meu trabalho sozinho, sem distrações ou pessoas olhando o relógio a cada cinco minutos. — Ergo o olhar, notando seu ar de indignação. — Ela é empregada. Eu sou o empregador. Nossas responsabilidades e horários são diferentes.— Foda-se. Eu não sou casado com o trabalho co