— Ainda acho que é uma péssima ideia, Easton. — Rhianon disse enquanto ajustava o último detalhe no buquê de tulipas amarelas. Seus olhos precisos varreram minhas feições, analisando cada detalhe como se pudesse decifrar meus pensamentos. — Você deveria contar-lhe a verdade.Soltei um suspiro pesado, fechando os olhos por alguns segundos. A verdade, é claro, parecia a escolha mais lógica. Mas era também a mais arriscada. Desde que Olívia voltou para casa, parecia uma sombra do que era antes. Mesmo se eu quisesse, como poderia jogar mais peso sobre ela? E se ela não se lembrasse de quem eu era? Pior ainda, e se ela não quisesse lembrar?— Não é tão simples assim, Rhianon. — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. — Ela esqueceu tudo. "Alguém Ninguém" não significa nada para ela agora.Rhianon bufou, cruzando os braços.— Esqueceu porque foi traumatizada, Easton. E você decidiu que esconder quem você realmente é vai ajudá-la?Olhei para minha irmã, tentando ignorar a pontada de cu
“Você não é tão interessante como pensa que é.”Olívia acha mesmo que pode tirar esse tipo de conclusão sobre mim? Eu sou Damien Carter, um homem de negócios com qualificações impecáveis, respeitado no meu ramo. É claro que sou interessante o suficiente para qualquer um. Ela só disse isso para me provocar.Respiro fundo, encarando a fachada do The Royal Club. Detesto frequentar esse lugar. Easton e Ethan estão sempre por aqui, e a ideia de cruzar com eles é desgastante. Mas meus amigos insistiram em passar o domingo no Velvet Lounge, então aqui estou. Saio do carro e ajusto a postura antes de entrar, como se estivesse prestes a enfrentar uma batalha.Ainda não consigo tirar Olívia Montenegro da cabeça. Ela é teimosa, difícil, obstinada. Tão diferente de Ofélia, sua irmã gêmea, que sabe como aceitar as coisas sem questionar. Mas, no fundo, percebo que essas comparações não levam a nada. Olívia não facilita minha vida, mas é inegável que sua ousadia me intriga, mesmo quando irrita.O el
— O Carter esteve aqui.A voz de Alex atravessa o silêncio do meu quarto e me faz abrir os olhos, interrompendo minha tentativa de repouso. Estou deitada no divã, com o corpo exausto não pelas longas horas na cozinha do restaurante, mas pela burocracia, os prazos e a preparação do cronograma para os próximos dias. Fecho os olhos novamente, tentando ignorar o cansaço que me consome.— Ele esteve no restaurante também. — minha voz sai arrastada, como se ainda quisesse dormir. — Não sabia disso.Quando finalmente consigo abrir os olhos, vejo Alex parado à porta. Seus braços estão cruzados, e seu semblante é sério, mais sério do que o normal. Percebo uma sombra de frustração em seu olhar, o que não é bom.— Esse olhar não é bom. — Acomodo-me no divã, tentando me erguer um pouco. — O que aconteceu?— Não gosto desse Damien. — A voz de Alex, normalmente tranquila, tem um tom carregado de desagrado. Suspiro, apoiando o queixo na mão.— Nem eu. Ele acha que tem poder sobre todo mundo. Não me
Estou na minha sala enquanto o sol adentra pelas janelas, iluminando suavemente o ambiente. Sobre a mesa, uma pilha de papéis exige minha atenção. Analiso com cuidado a proposta de acordo entre a Orion e a Elysium, tentando pesar os riscos e os benefícios. A concentração é total, até que ouço batidas na porta. Sem tirar os olhos dos documentos, digo:— Entre.Pelo som dos passos, logo deduzo que é Parks, minha secretária. Levanto o olhar por um momento e confirmo.— A senhorita Montenegro está aqui e deseja vê-lo. Posso permitir que entre? — ela pergunta.Um sorriso leve surge em meus lábios, e faço um gesto afirmativo com a cabeça. Viro minha cadeira para encarar a vista do Central Park pela janela. O dia está claro, mas a presença dela promete trazer uma tempestade. A porta se fecha atrás de Parks, e deduzo que Olívia já está ali. Mas, ao girar a cadeira, meu sorriso desaparece imediatamente ao ver quem realmente entrou.— O que você está fazendo aqui? — pergunto, contendo minha irr
Definitivamente, foi um erro vir até aqui. Penso comigo mesma sobre as reais motivações que me trouxeram. Desde o encontro no restaurante, o modo como Damien agiu e as mensagens que ele manda, sem sequer se dar ao trabalho de cumprimentar, irritam-me profundamente. Tudo nele me faz acreditar que não é alguém com quem eu gostaria de passar mais tempo. Mas então lembro-me do leilão e do acordo. Se eu não cumprir, minha mãe não me dará sossego. Afinal, isso faz parte da tradição da família Montenegro. É um motivo suficiente para abaixar a guarda, aceitar o encontro e suportá-lo até o fim. São apenas seis encontros, penso. Depois disso, cada um seguirá sua vida. Ainda assim, não consigo evitar o desconforto. Talvez tenha sido imprudente deixar meus sentimentos interferirem em minhas decisões. O som do elevador interrompe meus devaneios. Cheguei ao estacionamento. Saio e caminho até meu carro, procurando as chaves na bolsa. Pretendo ir ao restaurante e trabalhar até tarde. Talvez depois
A sala de reuniões estava mergulhada em um silêncio tenso. As projeções das novas estratégias da Orion piscavam no telão, mas eu mal ouvia. Minha mente vagava para um nome que, por mais que eu tentasse, não conseguia afastar: Olívia Montenegro. Havia algo na sua teimosia, na forma como desafiava cada palavra minha, que se recusava a sair da minha cabeça. Um vibrar interrompeu meus pensamentos. Meu celular, esquecido sobre a mesa, piscava com insistência. Ignorei o primeiro aviso. O segundo veio acompanhado de um olhar enviesado de Ronan, ao meu lado.— Parece urgente, primo. — Ele murmurou com um sorriso, mas sua expressão mudou quando viu a minha ao olhar para a tela. Era Parks, minha secretária.— Senhor Carter — a voz dela estava tensa, quase ofegante —, a senhorita Montenegro sofreu um acidente no estacionamento.Por um instante, senti como se o chão tivesse desaparecido sob os meus pés.— O quê? — A palavra escapou num tom mais alto do que eu pretendia. Tentei recuperar o control
A porta do quarto se abre, revelando a silhueta de Celine Carter. Sua entrada é marcada por uma aura de calma e elegância, seus passos firmes e delicados, quase como se cada movimento fosse ensaiado. Agora que reparo melhor, Damien herdou alguns traços dela, embora sua semelhança com o senhor Joseph seja mais evidente. Celine me olha, e seu sorriso doce quase faz meu peito se aquecer em meio à dor física que ainda sinto.Ela se aproxima com postura impecável, inclinando levemente a cabeça enquanto seus olhos examinam cada detalhe do meu estado.— Querida, como você se sente? — Sua voz soa suave, mas firme, carregada de genuína preocupação.— Estou bem, não foi nada demais — respondo no automático, sem realmente pensar.Celine franze levemente o cenho, e seu olhar afiado me faz sentir que minha resposta foi avaliada e descartada como insatisfatória.— É uma nova moda entre os jovens dizerem que estão bem mesmo após situações devastadoras? — Sua pergunta é retórica, mas o peso das palav
Encaro a vista do térreo do hospital enquanto o final da tarde pinta o céu com tons alaranjados. Respiro fundo, tentando dissipar a inquietação que me acompanha desde que cheguei aqui. Jogo a bituca do cigarro no chão, esmagando-a com o pé. Já estou aqui há tempo demais. Mordo o lábio inferior e decido voltar para o quarto da Olívia.Subo lentamente, e ao chegar no corredor, percebo que está vazio. Talvez meus pais, o senhor Montenegro e o Alex já tenham ido embora. É melhor assim. Não terei que lidar com aquelas conversas desconfortáveis tão cedo.Abro a porta do quarto, mas a cena que encontro me paralisa. Olívia está chorando, mas, ao notar minha presença, apressa-se a limpar as lágrimas, como se quisesse esconder qualquer sinal de fraqueza.Fecho a porta atrás de mim e caminho até ela. Seus traços delicados estão marcados pela tristeza, e, de alguma forma, isso me incomoda.— O que aconteceu com o teu rosto? — ela pergunta, a voz rouca de tanto chorar.— Nada demais — respondo, se