Senhorita Pouplain: uma herdeira perfídia
Senhorita Pouplain: uma herdeira perfídia
Por: Karol Pinna
Peças sem fim

para você, amado J:

"Como é bom te amar e dizer, mesmo que escondido, olhando dentro dos seus olhos”.

Entrando em cena, abro uma porta. Falas ensaiadas, uma cena que começou do contrário.

— Eu hei de ser uma mulher sofisticada — disse quando me mudei.

Você era aquela jaqueta jeans que eu esperava encontrar todos os dias no meu guarda-roupa.

Mesmo que meu corpo e meu gosto estejam diferentes, ainda afetuosamente lembro do dia que usei-a para te encontrar...mas vamos começar do início.

Você me buscou no ateliê, era uma noite escura de leve tempestade, os faróis do seu carro estavam desligados, mas os seus olhos guiavam o caminho, perigoso, mas de bom instinto. Como um mote de poesia, a gente nunca saiu de moda.

— Um brinde aos velhos tempos! — você me disse, quando eu abri a porta.

— A condução é sua, vamos! — sorri.

Apenas frisei o que acabara de escutar numa música estrangeira que tocava em suas rádios experimentais.

— Será uma longa jornada. — te ouvir dizer isso parecia bom.

Nunca fui de gostar de passeios longos, mas você me convenceu que durante as longas corridas se tinham as descobertas mais memoráveis.

Assim como as roupas, a música também seguem as tendências da moda e nós dois tínhamos uma em específica. A de sempre retroagir nosso amor. Mesmo que nem fôssemos apaixonados, precisávamos disso.

Você é aquela pessoa que eu sempre imaginei que poderia parar meu casamento e dizer: Por favor, não faça isso! Nós ainda não terminamos.

Na qual pode entrar, sair, mas nunca deixa o fio dessa narrativa se perder ou ter de terminar.

Eu estava um pouco molhada, apesar de correr rapidamente, a chuva leve se tornou intensa, quando encostei meus cabelos molhados em seu ombro, mesmo com a velocidade do vento na rodovia, não se fez um prelúdio da prova de nossos vestígios que entregaram verdade sobre ainda estarmos pelo mundo nas últimas horas da meia-noite.

“nossos corações se pertencem, mas por uns instantes, ele têm outras horas marcadas”.

Circunstância é o que eu chamo, de estar usando seu batom preferido e você usar a minha camisa favorita.

Nós não vingamos tanto, nossas circunstâncias sempre estiveram fora de controle. Algumas até se encontraram, outras permanecem secretas. Mas como é segredo se todos poderiam ver?

Que bom que era imprudente, oculto, precisava ser, para ter mais combustível para ser melhor outra vez e de novo, sem precisar explicar.

Nosso amor retroativo está ocultado no interior, mas veja lá fora, tudo se reflete aparentemente sobre nós.

Hoje eu abri meu guarda-roupa outra vez, encontrei a mesma saia que usei e novamente veio a força motriz do pensamento.

Eu preciso fiar cada linha desse pensamento, porque posso dar vestígios para o mundo, então, todos acham que acabou, mas nunca mais vai. Porque nós nunca saímos de moda.

“Quanto mais proibido for, mais apropriado será”.

Quando me mudei, troquei de emprego e conheci outros lugares, surgiram outras dores, inclusive a de quando eu me tatuei e não era sobre você.

Gosto de lembrar de cada canto do seu corpo, há muito mais coisas vivas em mim do que sei.

Por exemplo, todas as vezes que eu vejo aquele papel de parede amarelo, eu lembro dos detalhes e do porquê você escolheu para ela.

Gostaria de que soubesse disso. Sei que você vai perceber alguma vez, por alguma pista.

— Espero que tenha certeza de que é isso que você está procurando. Você sabe que eu nunca fui devoto para ser bom em cumprir promessas. — você disse naquele primeiro encontro.

Foram seis meses repetindo. Como uma bússola de palavras, me guiando pro mar agitado, assim como os gritos na rodovia, com as janelas abertas e sem o menor sentido em ouvir.

Apenas expressar sentimentos e ações de forma despretensiosa, viver cada segundo importava, mesmo que fosse apenas um escape ou a última coleção de outono da melhor grife que poderíamos ter usado.

Eu ainda preferia o jeans da jaqueta ou apenas uma calça de mesmo tecido azul.

Ou viver aquela meia-noite na Paris dos amantes, porque era a nossa vitrine. Nós nunca iríamos terminar.

Você entrou num túnel, fez uma curva arriscada. Enquanto isso, eu retocava o batom que você borrou. Minhas mãos estavam firmes, não tinha medo do perigo.

A anatomia de um amor retroativo, é uma peça de um museu que não pode ser tocado. Admirado, sim, mas nunca palpável. Contudo, sempre há alguém para desafiar essa regra. Você e eu somos isso.

O que tem de errado, se parece tão bom?

Você conhece essa sensação?

Muitos altos e um baixo que parece estar fazendo tudo se desabar de repente.

Será que tudo é de verdade quando te vejo em todos os lugares?

“me aventurarei no seu mundo quantas vezes me comportar nesse romance.”

Aliás, nosso ambiente ia muito além das altas costuras ou de um simples fast-fashion.

Aquela noite poderia ir às chamas ardentes ou permanecer no paraíso.

Já fazia um tempo que não tinha notícias suas, você simplesmente foi mais veloz que meu pensamento. Do nada, aparece. Mas sabe qual hora é melhor me encontrar.

Eu até deveria te deixar ir, mas sei onde isso vai dar.

Me conduza nas suas rotatórias preferidas da cidade, mas não espere dessa vez qual será a certa. Deixe desaparecer do mundo. Ou apenas nos deixe por um momento a mais.

Seu olhar não apenas contempla, ele parece sonhar e me inspirar a fazer o mesmo. As luzes da noite nem se comparam ao ver o brilho dos seus olhos.

Um estilo atemporal, nunca vai ser esquecido.

É sofisticado, sensual e romântico.

— Então, assim vamos. — disse com um sorriso.

Seus olhos não se concentravam na estrada.

— Hora de ir para casa. — ele disse sem pensar muito.

Com as luzes apagadas, eu aproveitei o quanto eu tinha de você naquele instante.

Você tinha outra pessoa, mas não parava de pensar em mim.

E todas as vezes eu também houvera passado pelos mesmos passos.

— Apenas me leve para casa. — foi o que eu disse quando tivemos que voltar.

Embora com muitos rompimentos, nós definitivamente nunca terminamos.

“Qual o erro de viver um amor proibido na vida real, se as melhores histórias de amor proibido são vividas na ficção?”

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