Querida senhorita Pouplain,Espero que esta carta se encontre bem, envolta na sua elegância habitual e na serenidade que sempre exala. Te escrevo com um misto de saudade e gratidão, pois, ao longo do tempo, percebo o quanto a sua presença moldou minha vida e minha arte. Às vezes, sinto que as palavras têm dificuldade em capturar a essência de quem você é e da sua influência que ainda é exercida sobre mim. Contudo, tentarei expressar em letras o que, por tanto tempo, habitou meu coração.Desde o primeiro momento em que cruzamos olhares no seu ateliê, ficou claro que algo especial na amizade se formava entre nós. A maneira como você falou abertamente sobre sua vida e como ela te movimenta, como riu e escutou o mundo, é como se a sua persona tem um magnetismo que me atrai como um ímã. A sua essência é quase etérea, como se fosse uma figura saída de um quadro renascentista, e eu, uma mera espectadora admirando a obra-prima diante de mim. Fui capturada pela luz que você emana, pela sabedor
para você, amado J:"Como é bom te amar e dizer, mesmo que escondido, olhando dentro dos seus olhos”.Entrando em cena, abro uma porta. Falas ensaiadas, uma cena que começou do contrário. — Eu hei de ser uma mulher sofisticada — disse quando me mudei. Você era aquela jaqueta jeans que eu esperava encontrar todos os dias no meu guarda-roupa. Mesmo que meu corpo e meu gosto estejam diferentes, ainda afetuosamente lembro do dia que usei-a para te encontrar...mas vamos começar do início. Você me buscou no ateliê, era uma noite escura de leve tempestade, os faróis do seu carro estavam desligados, mas os seus olhos guiavam o caminho, perigoso, mas de bom instinto. Como um mote de poesia, a gente nunca saiu de moda.— Um brinde aos velhos tempos! — você me disse, quando eu abri a porta.— A condução é sua, vamos! — sorri. Apenas frisei o que acabara de escutar numa música estrangeira que tocava em suas rádios experimentais. — Será uma longa jornada. — te ouvir dizer isso parecia
Para você, amada D.Então você foi, numa meia-noite. Da mesma forma que você chegou. Te levei para casa, com os mesmos faróis desligados daquele carro. — Por que você não vai ficar? — ela perguntou. — Alguém nesse momento provavelmente está chorando pedindo colo. — eu disse. — É a nossa bebê? — perguntei. — Talvez. Não posso te dar promessas. E assim ela suspirou, beijou-me e abriu a porta. Sua companhia nunca soube disso, deveríamos ter terminado, mas nós nunca pudemos colocar um ponto final. Eu me mudei, mudei o cabelo, troquei o carro e de amor, também deveras saber sobre isso. Tenho ainda alguns amigos, problemas e solidões. Mas nunca sei quando posso te ter. Lembre-se daquela cabine telefônica e de nós, você estava em um orelhão e eu em uma cabine. Será que isso é importante? Esses objetos transitam em minha natureza, pelas memórias que eles pesam em meus botões. Um carro, duas bicicletas, um lixo. Na vitrine, sacos de dormir, um bote e coturnos. Você sabe
Sentada na calçada, com um vestido de conto de fadas, ela lê essas cartas, se perguntando porque tudo aconteceu de uma maneira tão fascinante. Era só uma adolescente que as encontrou em meio ao lixo que havia numa correspondência de uma casa bem antiga que agora seria seu novo lar. Sempre que olhava para a placa se perguntava: Por que ainda não a venderam? E agora, certamente, sabia a resposta. Aquele lugar parecia irreal para ser continuado por outras pessoas. Ali, havia um pertencimento de um casal para sempre. Mas, ela poderia continuar com uma nova história para aquela que nunca poderia terminar. Fez o trajeto, mas nunca à meia-noite noite, pois acreditava não ser uma boa aventura para uma garota. Com as coordenadas, encontrou uma cabine telefônica e, certamente a mesma vitrine das citadas em suas leituras. Dessa vez, o que se encontrara eram lindos vestidos. Entrou na loja, foi atendida por uma simpática senhora e, pelos lábios vermelhos, jaqueta jeans e calças de
Quando a jovem chega no dia seguinte, Diana disse: sente-se! Essa é uma longa história. A jovem que trouxe um gravador consigo mesma, pediu permissão para gravar, pois queria transformar a história de vida de Diana em um best-seller.Diana começou narrando o cenário da história: Uma flor caiu do ramalhete. Tropeço no vestido longo. Usava headphones conectados à uma espécie de walkman. O ano era 1986, antes de me tornar modista, eu era florista. Estava numa praça. Vendi poucas flores aquele dia.Uma mão atravessou o meu olhar e me deu uma flor. Era de um violinista que trabalhava na praça.Agradeci.Ele tão jovem quanto eu, me convidou para tomarmos um sorvete numa lanchonete. Eu não aceitei. Era a primeira vez que o vi ali. Não seria bom aceitar convite de estranhos.Mas não foi a única vez, eu achei que fosse uma exceção. Não era.No outro dia, vendi todas as flores, mas o dinheiro não foi bom. Tive que vender "a preço de banana". Ser mulher é saber que certamente
Tudo é uma questão de querer. Se há disposição, comprometimento, tempo e oportunidade, as histórias de romance vão bem além de um papel. É por isso, que seja bom não perder o controle da situação, mesmo quando se perde um coração por mágoas. Quando abrimos os olhos, morremos, porque viver é mesmo um sonho ilimitado, mas que exige um certo descanso. Acho que estava em atraso. O relógio despertou, quase meio-dia, eu deveria ter acordado vinte minutos antes... Apenas escovei os dentes, após uma ducha rápida, penteei o cabelo, peguei a cesta, o walkman e, claro, vesti o meu vestido. Dessa vez, usava sapatos diferentes. Era isso o que a pressa poderia causar. Corri, aqueles dois quilômetros foram percorridos em tempo recorde. Tim estava olhando para o relógio e eu disse: Estou aqui! Ele me mirou de forma direta e apontou para o relógio. — Eu sei! — disse entoando desculpas. — Bom, não temos muito para reclamar. Agora, terá sua cesta de flores guardadas com meus instrument
Eu não o conhecia, mas gostava dele e queria o ter por perto. Por isso, voltei a praça pela manhã. Fui à lanchonete, estava com o chapéu que ganhei dele, mas o Tim até então não havia chegado. Tentei ligar de um orelhão, mas não sabia o número dele. Tentei mandar uma carta pelos correios, mas não sabia o endereço. O que mais poderia fazer? Não podia o esperar. Por isso, peguei o meu cesto de flores e fui vender rosas na praça. Aquele dia haveria bastante dinheiro. Era uma data comemorativa que envolvia flores. Eu consegui convencer as mulheres da rua, a comprar flores para si mesmas. E ainda fiz um belo desconto. Vendi as flores antes mesmo do meio-dia e, fiquei esperando no banco da praça, vendo um pouco da vida passar. Comecei a cantar cantigas de roda populares que tinham alguma conotação romântica. "Como pode o peixo vivo Viver fora da água fria Como poderei viver Sem a tua, sem a tua Sem a tua companhia" * Um vento galopante se estendeu sobre as tamanhas
A diferença entre meu eu e o da Pouplain era estar em status sociais distintos. Mas a gente tinha gosto em comum. Discos empoeirados e soprar a poeira para ouvi-los, devorar um brigadeiro direto da panela, não aguentar assistir à uma partida de futebol, mas amávamos assistir o mesmo filme pelo menos umas quinze vezes... não passávamos tanto tempo no cabeleireiro, nem sequer gastávamos muito tempo com cálculos matemáticos... mas, a gente era impulsiva e, isso causava um fascínio pelo poder de compra. Uma determinada loja de departamentos vendia o urso de pelúcia mais macio, suave e fofo que poderia existir. Ele custava o equivalente a cinco pilas. Eu fiquei tão apaixonada que vendi flores extras para comprar, mas, a vendedora disse: — Aqui não temos mais ursos de pelúcia daquele modelo disponível, tente em outra loja. — Mas não dá para comprar o do mostruário? — Ele sai com cinquenta por cento de desconto. — Eu quero! — Meus olhos brilharam naquela afirmativa. Ela pegou o