Eu quero você

O dedo acusador estava apontado para ela, as duas mãos presas sobre a cabeça pareceram como um maldito djavu. Ela praguejou mentalmente a própria falta de sorte.

Aquele homem a olhava como se a odiasse, mas também parecia gostar do que estava vendo. E ele não perdeu tempo ao deslizar uma das mãos sobre o rosto macio e delicado. – Você é muito atrevida, senhorita!

Ela quase perdeu o fôlego com o contato tão próximo. Era como uma maldição ser agarrada duas vezes em tão pouco tempo, mas o corpo musculoso contra o dela a fazia implorar pelo contato. A maneira como ele a encarava, deixou a jovem donzela de pernas trêmulas.

– Você deveria tomar cuidado com o que fala. E como toca nas mulheres. Eu posso muito bem ser alguém que você não deveria se meter.

O homem logo atrás liberou uma gargalhada sonora, mas que não foi acompanhada por ninguém. Leoni Messina ainda tinha os olhos frios fixos na mulher a sua frente, e ele apenas segurou-a delicadamente pelo pescoço e a cheirou como se quisesse extrair dela, todo o aroma adocicado de frutas.

– Você deveria seguir o próprio conselho. Tem noção de quem são as pessoas que frequentam essas ruas?

Ela pareceu um tanto confusa, embora soubesse exatamente do que ele estava falando. – Claro que eu sei. E você? Você sabe que não deveria estar aqui a essa hora.

Ele olhou para trás e viu o rosto do irmão que estampou um sorriso largo nos lábios. – Você ouviu, Lucca? A mocinha não quer que nós dois frequentemos mais isto aqui. – Ela observou o canto dos lábios se erguendo como uma promessa de sorriso, mas este se desfez antes que pudesse chegar ao auge. – Você ainda não sabe, mas isso aqui é meu. Essa rua é minha. Essa cidade inteira me pertence, inclusive você!

Ela tentou observar pelo canto dos olhos, a maneira como ele a cheirou no longo cabelo escuro. E aquilo pareceu ainda mais assustador.

A voz do homem tornou-se macia como seda, como se ele precisasse de algo dela. Um favor?

– Eu não sou de ninguém! Você não é dono de nada. É apenas mais um rico idiota dessa cidade, que acha que manda nas pessoas, mas deixa eu te contar uma coisa: você não manda em nada, e você não manda em mim. Eu não tenho dono.

Ele sorriu, satisfeito com a resposta atrevida, e pareceu que aquilo fora exatamente o que ele estava procurando. – Engano seu, senhorita... Como é o seu nome? Acho que não ouvi.

– Não ouviu por que eu não disse. E eu não sei a quem isso possa interessar!

Os olhos claros tornaram-se rubros quando as pupilas se dilataram, e por um momento, Giulia Rossi acreditou que ele a agrediria.

– Meu nome é...

– Eu não perguntei!

Ele finalmente liberou um sorriso largo e tão doce que ela mal podia reconhece-lo, mas os olhos ainda continham aquela maldade explícita. De alguma forma, ele olhou para trás como se esperasse a aprovação do homem prostrado numa parede suja do beco pouco iluminado.

– Você faz programa aqui?

– O que? – Ela se alarmou mais uma vez.

– Eu não costumo ficar com mulheres assim. Mas eu devo admitir que você é... Perfeita. Eu seria um idiota se perdesse isso agora.

– Eu não sou prostituta!

Ele agarrou uma das longas mechas e a cheirou como se quisesse roubar-lhe o cheiro suave de lavanda. – Eu tenho certeza que eu posso fazer você mudar de idéia!

– Eu não sou essas vadias que você gosta. Procure outra companhia!

– Você tem uma língua muito afiada, senhorita.

– Você ainda não viu nada!

– Eu tenho certeza de que você pode me mostrar, só tem que ficar de joelhos agora.

A fúria da garota aflorou quando o homem atrás deles passou a rir como um imbecil.

Ela não pode controlar as mãos tão afiadas quanto a língua. O rosto másculo e perfeito do homem pareceu uma rocha quando se chocou contra as suas palmas. Giulia sabia que havia cometido um erro grave, embora não pretendesse recuar. Ela sempre fora orgulhosa demais para isso.

– Não se atreva a dizer uma coisa dessas para mim novamente!

– Ou o que? – Aquele homem direcionou-lhe um olhar entediado. O tapa mal pareceu afeta-lo.

Giulia Rossi praguejou mentalmente enquanto o encarava. Ela sabia que viria uma resposta, mas ele ainda permaneceu tão calmo quanto sempre desde que bateu no mendigo.

– Ou eu vou fazer você se arrepender.

Ele riu como se aquilo fosse a melhor das piadas, e então encostou o corpo ao daquela mulher, fazendo com que ela notasse cada centímetro de ereção dentro da calça social do terno caro. Os olhos a penetravam tão profundamente quanto ele desejava fazer entre quatro paredes. E ele a segurou com as mãos acima da cabeça, presas entre ele e a parede imunda que causava-lhe nojo.

Ela arregalou os olhos, deixando que toda a nuance do pânico voltasse a tona mais uma vez. Estava mais suada que o normal e tinha medo de que ele pudesse ouvir o coração traidor que acelerava diante do contato próximo com aquele deus grego. E então abriu a boca para gritar, mas foi contida por um beijo ardente, quente e forçado.

Leoni Messina sentiu-se tão descontrolado quanto nunca esteve antes em toda a vida. Então ele a segurou pelas laterais do rosto, contendo a garota que estava prestes a retribui-lo. Ou ele achava que sim.

Mas subitamente ele a deixou, colocando as mãos entre as pernas como um homem ferido mortalmente onde mais lhe doía: a virilidade.

Giulia Rossi desprendeu-se e se pôs a correr tão rápido quanto podia. Ela estava apavorada, e mal conseguia enxergar o próprio caminho, e não fazia ideia de que quase fora baleada pelas costas, se não fosse a interrupção do senhor Messina.

Leoni Messina segurou a mão do homem que o acompanhara. – Deixe-a ir embora! – Ele disse entre gemidos – Eu vou pegar você, puta. Eu vou te achar e vou acabar com você.

Mesmo assim, ela conseguiu voltar para a frente do orfanato, onde costumava frequentar todos os fins de semana. E ela fechou os olhos com as mãos no peito, jurando a si mesma que nunca mais voltaria a fazer uma loucura como aquela.

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