Giulia encarou os andares de baixo de uma gloriosa cobertura. As cores dos apartamentos acesos na noite pareciam mais atraentes que as pessoas que tomavam champanhe na sala.
O anfitrião mal educado ainda não havia saído do quarto, e a garota apenas podia agradecer por isso.Ela esperava que pudesse estar menos atraente naquela noite, mas tudo havia sido preparado e controlado em sua vida. Suas roupas, as joias e até mesmo o penteado que usava no topo da cabeça foram calculadamente preparados para aquele dia que ela não sabia o que esperar.Não havia um único instante em que ela deixava de pensar no estranho atrevido, repreendendo a si mesma a cada segundo. Havia exatamente três noites em que sonhava com aquele homem surgindo em meio ao nada, apenas para roubar-lhe mais um beijo. Ela deveria ceder ao próprio desejo?Giulia virou-se em direção a porta que dava acesso a sala e deparou-se com a figura máscula do objeto dos seus melhores sonhos. Ela revirou os olhos, esperando que pudesse acordar mais uma vez.Ele se aproximou e a tocou no cabelo, liberando as longas madeixas por cima dos ombros nus que ele gentilmente acariciou. As mãos grandes a seguravam pelo queixo, a obrigando a olha-lo. Ela sabia que havia uma autoridade como nenhuma outra naquele rosto, mas não sabia explicar o porque.Os lábios colaram-se como a promessa de um beijo esperado, mas Giulia Rossi subitamente se afastou. – De novo não, Giulia. Pelo amor de Deus, pare de sonhar com ele.Leoni Messina enfiou as mãos nos bolsos e deixou que os cantos dos lábios sutilmente se erguessem. – Então você andou sonhando comigo... Interessante.Ela arregalou os olhos, esperando que aquilo fosse um maldito pesadelo. Era como estar na comum humilhação de sonhar com aparecer completamente nua na escola. – Droga, acorde logo!Ele sorriu, atrevendo-se a avançar sobre ela. – Isso não é um sonho, garota. – Ele sorriu diante dos olhos ainda mais abertos pelo desespero, e então a beijou com vigor.Giulia tentou empurra-lo, mas faltou-lhe força o suficiente, então ela só pode esperar até que ele se cansasse dela. O problema foi que no segundo em que ela entregou-se, o homem a deixou, ainda com o seu gosto na boca.– Eu disse que você é minha! – Foi tudo que ele falou, antes de invadir a sala como uma m*****a celebridade.Giulia piscou algumas vezes, tentando se recompor do beijo que a deixou de pernas bambas. Seria ele o seu noivo? A jovem donzela da família Rossi não sabia o que pensar, enquanto tentava refazer o detalhado penteado da melhor forma possível.Ela ajeitou-se e entrou na sala, onde todos pareciam prestar atenção apenas no homem sentado na poltrona principal. Quem ele era? E por que todos o encaravam com tamanha devoção? Giulia só conseguiu focar no próprio coração desesperado de medo.– Giulia, não vai cumprimenta-lo?Ela encarou o pai com desafio no olhar. – Por que eu faria isso?O homem lançou-lhe um olhar mortal de ameaça. – Não é assim que você deve tratar o don. – Ele a repreendeu.Giulia rapidamente virou-se em direção ao homem que segurava uma dose de algo que parecia whisky e sentiu o desespero a invadir. Ele ainda estava ali, serio como sempre, mas havia uma clara sensação de vitória estampada no olhar. No fundo, Leoni Messina ainda esperava que ela o desafiasse, ou não seria divertido.– Tudo bem! – Ele disse, sem importar-se com formalidades.Mas o capo Rossi ainda insistiu. Ele sabia que estava enrascado demais, e faria qualquer coisa para se safar, nem que para isso sacrificasse a própria filha. – Vá até o don e beije a mão dele.– Não! – Ela foi incisiva.– Vai agora. Eu estou mandando.Ela encarou o Leoni Messina ainda sério, que observava tudo, esperando pelo desenrolar da briga familiar que pareceu-lhe surpreendentemente divertida.– Creio que já cumprimentei o don o suficiente por duas vidas, não é mesmo? – Ela o encarou com um desafio estampado nos olhos.Ele apenas liberou um breve sorriso e então lançou-lhe um gesto de mão, afirmando que sim.– Bom, creio que nós temos que conversar. No andar de cima? – Lucca Messina anunciou.O capo Rossi encarou o rapaz de cima a baixo, desdenhando-o firmemente. Todos sabiam da história de como o antigo don deflorou uma mulher e deixou que o filho bastardo vivesse como um criado ao lado do irmão legítimo. – E quem é você? – Ele deixou que qualquer resquício de nojo escapasse na voz.Leoni Messina levantou-se imediatamente. – Meu irmão.O capo Rossi abriu a boca, chocado com a afirmação. – Mas... Mas o seu pai, ele... As normas da máfia dizem que...– Fodam-se as normas. Eu faço as regras aqui, e vou cortar a virilidade de todo desgraçado que o encarar do jeito que você fez agora.– Por favor, don, me perdoe. Eu não fazia ideia.Leoni Messina deixou que a longa pausa instaurasse o horror nos rostos de todos, exceto da garota do beco. Por que ela não o temia?– Vou deixar passar. – Ele encarou a garota. – Só por que tem uma filha realmente encantadora.– Ela é uma joia. E está na idade de casamento.Leoni Messina não conseguiu tirar os olhos do rosto da garota que somente agora parecia desconfortável. – Ela é jovem, ainda tem muito tempo para pensar nisso.Aquilo a surpreendeu. Giulia realmente esperava que aquele seria o momento em que ele rudemente arrancaria um dos seus luxuosos anéis e o colaria em seu dedo, selando o pacto de noivado que mais pareceria uma prisão com correntes e uma grande bola de ferro presa em seu tornozelo fino.– De certo... Mas não é bom que uma garota demore muito para se casar. Ela começa a ter ideias e achar que é dona de si.Ele sorriu, revelando nos próprios olhos o quanto sabia que para aquilo, já era tarde demais para Giulia Rossi. – Vamos conversar. Você tem algumas contas a prestar!O homem pareceu nervoso outra vez. Ele engoliu em seco, enquanto o Felipo o seguia até o segundo andar. – Claro. – Ele disseQuase duas horas entediantes se passaram desde que todos foram ao andar de cima. Giulia ainda tentava manter a postura ereta, sentada no sofá como uma maldita boneca de decoração. Sua mãe, ao seu lado, gozava da mesma postura, embora demonstrasse gostar da vida recatada e controlada da máfia. – Mãe, por que o papai queria saber aonde você estava hoje? – Giulia interrompeu o silêncio. A sua mãe bebeu o champanhe de uma forma estranha. Helena Rossi pareceu tentar afogar-se no líquido gelado e borbulhante do copo como um suicídio de salvação. – Bobagem. – Ela contentou-se em apenas dizer a única palavra que fez a filha sentir-se desconfiada. – Mãe, o que você fez? – Ela encarou a mulher que claramente sentia-se desconfortável. – Não vai me interrogar agora como o seu pai faz, não é? Vocês são todos iguais. – Eu não sou igual a ninguém, mãe. – Eu não tenho saída, Giulia. Não posso dizer nada a você. É melhor que seja assim. A garota abaixou-se em frente ao sofá esperando que
Giulia Rossi segurou a súbita vontade de segura-lo com as pernas. Aquilo provavelmente seria apenas mais uma munição para as fantasias depravadas do don. Ela o encarou com frieza, tentando controlar o medo de destruir-se completamente ao cair no andar de baixo, mas ele a inclinou, e ela ainda tinha que garantir estar completamente entregue ou cairia acidentalmente. Ele tocou-a no pescoço, e em seguida a puxou de volta. Por que? O que ele queria com tudo isso? – Terminou sua demonstração de força ou ainda quer me testar mais? Ele esfregou o rosto por alguma razão, e no instante em que a Giulia sentiu os pés colarem-se na segurança do chão outra vez, ele a segurou pelas coxas, pressionando-se ao corpo dela. O beijo roubado a deixou completamente fora de si. As pernas completamente abertas estavam na posição perfeita que ele tanto havia fantasiado, mas Leoni Messina conteve-se apenas em senti-la pela barreira da calcinha que ele jurou amaldiçoar. Ela segurou-o pelo rosto par
Giulia Rossi sentiu o cheiro de pólvora no instante em que abriu a porta de casa. Ela sabia que havia algo de errado assim que pisou no tapete de cor neutra estendido no meio da sala. As luzes acessas indicavam que todos estavam ali, em uma espécie de reunião. A Helena Rossi encarou a filha com as mãos ainda amarradas na parte de trás do corpo. Giulia correu em direção a ela, mas conteve-se no instante em que ouviu o som da arma ser destravada. Ela sabia bem que quem quer que a estava ameaçando, provavelmente atiraria sem pensar duas vezes. Eram os inimigos a invadirem a casa para mais um dos lendários sequestros? Era o seu pai que havia enlouquecido de vez? Ela tinha mais medo da segunda opção. A cabeça girou rapidamente, e ela pode ver os olhos tempestuosos do Felipo Rossi, ainda brincando de mirar-lhe o cano da arma. Os olhos pareciam fantasiar o momento em que balas a atingiram, mas ele ainda conteve o dedo parado no gatilho, o sentindo tremer cada vez mais. Giulia não con
– Don, nós temos uma reunião marcada hoje. É urgente! – Hum. Diga que eu estou muito ocupado. Talvez outra hora. – Ele nem mesmo ergueu a cabeça para olhar o consigliere parado na porta da sala do ultimo andar de um prédio luxuoso. Lucca Messina o encarou. – Eu tomei a liberdade de aceitar isso. – Com que permissão? – Ele ergueu apenas os olhos, encarando o irmão friamente. – Como o seu consigliere, eu tenho que tomar certas decisões. Além disso, foi um pedido especial do capo Rossi. – Que se foda! Eu não devo favores a um traidor. Ele ainda vai nos pagar caro pelos roubos. – É. Mas agora ele precisa do nosso tribunal. Já avisei aos capos que se reunissem. Leoni Messina finalmente deixou os papeis de lado. – Você esta sério demais. Por que isso agora?– É grave. – Você tem a minha atenção... diga de uma vez que merda aconteceu para te deixar assim. – É a... – Giulia? – Leoni Messina rapidamente levantou-se da mesa, antecipando algo sobre a mulher dos seus sonhos.
Giulia andou pelo longo corredor sentindo o coração tão acelerado que parecia prestes a explodir a qualquer momento. Os homens a encaravam brutalmente, com seus olhares julgadores, enquanto ela, como a única mulher em todo o prédio sentiu-se como um pedaço de bife de antílope no meio de leões famintos da savana africana. A vontade de correr parecia maior que tudo, mas ela precisava ser forte. Ela precisava que acreditassem que ela não tinha nada a ver com a fuga. Uma mão forte a puxou em direção ao corpo rígido, e ela subitamente suspirou de medo. Os rostos se encontraram muito próximos e a jovem donzela da máfia sentiu a repulsa surgir do fundo do amago até a garganta com grande velocidade. – Me solta! – Ela gritou, atraindo aos olhares dos homens presentes. – Ou o que? – Ou eu não respondo por mim. Enzo Ferrara riu, atraindo a atenção dos homens curiosos e que por vezes pensaram em fazer o mesmo ao agarrar a mulher que mais parecia uma atriz sexy de filmes de Hollywood
Leoni Messina desceu do escritório e observou os carros pretos parados em frente ao prédio. Ele direcionou um olhar mortal ao próprio irmão, que como consigliere, deveria ser o responsável por organizar a missão. – Isso é sério? – O que? – Lucca Messina tinha um ego sobre-humano ao apontar para o comboio como um verdadeiro cenário de guerra. – Eu fiz isso muito rápido. Sou muito... – Muito Imbecil. – o don o interrompeu. – Como você conseguiu pensar numa merda tão grande como essa? – Como assim? – Ele coçou a cabeça com tanta força que parecia tentar levar um pedaço do couro cabeludo em suas unhas. – Eu fiz tudo o que você me pediu. – Eu estou começando a me arrepender de ter te tornado o meu herdeiro. – O que? O que eu fiz? – Esquece! – Leoni Messina entrou no carro blindado sem dizer mais uma única palavra ao irmão estabanado. – O que eu fiz? – Lucca perguntou mais uma vez, insistindo na fúria do irmão. Os soldados bem armados estavam escondidos no interior dos veí
Giulia Rossi abraçou as crianças do orfanato como uma verdadeira política, embora fizesse de coração. O bebê preso a sua cintura mal podia desgrudar-se dela, mas subitamente ela encarou o quarto de portas abertas e olhou a mulher quase careca que lutava para beber agua. – Pode segurar ele? A noviça apenas sorriu gentilmente e pegou a criança nos braços, o levanto para longe. Giulia Rossi entrou no quarto sem qualquer convite e a serviu num copo de vidro. A garota jovem encontrou os olhos intensos da princesa da máfia que a ajudava e desviou rapidamente. As mãos trêmulas alcançaram o copo, mas ela retraiu-se profundamente no momento em que a primeira frase foi dita. – Você está bem? – Giulia perguntou. – Eu não entender bem. – Ela respondeu. Giulia sorriu, passando a liberar algumas palavras em russo. A mulher arregalou os olhos, ciente de que nunca conseguiria escapar do que quer que ela quisesse dizer. – Não, eu não falei nada. Não me mata! – Ela implorou. Giulia se
Leoni Messina estampou um grande sorriso sedutor enquanto se virava em direção a arma apontada para a própria testa. – Você não precisava fazer tanto suspense. – Giulia o repreendeu. – Olha, se você gosta de ser dominadora, nós vamos ter que negociar. Esse negócio de arma é broxante. Giulia estreitou os olhos em direção a ele e só então abaixou a arma. – Por que você fez isso? – Teoricamente, quem fez algo foi você. – Está falando da arma? Como eu poderia saber que isso aqui não era um sequestro? Ele riu. – Você anda bem preparada, eu tenho que admitir. – Não vou deixar ninguém me pegar viva. – Olha, eu não gosto de necrofilia, então nos temos um problema. Ela revirou os olhos, enquanto ele, da forma mais debochada possível a encarava com um breve sorriso de satisfação. – O que você quer comigo? Ele sentou-se na poltrona e passou a se balançar como se aquela fosse só mais uma conversa social. – Com quem você andou falando, amor? – Não entendi a sua pergunta.