Uma briga e um jantar

Giulia Rossi sentiu uma imediata falta dos fones de ouvido que tanto abafavam os sons agudos em sua cabeça. Ela pôde ouvir cada um dos gemidos que sua linda mãe emitia ao ser torturada por um marido controlador.

Eles estavam no andar de baixo, e ela ainda esperava que o inútil irmão tomasse a frente e defendesse a sua mãe, mas aquilo nunca acontecia. Felipo Rossi era covarde demais para enfrentar quem quer que fosse.

Desde pequena, tudo parecera desproporcional para ela. Ele ainda recebia todos os privilégios de ser um futuro capo, embora fosse a irmã mais nova a responsável por estudar todas as rotas e cumprir as funções que lhe era designado. E por mais que fosse injusto, ele não se ressentia por assumir os louros que não o pertencia, em troca de uma promessa de que daria ao menos a livre escolha a irmã, quando ele assumisse a liderança da família. “Você vai se casar com quem quiser”. Ela ainda podia ouvir vividamente em sua memoria, muito embora soubesse que Felipo Rossi não merecia-lhe a confiança. Mas o que ela poderia fazer? Ainda o amava, e ele ainda seria punido se todos soubessem.

Giulia colocou as mãos nas laterais do rosto e tentou impedir que os sons invadissem-lhe os ouvidos, mas era tarde demais. Ela raspou as pernas macias nos lençóis caros da cama e não conseguiu aguentar a agonia que aquilo causava, então, ela jogou os pés para o lado e se levantou.

Enquanto ainda sentia o carpete aquecido nas escadas, soube que se arrependeria, mas o sangue ferveu-lhe as entranhas quando o capo Rossi agarrou a sua linda esposa pelo pescoço e a levantou no ar.

Os olhos revirados de uma mãe em agonia fez com que Giulia Rossi se agitasse em busca de um socorro que lhe custaria muito caro.

Ela alcançou o pai e o puxou para si, sentindo a cotovelada feroz atingir-lhe as costelas. – Solte a minha mãe!

– Giulia, não se meta nisso! Isso não é assunto para você!

– Você vai acabar matando ela! – Giulia vociferou, sentindo o ar quente invadir-lhe os pulmões doloridos pelo golpe. – Solta a minha mãe!

– Saia daqui ou vai sobrar para você também!

Mas ela nunca faria isso. Sempre fora uma garota justa desde muito jovem, e sabia que não havia como voltar atrás sem abandonar um pouco de si mesma junto. – Eu não vou. O senhor vai ter que matar nos duas.

Ele encarou a filha com os olhos inundados de fogo. – Você sabe também, não é?

Giulia não recuou enquanto ele avançava sobre ela. Ao menos agora o capo Rossi havia deixado a esposa, que correra como uma covarde, deixando a filha para trás. – Sei do que?

– Com quem ela fica quando não está nessa casa.

Giulia franziu o cenho. Ela estava tão confusa quanto nos momentos em que acordava depois de sonhar com o estranho do beco. – A minha mãe sempre esta em casa. Do que o senhor está falando?

Mas ele não pareceu satisfeito com a resposta. – Diga para onde ela vai? Eu sei que você sabe!

– Como eu poderia saber? A minha mãe é sempre tão leal e caseira.

O capo Rossi sorriu por cinco segundos, mas estava a iminência de uma explosão, e a Giulia sabia bem como reconhecer quais eram os gatilhos para quando precisasse fugir.

Ela, no entanto, não teve tempo. O homem a agarrou pelo pescoço com tanta força que pareceu querer quebra-lo. – Você é igualzinha a ela. Tem sorte de que eu sempre sei onde você está, mas isso não vai durar por muito tempo. No seu primeiro deslize, garota, eu juro que te mato.

– Eu sempre segui todas as minhas obrigações. – Ela liberou um fio de voz, tentando manter-se acordada ao segurar-lhe as mãos para que ele não a matasse de fato.

Os pés pequenos mal podiam tocar o chão, e a aquela altura, Giulia Rossi sentiu-se prestes a morrer. Os olhos viram a silhueta de um homem alto que entrou pela porta principal, segurando uma arma apoiada no ombro esquerdo.

– Solta ela, pai! – O Felipo disse.

Não havia engano, ele a tinha defendido, e por mais que morresse, ao menos ela sabia que ainda era amada por quem parecia despreza-la a vida toda.

O capo Rossi a deixou cair no chão, ainda em meio a tosses secas. – Ela é igual a mãe. Mas eu vou descobrir. E eu juro que vou acabar com as duas.

Giulia pensou em retrucar, mas conteve-se diante do olhar reprovador do irmão que a pedia para não piorar ainda não a própria situação.

O capo Rossi apenas cuspiu no chão e saiu batendo os pés, em direção ao quarto.

– Eu vou falar com ele! – O Felipo disse.

– Obrigada. – Giulia o fez conter-se no primeiro degrau da escada.

O irmão a encarou friamente. – Só te ajudei por que ainda preciso de você. Não faça merda novamente.

– Eu só estava ajudando a mamãe.

– Isso é problema deles. São casados e ele deve agir como achar certo.

Giulia estreitou os olhos, sentindo a repulsa a atingir firmemente. – Você não pode realmente pensar assim!

O irmão ainda a encarou seriamente. – Isso é um problema seu. Deveria aprender a ser mais humilde ou vai se casar com alguém que vai arrancar isso de você da pior forma.

– Não vou me casar com alguém que sequer chegue perto de parecer com você!

Ele não pareceu ofendido por um único segundo, enquanto apenas virou-se de costas e passou a subir os degraus da escada de forma lenta e despreocupada. – Bom, eu tenho mais o que fazer. Resolva as minhas merdas até a hora do jantar ou você não vai ter escolha quanto a casamento.

Ela ergueu a cabeça em direção ao andar de cima e o viu como o monstro que sempre fez questão de ser. – Você é um covarde e um inútil. Não vai me ter ao seu lado o resto da vida para resolver os seus problemas. Ainda vai ser o pior capo da história da Família.

– Que seja. – Ele se debruçou sobre o correção de vidro no andar de cima e sorriu. – Mas agora, minha cara irmã, só tenho que me preocupar com o nosso convite para jantar.

– De quem? – Ela sentiu o coração doer de desespero.

O pai a havia prometido em casamento para o filho do capo Ferrara? Ela não conseguia pensar num destino pior.

– Apenas se contente em ficar linda, quem sabe se manter a boca calada, você fisgue alguém importante?!

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