Capítulo 02

LAURA

Terminei o meu pote de sorvete e levantei indo ao banheiro. Após tomar banho, lavar os cabelos e depilar as pernas, saí enrolada na toalha e entrei no quarto.

Abri o armário e encarei a coleção de peças escuras nos cabides. Acho que devo ter ficado ali de pé por uns dez ou quinze minutos. Vesti uma saia curta de couro preto com zíper na lateral e um body de renda na cor marsala. Calcei as minhas adoráveis botas pretas de camurça que iam até acima dos joelhos. Após secar os meus cabelos, fiz uma maquiagem caprichada no delineador e no batom vermelho, que sempre adorei.

A campainha tocou e fui até a porta.

— Olha só para ela! — gritou Angelita quando me viu.

— Você disse trinta minutos. Tem mais de uma hora e meia, que nos falamos.

— Olha só... Ninguém nasce assim, toda perfeita como você, Laurinha. — Fingiu irritação, colocando as mãos na cintura e revirando os olhos.

— Para onde você vai me levar? — perguntei cruzando os meus braços à frente.

— Para uma boate recém-inaugurada no centro, você vai gostar. Só deixe a mente aberta, okay? Não terá nenhum cover do Pink Floyd por lá.

Respirei fundo, e quem revirou os olhos desta vez fui eu.

— Está bem. Vamos lá.

Caminhei até o sofá e peguei o meu celular e o meu casaco. Saímos do prédio e pegamos um táxi. Quando chegamos ao local, um amigo de Angelita, que trabalhava na portaria, nos ajudou a entrar furando a enorme fila quilométrica que dobrava a esquina. O lugar era lindo e chique. Com certeza não era o meu tipo de ambiente, mas tentaria suportar por algumas horas. As mulheres que passavam por mim vestiam vestidos de mil dólares ou mais. Os homens usavam relógios que custavam mais que um carro popular no Brasil. Estava começando a sentir-me incomoda e deslocada.

— Vamos até o bar! — chamou Angelita alto no meu ouvido.

Ela segurou a minha mão e tomou a frente abrindo caminho na multidão.

— Boa noite, lindas. O que vão querer? — perguntou o barman com um sorriso safado para Angelita.

— Dois shots de tequila e duas Estrella Galicia — pediu ela lançando uma piscada para ele.

— Acho que não precisava da piscada, você já seduziu o homem só com esse decote — brinquei.

— Se tem alguém que irá seduzir um homem esta noite, esse alguém será você! Essa saia de couro e esse body de renda estão para lá de sensuais. Arrasou, garota!

— Fala sério, olha a sua volta. Essas mulheres parecem modelos — disse olhando para os lados, observando tudo ao meu redor.

— Mas o que está havendo? Você é sempre tão alto-astral consigo mesma. Pare de bobagens! Você está linda!

— Sei lá... Só não tenho costume com esses lugares. Todo mundo é tão chique.

— Relaxe e beba! — falou entregando-me o shot de tequila. — Se solte, ao menos esta noite.

Ela brindou o seu pequeno copo no meu e viramos as doses que desceu queimando levemente pela minha garganta. Pegamos as nossas cervejas e fomos para a pista de dança. Lá, as pessoas não repararam muito umas nas outras, apenas dançavam curtindo as músicas de batida intensa que faziam o meu corpo balançar involuntariamente.

Dois homens se aproximaram e começaram a conversar conosco. Angelita logo se agarrou com um deles. Ele era negro e sarado, estilo jogador da NBA. Um verdadeiro gato! O seu amigo tentava se esfregar em mim enquanto eu dançava. Ele já estava bêbado e cheirava a uma mistura terrível de suor, cerveja, menta e tabaco. O seu mau cheiro estava deixando-me enjoada, eu precisava de ar, água e ir ao banheiro urgente. Ia chamar Angelita para ir comigo, mas ela estava envolvida demais com homem, então fui sozinha.

— Vou até o bar e já volto — avisei-a.

— Eu vou com você — falou o homem que se esfregava em mim.

— Não! Está tudo bem, vou sozinha.

Saí rapidamente de perto dele, esgueirando-me no meio das pessoas. Chegando ao bar, avistei o corredor que levava aos banheiros. Mudei o meu trajeto e fui até lá primeiro. Depois de alguns minutos na fila, finalmente consegui me aliviar e voltei para pegar uma água.

— Me dê uma água sem gás, por favor — pedi ao barman.

— Aqui está. — Entregou-me a garrafa.

— Obrigada. — Afastei-me para dar vez a quem estava atrás de mim.

De longe vi que o homem nojento ainda estava lá, ao lado da Angelita e o seu amigo, dançando sozinho como um maluco. Tudo o que menos queria era voltar para lá. Respirei fundo e observei o ambiente procurando algum canto para onde ir que desse para respirar melhor. Estava muito abafado.

Ao lado da escada que levava à área VIP, avistei uma porta por onde algumas pessoas entravam e saíam a todo instante. Caminhei até lá, atravessando o mar de gente suada, e abri encontrando uma escada que levava à outra porta. Ao empurrá-la, vi que dava para o terraço da boate. O lugar não tinha nada de especial, somente uma boa iluminação e ar fresco. Algumas poucas pessoas fumavam aos cantos em grupos de quatro ou cinco amigos.

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